segunda-feira, 14 de julho de 2014

WEBNOVELA - LAÇOS - CAPÍTULO 31 - AUTORA: JULIANA SOUSA

Capítulo 31 - Ameaça

Uma semana havia se passado e toda a família estava reunida no domingo, esperando Dr. Otávio, que viria naquele dia para a mansão. Viviane, Emanuela e Mariana acordaram muito cedo para esperá-lo. Mesmo que ele ainda tivesse que ficar descansando quase o tempo todo, todos estavam cheios de expectativas. Bruno, o filho mais novo, e a esposa Iêda; Otávio Jr, o filho do meio, e a esposa Camila, e Gabriele; Érica e Fabinho; além de um dos sócios, chamado Homero, estavam todos na sala principal da mansão, juntamente com a governanta Sônia e alguns empregados que também estavam à espera de Dr. Otávio. Fabiano, por estar de plantão, se despediria do pai no hospital. As três garotas esperavam pelo Dr. Otávio do lado de fora da mansão. De repente, viram ao longe uma limusine preta.
— Ele está vindo. – disse Viviane, olhando para o carro que se aproximava.
Em poucos minutos, o carro estava em frente. O motorista desceu e abriu a porta. Três enfermeiros saíram e enquanto um tirava de dentro do carro uma cadeira de rodas, os outros dois, logo depois, ajudaram o Dr. Otávio a se sentar na cadeira.
Logo que ele foi acomodado, Viviane correu em direção ao avô e deu-lhe um abraço.
— Você está bem, vovô? – perguntou ela.
— O que você acha, Vivi? – perguntou ele rindo e olhando em direção a Emanuela e Mariana. – E o que vocês estão esperando para me dar um abraço?
As duas deram um abraço no avô.
— Vocês estão bem? – perguntou ele, olhando para as duas.
Mariana balançou a cabeça afirmativamente.
Otávio sorriu.
Viviane pediu para um dos enfermeiros para empurrar a cadeira de rodas para dentro, mesmo que o Dr. Otávio pudesse fazer isso, por ser motorizada. Mas, por aquele dia, seu avô deixou.
Ao entrarem, foram recebidos com palmas. Em poucos minutos, todos parabenizavam Otávio pelo sucesso na cirurgia e pelo incrível processo de recuperação.
Depois de todos tomarem o café da manhã, os enfermeiros ajudaram a levar o Dr. Otavio para o seu quarto. Para isso, usaram o elevador que dava para os quartos de hóspedes.
— Como ele vai para o quarto dele por lá? – perguntou Mariana para Emanuela.
— Um dos quartos de hóspedes faz comunicação com o quarto do vovô. – disse Viviane, que ouviu a pergunta de Mariana. – Apesar de ser um quarto que o vovô não goste muito de entrar.
Mariana pensou em perguntar que quarto seria aquele, mas pela expressão séria de Viviane, resolveu matar sua curiosidade em outro momento.
***
A manhã passou rápido. A hora do almoço já estava perto de chegar. Antes disso, Dr. Otavio já havia recebido a visita de quase todos os integrantes da família, até mesmo de Otávio Jr., que resolveu desempenhar seu papel de filho. Viviane ainda estava no quarto do avô, quando as gêmeas entraram.
─ Pronto, vovô. – disse Viviane, ajeitando os lençóis. – A enfermeira avisou dizendo que em poucos minutos chega. Se precisar de alguma coisa, é só chamar pelo telefone. – e olhando preocupada para o relógio – Espero que ela venha logo, não gosto da ideia do senhor ficar sozinho, principalmente nesse estado.
Otávio sorriu, enquanto pensava que Viviane parecia mais madura em tão pouco tempo. Ele olhou para as gêmeas que se encontravam de pé. Fez um sinal para que elas se aproximassem.
—Então, vou deixar vocês a sós. – disse Viviane, saindo.
