segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

WEBNOVELA - LAÇOS - CAPÍTULO 29 - PRIMEIRA PARTE - AUTORA: JULIANA SOUSA

Capítulo 29

— Que cara assustada é essa? – perguntou Viviane, saindo da penumbra.
Mariana suspirou aliviada.
— Você nunca ouviu falar em loira do banheiro, não? – disse Mariana, olhando para o cabelo de Viviane. – Acho que é assim que as lendas urbanas surgem.
Viviane bocejou e sentou-se em uma cadeira.
— Loira do banheiro? Quem é essa?
— Você nunca ouviu? Dizem que se você pegar três fios de cabelo loiro e jogar no aparelho sanitário e depois chamar “Loira do Banheiro!” três vezes, uma loira aparece para assombrar você.
Viviane parecia desconfiada.
— Eu nunca ouvi essa... Mas já ouvi da Bloody Mary... Se você chamá-la três vezes: Bloody Mary, Bloody Mary, Bloody Mary, na frente de um espelho, ela aparece e arranca seus olhos.
Mariana fez uma careta.
— Prefiro a loira do banheiro. – e olhando de repente para Viviane. – Espera. Você não acabou de chamá-la três vezes? Tem certeza que precisa mesmo de um espelho?
Viviane riu.
— Você acredita mesmo nisso? – disse, rindo.
De repente, um trovão ecoou pela mansão, assustando as duas. Súbito, uma mulher apareceu na penumbra. Viviane e Mariana gritaram.
— Psiu! Vocês querem acordar a mansão inteira? – disse alguém se aproximando.
Era Sônia. As duas respiraram aliviadas.
— O que vocês estão fazendo aqui? – perguntou ela.
— Eu vim aqui, por que a água do meu frigobar acabou. – disse Viviane.
— E eu não conseguia dormir...
Sônia foi à geladeira e pegou um pouco de água.
— Voltem logo para a cama... Não é bom ficar andando por aí. O corpo também precisa descansar. – disse, saindo.
Viviane pegou uma garrafa de água em uma das geladeiras e sentou-se novamente.
— Você tem insônia? – perguntou ela, bebendo um pouco de água.
Mariana balançou a cabeça negativamente.
— É só que às vezes eu tenho pesadelos.
Viviane olhou pensativa para Mariana.
— Pesadelos? – disse ela, se lembrando do que Emanuela contara sobre uma garota que tinha pesadelos por ter visto a mãe morrer. - Que tipo de pesadelos?
Mariana suspirou.
— Para falar a verdade, não são pesadelos realmente... Apenas alguns fragmentos de memórias, eu acho, do dia em que minha mãe adotiva foi assassinada...
Viviane, naquele momento, teve certeza de quem Emanuela falava naquele dia.
— E como são... Esses pesadelos?
Mariana suspirou novamente.
— Não sei direito. Geralmente, é como se eu estivesse dentro de algum lugar fechado e escuro, ouço sussurros, gritos, às vezes, um tiro... Sinto falta de ar. Não é uma sensação boa, isso eu garanto.
Viviane levantou-se de repente.
— Espera só um minutinho... Eu tenho algo ótimo para pesadelos.
Mariana não entendeu o que Viviane quis dizer com isso.
— O que você vai fazer?
Viviane foi para a geladeira e pegou uma caixa de leite, colocou o leite em uma panela e deixou que fervesse. Pegou outra coisa na geladeira que Mariana não pode ver e depois colocou uma xícara em frente de Mariana.
— Prove. – ordenou Viviane.
Mariana tomou.
— É muito bom... – disse sorrindo. - Parece leite com mel...
— E é. – sentou-se, e com o olhar um pouco distante. – Minha Bá costumava fazer para mim quando eu tinha pesadelos ou não conseguia dormir por alguma razão.
Mariana notou uma certa tristeza no tom de voz de Viviane.
— Parece que você gostava muito da sua babá...
Viviane sorriu.
— Ela foi o mais perto de uma mãe que eu consegui... Mas ela morreu quando eu ainda era criança. Depois disso, vieram outras babás, mas nenhuma era como ela.
