Capitulo
20 - Surpresa
Ele ficou
calado por um instante. Por alguma razão, ele sentia que poderia conversar
sobre qualquer coisa com ela.
— Há
alguns anos atrás, eu conheci uma jovem... Nos
conhecemos em uma boate, eu não sabia muito sobre ela, mas não parecia ser
alguém que levava uma vida de uma maneira muito certa, se é que me entende. Ela
estava assim como você...
— Também
tinha amnésia? – perguntou Rebeca, brincando.
— Não. –
respondeu ele, sorrindo. – Mas também não tinha ninguém que cuidasse dela. Ela
tinha uma história de vida bem triste. A mãe abandonou o pai e ela junto com os
irmãos. O pai era alcoólatra e vivia a agredindo, até que um dia ela não
suportou e fugiu. Na rua, ela... Ela foi abusada sexualmente... Um dia, me contando a sua história, ela me
desabafou, dizendo que o que ela mais desejava era uma vida em que ela queria
viver e não apenas sobreviver.
— E o que
aconteceu com ela? – perguntou Rebeca, curiosa.
Fabiano
olhou para Rebeca, sem querer acabara falando mais do que deveria.
— Ela
conseguiu... Casou com um cara rico e conseguiu a vida que queria. Um final
feliz. – disse ele, baixando os olhos.
Rebeca
sentia que Fabiano estava omitindo algo, mas resolveu não insistir.
— Que bom
então para ela. Espero que eu também tenha um final feliz. – disse ela,
sorrindo.
Fabiano a
observou durante alguns segundos.
— Não se
preocupe, tudo vai dar certo. – e levantando-se – Agora, tenho que ir, tenho
alguns compromissos. Descanse.
—
Obrigada, Dr. Fabiano, por toda a sua ajuda. Eu não tenho como retribuir isso.
— Não
precisa. Apenas veja isso como algo que eu não consegui fazer há um tempo
atrás. Se olhar dessa forma, verá que não precisa me retribuir em nada. Eu é
que tenho que lhe agradecer. – disse, saindo.
Depois
que ele saiu Rebeca ficou pensativa.
“Quem
será essa mulher? Depois que ele falou nela, ele ficou tão estranho...” –
pensou.
***
Viviane
já tinha almoçado. E para alívio dela, as duas irmãs tinham saído com Gabriele
para comprarem algumas roupas. Vivi estava na sala, lendo uma revista, quando
Camila se aproximou. Fazia pouco tempo que havia chegado.
— Como
vai, Viviane? Faz tempo que não converso com você... – disse, sentando-se perto
da sobrinha.
— É
verdade. – disse Viviane, sem tirar os olhos da revista. – Mas acho que isso
não incomoda a você nem a mim, então estamos quites, não é?
Camila
riu.
— Parece
que sua personalidade piorou um pouco depois que as suas irmãs chegaram.
Viviane
olhou irritada para Camila.
— Do que está
falando? Irmãs? Mais e mais eu me convenço de que essas duas são uma farsa... –
e pensativa. – Só não sei como posso desmascará-las.
Camila fingiu-se
de surpresa.
— Então,
você também pensa assim?
Viviane
olhou para Camila de repente.
— Como
assim “também”? Você pensa da mesma forma que eu?
— Claro
que sim. – disse Camila, percebendo o interesse da garota. – Principalmente,
depois de saber o que eu soube.
— O que
você soube? – perguntou Vivi com mais interesse.
— Bem, soube
que o pai adotivo que trouxeram junto com elas é um ex-presidiário. E, além
disso, tanto a mãe biológica quanto a mulher que as criou não passavam de
garotas de programas.
Viviane
quase não acreditava no que ouvia.
— Eu
sabia! Todos os meus instintos me diziam, mesmo sem eu ter provas.
—
Possivelmente, aquela carta também foi forjada. – continuou Camila. – Você não
acha estranho, elas serem descobertas só agora? E você encontrar aquela carta
nas coisas do seu pai? É claro que foi implantada por alguém.
— Tem
razão. – disse Viviane, concordando - Talvez em uma das festas de empresa que
teve aqui na mansão, algum cúmplice pode ter colocado aquela carta. Tudo faz
sentido! Isso tudo para pegar o dinheiro do meu avô.
Camila
sorriu, vendo que seu plano estava dando certo. Ela só precisava de algo mais.
— Mas...
– disse Viviane. – E quanto ao exame de DNA?
— Que
exame?
— Bem, o
meu avô deve ter feito algum exame de DNA, não é?
— Bem...
Ele não fez. – disse Camila, torcendo para que Viviane acreditasse naquela
mentira.
— Não
fez? Por quê?
— Hum...
Você sabe como é seu avô, ele é muito crédulo... Mas não tem problema, nós
podemos fazer um.