As duas meninas se aproximaram do Dr. Otávio. Mariana sentou-se em uma cadeira bem próximo à cama e Emanuela permaneceu de pé ao lado.
— Agora, eu tenho a oportunidade de pedir desculpas a vocês por todas as mentiras que foram ditas até agora. Mas a verdade que não pode ser negada é que realmente são minhas netas, filhas do meu falecido filho Jorge. Espero que, um dia, possam me perdoar por tê-las enganado dessa forma.
As gêmeas se entreolharam, ambas sabiam que aquele era o momento para revelar a verdade.
— Na verdade, Dr. Otávio... – começou Emanuela – Nós é que devemos pedir perdão ao senhor. A verdade é que... A verdade...
Mariana percebeu a dificuldade que a irmã tinha e resolveu intervir.
— A verdade é que antes de virmos aqui, já sabíamos de tudo. – disparou Mariana, deixando os outros dois perplexos.
— Sa-Sabiam? – perguntou Dr. Otávio confuso – Como assim, sabiam?
Emanuela tentou se recompor do choque de Mariana ter dito aquilo tão de repente.
— Eu não acreditei na história inventada pela dona Érica, então, para nos fazer vir aqui, ela teve que dizer a verdade. Caso contrário, não teríamos vindo. – explicou Emanuela.
Otávio pareceu sério.
— Érica... Sabia que não podia confiar nela.
— Mesmo assim, Dr. Otávio. – disse Mariana – Não fique com raiva da dona Érica, é culpa da minha irmã por ser tão desconfiada. Se fosse comigo, eu juro, acreditaria naquela história inventada.
O jeito que Mariana falou fez com que Dr. Otávio não se aguentasse e acabasse rindo, mesmo que discretamente. Mariana olhou confusa para Emanuela, que se limitou a sorrir.
— Tudo bem. – disse Dr. Otávio. –Deve ter sido difícil para vocês também guardar esse segredo. E pensando nisso, acho que se sentiram desconfiadas por eu não dizer a verdade diretamente. Imagino que conflitos devem ter passado na cabecinha de vocês. Então, para encerrarmos tudo e apagarmos todos os maus entendidos, que tal me darem um abraço, hein?
As duas garotas sorriram e se aproximaram, abraçaram o Dr. Otávio, enquanto ele sorria feliz.
— Ah, há quanto tempo queria isso. Estar com vocês agora é como ter um pedaço do meu filho que há muito tempo já se foi. – disse emocionado. As duas meninas se afastaram, enquanto o observavam. – Espero que possamos recuperar o tempo que não tivemos juntos. Um avô é um pai duas vezes.
As duas garotas se entreolharam sorrindo.
***
Na segunda feira, logo pela manhã, Érica foi ao hospital. Estava um pouco apreensiva. Naquele momento, estava em frente ao seu médico, Dr. Hosterno.
— Doutor, as dores estão ficando piores, não tem como o senhor passar remédios mais fortes?
O médico olhou para Érica e suspirou.
— Como seu médico, você sabe o que lhe aconselho a fazer. Seu câncer ainda está no início, mas quanto mais demorar a fazer a cirurgia e, em seguida, o tratamento, a situação tende a se agravar. Já vi muitos pacientes, mas você é a primeira que vejo que parece que não quer se curar...
Érica suspirou.
— Não é isso, doutor, mas no momento não posso viajar e não quero que ninguém no Brasil saiba, por isso, não faço o tratamento aqui. Mas, primeiro, quero resolver alguns assuntos pendentes... Não vai demorar muito. Depois disso, viajo imediatamente para os Estados Unidos para fazer a cirurgia.
Hosterno começou a digitar em seu nootbook.
— Vou receitar um remédio um pouco mais forte, mas saiba que no seu caso é só uma medida paliativa. As dores se tornarão mais suportáveis.
— Mas, doutor, quanto aos riscos da operação...
