Novela de Janete Clair
Adaptação de Toni Figueira
CAPÍTULO 62
Participam deste capítulo
Baby - Claudio Cavalcanti
Cyro - Tarcísio Meira
Comendador Liberato - Macedo Neto
Catarina - Lídia Matos
Dirce - Sônia Ferreira
Júlia - Ida Gomes
Cesário - Carlos Eduardo Dollabella
Padre Miguel - Artur Costa Filho
Ivanzinho - Rogério Pitanga
Daniel - Paulo Araújo
Pé-na-Cova - Antonio Pitanga
CENA 1 - FLORIANÓPOLIS - CASA DE ESTER - SALA - INTERIOR - NOITE
ESTER - Agora, você vai me dizer... O que está te preocupando?
ESTER - Agora, você vai me dizer... O que está te preocupando?
CYRO - Ester... eu decidi. Você seguirá, amanhã, com Júlia e Ivan para São Paulo.
ESTER - Mas... por quê? Diga, ao menos, por quê, Cyro?
O MÉDICO FICOU INDECISO. NA VERDADE, NEM MESMO SABERIA JUSTIFICAR-SE. ERA ALGUMA COISA ALÉM DE SUA PERCEPÇÃO HUMANA.
CYRO - Não sei explicar... eu sinto que você precisa deixar esta cidade... o quanto antes. E não deve procurar justificativas. Nem eu mesmo sei. Há coisas que me impressionam. Talvez seja motivado pelo desejo de proteger você e seu filho. Excesso de zelo... quem sabe? O fato é que eu acho que você e ele devem sair daqui o quanto antes!
ESTER - Está bem... se isso o tranquiliza, nós iremos amanhã. Vou telefonar para saber a hora que sai o avião. Amanhã é domingo. Parece que os horários são diferentes.
MINUTOS DEPOIS, ELA VOLTAVA À SALA. TUDO HAVIA SIDO ACERTADO. DEIXARIAM A CIDADE NO VOO DAS 17 HORAS. CYRO RESPIROU FUNDO, COMO SE TIRASSE TONELADAS DE PESO DE SOBRE O CORPO.
CYRO - (beijou-a com carinho) Amanhã, virei buscá-la, Ester, para levá-la ao aeroporto.
JÚLIA VOCIFEROU, LOGO APÓS A SAÍDA DO MÉDICO.
JÚLIA - Vão estragar todos os meus planos! Por um capricho do Dr. Cyro! Ora essa! Que aborrecimento!
CORTA PARA:
CENA 2 - MANSÃO DE OTTO MULLER - SALA - INTERIOR - NOITE
A SURPRESA ELETRIZOU O AMBIENTE E DEIXOU PARALISADO O COMENDADOR LIBERATO, QUE JÁ HAVIA ANUNCIADO A TODOS A AUSÊNCIA DO FILHO. ARQUITETARA UMA DESCULPA QUALQUER PARA JUSTIFICAR A FALTA DE BABY, MAS ALI ESTAVA ELE, À PORTA DA MANSÃO, CUMPRIMENTANDO, ESTOUVADAMENTE, À SUA MANEIRA, OS CONVIDADOS DE OTTO MULLER. INÊS EMPALIDECEU À VISTA DO MARIDO. BABY ESTAVA VISIVELMENTE “TOCADO”.
BABY - (levantou os braços, como um lutador vitorioso) Oi! Oi, gente! Cheguei atrasado. Me desculpem. Minha querida Dona Bárbara... meu amigo Ricardo... meu excelentíssimo pai... minha adorável esposa.
COMENDADOR - (falou-lhe, quase ao ouvido) O que veio fazer aqui... neste estado?
BABY - Vim buscar a minha querida esposa. Já a apresentou aos convidados?
O INCIDENTE COMEÇOU A TOMAR PROPORÇÕES DESAGRADÁVEIS, QUANDO, DEPOIS DE UMA TROCA DE PALAVRAS ÁSPERAS COM PAULUS, BABY DEIXOU A FESTA, LEVANDO CONSIGO A ESPOSA.
