Mariana foi para o hospital, precisava explicar e pedir desculpas por
não ter atendido as ligações do Dr. Rafael. Se sentia até envergonhada, mas
precisava explicar para evitar qualquer tipo de mal-entendido. Enquanto entrava
no hospital, percebeu que o Dr. Rafael se encontrava um pouco distante,
conversando com alguém que já conhecia, apesar de não ter um relacionamento
muito próximo: Érica.
Enquanto observava, Mariana se sentia um pouco incomodada. Era evidente
que o Dr. Rafael também era gentil com ela e isso a inquietou. Apesar de não
saber exatamente por quê. Afinal, ela conhecia a personalidade de Rafael, que
era bastante parecida com seu tio Fabiano. Assim que percebeu que ela ia embora,
resolveu se aproximar. Ao vê-la, ele sorriu, vendo aquilo, Mariana sentiu seu
coração disparar.
“O que está acontecendo comigo?” – pensou.
— Então, você veio. – disse ele.
— Sim, depois de não atender várias ligações,vim pedir desculpas.
— Eu devo ter incomodado, não? Mas, então, percebi que poderia estar
ocupada com estudos ou algo assim.
— Sim e não. Bem, vou explicar para você. Digo, se tiver tempo. Posso
voltar outra hora.
— Não tem problema, tenho um pouco de tempo livre.
Mariana ficou em silêncio por alguns instantes.
— Então... A Érica era a pessoa de quem gosta?
— Érica? – perguntou ele um pouco confuso. – Ah... Não, não é. Érica é
só uma amiga. Então, vamos?
Ela assentiu.
***
A semana havia passado rápido. Tanto para as gêmeas quanto para Viviane.
Emanuela acordou e desceu. Mariana e Viviane já haviam descido e estava tomando
café da manhã.
— Por que não me acordou, Mari? – perguntou Emanuela ao chegar.
— ‘Por quê’? – perguntou Mariana, parando no meio do caminho o pedaço de
bolo que colocaria na boca. – Por que eu deveria?
Emanuela suspirou.
— Não importa.
Viviane olhou para as duas e riu.
— Vocês, com certeza, são muito diferentes, não?
Mariana olhou surpresa para Vivi.
— Agora que você veio a perceber? Somos gêmeas, não quer dizer que somos
a mesma pessoa.
Viviane semicerrou os olhos, olhando para Mariana.
— Qual é, garota? Pensa que só porque não é mais minha inimiga que vou
te dar a liberdade de falar assim comigo, é? Me respeite.
— Os mais novos que tem que respeitar os mais velhos. E nesse caso, você
que deveria me respeitar.
— Temos a mesma idade, ok?
Emanuela apenas se limitava a se divertir com a conversa das duas. De
repente, a governanta Sônia entrou na sala.
— Meninas, a Verônica está aí. Ela disse que precisa falar urgente com
as três.
Viviane, Emanuela e Mariana se entreolharam.
— Pode dizer que estamos indo, por favor? – disse Viviane.
As três terminaram o mais rápido que puderam e foram em direção à sala,
onde Verônica se encontrava. Ao ver as três, Verônica se levantou de onde
estava sentada.
— Oi, pessoal. – disse.
— O que foi Verônica? – perguntou Viviane, ficando preocupada com a
expressão da amiga. – Aconteceu alguma coisa?
Verônica parecia um pouco nervosa.
— É o Fabrício. Ele desapareceu.
— O quê? – Emanuela não acreditou no que estava ouvindo. – Do que está
falando?
— Eu percebi que algo estava estranho desde domingo passado, quando ele
me mandou uma mensagem, dizendo que era para eu não ligar, que ia estar ocupado
e essas coisas...
— No domingo, ele me falou o mesmo, mas disse que é porque ia trabalhar.
Verônica olhou para Emanuela.
— Você não sentiu nada estranho? Ele entrou em contato durante a semana?
— Poucas vezes, mas só para dizer que estava com saudades ou algo assim.
— Comigo, só para dizer que estava bem. Mas eu achei estranho e resolvi
ir para o apartamento dele ontem à noite fazer uma visita. O apartamento estava
fechado.
Viviane olhou para Verônica confusa.
— E daí? Não é como ele tivesse desaparecido apenas porque não está no
apartamento. Ele pode estar mesmo trabalhando.
— Mas não é só isso. – disse Verônica apreensiva. – Como eu achava
estranho esse comportamento assim de repente, fiz pergunta ao porteiro. Ele me
disse que faz exatamente uma semana que não vê Fabrício.
— Sim, amiga. – replicou Viviane - Mas os porteiros fazem turnos
diferentes. Você nem mesmo falou com todos.