— Não pense nisso, há maiores riscos em se deixar a situação como está. Aconselho, como seu médico, a resolver logo esses assuntos pendentes e cuidar com urgência de sua saúde.
***
Enquanto isso, no escritório do Dr. Marcos, Rebeca se encontrava sozinha. Érica havia saído e não tinha avisado quando voltaria ao escritório ou sequer se voltaria. Dr. Marcos também não tinha ligado, avisando que vinha, por essa razão, mesmo que o objetivo principal de Rebeca não fosse trabalhar naquele lugar, ela aproveitou para organizar alguns documentos. Com Dr. Marcos ocupado com a Presidência do Grupo Demontieux, alguns assuntos acabaram por ficar pendentes em suas empresas de investimento pessoais. De repente, o seu celular tocou.
— Alô? – atendeu, enquanto ainda organizava os papéis.
— Alô. – respondeu a pessoa do outro lado da linha – Posso falar com Rebeca?
— Sou eu. O que deseja?
— Então, Rebeca, estou retornando, porque há alguns dias você entrou em contato...
Rebeca parou imediatamente o que estava fazendo. Sua expressão estava mais séria.
— Sim, isso mesmo. Tinha urgência em falar com alguém daí.
— E então?
— Algumas coisas aconteceram nesse intervalo. Gostaria de marcar um encontro com o senhor, mas antes preciso tomar uma decisão muito importante.
***
Marcos chegou ao Escritório Central do Grupo Demontieux no prédio principal. Assim que chegou, logo percebeu que algo estranho estava acontecendo. Ao chegar à sua sala, recebeu a visita do Diretor Financeiro.
— Presidente, a situação do Grupo está ficando um pouco complicada. Com o escândalo, as ações já caíram bastante.
— Escândalo? Do que está falando?
— O senhor não soube? Está em todos os lugares na internet e nos jornais.
— Ainda não tive tempo de ver nada hoje. – disse, abrindo o notebook a sua frente e acessando.
— Alguém vazou informações para a mídia, dizendo que alguém do alto escalão administrativo do Grupo foi acusado de lavagem de dinheiro. – disse o Diretor Financeiro, enquanto, ao mesmo tempo, Marcos olhava nos principais sites de notícias.
— Alguém vazou? - perguntou como se falasse para si mesmo. E ligando pelo telefone para a secretária da presidência– Talita, chame imediatamente o diretor de Relações Públicas e o setor jurídico da empresa. – e pensando um pouco – Também convoque demais diretores para tomarmos as devidas providências. Diga que é urgente. – disse calmamente, depois desligando o telefone.
O Diretor Financeiro também se despediu.
Marcos permaneceu calado por uns instantes, pensativo.
— Otávio Jr., o que está tramando?

***
Viviane estava no intervalo das aulas esperando Verônica na lanchonete, pois a mesma havia ido à biblioteca, quando, de repente, ela avistou Gabriel. A garota se levantou e seguiu em sua direção.
— Gabriel – chamou-o, enquanto o puxava pelo braço. – Temos que conversar.
O rapaz olhou um pouco despeitado para Viviane, mas concordou. Os dois seguiram para uma das salas de aula que estava vazia.
— O que quer? ­– perguntou um pouco desinteressado.
— Bem, não gosto de me explicar, mas também não gosto de mal-entendidos. Não sou o tipo de pessoa que faz algo e não admite o que fez.
Gabriel pareceu um pouco impaciente.
— Do que está falando?
— Estou falando da Emily, do que mais?
— Ah... – disse ele, lembrando-se e olhando um pouco chateado para Vivi. – Já sei do que quer falar... Sobre o fato que deixou as marcas dos seus dedos no rosto dela.
Viviane riu-se um pouco irritada.
— Posso ter feito algo errado, mas ela também não é a garotinha inocente que imagina. Teve um motivo pelo qual eu fiz aquilo.