A PRESENÇA DE OTTO MULLER E SUAS MANIAS CONCENTRARAM A ATENÇÃO DOS PRESENTES. DURANTE MAIS DE 40 MINUTOS, O ALEMÃO REPRESENTOU, COM SUAS MARIONETES, ESTRANHAS HISTÓRIAS DE AMOR E MORTE. O AMBIENTE SE TORNARA SINISTRO NA RESIDENCIA LUXUOSA DO MILIONÁRIO.
AGORA, CATARINA LIGAVA NERVOSA PARA O DR. CYRO. OTTO SE EXCEDERA E PASSARA MAL.
CORTA PARA:
CENA 3 - MANSÃO DE OTTO MULLER - QUARTO DE OTTO - INTERIOR - NOITE
CATARINA - (dirigindo-se ao médico, que observava o paciente) Doutor! Como está ele?
CYRO - Saiam todos! (e para a enfermeira) Fique só você, Dirce.
COM MOVIMENTO RÁPIDO, ENROLOU NO BRAÇO ESQUERDO DO OPERADO O APARELHO DE PRESSÃO, CALCANDO O ESTETOSCÓPIO NO PEITO CABELUDO. OTTO RESPIRAVA MAL.
DIRCE - Ele se excedeu, doutor. E quando eu quis avisar o senhor, ele não deixou. O homem é uma fera.
CYRO - Prepare a injeção que eu trouxe. Eu já esperava por isso.
CORTA PARA:
CENA 4 - FLORIANÓPOLIS - PALACETE DO COMENDADOR LIBERATO - SALETA - INTERIOR - DIA
JÚLIA ENTROU NA SALETA, OLHOU PARA TRÁS, CUIDADOSA E APROXIMOU-SE DO TELEFONE. NÃO HAVIA NINGUÉM NO RECINTO. MAIS ADIANTE, VERA, A EMPREGADA DO COMENDADOR, BRINCAVA COM IVANZINHO. TINHAM TODOS IDO ATÉ A CASA DO RICAÇO PARA AS DESPEDIDAS. ESTER EMBARCARIA NAQUELA TARDE.
JÚLIA - (colocou a mão junto ao bocal do aparelho, impedindo que sua voz fosse ouvida por alguém da casa) Alô, Cesário! Aqui é Júlia. Desculpe-me se o acordei, mas é que estou precisando muito falar com você. Vou viajar esta tarde para São Paulo e queria vê-lo, nem que fosse cinco minutos. Onde você está agora? Mas é longe! Você vai a Porto Azul ver sua mãe? Posso pegar um carro sim. Estarei lá em 20 minutos. É mais perto... Então, eu o espero, na praça. Por favor, se chegar antes, não deixe de me esperar. Até já!
DESLIGOU E ENCAMINHOU-SE PARA A SALA DE ESPERA.
JÚLIA - (voltou-se para a empregada de Augusto Liberato) Quer me fazer um favor? Diga a Dona Ester que eu tive de ir correndo a Porto Azul, me despedir de uma pessoa. Eu a encontro dentro de uma hora em nossa casa.
VERA - O menino fica?
JÚLIA - Fica, claro!
IVANZINHO - (choramingou) Quero ir!
JÚLIA - (pegou-o no colo e saiu quase correndo) Avise Dona Ester que o menino foi comigo! Até já. Estou louca de pressa.
ENQUANTO A MULHER DESAPARECIA PORTA A FORA, VERA ENCONTRAVA ESTER, QUE CONVERSAVA COM O COMENDADOR.
VERA - Com licença, Dona Ester! Dona Júlia mandou avisar à senhora que teve de ir a Porto Azul, se despedir de uma pessoa.
ESTER - (nervosa) E o meu filho?
VERA - Ela o levou!
ESTER - (estremeceu, empalidecendo) Não devia ter levado!
CENA 5 - PORTO AZUL - PRAÇA - EXTERIOR - DIA
O ENCONTRO FORA MARCADO DIANTE DA IGREJINHA DE PORTO AZUL, CENÁRIO DAS PREMONIÇÕES DE CYRO VALDEZ. JÚLIA SENTOU-SE NUM BANCO, ENQUANTO O MENINO CORRIA E SE JOGAVA NO GRAMADO, AO LADO DE OUTROS MENINOS DE SUA IDADE. OLHOU O RELÓGIO. CESÁRIO ATRASARA-SE E DIVERSAS PESSOAS ENCAMINHAVAM-SE PARA A MISSA. O MOVIMENTO JÁ ERA GRANDE ÀQUELA ALTURA DA MANHÃ.
