Novela de Janete Clair
Adaptação de Toni Figueira
CAPÍTULO 37
Participam deste capítulo
Cyro - Tarcísio Meira
Ester - Glória Menezes
Otto - Jardel Filho
Lia - Arlete Sales
Paulus - Emiliano Queiroz
Catarina - Lidia Mattos
Júlia - Ida Gomes
Dr. Avelar - Álvaro Aguiar
Dr. Roberto - Paulo Cesar Pereio
CENA 1 - HOSPITAL - SALA DE CYRO - INTERIOR - NOITE
ERA NOITE E O HOSPITAL ENTRAVA NA ROTINA DAS NOITES TARDIAS. APENAS A MOVIMENTAÇÃO INTERNA. ENFERMEIROS VISITANDO OS PACIENTES. MÉDICOS A SOCORRER OS CASOS MAIS URGENTES, OUTROS OCUPADOS NUMA OPERAÇÃO DELICADA.
DR. AVELAR - Cyro! Que milagre é esse! Você aqui, a esta hora!
CYRO - Vim inspecionar o material que chegou... (pegou nuns papéis sobre a mesinha de aço) Aqui está a lista do que mandamos buscar em Londres. Cardioscópio... máquina de circulação extracorpórea... desfribilador... instrumental cirúrgico especializado... e válvulas artificiais.
DR. AVELAR - Tudo em ordem?
CYRO - Tudo em ordem. Prontinhos para serem colocados em uso.
UM MÉDICO JOVEM ENTROU NO GABINETE. CYRO NOTOU-LHE O AR NERVOSO.
CYRO - Olá, Roberto. E o nosso doente da sexta enfermaria... como está passando?
DR. ROBERTO - Foi bom o senhor chegar agora. Alguém o avisou?
CYRO - Não, por quê?
ROBERTO - Piorou muito, agora à noite.
CYRO - Vamos lá vê-lo.
ROBERTO - Foi providencial a sua vinda, doutor. Até parece que adivinhou.
CORTA PARA:
CENA 2 - RODOVIA - EXTERIOR - NOITE
NÃO HAVIA OUTRA OPÇÃO. OU VIAJAR COM OTTO OU LHE PERMITIR LEVAR IVANZINHO PARA SÃO PAULO. ESTER PREFERIU O SACRIFÍCIO. AGORA O CARRO DESLIZAVA SOBRE O ASFALTO DA ESTRADA. OTTO ACELERAVA MAIS E O PONTEIRO DO VELOCÍMETRO OSCILAVA ENTRE 120 E 150 QUILÔMETROS. ESTER OLHAVA O LUMINOSO VERDE E A ESCURIDÃO À SUA FRENTE, CORTADA APENAS PELOS DOIS FOCOS DE LUZ QUE ABRIAM CAMINHO POR ENTRE A CERRAÇÃO QUE SE TORNAVA MAIS DENSA À MEDIDA QUE A MADRUGADA SE APROXIMAVA.
OTTO - Então... a senhora pensou que pudesse manter um romance com o médico!
ESTER REMEMOROU A FESTA DE BABY LIBERATO E O DIÁLOGO ÁSPERO ENTRE OS DOIS HOMENS, QUANDO OTTO FORA BUSCÁ-LA E UM DE SEUS CAPANGAS TENTARA AGREDIR UM MINEIRO, AMIGO DE CYRO. TUDO FICARA REVELADO NAQUELA NOITE.
ESTER - Você deixou para discutir isso, justamente agora?
CYRO - Gosta dele?
ESTER - Que lhe interessa isso?
OTTO - Gosta? (estava tenso, as mãos retesadas em torno do volante) Responda, Ester!
ESTER - Pois bem, você é mesmo sádico. Quer saber a verdade? Gosto do Dr. Cyro. Estou apaixonada por ele.
OTTO - Apaixonada... apaixonada...
ESTER - Isso, quando muito, pode ferir a sua vaidade. Porque, nem ciúme você pode sentir...
OTTO - Pois eu estou com ciúme, Ester!
ESTER - A quem você quer enganar, Otto? A mim? Sabe que comigo pode tirar a máscara. Conheço você mais do que a mim mesma. Não foi por ciúme que você mandou matar Carlos...
OTTO - Não mandei matar o aviador, mas posso muito bem decidir que o Dr. Cyro não merece viver.