— Então me diga... – disse ele incrédulo. – Que motivo seria esse? Porque eu não consigo imaginar qualquer tipo de razão que justifique agredir uma pessoa.
— Não está pegando um pouco pesado comigo? – perguntou indignada – De qualquer forma, aquela sua amiga além de me chamar de bastarda e, sinceramente, eu até que não me importo, já que não é totalmente mentira, mas ela teve a ousadia de acusar a minha mãe de ter dado um golpe do baú e a ainda a ofendeu. – e tentando se acalmar – Sabe, posso não me dar bem com a minha mãe, mas não vou deixar outros a acusarem sem saberem a real situação. Foi por isso que me irritei e a agredi por ímpeto, porque se eu tivesse pensado mais, não teria me rebaixado a tanto, principalmente com aquela garota... Não foi algo planejado, isso eu posso garantir a você.
Gabriel olhou para Viviane, tentando compreender aquilo.
— Tudo bem, Viviane. Digamos que esteja certa e apenas cometeu um erro. – e se aproximando mais – Por que tem que explicar isso para mim?
A garota ficou confusa por alguns momentos, como se não soubesse o que responder.
— Por que... – disse quase sem palavras – Porque não gosto que as pessoas me entendam mal, só isso.
— Sério? Pois, pelo pouco que lhe conheço, você sempre demonstrou que não se importava com o que as pessoas pensavam... Então, por que se explicar justamente para mim, o cara que sempre considerou um inimigo?
— Ora, Gabriel! Porque sim. Precisa ter uma razão para se explicar para alguém? E se no passado eu não me importava, agora eu me importo e daí? As pessoas mudam, sabia? – disse saindo, enquanto Gabriel a observava curioso.
***
Camila entrou em seu quarto e viu o marido sentado junto à escrivaninha trabalhando. Vendo Otávio Jr. tão concentrado, ficou um pouco curiosa e se aproximou.
— Achei estranho não ter ido à empresa hoje. Deve estar preocupado, não é? Hoje passou no jornal que houve um escândalo no Grupo Demontiex. Você não parece preocupado com isso.
— Sim, soube. Um anônimo vazou informações para a mídia de que alguém do alto escalão da administração está envolvido com um esquema sério de lavagem de dinheiro.
Camila fitou o marido desconfiado.
— Um anônimo vazou? – perguntou Camila– Não me diga que você...
Otávio Jr. olhou para a esposa e riu.
— Parece que não posso disfarçar muito, não é?
Camila parecia incrédula diante daquilo.
— Por que fez isso? Não prejudicaria apenas o tio Marcos como toda a família... As ações do Grupo estão caindo na bolsa, sabe o que isso significa, não é? É extremamente arriscado.
— Não se preocupe. Nem todo capital do Grupo está na bolsa de valores. E como diria meu pai, é só fogo de palha. Não existem provas, mesmo se fosse mencionado o nome do tio Marcos. Em todo caso, ele mereceu. Com essa dor de cabeça, não terá que se intrometer mais nos meus negócios. Ultimamente, ele estava bloqueando até a aprovação dos meus projetos no Grupo.
— Mesmo assim... – comentou Camila preocupada.
— Bem, o importante agora não é isso. A nossa tarefa principal é reunir os documentos que provem as atividades ilegais do tio Marcos para afastá-lo de vez da Presidência do Grupo.
Camila suspirou, enquanto sentava-se em uma cadeira próxima ao marido.
— Você ainda tem esperanças de encontrar esses documentos? Até mesmo o tio Marcos passou anos procurando por eles. Só o Jorge poderia saber onde eles estão e de onde ele está, tenho certeza que não nos ajudaria. – disse com um pouco de humor negro.