VIU QUANDO O FILHO DE MESTRE JONAS ENTROU AFOBADO NO TEMPLO. ATRÁS DELE, PÉ-NA-COVA.
CORTA PARA:
CENA 6 - PORTO AZUL - IGREJA - INTERIOR - DIA
PÉ-NA-COVA - Eu respeito a casa de Deus. Mas, quando tu sair daqui... tu é um homem morto.
DANIEL - Se respeitasse mesmo, devia aceitar meu arrependimento, Luca. Foi uma loucura... mas eu e Luana, tua mulher... nós dois se queria muito. Juro!
PÉ-NA-COVA - Teu arrependimento não serve pra nada. Eu te marquei. Tu e ela. Os dois vão morrer.
DANIEL - Eu não quero reagir, Luca. Mas te aviso que também tou armado. E tenho boa pontaria.
PÉ-NA-COVA - Pois eu quero que tu reaja. Um de nós é demais nesta terra.
PÉ-NA-COVA SAIU DA IGREJA, ENQUANTO DANIEL APERTAVA O CABO DA ARMA, ENCORAJANDO-SE. OLHOU PARA O ALTAR DE CRISTO.
DANIEL - Pelo que tiver de fazer... perdão, meu Deus!
CORTA PARA:
CENA 7 - PORTO AZUL - PRAÇA - EXTERIOR - DIA
JÚLIA CONVERSAVA NERVOSAMENTE COM O EX-CAPATAZ DE BABY LIBERATO. E OFERECIA-LHE A POSSIBILIDADE DE ARRANJAR-LHE UM BOM EMPREGO, EM SÃO PAULO. JÚLIA AMAVA O MINEIRO.
CESÁRIO - Não! Eu vou é ficar aqui mesmo.
LEMBRAVA-SE DE TULA. DE SUA LUTA COM O ENGENHEIRO. CESÁRIO PREFERIA PERMANECER NA TERRA QUE O VIRA NASCER.
JÚLIA - (se levantou, segurando as mãos do homem) Você, pelo menos, pode me levar até um táxi.
CESÁRIO - Claro, claro! Vamos indo!
A MISSA TINHA ACABADO E OS PRIMEIROS FIÉIS ESTAVAM SAINDO. DANIEL ESGUEIROU-SE POR TRÁS DE UM GRUPO DE BEATAS, MAS, NUM MOVIMENTO EM PINÇA, PÉ-NA-COVA AGACHOU-SE E FEZ PONTARIA, ATIRANDO. AS BEATAS GRITARAM NUM CORO FRENÉTICO, ENQUANTO OS DOIS HOMENS TROCAVAM TIROS NA PRACINHA.
PÉ-NA-COVA CAMBALEOU, APERTOU A MÃO CONTRA O PEITO E VIU A MANCHA VERMELHA VIVA. O SANGUE JORRAVA-LHE DA FERIDA ABERTA NO LADO DIREITO.
A VOZ DE CESÁRIO DESTACOU-SE NA PRAÇA.
CESÁRIO - Agarrem Daniel! A policia! Chamem a polícia! Me ajudem a levar ele daqui!
JÚLIA SENTIU UM ESCURECIMENTO E O MUNDO A GIRAR. UMA VERTIGEM PROVOCADA PELO ACONTECIMENTO. TORNOU A SENTAR-SE NO BANCO, ISOLADA, ENQUANTO O BURBURINHO SE TORNAVA INSUPORTÁVEL NO LOCAL ONDE LUCAS CAÍRA FERIDO. LEMBROU-SE DO MENINO.
JÚLIA - Ivan!
OLHOU PARA TODOS OS LADOS DA PRAÇA E NÃO VIU O GAROTO. DESAPARECERA COMO QUE TRAGADO PELA TERRA.