—
Podemos? – perguntou interessada.
— Eu
tenho um plano. Se você me conseguir amostras do cabelo de uma delas e uma
amostra do seu, podemos fazer um exame de DNA e depois podemos desmascará-las
na frente de todo mundo no seu aniversário. O que acha?
Viviane
olhou para Camila.
— Eu
gostei. Mas como você conseguiria um exame em sete dias apenas?
— Você
sabe que com dinheiro sete dias é mais do que suficiente. – disse Camila,
sorrindo. – Mas esse tem que ser um segredo só nosso.
— Tudo
bem. – disse Viviane por fim. - Quanto mais cedo elas forem desmascaradas,
menos o meu avô vai sofrer com tudo isso.
***
No dia
seguinte, em um domingo, a campainha do apartamento de Fabrício tocou cedo. Ele
ainda sonolento foi atender a porta. Ao abrir, percebeu que era Verônica, que parecia
pronta para ir à praia.
— Ah, é
você? O que está fazendo a essa hora na casa dos outros?
— Como
assim “ah, é você”? Estava esperando
outra pessoa? E que casa dos outros? Você é meu irmão, esqueceu?
Fabrício foi
até o quarto e deitou-se na cama, enquanto Verônica o seguia.
—
Fabrício! – disse Verônica, sentando-se na cama e incomodando o irmão. – O que
está fazendo?
— Ah, tão
barulhenta. – disse, enquanto colocava o travesseiro na cabeça - Não vê que
estou dormindo?
— E por
acaso alguém que está dormindo fala?
— Fala...
Eu falo dormindo. Sou sonâmbulo. Agora me deixa. – disse com o som abafado pelo
travesseiro.
—
Fabrício! – insistiu Verônica, enquanto sacudia o irmão. – Vamos.
Fabrício
se sentou na cama a contragosto e pegou o relógio despertador que estava em um
criado mudo.
— Você
sabe que horas são? – disse, mostrando o relógio.
— Claro
que eu sei. Não é como se eu não soubesse ler as horas. São oito horas e daí?
— Isso,
são oito horas da manhã. Domingo, oito horas da manhã. Pessoas que acordam
outras pessoas em um domingo às oito horas da manhã deveriam ser presas. –
disse, voltando a se deitar.
Verônica
se levantou e pôs as duas mãos na cintura.
— Fabrício,
levante-se agora! Sua irmã está mandando!
Fabrício
jogou o travesseio em Verônica.
— Isso
não foi legal.
***
Uma parte
da família estava reunida tomando o café da manhã. Iêda e Bruno, assim como
Camila que ainda esperava o marido. Dr. Otávio, as gêmeas e Gabriele também
estavam à mesa.
— Parece
que as duas acordaram cedo também. – disse Iêda, olhando para as gêmeas.
— Nós
temos o costume de acordar muito cedo, então mesmo no domingo, às vezes,
acordamos mais cedo também. – respondeu Mariana.
Iêda
sorriu.
— Aqui
todos nós acordamos muito cedo na semana, então, fica difícil perder o hábito
no domingo. Às vezes, problemas da empresa de arquitetura aparecem também no
domingo. Eu e Bruno sabemos bem o que é isso, por isso, não tivemos tempo de
conversar com vocês. Mas como estão se sentindo? Estão se adaptando bem?
— Mas do
que isso... – disse Dr. Otávio. – Mariana está se preparando para a faculdade e
Emanuela pode até trabalhar na parte administrativa do grupo, só estou
esperando um telefonema de confirmação.
— Sério?
– disse Camila – Isso é bom então... – e olhando para Mariana. – Mas que
faculdade pretende fazer?
— Eu
pretendo fazer Medicina.
— Olha...
Parece que medicina está no sangue. – comentou Camila, fazendo com que todos os
presentes olhassem para ela.
Todos da
família eram proibidos de falar qualquer coisa referente ao fato das duas serem
de fato filhas de Jorge até que o próprio Otávio falasse sobre isso.
— Mas
mudando de assunto... – disse Camila. – Vocês estão se dando bem com a Viviane?
As duas não
souberam como responder. Gabriele percebeu.
— Ah,
Camila... Você sabe como Viviane pode ser um pouco desagradável no começo. –
disse ela meio sem graça.
— Falando
em Viviane, onde ela está agora? – perguntou Bruno, que permanecera calado até
aquele momento.
— Acho
que ela ainda está dormindo. – disse Gabriele.
De
repente, Fabiano chegou.
— E aí?
Como está a família mais feliz do Brasil? – disse, enquanto se sentava. – Ane,
por favor, me vê aí um café reforçado. Daqueles que só você sabe fazer. – disse,
olhando para a cozinheira.
—
Fabiano, como sempre, muito animado. – comentou Camila.- Hoje é seu dia de
folga?