— Eu sei. Mas analisando a personalidade do meu irmão, tenho certeza que ele escondeu esses documentos em algum lugar. Ele era esperto o suficiente para saber que corria risco de morte. Se conseguíssemos encontrar antes do tio Marcos, teríamos tudo em nossas mãos... Poderíamos usar isso para chantageá-lo e conseguir tudo que quiséssemos. – e parecendo lembrar-se de repente de algo. – E quanto à outra parte do plano? Tudo está correndo bem?
Camila levantou-se confiante enquanto se dirigia a porta.
— Sim, não se preocupe com isso. Eu disse a você que poderia contar comigo, não?
— Ok. – disse ele – Por enquanto, vamos deixar a poeira baixar com esse assunto do tio Marcos e do meu pai. Depois disso, partiremos para a execução desse plano em especial. – concluiu, vendo a esposa sair pela porta do quarto.
***
Otávio estava em sua cama, quando a enfermeira que cuidava dele permitiu apenas por alguns momentos a entrada do Dr. Tarcísio, sem antes é claro dar alguns avisos quanto a deixar seu paciente agitado.
— Desculpe, Dr. Otávio. – disse Tarcísio profundamente arrependido ao entrar no quarto.  – Eu sei que eu não deveria importuná-lo com os assuntos relacionados ao Grupo...
— Não precisa se desculpar... Eu mesmo havia dito a você que deveria me comunicar quando houvesse algo incomum acontecendo.
Tarcísio assentiu.
— E então, o que houve? – perguntou Otávio com certa preocupação na voz.
O Dr. Tarcísio ficou calado por uns instantes como que escolhendo as palavras certas para dizer o que o havia levado até a mansão.
— Infelizmente, Dr. Otávio, tenho uma má notícia.
Otávio ficou apreensivo.
— Má notícia?
Tarcísio permaneceu sério.
— Talvez o senhor não tenha assistido o noticiário... Mas as suspeitas de que alguém de dentro do Grupo pode estar envolvido com negócios ilegais vazou para a mídia essa manhã. Infelizmente, as ações do Grupo estão caindo bastante.
— Mas isso não seria o suficiente para deixar o Grupo em uma situação tão miserável. – disse ele – Tenho certeza que nem todo o capital do Grupo se encontra na bolsa de valores. Temos muitos investimentos imobiliários.
— De fato, mas não significa que não pode piorar. Além disso, como sabemos, tem havido retiradas de dinheiro consecutivas há muito tempo, adicionando o fato de que o mercado financeiro é muito sensível... Espero que seu irmão saiba lidar com isso. Em todo caso, não foi exatamente para isso que vim lhe falar.
— A algo mais que queria me dizer?
— Sim. Vim lhe atualizar das investigações que estamos conduzindo. Uma em especial parece estar tendo um interessante avanço.
***
Mariana estava na biblioteca da mansão, dando uma olhada nos livros de medicina, quando o seu celular tocou. Olhou para ver quem é e ficou surpresa.
— Alô? Dr. Rafael? – disse, atendendo ao telefone.
— Oi, Mariana. Queria lhe convidar, já que não tem vindo mais aqui, claro se não estiver ocupada. Gostaria de vir almoçar comigo? Se achar muito desconfortável...
— Não estou tão ocupada, então, aceito o seu convite. – disse ela de imediato se animando – Minha irmã está no trabalho e me sinto um pouco cansada de não fazer nada. Posso sim fazer uma visita.
— Tudo bem, então espero aqui.
Mariana desligou o celular sorrindo. Era bom de vez em quando conversar com alguém de fora, principalmente o Dr. Rafael, que havia se tornado um amigo e confidente.
***
Viviane estava saindo da sala de aula, quando viu Verônica e apressou-se um pouco para acompanhá-la.
— E aí? Como foi a sua aula? – perguntou assim que Vivi se aproximou.
Viviane deu um longo suspiro, fazendo com que a amiga já imaginasse a resposta.
