A crônica abaixo é da autoria de Luís
Fernando Veríssimo.
Para maiores informações sobre o autor,
favor acessar: http://www.releituras.com/lfverissimo_bio.asp.
Boa leitura!
O ÚLTIMO ENGARRAFAMENTO
A boa notícia é que nunca se viram
tantos carros nas ruas. A má notícia é que nunca se viram tantos carros nas
ruas.
Carros sendo produzidos e comprados como
nunca significam fábricas e fornecedores funcionando e empregando mais, mais
gente com mais dinheiro ou crédito no mercado, uma classe média em expansão, uma
economia em crescimento.
Carros sendo produzidos e comprados como
nunca significam engarrafamentos inéditos e acidentes de trânsito em níveis de
massacre, sem falar no aumento da poluição do ar que respiramos e no
agravamento generalizado das neuroses.
É bom que muitas pessoas que não tinham
condições de comprar seu carro agora tenham, é ruim que em todas as grandes
cidades brasileiras hoje exista uma grande nostalgia pelas chamadas horas do
"rush", ou os horários de pique no trânsito, de antigamente, pois
agora toda hora é hora do "rush".
O que há é que, na surrada analogia de
uma Bélgica dentro de uma Índia para descrever o Brasil, a Bélgica cresceu e os
belgas e neobelgas têm mais carros, mas continuam obrigados a circular nas ruas
e estradas da Índia.
Quanto mais cresce a Bélgica mais
aparecem as precariedades da Índia. A publicidade dos carros sendo lançados
prefere ignorar esta realidade e anunciar máquinas flamantes feitas para zunir
por ruas e estradas de um país que não apenas não é a Índia como não é nenhuma
Bélgica reconhecível, mas uma terra fantástica onde o trânsito sempre flui e os
carros voam.
Uma ironia que se repete diariamente: o
cara chega em casa depois de algumas horas preso num engarrafamento de qualquer
grande cidade brasileira, liga a televisão e, entre notícias de terríveis
acidentes com morte em estradas inadequadas por excesso de velocidade, só vê
propagandas de carros vendendo a grande aventura da velocidade. E da potência
sem impedimentos, muito menos de carros na frente e dos lados.
Como fica cada vez mais improvável que
conheceremos essa terra de sonho, resta esperar que a indústria automobilística
se prepare para o engarrafamento final que vem aí, quando o trânsito se
tornará, literalmente, impossível.
Esqueçam velocidade e potência.
Interiores com beliches, quitinetes e mesas para carteado, para passar o tempo.
Rojões de sinalização, para pedir o resgate por helicóptero. Sei lá.
Nota familiar. Minha neta Lucinda nasceu
no dia de aniversário do Internacional, 4 de abril. Não foi nada planejado,
apenas uma emoção a mais, como abono. Mãe e filha passam bem. O avô se
recupera.
Fonte: http://cronicasbrasil.blogspot.com.br/search?updated-max=2011-05-30T15:58:00-07:00&max-results=7&start=20&by-date=false.
Gostei muito dessa crônica...Tudo a ver kkkk
ResponderExcluirCrônica de Luis Fernando Veríssimo, é sempre ótima! Gostei muito.
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