ESTER - (estremeceu) Pois muito bem. Tente. Tente fazer alguma coisa contra o Dr. Cyro. Eu ponho as cartas na mesa. Desmascaro você. Estou disposta a tudo. Digo a todos, até à polícia, quem você é: um neurótico, assassino. Assassino três vezes...
OTTO - (descontrolado) Ester, você está me irritando!
ESTER - Foi você quem começou, não foi? Pois agora, aguente. Primeiro, levou meu pai ao suicídio, portanto, você o matou. Depois foi Carlos... por último o negro Gabriel...
OTTO - (a voz baixa, irada) Cale-se, Ester!
ESTER - Se era problema de provas, eu encontro provas contra você. No caso de Carlos, por exemplo, eu posso conseguir o testemunho de Vanda. Sabe quem é Vanda, não sabe? A atriz de circo? Você tem um sapatinho dela... comprado a peso de ouro! (Otto olhou-a espantado) Ela deve saber muita coisa a seu respeito.
OTTO - (gritou, fora de si) Para de dizer asneiras!
TUDO ACONTECEU DE REPENTE. OTTO LEVOU AS MÃOS AO CENTRO DO PEITO, COMO SE UMA DOR VIOLENTA O ACOMETESSE. O CARRO DESGOVERNADO RODOPIOU. ESTER AINDA TENTOU MANOBRAR O VOLANTE, MAS O CORPO PESADO DO MOTORISTA IMPEDIU-LHE OS MOVIMENTOS. O SEDAN CAPOTOU, ARRASTOU-SE POR ALGUMAS DEZENAS DE METROS E TRANSFORMOU-SE NUM MONTE DE FERROS RETORCIDOS AO BATER CONTRA AS LATERAIS ROCHOSAS DA ESTRADA. UMA DAS RODAS FICOU A GIRAR, TESTEMUNHA MUDA DOS ACONTECIMENTOS.
CORTA PARA:
Lia (Arlete Sales) e Otto (Jardel Filho) |
CENA 3 - MANSÃO DE OTTO MULLER - SALA - INTERIOR - NOITE
LIA ATRAVESSOU A SALA. A MADRUGADA JÁ IA ALTA E O TELEFONE TOCAVA.
LIA - Alô! Sim... pode falar. De onde? Que aconteceu? Como? Otto Muller deu entrada, agora, no hospital? Desastre? Onde? Ele está mal? Sim... e as pessoas que estavam com ele? Sei... obrigada. Irei... imediatamente!
DESLIGOU E DESCEU AS ESCADAS CORRENDO.
JÚLIA - (acendendo a luz da grande sala de visitas) O que foi?
LIA - Acabaram de telefonar do pronto-socorro. Otto está hospitalizado. O carro dele sofreu um desastre! É preciso avisar Dona Catarina.
JÚLIA - E Dona Ester... e o menino?
LIA - Escaparam... e parece que... milagrosamente. O carro virou bagaço...
CORTA PARA:
CENA 4 - HOSPITAL - SALA DE ESPERA - INTERIOR - NOITE
O DR. PAULUS LEVANTOU-SE E SE ENCAMINHOU PARA A ENFERMEIRA. OLHOU O RELÓGIO NO ALTO DA PAREDE. 4,30 DA MANHÃ. O DIA COMEÇAVA A NASCER.
PAULUS - Esperamos durante a noite inteira. Não tem notícias ainda do Sr. Otto Muller?
ENFERMEIRA - Um momento (discou um número no telefone interno) São parentes?
CATARINA - Sou mãe dele.
ALGUÉM ATENDEU DO OUTRO LADO DA LINHA.
ENFERMEIRA - Dr. Roberto? Os parentes do Sr. Otto Muller estão impacientes... Sim... pois não? (dirigiu-se à velha) Podem esperar um minuto? O médico que atendeu seu filho virá em seguida.
PAULUS - (disfarçando o nervosismo) As pessoas que estavam com o Sr. Otto no carro... sabe como estão?
ENFERMEIRA - A criança e a senhora dele já foram medicadas e deixaram o hospital...
MINUTOS DEPOIS, O MÉDICO EXPLICAVA TUDO.
DR. ROBERTO - Do desastre, o Sr. Otto sofreu algumas escoriações sem importância. O mal que ocasionou o desastre é que nos preocupa.