— Como acha que foi? Péssima, né? Na verdade, não só a aula foi péssima, o dia também foi péssimo por causa daquela Emily. – e mordendo os lábios com raiva. – Que garota insuportável! Sabe, eu nunca desgostei tanto de alguém na minha vida. Se eu tivesse coragem mesmo, mandava alguém dar uma boa lição nela, como os criminosos fazem. – e olhando a expressão assustada da amiga – Você sabe que estou brincando, não é? Minha sanidade mental ainda não me permite isso.
— O que aconteceu para ter esse instinto assassino? – perguntou a outra rindo.
Viviane parou olhando para si mesma.
— Você não percebeu que eu mudei de roupa? Aquela Emily “acidentalmente” derramou suco em mim, depois de me convidar para a festa dela, acredita? É como um aviso “Eu lhe convidei, mas espero que não vá”.
Verônica parou, olhando surpresa para Vivi.
— Então... Conseguiu ser convidada? Mas isso é ótimo!
— Você não ouviu a parte em que ela “acidentalmente” derramou suco na minha roupa? Não desconfia que ela esteja planejando algo contra mim, não?
— Claro que ouvi. E o fato de estar planejando algo contra você é sua paranoia, como sempre. – respondeu à amiga, enquanto as duas retomavam a caminhada até a saída do prédio. – E aí, o que pretende fazer?
— Quanto à festa, eu ainda não sei, mas neste momento... – disse pensativa - Bem, agora vou ver o meu Rafael, porque só vê-lo de longe já é um remédio para o meu mau humor. Quem sabe assim, eu esqueço esse desastroso dia da minha vida.
Verônica suspirou.
— Vivi, você é extremamente exagerada. Mas pensei que já tinha desencanado do Rafael. Acho que já está na hora de parar com essa obsessão.
Vivi ficou boquiaberta.
— Não ouse chamar meu amor de obsessão, ok? – e com um olhar sonhador. – Rafael é tão perfeito que me pergunto porque ainda é solteiro.
Verônica riu alto.
— Está mesmo se perguntando isso? Será que não lembra que desde os seus 15 anos espalha para o hospital inteiro que Rafael é seu noivo e quem se aproximar dele vai ser demitido? Obviamente, nenhuma enfermeira ou médica se aproximaria dele, a menos, é claro, que namorasse escondido. Caso contrário, por sua culpa, ele estaria condenando ao celibato, coitado!
— Humf! Até parece que ele deixaria de ver mulheres apenas por causa disso. Talvez, no fundo, ele realmente goste de mim e estava esperando todo esse tempo. E agora que tenho 18 anos, ele vai poder demonstrar o imenso amor que sente por mim e, então, nosso destino se concretizará. – disse teatralizando.
Verônica riu de novo.
— Claro, claro. Isso é tão verdade quanto a notícia de que o príncipe Willian vai se separar da Kate para ficar comigo...
Viviane pegou na cabeça da amiga com olhar de pena.
— Amiga, você realmente precisa parar de sonhar. – e suspirando enquanto balançava a cabeça negativamente – Sonhar tão alto assim não faz bem. – e vendo que já chegavam ao portão de saída da universidade. – Agora vou indo, tenho que vê-lo logo. Beijo. – disse, despedindo-se de Verônica.
— Ai, Vivi! Você não existe mesmo. – falou para si mesma, rindo.
***
Mariana assim que entrou no hospital, logo avistou Rafael e acenou para ele. Os dois se encontraram e, como o médico estava em seu intervalo, os dois se dirigiram a um lugar arborizado e refrescante próximo a um dos jardins do hospital. Ambos se sentaram em alguns bancos de pedra que ali existiam.
— Fiquei surpresa quando me ligou. – confessou Mariana, assim que se sentou – Digo, você é tão ocupado!
— A verdade é que hesitei um pouco. Mas já que somos amigos, não vi problema. Achou inconveniente? – perguntou preocupado.