Mariana tentou mudar o foco do assunto.
— Por falar em mãe... Ouvi que sua mãe vai para a Itália.
Viviane olhou de repente para Mariana. Mari percebeu que Viviane ainda não sabia. Vivi tentou disfarçar a surpresa.
─ Vai, é? – disse, tentando ser indiferente. – Talvez seja melhor mesmo. – disse, brincando com uma garrafa de plástico na mesa.
Mariana olhou para Viviane, tentando adivinhar o que se passava na cabeça dela.
— Não era isso o que você queria?
Viviane sorriu, brincando com a garrafa que tinha nas mãos.
— O que eu quero ou deixo de querer não importa para ela. Nunca importou.
Mariana tomou um pouco mais de leite. Pensou que, com certeza, Viviane não odiava a mãe, talvez só não sabia o que deveria sentir por ela.
***
No dia seguinte, Vivi resolveu ir à faculdade. Ficou esperando por Verônica na lanchonete. Vez e outra, percebia que alguém a observava, mas ao virar-se para ver quem era, a pessoa disfarçava. Também percebera que alguns alunos, ao passarem por ela, cochichavam uns com os outros. De repente, Viviane percebeu que Verônica se aproximava.
— E aí, Vivi? Como está a volta à faculdade? – perguntou, sentando-se ao lado de Viviane.
Viviane sorriu meio sem graça.
— Seu eu disser que está maravilhosa, você acreditaria? O médico disse que eu já poderia voltar e como meu avô ficaria chateado se eu não viesse, resolvi vir. Mas por que estou sentindo que algo está estranho no ar?
Verônica olhou um pouco sério para Viviane.
─ Primeiro, promete que não vai ficar muito chateada.
─ O que foi?
─ Não vou dizer, você já está ficando...
 ─ Diz logo, Verônica. – disse Vivi em um tom ameaçador.
Verônica suspirou.
─ Por alguma razão, alguém andou espalhando boatos de que você não é neta biológica do Dr. Otávio.
Viviane ficou surpresa.
─ C-como assim? Poucas pessoas realmente sabem sobre isso. Como isso se espalhou?
─ Eu não sei. Mas se você não tivesse me contado, eu também teria desconfiado de algo. Até porque sua mãe te impediu naquela hora de falar, e vocês foram para o escritório. Também foi oficializado que as gêmeas são filhas do Jorge. Então, acho que alguém deve ter entendido algo disso.
Vivi ficou séria. Verônica estranhou o fato de Vivi não ter explodido.
─ Não vai falar nada?
─ O que eu posso falar, mais cedo ou mais tarde, isso vai ser confirmado mesmo.
Vivi percebeu o olhar preocupado da amiga.
— Está tudo bem. – disse tentando não preocupá-la - Nada que algumas comprinhas no shopping não resolvam.
Verônica sorriu, observando o esforço da amiga. Olhou para os lados, observando os alunos que passavam. De repente, tocou no ombro de Viviane nervosamente.
— Amiga, amiga... É ela!
Viviane olhou para onde Verônica indicava com o olhar. Uma garota, talvez da idade de Viviane, ou um pouco mais velha, comprava na lanchonete. Era alta e extremamente atraente e de longe parecia uma boneca de porcelana.
— É aquela! – disse, olhando para Viviane novamente. – A garota que vive perseguindo o Gabriel, a Emily.
— É muito bonita mesmo. – comentou Viviane sem qualquer interesse.
Verônica olhou para a amiga impaciente.
— Você não vai fazer nada?
Viviane olhou para Verônica confusa.
— Fazer o quê? – e suspirando – Eu já disse a você que eu não me importo com quem Gabriel sai ou deixa de sair.
Talvez por insistência de Verônica, Emily olhou em direção às duas. Ela se aproximou.
— Olá! – disse, sorrindo cordialmente. – Você deve ser a Viviane... Meu nome é Emily. Posso me sentar junto com vocês?
Como Viviane não respondesse, Emily sentou-se junto a elas.
