quinta-feira, 24 de outubro de 2013

SESSÃO LEITURA - QUASE - ANTÔNIO PRATA

O conto que reproduzimos abaixo é da autoria de Antônio Prata.
Para maiores informações sobre o autor, favor acessar: http://www.releituras.com/antonioprata_menu.asp.
Boa leitura!
QUASE

Como nunca levou jeito para a música nem para a arte da carpintaria, Osmar dos Santos formou-se advogado — profissão que muito lhe convinha, visto que não nascera para outra coisa senão para advogar.
Rosinha Carvalho, por sua vez, já aos treze sabia comandar uma casa como ninguém: lavava, passava, cozinhava e fazia magníficos arranjos de flores.
Certa vez passou por Bauru, onde residia a moça, um amigo do Dr. Carvalho que, abismado com os arranjos, felicitou: "Mas que lindo arranjo de flores, Rosinha!" Dr. Carvalho, bom pai e conhecedor das artes varonis para atingir a cópula, muito prudentemente acertou três tiros no homem, que morreu ali mesmo.
Mas Osmar nunca ficou sabendo do ocorrido, posto que não nascera em Bauru nem nunca por lá passara (a bem da verdade, só saíra uma vez de sua cidade, indo para São Vicente a trabalho) e, sendo assim, não ficou chocado e pôde continuar com sua nobre ocupação sem maiores (nem menores) tormentos. Rosinha chorou um pouco, mas depois resignou-se com a fatalidade e continuou com seus lindos arranjos.
Rosinha, bela moçoila e prendada como só, já estava em idade de casar. Osmar, advogado com o diploma na parede e a bela tabuleta na porta, também.
Eis que um dia quis o destino, esse cosedor de histórias, unificador do diverso, carpinteiro da vida, que Rosinha fosse a Pirajuí, cidade mui bela onde habitava, entre muitos outros, Osmar. Rosinha iria acompanhar a mãe num encontro com umas primas distantes, a respeito de uma herança deixada por um tio. Antes do ocaso, partiam numa caravana com mais três capangas e duas mucamas muito limpinhas rumo a Pirajuí. Em lá chegando, foram direto à casa das primas, que, com chá e biscoito, as receberam de forma cordial e hospitaleira.
Como faltava açúcar, dona Isaura Carvalho, mãe de Rosinha, mandou-a à mercearia, acompanhada de uma das serviçais. Por acaso ou não, ocorreu que, neste mesmo instante, Osmar se deu conta de que havia acabado suas cigarrilhas, tão importantes em sua rotina e em sua nobre ocupação, dando-lhe um ar austero que um bom advogado precisa ter. Assim sendo, levantou-se e rumou à mercearia, a mesma já mencionada, para onde também ia nossa querida Rosinha. Osmar chegou primeiro e pediu as cigarrilhas. Abriu o pacote e pegou uma. Quando já ia saindo, chegava Rosinha. Infelizmente, ocupado que estava em acender seu precioso tabaco, Osmar não avistou Rosinha,tendo ela, portanto, jamais se casado com ele.

Fonte: http://www.releituras.com/antonioprata_quase.asp.

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