— Foi por isso que falei com o segundo porteiro também. Hoje, voltei no
apartamento do Fabrício, o outro porteiro falou a mesma coisa. Que fazia algum
tempo que não via o Fabrício. E, além disso, algumas correspondências que
chegaram nesse meio tempo não foram pegas. Agora tento ligar para ele, mas não
atende. Não quero falar com nosso pai antes que eu confirme algo estranho.
Viviane sentou-se no estofado.
— É. Então, ele desapareceu mesmo. O Fabrício deve ter se metido em
algum problema. Ele sempre foi bom para essas coisas.
— Vivi, não é hora para piadas. – ralhou Mariana.
— Estou só falando a verdade. Sem piadas. – falou Viviane séria.
— De qualquer forma, o que pretende fazer? – perguntou Mariana para
Verônica.
— É isso que eu também vim perguntar a vocês. Vocês acham que eu devo
chamar a polícia?
— Por enquanto, acho que não. – disse Emanuela – A polícia investiga
desaparecimentos só depois de 24 horas de a pessoa ter desaparecido. Ainda
ontem a tarde, ele falou brevemente comigo no celular. Ele apenas não está indo
ao apartamento, o que é realmente estranho. Primeiro, vamos nos acalmar e
procurar nos lugares onde ele poderia estar. Ligar para casa de amigos,
familiares. Talvez alguém deva tê-lo visto em algum lugar.
— Manu tem razão. – concordou Viviane – Não vamos nos agitar. Pode ser
que não seja nada muito grave.
— Não. Eu sei que alguma coisa grave aconteceu.
— Como pode ter tanta certeza? – perguntou Mariana.
Verônica suspirou.
— Hoje é o aniversário de morte da mamãe. Normalmente, sempre passamos
esse dia em família.
Emanuela parecia pensativa, também tinha uma hipótese do que teria
acontecido, mas não quis dizer nada por enquanto.
— Vocês liguem primeiro para as pessoas que tem que ligar. – disse ela,
se levantando e se preparando para sair.
— E para onde você vai? – perguntou Verônica.
— Tem um lugar que preciso verificar.
— Um lugar? Que lugar? Posso ir com você. – disse Mariana.
— Não, é só um palpite. Posso estar errada. Então, fique aqui e ajude as
meninas. – disse, saindo.
***
O Dr. Fabiano teve folga naquele sábado. Naquele momento, ele se
encontrava de pé em frente a um prédio. Não sabia por que estava ali, talvez só
pelo fato de que queria estar ali. Subiu até o andar desejado e viu o
apartamento de Rebeca. Estava um pouco apreensivo. No calor do momento e para
fazer ciúmes a Rebeca, havia feito aquele teatro um tanto ridículo a seu ver.
Mas depois, pensando racionalmente sobre o assunto, não havia motivos para
ficar tão chateado com ela. Ele poderia ser alguém contido, mas quando se
tratava do seu tio Marcos e de tudo o que Érica e ele o fizeram passar, por
alguma razão, algo dentro dele se descontrolava. Aproximou-se da porta ainda
com certo receio de tocar a campainha, mas antes que chegasse perto o bastante para
fazer isso, a porta se abriu e um homem saiu.
— Então, até logo. – disse o homem, saindo sem dar importância ao fato
de que Fabiano se encontrava próximo.
Logo ao sair, Rebeca percebeu que Fabiano estava ali, parado sem reação.
— O que você está fazendo aqui? – gaguejou ela apreensiva.
— Não vai me convidar para entrar? – perguntou ele sério.
— Claro. – disse ela, abrindo passagem para Fabiano entrar.
Fabiano andou um pouco pelo apartamento e permaneceu em silêncio por
alguns segundos. O silêncio incomodava Rebeca.
— Quem era aquele homem?
Rebeca suspirou ainda receosa.
— Não importa.
Fabiano olhou sério para Rebeca.
— Não importa? Se estou perguntando é porque importa. Então, você deixa
mesmo qualquer um entrar aqui, não é?
— O que está insinuando? – disse ela, se sentindo humilhada. – Sei que
há muitas coisas na minha vida que são obscuras e difíceis de entender. Mas não
duvide de mim nesse aspecto. Por que está sempre desconfiando de mim?
— Por quê? Você se associou ao meu maior inimigo. Um homem tão sujo que
nem sequer consigo imaginar o tipo de coisas que ele se associa. E agora vejo
um homem desconhecido saindo do seu apartamento, de uma mulher solteira, onde
os dois estavam sozinhos. Durante quanto tempo? Não faço ideia. E pergunto quem
é e você diz ‘não importa’? Rebeca, eu
sou um homem também. Pelo jeito, não foi só o Dr. Marcos que conquistou seu
coração. Tenho até medo de saber que tipo de coisas esconde em seu passado.