JÚLIA - Ivanzinho! Vamos deixar de brincadeiras! Onde está você, queridinho? Deixe de se esconder!
A MULHER, INTEIRAMENTE ATORDOADA, ENTROU NA IGREJINHA.
CORTA PARA:
CENA 8 - PORTO AZUL - IGREJA - INTERIOR - DIA
JÚLIA VIU O SACERDOTE COM AS MÃOS UNIDAS EM PRECE.
JÚLIA - Padre Miguel! Ivanzinho não está por aí?
PADRE MIGUEL - Aqui não, minha filha! Por quê? Ele entrou na igreja?
JÚLIA - (aflita) Não... eu não vi onde ele entrou... Está querendo me passar um susto. É um menino muito levado. Pensei que tivesse se escondido aqui na igreja!
O CARRO DE ESTER PAROU DIANTE DA IGREJINHA E ELA DIVISOU A SECRETÁRIA E O PADRE, QUE DESCIAM AS ESCADAS. REPAROU NO OLHAR ANGUSTIADO DA MULHER. CORREU AO ENCONTRO DOS DOIS.
ESTER - Júlia! Que história é essa de você vir para cá sem minha ordem?
JÚLIA - Eu... eu não ia me demorar.
ESTER - Onde está Ivan?
JÚLIA APERTOU AS MÃOS, AMEDRONTADA. O PADRE AMPAROU-A COM UM OLHAR PACÍFICO.
JÚLIA - Ivan...está querendo me assustar, Dona Ester. Estava junto de mim, quando estourou a confusão... e o molequinho fugiu... está escondido em algum canto desta praça!
ESTER - Fugiu? Mas, Júlia... Ivan nunca fez isso! Que confusão você disse que houve aqui?
JÚLIA - Daniel atirou em Lucas... juntou muita gente... foi naquela confusão que me perdi de Ivan! Ele está por aqui, Dona Ester! Tem de estar!
CORTA PARA:
CENA 9 - PORTO AZUL - DELEGACIA - INTERIOR - DIA
O DELEGADO PROCUROU TRANQUILIZAR ESTER.
DELEGADO - A senhora fique calma. Eu tenho certeza de que não foi uma simples coincidência. Quando prendermos Daniel, ele dirá onde escondeu o seu filho.
ESTER - Mas... por que... que interesse Daniel teria... em levar meu filho?
DELEGADO - Tudo é possível. Um sujeito que atirou num amigo depois de lhe ter roubado a noiva... ou melhor, sei lá... é capaz de tudo. É capaz até de ter levado a criança para servir de refém ou coisa parecida. Não estou afirmando, é claro. Uma hipótese apenas. Estou me apegando aos fatos.
CORTA PARA:
CENA 10 - PALACETE DO COMENDADOR LIBERATO - JARDIM - EXTERIOR - NOITE
A NOITE CHEGARA E, DO LADO DE FORA DA MANSÃO DOS LIBERATO, DANIEL AGUARDAVA A OPORTUNIDADE DE PULAR O MURO E BUSCAR O AUXÍLIO DE BABY, ÚNICO AMIGO QUE PODERIA TIRÁ-LO DAQUELA SITUAÇÃO DIFÍCIL. A CHANCE APARECEU E O MINEIRO CONSEGUIU ALCANÇAR A CASA, SEM SER VISTO.
CENA 11 - PALACETE DO COMENDADOR LIBERATO - SALA - INTERIOR - NOITE
BABY DESCEU A ESCADA E OLHOU O RELÓGIO: 23:30.
BABY - Daniel... o que foi isso? Por aqui a esta hora?
DANIEL - (deu um salto na direção do jovem) Cunhado... tou numa situação dos infernos. Preciso da sua ajuda.
BABY - Fale! Que é que posso fazer por você?
DANIEL - Me esconde da polícia!
BABY - (espantou-se) Você fez alguma coisa?
DANIEL - Pra me defendê... eu atirei no Pé-na-Cova. Num sei, mas acho que matei ele...
Quanta ação nesse capítulo! Cyro, não conseguiu evitar que sua premonição se tornasse realidade, coitado vai sofrer com isso! E. Baby, será que está com ciúme de Inês? Vou esperar os próximos lances.
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