— Sim.
Depois de cobrir o plantão de vários colegas, consegui um dia de descanso. –
disse rindo, enquanto recebia o café de Ane. – Obrigado, Ane. - e olhando para
Camila. – Mas onde está seu marido, cunhada?
— Acho
que está ocupado com algo, mas logo estará aqui.
Dr.
Otávio olhou para Camila, sabia exatamente que Otávio Jr. não estava ali porque
tentava evitá-lo ao máximo.
***
Verônica
estava na sala do apartamento de Fabrício. Olhava dentro da bolsa para ver se
não faltava nada. Seu irmão apareceu na sala sem blusa e com a escova de dentes
na boca.
— O que
está fazendo aqui mesmo? – disse, quase não sendo entendido por causa da escova
dentro da boca.
Verônica
balançou a cabeça negativamente.
— Me pergunto que garota gostaria de você
se visse o que estou vendo.
Ele tirou
a escova da boca.
— Eu sou
muito popular, sabia? Desde que eu me lembro, as garotas sempre correram atrás
de mim. – disse com a boca cheia de
espuma.
— Aham...
Sei.
Fabrício
foi até o banheiro e voltou, segundos depois, com a boca já limpa e com uma
camisa.
— O que
você quer me acordando tão cedo em um domingo? – perguntou de mau humor.
— Eu
quero ir à praia.
— E por
que não chama a Vivi?
— Quem
disse que ela não vai? Eu só queria que você dirigisse, nós vamos pegá-la, já
avisei por telefone.
Fabrício
suspirou.
— Você
esqueceu que estou sem carro?
— Eu sei
disso. Por isso, eu trouxe o meu.
— Ah... –
disse ele olhando para a irmã como que entendendo algo. – Então, você só queria
que eu fosse seu motorista particular.
Verônica
sorriu.
— Bingo!
— Não
vou. – disse ele, indo para a cozinha.
Verônica
o seguiu.
— Deixa
de ser chato. Você sabe que a mãe da Viviane só deixa irmos à praia se formos
com um segurança ou se você for junto. E você sabe, um segurança chama muito
mais atenção.
— Não
quero. – disse, pegando leite na geladeira e outras coisas e olhando para a
irmã. – Por que não arranja um namorado? Assim não ficam dependendo de mim.
— Não é
como se eu não quisesse... Você sabe como a maioria dos garotos disponíveis que
eu conheço, são idiotas... E se é para ter um idiota por perto, é melhor um
conhecido do que um que eu mal conheço.
Fabrício
olhou para Verônica com cara de quem não gostou da piada.
— Vamos,
Fabrício... – disse ela, sacudindo o irmão, enquanto ele tentava tomar um copo
de leite.
— Tá. Mas
eu posso pelo menos tomar meu café da manhã primeiro?
Verônica
levantou as mãos.
— Ok! –
disse empolgada.
***
Camila
subiu até o quarto, o marido ainda não havia descido para tomar café da manhã.
— Por que
não desceu ainda?
— Estava
demorando aqui... Desço daqui a pouco. Enquanto eu puder evitar meu pai, melhor.
– disse, enquanto arrumava a blusa. E olhando para a esposa. – E quanto aquele
seu plano para revelar a verdade sobre as filhas do Jorge?
— Eu já
coloquei em prática. – disse ela. – Você tem certeza que as duas já fizeram o
exame de DNA, não é? Elas são mesmo netas do Dr. Otávio?
— Claro
que tenho certeza. Eu mesmo vi os exames.
Camila
sorriu.
— Então,
no aniversário de Viviane, todos saberão a verdade... Familiares, amigos e
imprensa. – e parecendo um pouco preocupada. – Mas tem certeza que é melhor que
isso vá a público? Se todos souberem que elas são netas do Dr. Otávio de
verdade, a lista de suspeitos vai ser muito grande. Será difícil relacionar
isso ao tio Marcos.
Otávio
Jr. suspirou.
— Se isso
não for divulgado, os investigadores vão ter apenas os membros da família como
suspeitos de serem os mandantes... Isso também é perigoso para nós. Ou você
acha que eles vão apenas investigar o tio Marcos? Não quero correr esse risco.
Camila
olhou para o marido.
— E o que
vai fazer depois?
— Não se
preocupe, minha querida. Tudo ao seu tempo...
***
Fabrício
tocou a campainha do portão principal. Ele e a irmã foram conduzidos por um dos
empregados até a entrada da mansão. Os dois entraram e se dirigiram a sala
principal enquanto esperavam Viviane descer. De repente, ouviram passos de
alguém se aproximando. Fabrício olhou e não acreditou no que estava vendo. De
pé, há uns três metros, Emanuela parou tão assustada quanto ele.
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