Novela de Janete Clair
Adaptação de Antonio Figueira
CAPÍTULO 31
Participam deste capítulo
Cyro - Tarcísio Meira
Comendador Liberato - Macedo Neto
Otto - Jardel Filho
Ricardo - Edney Giovenazzi
Pedrão - Waldir Onofre
Coice de Mula / Carpinelli - Dary Reis
CENA 1 - ADMINISTRAÇÃO DAS MINAS - ESCRITÓRIO - INTERIOR - DIA
OTTO REVIA ALGUNS DOCUMENTOS E PLANTAS COM O ENGENHEIRO, QUANDO O CAPATAZ CHEGOU ACOMPANHADO PELO NEGRO FORTE.
COICE DE MULA - Aqui tá o homem, patrão!
RICARDO E OTTO ERGUERAM OS OLHOS.
OTTO - Achou minha carteira?
COICE DE MULA - Lá embaixo, não. Mas, como foi ele quem pegou o casaco do sinhô...
OTTO - Reviste-o! Deve ter sido ele quem roubou!
PEDRÃO - (reagiu) Que é isso? Que é que tão pensando?
O CAPATAZ IA REVISTÁ-LO, MAS OS MÚSCULOS DO HÉRCULES BRILHAVAM DE SUOR E COICE PREFERIU NÃO IR À FRENTE.
RICARDO - Não façam isto com este homem! Eu o conheço e sei que é um homem de bem.
OTTO - (com excessiva calma) Não queremos acusá-lo, queremos revistá-lo.
OTTO - (segurou as mãos do negro por trás das costas) Reviste-o, Carpinelli. Se a carteira estiver com ele...
COICE DE MULA ENFIOU A MÃO POR ENTRE A CAMISA DO MINEIRO E TROUXE DE LÁ A CARTEIRA, COM ENFEITES DE OURO.
COICE DE MULA - O homem é um santo, Doutô Ricardo! (exibiu a prova) Tá aqui a carteira.
RICARDO - Não é possível!
OTTO - (satisfeito) Sim... é possível. Taí o santarrão que você defende.
PEDRÃO ESTAVA TENSO, MAL PODIA FALAR, REVOLTADO COM A MANOBRA EXECUTADA À PERFEIÇÃO PELOS DOIS HOMENS.
PEDRÃO - Isso... é mentira, seu Doutô Ricardo! A carteira num tava comigo. Foi coisa do Seu Capataz!
COICE DE MULA - Coisa minha, hem? Você me acha com cara de quê? Sou mágico, por acaso?
OTTO CONTOU O DINHEIRO, INDIFERENTE.
PEDRÃO - Mentira! Num roubei nada! Num sabia de carteira nenhuma!
COICE DE MULA - Que é que faço, patrão?
OTTO - Chame a polícia! Entregue este negro como ladrão!
PEDRÃO - (desesperado) Chama a polícia! O diabo, se quisé! Eu num roubei! Ninguém pode me prendê por uma coisa que num fiz!
RICARDO - Esperem um pouco... não podem prejudicar assim o pobre homem.
OTTO - O que quer você que eu faça? Você é testemunha!
RICARDO - Deixem ele comigo... Eu quero conversar com ele. Eu me responsabilizo por ele!
OTTO - Tá bem. Eu acredito na palavra do Dr. Ricardo. Em consideração ao pedido dele, deixo este traste continuar. Mas com uma condição...
OS OLHOS DOS HOMENS FIXARAM A CARA MALÉFICA DO SUPERINTENDENTE.
RICARDO - Qual?
OTTO - Este incidente ficará marcado na ficha de trabalho dele. No dia em que sair da nossa companhia, não poderá trabalhar em qualquer outro lugar. Será um homem manchado. Pode levá-lo de volta ao trabalho, Carpinelli. E... muito cuidado com a sua carteira.
PEDRÃO VOLTOU AO FUNDO DA TERRA, QUEIMANDO-SE EM ÓDIO.
CORTA PARA:
CENA 2 - HOSPITAL DE FLORIANÓPOLÍS - SALA DO DIRETOR - INTERIOR - DIA
DIANTE DA EQUIPE MÉDICA, O DIRETOR DAVA AS BOAS-VINDAS AO CIRURGIÃO.
DIRETOR - Dr. Cyro, é certo que o nosso hospital não dispõe dos recursos de uma grande unidade, como a que o senhor dirigia em Londres, mas o equipamento básico e os diversos setores podem trazer bons resultados, certamente. Temos um centro de estudos com importantes obras de consultas e um programa permanente de debates e a UTI com aparelhamento moderno e o indispensável à segurança dos pacientes aqui internados. O índice de mortalidade geral é considerado ínfimo e o de pós-operatório, praticamente nulo.
CYRO SORRIU, SATISFEITO ANTE A RECEPTIVIDADE DE SEUS COLEGAS E DA SATISFAÇÃO ESTAMPADA NA FISIONOMIA DE CADA UM.
DIRETOR - O Hospital se engrandece ao incorporar nos seus quadros um cirurgião de sua competência e prestigio.
EM CONCORDÂNCIA ÀS PALAVRAS DO DIRETOR, A EQUIPE MÉDICA APLAUDIU SUAS PALAVRAS DE BOAS-VINDAS.