— Eu me transferi esse semestre para essa faculdade. Morava no Canadá antes disso. As universidades brasileiras estão me surpreendendo. – e sorrindo. – Me desculpem ser tão intrometida, mas eu realmente queria muito fazer novas amizades.
Verônica olhou um pouco irritada para a garota.
— E por que você escolheu justamente a nós?
Emily sorriu novamente.
— Talvez por vocês me parecerem muito amigáveis... Ou talvez por ter ouvido sobre Viviane.
Viviane até aquele momento olhava absorta para o celular em suas mãos. Ao ouvir seu nome parou de repente.
— Deve ter sido muito difícil para você, Viviane... – disse Emily com falsa tristeza. – Descobrir que sua mãe deve ter usado você para dar o golpe do baú. Eu ouvi o que as pessoas estão dizendo.  Eu ficaria arrasada. Ainda bem que em famílias tradicionais como a minha, isso jamais aconteceria...
Viviane olhou para Emily.
— Você não deveria se meter em assuntos que não são da sua conta.
Emily sorriu, enquanto tomava seu suco.
— Até que enfim reagiu, pensei que ficaria calada o tempo todo... Mas o que eu disse é apenas uma amostra do que as pessoas estão comentando... É claro que alguns disseram que você mereceu isso.
Verônica olhou para Emily irritada.
— Você veio até aqui para fazer amigas mesmo?
Emily sorriu, levantando-se.
— Acho que não. – e olhando para Viviane. – Agora que percebi melhor, vocês não estão no meu nível para serem minhas amigas. Você não tem o sangue dos Alcântara. – e olhando para Verônica. – E você? Quem é você?
Verônica se conteve para não agredir a garota. Viviane apenas permanecera calada.
— E outra coisa... – continuou ela. – O Gabriel vai ser meu. Então é melhor você desistir.
Viviane sorriu irônica, olhando para Emily.
— Esta é uma coisa que não tenho o mínimo interesse. Pode ficar com ele todinho para você. – disse.
─ Se é o que diz, não se arrependa depois.
Emily sorriu e saiu. Verônica olhou para Viviane com um misto de admiração e raiva.
— Eu não te reconheci, amiga! Você deixou mesmo aquela garota sair sem nenhuma resposta apropriada para ela?
Viviane tomou um pouco do suco, enquanto mexia no celular.
— E o que você gostaria que eu dissesse? Ela apenas disse o que os outros estão dizendo... E  de qualquer forma, é verdade que eu não tenho o sangue dos Alcântara.
Verônica parecia impaciente.
— E você se importa tanto com isso? O seu avô não te aceita do mesmo jeito?
Viviane olhou para Verônica séria.
— Pessoalmente, talvez eu não me importe. Mas a sociedade é assim mesmo.
Viviane levantou-se e saiu para ir à aula. Verônica seguiu-a.
— Então, você vai deixar assim? Vai deixar que ela fale desse jeito de você e da sua mãe?
Viviane parou, olhando para Verônica.
— E ainda se orgulha de me conhecer a tanto tempo... Acha mesmo que não vai ter volta? Posso não ter uma boa relação com a minha mãe, mas de uma coisa eu sei, se minha mãe me usou, foi para ficar com o Jorge, não com o dinheiro dele. De qualquer forma, essa garota é tão irritante, que me deu vontade de irritá-la também.
Verônica pareceu empolgada.
— E o que você vai fazer?
Vivi olhou para Verônica intrigada.
— Que milagre é esse? Você era uma das primeiras a tentar me fazer desistir dos meus “planos”.
Verônica sorriu.
— Deve ser por que realmente detesto aquela garota!
Viviane olhou para Verônica e riu-se.
— Ok. – disse, sorrindo. – Então, ela vai saber que mesmo eu não tendo o sangue dos Alcântara, deve saber que não se deve brincar com Viviane Alcântara.
— E o que você pretende fazer?
Viviane pareceu pensativa. De repente, olhou para Verônica sorriu.
— Vou tomar o Gabriel dela.
***

Nenhum comentário:

Postar um comentário