Capítulo 28
O almoço terminara. Gabriele e Emanuela foram para a sala, enquanto Mariana fora falar com Rogério. Viviane voltou para o quarto.
— Não sei como a convenceu a almoçar conosco. – disse Gabriele, enquanto pegava uma xícara de café servida por uma das empregadas. – De qualquer forma, obrigada.
Emanuela sorriu.
— Eu não fiz nada.
Gabriele sorriu um pouco triste.
— Mas você conseguiu o que a mãe dela não conseguiu...
Emanuela tentou falar algo, mas não tinha as palavras certas para consolar Gabriele.
— Estou pensando em sair da mansão... – disse Gabriele, de repente, fazendo com que Emanuela ficasse admirada.
— Mas... Assim, de repente? Por quê?
— Por dois anos, eu tentei em vão ter uma boa relação com a minha filha... Mas o que eu pude perceber é que o comportamento dela apenas piora. Quanto mais eu convivo com ela, mais ela me despreza.
Emanuela não acreditava no que ouvia.
— Então, vai desistir?
Gabriele sorriu.
— Não seria desistir... Talvez dar um tempo a nós duas antes que a nossa relação fique pior do que já está.
— Mas eu acho que o Dr. Otávio não vai aprovar isso.
Gabriele suspirou.
— Não tenho certeza. Depois da nossa última conversa, não sei o que ele pensa de mim. A verdade é que talvez eu esteja com medo de enfrentá-lo. Quando eu for embora, talvez eu fique um ano fora... Por isso, eu peço que você e sua irmã a ajudem nesse tempo.
***
Mariana foi para o jardim procurar Rogério, mas por mais que procurasse pelo pai não conseguia encontrá-lo. Acabou prendendo a atenção nas rosas que ali estavam plantadas, cada uma mais linda e mais perfumada que a outra. Andou um pouco mais pelo jardim. Conseguiu visualizar Rogério, mas antes que pudesse chamá-lo, percebeu que falava com um homem estranho. Aproximou-se, mas não conseguiu escutar nada. O homem se retirou, enquanto Rogério voltava para o seu trabalho.
— Quem era aquele? – perguntou Mariana, de repente, fazendo com que Rogério se assustasse.
— Há quanto tempo está aqui? - perguntou ele com um tom um tanto nervoso.
— Cheguei agora mesmo. Mas quem era ele?
Mariana olhou em volta para ver se conseguia ainda visualizar o homem.
— Quem era?
Rogério pareceu pensar por um momento.
— Um antigo amigo.
Mariana parecia admirada.
— Um antigo amigo? Por que o senhor não me apresentou? – e um pouco desapontada. - Gostaria de conhecer... Se era um antigo amigo do senhor, deve ter sido um conhecido da minha mãe...
Rogério olhou para a Mariana, curioso.
— E se ele a tivesse conhecido?
Mariana sorriu.
— Eu teria perguntado sobre ela...
Rogério estranhou.
— E por que você não pergunta a mim?
— Bom, desde que voltou, o senhor mal toca no assunto, pensei que não gostasse de falar nisso.
Rogério sorriu.
— Talvez por que nunca tenha me perguntado.
— Sério? – disse ela sorrindo. – Então, qual era a comida favorita dela?
Rogério pareceu pensativo.
— Lasanha. Ela amava lasanha. Lembro que a Tânia tinha inveja porque mesmo que Letícia comesse lasanha, ela nunca engordava!
Mariana riu alto.
— E o que mais? Como era a personalidade dela?
— Muito divertida. Parecida com você... Tirando a parte de você ser um pouco “descuidada”.
— Como assim? – perguntou ela, fazendo muxoxo.
Rogério riu.
— Não tente negar Mariana. Desde pequena, você vivia caindo e batendo a cabeça em todo lugar... Acho que foi por isso que Emanuela ficou super-protetora com você.
Mariana ficou com uma expressão de falso descontentamento com o comentário, mas logo a desfez, voltando ao assunto de seu interesse.
— E o que mais? O que mais?
— O que mais gostaria de saber? – perguntou Rogério, rindo da empolgação da garota, enquanto começava a podar algumas plantas por perto.
— Ela... Ela falava muito do meu pai? – e cometendo o deslize – Digo, meu pai biológico...
Rogério ficou um pouco mais sério e olhou para Mariana.
— Sim... Falava. Era mais que apaixonada por ele. Para falar a verdade, eu não entendia o que ela sentia por ele. Talvez fosse o que as pessoas chamam de amor verdadeiro. Mesmo na gravidez, quando as outras meninas diziam que ela havia sido enganada, ela apenas sorria. – e como se lembrando. - Um dia, eu perguntei a ela, se não sentia raiva dele por não ter tido mais contato. Não sei se era fingimento, mas ela disse uma coisa que eu nunca esqueci. Ela disse assim: Quando se ama, se a pessoa que amamos está feliz, ficamos felizes. Letícia poderia levar uma vida de garota de programa, mas por alguma razão, ela era...
— Pura?
Rogério riu pensativo.
— Pois é... Talvez eu esteja falando alguma bobagem? Enfim... O fato é que ela era assim. Parece que você herdou a personalidade dela.
Mariana sorriu.
— Foi ela quem escolheu os nossos nomes? – perguntou curiosa.
— Sim. Desde que Letícia soube que esperava gêmeas, ela escolheu o nome das duas... O seu nome, por exemplo, ela gostava tanto dele que às vezes insistia que a chamassem de Mariana. – disse rindo e um pouco mais sério. - Ela ficou tão feliz quando soube que estava grávida. Queria tanto ser mãe. – e olhando para Mariana. – Vocês foram o maior sonho que ela teve. Um sonho que se tornou realidade, uma pena que ela não pode ver.