CATARINA - (apreensiva) Que mal?
DR. ROBERTO - O Sr. Otto foi vitimado por um enfarte e seu estado é gravíssimo.
CATARINA - Enfarte! Mas... como é possível?
LIA - Eu sabia que isso tinha de acontecer. Otto não estava bem nos últimos tempos. Muitas aflições, muitas preocupações com a mina. É um homem devotado ao trabalho e caridoso. Bom. Tinha de sofrer do coração...
PAULUS - Quer dizer que foi o enfarte que acarretou o desastre?
DR. ROBERTO - Exatamente. Pelo que ele explicou, a dor violenta que sentiu no peito fez com que largasse o volante. Aí, o carro desgovernou-se.
LIA - (com renovada esperança) Então... ele não está inconsciente.
DR. ROBERTO - Não.
CATARINA - Podemos vê-lo?
DR. ROBERTO - Sinto muito, agora é impossível.
PAULUS - Não meça esforços para salvá-lo, doutor. Nem despesas.
DR. ROBERTO - Ele já está medicado de urgência, mas mandamos chamar o Dr. Cyro Valdez, que é o nosso chefe da cardiologia.
PAULUS - Dr. Cyro Valdez?! É quem vai tratar dele?
LIA - É um ótimo médico. Ele não podia estar em melhores mãos.
OS OLHOS DO MÉDICO SE DESVIARAM PARA A PORTA CENTRAL. CYRO ACABAVA DE CHEGAR. ROBERTO CORREU A RECEBÊ-LO.
DR. ROBERTO - Obrigado por ter vindo logo. É um caso de urgência. O Sr. Otto Muller sofreu um enfarte e ocasionou um acidente com seu carro.
CYRO PERCEBEU A PRESENÇA DAS TRÊS PESSOAS. CUMPRIMENTOU-AS CORTESMENTE.
CATARINA - (suplicou, emocionada) Salve meu filho, doutor!
LIA - Tenho certeza que o senhor fará tudo que puder para salvá-lo, doutor.
CYRO - Claro, claro...
E AFASTOU-SE PARA O INTERIOR DO HOSPITAL.
CORTA PARA:
CENA 5 - HOSPITAL - QUARTO DE OTTO MULLER - INTERIOR - DIA
PINGO A PINGO, GOTA A GOTA, O SORO DESCIA PARA A VEIA DO ALEMÃO. OTTO GEMIA BRANDAMENTE, DEITADO NA COLCHA BRANCA. SOBRE A MESINHA AO LADO DA CAMA, OS TRAÇOS COMPLICADOS DO ELETROCARDIOGRAMA. CYRO, JÁ COM O UNIFORME BRANCO, CORREU OS OLHOS PELO PAPEL. ROBERTO AVISOU-O.
DR. ROBERTO - O resultado do eletro...
CYRO - ... é uma insuficiência coronariana aguda. A pressão?
DR. ROBERTO - Já está normal.
MOSTROU A FICHA CLÍNICA AO CHEFE DA CARDIOLOGIA.
CYRO - O estado dele ainda inspira cuidados. Temos de aguardar a evolução nas próximas horas.
SENTANDO-SE À MESINHA, CYRO PRESCREVEU NOVOS EXAMES DE URGÊNCIA.
DR. ROBERTO - Quais as recomendações?
CYRO - Vou pedir os exames de sangue. É preciso conservá-lo em absoluto repouso. Silêncio completo. Nada de visitas. Ainda deve sentir dores...
DR. ROBERTO - São mais suportáveis depois dos medicamentos...
CYRO - A medicação é essa mesma... cardiotônicos... vasodilatadores. Deve mantê-lo sedado o tempo todo.
CYRO - (ia sair, mas voltou-se para o colega) A criança e a senhora que estavam com ele... deram notícias?
DR. ROBERTO - Os dois estão bem. Escaparam ilesos e eu vou lhe dizer uma coisa: acho que foi um milagre!
FIM DO CAPÍTULO 37
Na próxima quinta, o 38. capítulo!
Que capítulo tenso! Ainda bem que todos escaparam do acidente! Imagino como Otto irá reagir ao perceber que está sendo tratado por Cyro!
ResponderExcluirAcho que, ao contrário, de ficar agradecido, Otto vai é ficar ainda mais irritado com Cyro. Vamos ver o desdobramento...
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