CORTA PARA:
CENA 3 - PALACETE DO COMENDADOR LIBERATO - EXTERIOR - NOITE
O SEDAN DO DR. CYRO VALDEZ PAROU DIANTE DO PORTÃO DA RESIDENCIA. O MÉDICO SALTOU, BATEU A PORTA E ENTROU NA MANSÃO.
CORTA PARA:
CENA 4 - PALACETE DO COMENDADOR LIBERATO - SALA - INTERIOR - NOITE
LIBERATO RECEBEU-O COM A ALEGRIA COSTUMEIRA.
COMENDADOR LIBERATO - Como foi seu primeiro dia no hospital, doutor?
CYRO - (com simpatia) Muito bom. No primeiro dia, percorri as enfermarias, o ambulatório e outras dependências do hospital. Depois, visitei alguns pacientes mais necessitados de atenção especial, inclusive de intervenções cirúrgicas imediatas.
O PRÓPRIO COMENDADOR PREPAROU UM DRINQUE COM MUITO GELO, RODELAS DE LIMÃO E SAN RAFAEL. ENTREGOU UMA TAÇA AO MÉDICO E SENTOU-SE NA POLTRONA RECLINÁVEL.
COMENDADOR LIBERATO - Estava para lhe dar uma satisfação dos acontecimentos daquele jantar.
CYRO - O senhor não me deve satisfação alguma.
COMENDADOR LIBERATO - Deve ter ficado intrigado com a reação do meu sobrinho Otto Muller.
CYRO - Confesso que já estou me acostumando às reações esquisitas de seu sobrinho. É um temperamento nervoso, irritável, doentio.
COMENDADOR LIBERATO - E sobre Ester Muller? O que me diz?
CYRO - Se não me engano, ela já não é mais Muller!
COMENDADOR LIBERATO - Desculpe-me, havia me esquecido. De fato, ela já desfez o casamento com ele há algum tempo... então, é... ela... confesso que havia percebido alguma coisa no jantar!
CYRO - (cortou) O senhor me mandou chamar aqui, comendador... para falar de Dona Ester?
COMENDADOR LIBERATO - Exato. Foi para falar de Ester. Gosto muito daquela moça e devo a vida ao senhor, Dr. Cyro.
CYRO - (franziu a testa, curioso) Aonde quer chegar, comendador?
COMENDADOR LIBERATO - Ela tem um passado, sabia?
CYRO - Passado?
COMENDADOR LIBERATO - É. Um passado! Minha intenção é apenas preveni-lo. Otto é um homem perigoso.
CYRO - O senhor não me disse o mais importante. O que aconteceu com Ester?
O VELHO RICAÇO TOMOU UM LONGO TRAGO DA BEBIDA E COMPRIMIU AS LATERAIS DA TESTA, COMO SE FORÇASSE A MENTE A REVIVER UM EPISÓDIO DISTANTE.
COMENDADOR LIBERATO - Ninguém conseguiu provar nada, mas nós que conhecemos Otto suficientemente, sabemos que ele seria capaz de matar o aviador.
CYRO - (impacientando-se) Quem era?
COMENDADOR LIBERATO - Um namorado de infância de Ester. Dizem que o rapaz andou perseguindo-a... enfim... estava apaixonado. Foi um crime revoltante. Ele apareceu morto na fazenda de Otto.
CYRO - E a polícia... o que concluiu?
COMENDADOR LIBERATO - O crime ficou sem solução... falta de provas!
CYRO - (perturbado) E ela?
COMENDADOR LIBERATO - Quem conhece Ester sabe que ela não teve culpa, mas quem conhece Otto sabe que ele não necessitava de certeza para mandar liquidar o rapaz.
CYRO - Compreendo.
COMENDADOR LIBERATO - De qualquer maneira, achei que era meu dever avisá-lo.
CYRO - Agradeço, comendador, mas isso não me intimida.
COMENDADOR LIBERATO - Acho que cumpri com meu dever de amigo, doutor.
CYRO - As suspeitas contra Otto Muller foram públicas?
COMENDADOR LIBERATO - Não, embora o caso tenha sido muito comentado, as suspeitas contra ele ficaram em família. A polícia interrogou vários suspeitos... inclusive ele, mas as provas eram insuficientes para incriminar qualquer pessoa. Custa-me dizer isso... mas penso que esta moça está proibida para você!
CYRO - (agastado) Ninguém está proibido para ninguém. Não há lei humana que dite esta lei absurda. Bem... tome seu remédio direito e evite esforços. Sua aparência é das melhores, comendador.
APERTOU AS MÃOS DO VELHO.
COMENDADOR LIBERATO - Eu me acho no direito de lhe pedir muita cautela com este caso, Dr. Cyro.
CYRO - Não se preocupe. Boa noite!
FIM DO CAPÍTULO 31
...e na próxima quinta, o capítulo 32!
Aos poucos, vamos descobrindo todas as maldades de Otto, que homem cruel!
ResponderExcluirO Otto é o típico vilão capaz de roubar até doce de criancinha. Mas desconfio que ele tem algum recalque forte por algum motivo sério que será revelado com o tempo.
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