— Não, de maneira alguma. Na verdade, ligou em boa hora. Aquela casa é tão grande que me sinto solitária, principalmente, quando minha irmã não está por perto. Sinceramente, pode parecer loucura, mas até gostaria de morar em uma casa menor.
Rafael sorriu. Mariana, por alguns segundos, percebeu algo que nunca havia notado antes ou, pelo menos, nunca tinha dado tanta importância. O médico era de fato um homem atraente, principalmente, quando sorria, além de, para ela, ter uma ótima personalidade.
— Alguém ótimo para se apaixonar. – disse ela, externalizando seus pensamentos sem querer.
— O que disse? – perguntou ele, confuso com aquela frase.
Mariana ficou surpresa, não acreditava que tinha falado aquilo em voz alta. Tocou no rosto instintivamente, imaginando que tivesse ficado vermelha naquela hora, o que pioraria a sua situação.
— Acho que falei algo sem querer... – disse um pouco sem graça, enquanto via o médico tentando não rir da situação. – Digo... Ou o que eu estava pensando é que você é alguém muito gentil, além de bonito e... A garota por quem se apaixonasse teria muita sorte. – concluiu, sorrindo sem graça.
— Acha isso? Eu já acho que sou alguém realmente comum. Na verdade, por enquanto, não estou tendo muita sorte no amor.
— Sério? Por que diz isso? – perguntou ela surpresa. – É quase inacreditável! Sempre imaginei que recebesse várias propostas como a Viviane sempre faz.
— De fato, isso é um pouco verdade. Mas a pessoa que eu gosto, possivelmente, não sente o mesmo.
— Então, gosta de alguém e não está sendo correspondido?
— É, pode-se dizer que sim. – disse enigmático.
Mariana pareceu animada.
— Que incrível! – e diante do olhar surpreso do médico – Digo, não por não ser correspondido, mas porque assim, tenho a chance de retribuir a ajuda que me dá. Afinal, já que o senhor se tornou meu confidente, posso lhe ajudar a conquistar a pessoa que gosta. – disse decidida.
— E como fará isso? – perguntou o médico, se divertindo com o jeito da garota.
— Primeiro... Como essa pessoa é? Quero dizer, essa pessoa é romântica, séria, extrovertida, introvertida? Como? Se eu souber fica mais fácil de ajudar.
Rafael sorriu enquanto fitava a garota.
— Ela parece ser uma pessoa romântica, bastante extrovertida e até mesmo tem atitudes que surpreendem. Não seria errado dizer que é um pouco imprevisível, de um jeito bom, é claro. Além é claro de ser alguém que normalmente está de bom humor.
Mariana ficou calada e pensativa por alguns segundos.
— Nossa! É muito parecida comigo! Assim fica bem mais fácil eu te ajudar.
— Então... – disse ele interessado – Acha que algum dia essa pessoa em especial vai me corresponder? Digo isso, porque até agora ela parece não ter me notado.
— Claro que sim. – disse ela confiante – Afinal, eu sei como é ter um amor não correspondido e não vou deixar que isso aconteça com você, companheiro. - e um pouco mais séria – Eu acredito que quando alguém gosta de outra pessoa de verdade, se ela não desistir, esse sentimento pode alcançar essa pessoa.
— Então, no seu caso, isso significa que ainda vai insistir com o namorado da sua irmã?
— De jeito nenhum! – negou ela de ímpeto e um pouco triste – O sentimento que tenho pela minha irmã é infinitamente maior do que um amor platônico. – e sorrindo – Mas não vamos falar sobre isso, vamos falar sobre as estratégias que tenho para você.
***
Viviane havia chegado ao hospital e procurado por Rafael. Ela sabia que naquele horário os médicos tinham um intervalo. Perguntou por alguns colegas médicos, mas não conseguiu qualquer informação de onde ele se encontrava. Depois, foi até as enfermeiras e acabou descobrindo que ele estava na companhia de uma garota.