Mariana sorriu, mesmo nunca tendo conhecido a mãe, saber que mesmo antes de nascer já era amada, dava um sentimento de felicidade. Por alguns minutos, pensou em Viviane. Se ela estivesse no lugar dela, como se sentiria, sabendo que sua própria mãe não havia a desejado?
***
O dia passou não tão rápido no hospital Alcântara, principalmente, porque havia muito movimento. Alguns repórteres buscavam notícias sobre o estado de saúde do presidente Otávio. Fabiano, por algumas vezes, foi interpelado por um ou dois que conseguiam entrar no hospital. Passeando pelo corredor, encontrou com o Dr. Rafael.
— Hoje, foi um dia difícil... – disse Rafael e olhando para o colega. – Como está indo a recuperação do seu pai?
— Bem. Apesar da idade, está se recuperando bem. Talvez possa voltar para casa em uma semana para descansar lá.
— Fico feliz por ele. – comentou Rafael.
Rafael percebeu que algo incomodava o amigo.
— O que aconteceu, Fabiano? Parece meio disperso.
Fabiano pareceu suspirar.
— Estava atrás de alguém para cobrir meu horário amanhã ou quarta. Apenas duas ou três horas. Durante esse tempo, não vai haver qualquer cirurgia, é só mesmo para fazer o acompanhamento.
Rafael riu-se.
— Tudo bem. Como vai ser minha folga na quarta, eu posso vir para o hospital para substituí-lo nas horas em que não estiver aqui.
Fabiano parou de repente.
— Sério?
— Sério. – repetiu ele. – Mas eu espero que você me substitua algumas vezes.
— Sem problema. Valeu, Rafael. – disse ele, apressando o passo, pois acabara de ser chamado pelo interfone.
Rafael riu.
— Parece que esse cara foi mesmo fisgado. – disse para si mesmo.
***
No dia seguinte, terça feira, Érica chegou cedo ao escritório. Mal chegou, percebeu que Rebeca está lá, organizando a agenda do Dr. Marcos. Érica tomou o seu lugar em uma das escrivaninhas e durante algum tempo apenas observou Rebeca.
— Posso fazer uma pergunta? – disse Érica, quebrando o silêncio.
— Pode perguntar, mas não garanto que vou responder. – disse Rebeca sem tirar a atenção daquilo que fazia.
Érica riu.
— Você é inacreditável. – e olhando para Rebeca. – Se não é namorada de Fabiano, então que tipo de relacionamento tem com ele?
Rebeca olhou para Érica.
— Antes de eu responder essa pergunta, você também poderia responder uma minha?
— Ok. Por que não?
Rebeca deixou de lado o que estava fazendo e olhou para Érica.
— Por que tanto interesse no Fabiano?
Érica tentou disfarçar sua surpresa.
— Fabiano não te contou?
— Me contar o quê?
Érica parecia um pouco desconcertada.
— Bem, se ele não te contou, então acho que não é algo que se deva falar...
Rebeca riu.
— Não me diga... Que você tem um passado com ele?
— E se eu tiver, vai deixar ele em paz?
— De maneira alguma... Afinal, que eu saiba você é uma mulher casada com um homem rico, não tem porque eu... – Rebeca parou de repente. – Espera, então era você?
— Do que está falando? – perguntou Érica um pouco confusa.
Rebeca riu, lembrando do que Fabiano falara sobre uma mulher que ele havia cuidado e que havia se casado com um homem rico.
— Tanto faz. O importante é que você não tem mais nada com ele, não é?
Érica riu, não acreditando no que ouvia.
— Mesmo que eu não tenha mais nada com ele, Fabiano ainda gosta de mim. E, além disso, eu e ele temos algo que nos prende um ao outro durante toda a vida.
Rebeca ficou intrigada.
— E o que seria isso?
— Nada que seja da sua conta.
— Que seja. Quanto a ele gostar, tenho a impressão que seja exatamente o contrário.
— Você é mesmo uma sonsa... Na festa, eu tive uma imagem completamente diferente de você. Eu estava disposta a deixar de lado, já que você parecia uma pessoa legal. Mas eu estava enganada.
Rebeca olhou para ela com um olhar que Érica não conseguia decifrar. Era um olhar que poderia dizer qualquer coisa.
— As pessoas usam máscaras o tempo todo, Érica... E mesmo quando você acha que descobriu a máscara delas, ainda pode estar sendo enganada. Acho que isso você deve entender muito bem.
— Eu não sei do que está falando.
De repente, as duas foram surpreendidas pela entrada subida do Dr. Marcos. Elas permaneceram caladas, um pouco assustadas.
— O que foi? – disse Marcos rindo. – Por acaso, estavam falando mal de mim?
Rebeca sorriu gentilmente. Érica se surpreendeu com a mudança repentina dela. Parecia outra pessoa.
— Como poderíamos, - disse sorrindo para Marcos. – Afinal, o senhor é um homem tão generoso por me dar essa oportunidade... E eu estava conversando com minha colega sobre isso.
Marcos olhou enigmático para Rebeca.
— Você sabe que eu a acolhi por termos um propósito comum.
Érica ficou desconfiada.
— Um propósito comum? – repetiu ela, olhando para Marcos.
Marcos não respondeu nada. Pegou um charuto e acendeu.
— E vocês, estão se dando bem?
Rebeca olhou para Érica e sorriu.
— Melhor impossível. Érica e eu podemos até mesmo ser melhores amigas.
***
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