Rebeca não se conteve e deu uma tapa no rosto de Fabiano. Fabiano, então,
percebeu que Rebeca parecia profundamente ofendida. Enquanto ele falava todas
aquelas coisas, nem uma vez havia realmente olhado para ela. Agora, ele via que
os olhos dela estavam um pouco avermelhados e inundados de lágrimas, que caíam
sem que ela fizesse esforço para isso. Eles demonstravam raiva, indignação e
sofrimento e, ao mesmo tempo, uma resignação que fez Fabiano se arrepender do
que havia dito.
— Como tem coragem dizer coisas assim para mim? Se você me ama, então,
como pode ser tão cruel? – disse, enquanto lágrimas rolavam em seu rosto. –
Você mesmo disse que não tinha nada a falar comigo!
— Eu estava errado! – disse ele, levantando o tom de voz, não suportando
vê-la chorar. Era difícil para ele sentir a raiva que estava sentindo de si
mesmo por ter feito aquilo.
— O quê?
— Nós temos muito a conversar.
Rebeca olhou para ele confusa.
— Por quê?
Fabiano ficou calado.
— Por quê? – insistiu ela.
Ele suspirou.
— Porque... Porque você é a mulher que eu amo! Não entendeu ainda? Ainda
não percebeu que sou completamente louco por você? Não percebeu que só de
imaginar que tem outro homem perto de você, isso me deixa desconfortável?
Rebeca olhou para ele ainda mais confusa.
— Não me faça rir. – disse ela séria. – Por que está dizendo isso?
— Eu vim pedir perdão. – riu um pouco triste. – Mas sou um idiota que
acabei piorando as coisas, não é?
Rebeca sentou-se desolada.
— Por que está me dizendo isso? – disse, não se contendo e chorando -
Não torne as coisas mais complicadaspara mim, por favor. Já está sendo tão
difícil...
Fabiano se aproximou.
— Se case comigo. – disse ele de repente.
— O quê?! – exclamou ela, olhando para ele e não acreditando no que
estava ouvindo.
— Saia de perto do Marcos. Se for por causa do dinheiro, eu tenho
bastante...
— Dinheiro?! – interrompeu ela. – Acha que eu estou com Marcos por causa
de dinheiro? O que pensa de mim? Compreendo que teve sua decepção com as
mulheres por causa da Érica, mas não é justo que pense que todas são como ela.
Fabiano pareceu ficar confuso.
— E não é? Que outra razão poderia ser? Não está com ele porque precisa
do dinheiro do trabalho que ele te dá?
Rebeca, sem perceber, havia dado razões para que Fabrício desconfiasse
de algo.
— Por que não me responde, Rebeca?
— Por favor, não posso responder isso...
Fabiano se aproximou dela.
— Por que não confia em mim? O que está acontecendo?
Rebeca olhou para Fabiano.
— Por quê? Você realmente quer saber o porquê?
— Sim, quero.
—Porque eu te amo. Eu o amo. Com nunca amei ninguém. Como nunca pensei
que poderia amar alguém. – disse, enquanto algumas lágrimas começavam a cair em
seu rosto. – Você me fez perceber que eu ainda tinha a capacidade de amar,
quando eu só pensava que apenas poderia odiar e odiar, você me ensinou a amar.
Você cuidou de mim, quando eu mesma desconhecia o meu próprio passado. Por
isso, eu aprendi a amá-lo. E é justamente por isso que não posso ficar com
você.
— Eu não entendo o que está falando. Se me ama, então, só tem que ficar
comigo. Simples assim.
— As coisas não são tão simples como imagina. Por isso, eu peço que me
esqueça. Se afaste de mim. Não posso sair do lado do Dr. Marcos.
Fabiano ficou sem reação.
— Entendi. Eu já entendi. Sou um
idiota mesmo. Um completo e total idiota. – disse, saindo.
Rebeca continuou a chorar.
De repente, a vizinha entrou.
— O que foi minha filha? – perguntou ela, enquanto via Rebeca aos
prantos. – O que você tem? Ouvi alguém gritando e vim correndo, pensei que
alguma coisa estava acontecendo... E pelo jeito está, parece que está... –
disse, sentando-se ao lado dela.
— O que eu faço? O que eu faço? –
disse Rebeca, abraçando a vizinha, enquanto chorava. – O que eu faço?
— Aquele rapaz que veio aqui... É por causa dele que está chorando? –
perguntou Jandira, enquanto Rebeca ainda a abraçava.