— Quem deve ser ela? – Vivi perguntou a si mesma, enquanto se dirigia ao local que lhe falaram.
Quando se aproximou, notou que a garota era a Mariana. Estava prestes a aparecer e acabar com aquela conversa, quando teve outra ideia. Ficou escondida, mas perto o suficiente para ouvir a conversa e não ser notada. Vivi não deixou de se surpreender, quando Rafael disse que gostava de alguém e, principalmente, ao descrever as características exatas de Mariana.
— Mariana, sua tapada. – disse irritada. – Ele praticamente se confessou para ela. – disse ouvindo logo em seguida algo que a deixou perplexa. Depois de algum tempo, os dois pareciam ter terminado a conversa.
— Bem... – disse Mariana – Sinceramente espero que eu lhe ajude a conquistar a pessoa que gosta. Eu desejo do fundo do meu coração que seja feliz no amor.
— Eu também. – e olhando no relógio – Já está passando da hora do almoço, é melhor nos apressarmos.
— Pode ir na frente. Já que sei o caminho, vou ao banheiro e logo estarei lá. – respondeu sorrindo.
O médico se despediu brevemente e saiu, enquanto Mariana ia em direção ao banheiro. Aquela era a oportunidade para Viviane, que, de repente, surgiu na frente de Mariana, a surpreendendo.
— Vivi? – perguntou surpresa.
Viviane sorriu, demonstrando um pouco sua insatisfação.
— Quem lhe deu permissão para me chamar assim, hein?
— Viviane... Por que está aqui?
Viviane riu.
— E por acaso eu tenho que dar satisfações da minha vida para você? – e séria, enquanto cruzava os braços – Eu que pergunto, o que está fazendo aqui?
— Eu até poderia responder com a mesma grosseira que usou comigo, mas serei educada e direi que vim aqui visitar um amigo. É só isso que gostaria de saber?
Viviane riu, mais uma vez visivelmente irritada.
— Você é um dos tipos de pessoa que mais detesto, sabia? É o tipo de garota que dar uma de ingênua, que pensa positivamente sobre tudo, bancando a educada e sempre se esforçando para ser a certinha. Sua irmã é mais suportável do que você! Pelo menos, ela é capaz de admitir que não é nenhuma santinha.
Mariana pareceu um pouco abatida por aquelas palavras.
— Não entendo porque está falando isso comigo agora.
Viviane riu.
— Por quê? Não banque a idiota, que de estúpida você não tem nada! Vou falar outra vez, mesmo que eu já tenha feito milhares de vezes e parece que não tem dado ouvido. Você, neste momento, está em um território que não te pertence, entendeu agora ou quer que eu desenhe?
— Não sabia que éramos um tipo de animal que marcasse território.
Viviane pareceu impaciente.
— Mariana, você me entendeu. Por favor, eu peço educadamente que não se aproxime mais do Rafael. Está claro?
— Viviane, não posso me afastar de uma pessoa que não me fez mal nenhum. E eu já falei a você que não tenho esse tipo intenção que imagina com ele.
— Não importa. Se não fizer o que estou dizendo, serei obrigada a contar o seu segredinho para sua querida irmã do coração.
Mariana olhou assustada para Viviane.
— Que segredinho?
Viviane se aproximou um pouco mais, falando baixo quase perto do ouvido da garota.
— O segredinho que você confidenciou para o Rafael, que gosta do namorado da sua irmã. Em outras palavras, que está apaixonada pelo Fabrício. O que será que ela pensaria quando soubesse disso?
Mariana olhou perplexa para Vivi, sentia como se o chão tivesse desaparecido debaixo dos seus pés.
— Você não faria algo assim...
— Experimenta só para ver. O aviso já está dado, ex-irmãzinha. Depois não diga que eu não avisei. – disse Viviane, sorrindo maldosamente e saindo, enquanto Mariana sentava-se em um banco sem reação e um pouco pálida.

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