O texto abaixo é de autoria do autor
paranaense L. F. Riesemberg.
Para maiores informações sobre o
escritor, favor consultar: http://www.contosgrotescos.com.br/contos/exibe_autor.php?idx=92.
Boa leitura!
O TREM DA MEIA NOITE
Dava para ouvir quando ele passava,
sempre por volta da meia noite. Quando criança, Richard ficava acordado em sua
cama até ouvir o apito, e imaginava como era o trem, para onde iria, que carga
levava e quem estaria a bordo. Durante o dia ele ia brincar perto dos trilhos,
mas nunca viu a locomotiva. O único horário em que ela passava era tarde demais
para se estar por lá.
"Um dia quero ficar ao lado da
linha para vê-lo soltando fumaça", pensava. Mas acabava nunca indo. Apenas
ouvia aquele silvo agudo, ao longe, na hora de dormir.
Assim foi durante anos, até que o trem
parou de apitar. Foi de repente, numa noite qualquer. O relógio marcou meia
noite, depois uma da manhã, duas, e nada. Ele simplesmente não passou pela
cidade, e isso se seguiu nas noites seguintes, e então nunca mais.
Richard lamentou ter perdido a chance de
ver o trem, que sempre tivera papel importante em sua imaginação. Mas aos
poucos ele foi se esquecendo que um dia tinha ouvido os apitos. O menino
cresceu, começou a trabalhar, casou, teve filhos, eles cresceram, lhe deram
netos, enviuvou...
Na velhice, Richard passou a escutar
cada vez menos. Tinha sempre que perguntar duas ou três vezes antes de
responder uma pergunta, o que irritava os menos pacientes. Sentia-se um velho
triste e sem utilidade, cujas antigas histórias não interessavam a mais
ninguém.
Foi numa noite de nostalgia que, pouco
antes de adormecer, ele o ouviu. Começou baixinho, muito distante, e então foi
crescendo. O trem estava passando por lá outra vez.
"Não é possível!", pensou.
Depois de setenta anos a locomotiva
estava novamente nos trilhos. O som ia ficando cada vez mais forte, e ele não
quis mais esperar. Levantou da cama, calçou os chinelos e saiu de casa, depois
caminhou até a linha de trem. Não havia ninguém na rua para estranhar um senhor
da sua idade andando de pijamas.
O apito ia ficando cada vez mais forte à
medida que Richard se aproximava da linha de ferro, até que eles se
encontraram. Pela primeira vez Richard viu aquele enorme dragão de ferro vindo
em sua direção, cantarolando e soltando fumaça pela chaminé.
O trem foi diminuindo a velocidade e
parou exatamente onde Richard esperava.
-Viemos especialmente para buscá-lo,
Richard - disse o maquinista.
Convertido novamente em um menino, ele
subiu os degraus da locomotiva.
-Eu posso puxar a corda que faz apitar?
- perguntou o garoto.
Apesar da ferrovia estar desativada há
décadas, todos os moradores da cidade juravam que, na noite em que o velho Richard
se foi, ouviram um animado apito de trem chegar aos seus ouvidos.
Fonte: http://riesemberg.blogspot.com.br/2013/06/o-trem-da-meia-noite-lfriesemberg.html.
Que lindo conto! Amei ler!
ResponderExcluirMuito bonito mesmo!
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