Rebeca apenas balançou a cabeça afirmativamente, enquanto a mulher tentava
acalmá-la.
— Eu não o mereço. Não mereço alguém como ele. – disse, enquanto ainda
chorava.
***
Joana, Fabinho e Érica estavam passeando pela praça próxima da mansão.
— Dona Érica, ainda bem que tirou um tempo para o Fabinho... Ele
realmente ficou muito feliz quando a senhora disse que passearia com ele, mas
por que tão de repente? – disse a babá.
Érica parecia pensativa.
— Não sei. Faz um tempo que não fico um pouco com ele. É como as pessoas
dizem: quando você perde alguém é que você dá valor...
— Credo, dona Érica. A senhora fala como se fosse perder o Fabinho...
Érica riu.
— Joana, você não perde mesmo esse jeito pobre de falar, né?
De repente, o menino que estava caminhando em silêncio, apontou para uma
sorveteria que havia perto.
— Bá, queria tomar sorvete!
Érica concordou com a cabeça, enquanto a babá ia à sorveteria. Ela
sentou-se em um banco e o filho sentou-se ao seu lado.
— Fabinho, você está feliz?
Ele balançou a cabeça afirmativamente e sorriu.
— Desculpa, Fabinho, por não ser uma boa mãe para você. Você cresceu tão
rápido e eu nem percebi direito. Você tem raiva da mamãe?
O menino balançou a cabeça negativamente.
— Não. – e olhando para a mãe. – Mãe, sua barriga ainda dói?
Érica pareceu um pouco desconcertada.
— Minha barriga? Por quê?
— Um dia eu vi a senhora com dor na barriga... Ainda dói?
Érica sorriu.
— Meu filho é muito atencioso, não é?
Tão gentil quanto o pai.
— O papai Marcos?
— Não... Estava falando do seu pai mesmo.
Fabinho sorriu.
— Filho, a mamãe vai passar algum tempo fora, pode ser que ela volte
logo, pode ser que ela demore a voltar... Então, você tem que me prometer que
vai se comportar direito e que vai esperar pela mamãe, está bem?
— Para onde a senhora vai? Eu não posso ir? – perguntou ele sério.
— Não, não quero que vá. Mas mesmo se eu demorar muito mesmo a voltar,
você tem que prometer que não vai ficar muito triste, ok? Também precisa tirar
boas notas na escola, ser gentil com as pessoas, obedecer aos mais velhos,
viver uma vida digna. Uma vida pela qual você nunca vai se envergonhar. E se um dia, você descobrir coisas sobre mim
que não goste, quero que não sinta raiva ou ódio, não por mim, mas porque esse
tipo de sentimento só faz mal, entendeu? Promete, Fabinho?
O menino balançou a cabeça quase imperceptível.
— Prometo. – disse infantilmente.
***
Ainda era cedo, mas Fabricio ajudava a limpar o ambiente da boate,
enquanto Rosália coordenava alguns empregados.
— Você não precisa fazer isso. – disse ela a Fabrício.
— Não me importo. – respondeu.
Rosália permaneceu calada por um instante. Olhou para os lados, como se
certificando de que ninguém prestava atenção nos dois.
— Você devia pedir ajuda a seu pai.
Fabrício virou-se de repente.
— Do que está falando?
— Andei ouvindo que seu pai é uma pessoa que tem influências... Se ele
tiver contatos políticos...
—Não vou envolver meu pai nisso. No fundo, ele estava certo. – e olhando
para Rosália. – Talvez, eu realmente mereça isso.
— Não. Ninguém merece essa vida. Entrar nessa máfia é a pior coisa que
pode acontecer com você. Aos poucos, coisas terríveis vão se tornando normais.
— Que tipo de coisas? – perguntou Fabrício intrigado.
Rosália suspirou.
— Coisas como tráfico de drogas, tráfico humano, mortes encomendadas...
E outras coisas terríveis que é melhor não saber. Coisas que faria você querer
vomitar. Não queira que esse tipo de coisa se torne comum e normal para você.
Esse tipo de ambiente além de te
prender, tira sua humanidade. Você tem que sair.
— E por que você não sai?
Rosália sorriu um pouco triste.
— Infelizmente, não posso. Mas, para você, ainda há tempo. – e vendo que
alguém a chamava. – Vou ali... Pense no que eu disse.
Fabrício achava que Rosália tinha razão, mas enquanto Fernandes
estivesse o ameaçando, apenas um milagre o poderia tirar dali. De repente,
sentiu que alguém entrava no recinto.
— Desculpe, ainda não abrim... – ele interrompeu, quando viu diante de
si Emanuela.
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