O texto abaixo é da autoria de Martha
Medeiros.
Para saber mais sobre a autora, favor
consultar: http://www.e-biografias.net/martha_medeiros/.
Boa leitura!
A MELHOR VIDA POSSÍVEL
Quanto mais converso por aí, mais
percebo que é inútil acreditar em verdades absolutas e fórmulas ideais de
convivência. Cada pessoa tem familiares que influenciaram suas escolhas, medos
herdados e medos adquiridos, sonhos altos demais ou mesmo nenhum, e um número
incalculável de perguntas sem respostas, de desejos embaraçosos, de mágoas
vitalícias. Quem vai decretar para mim o que é melhor para mim? E quem vai
dizer o que é melhor para você? Com que topete?
A melhor vida não é aquela que atende os
mandamentos universais, as ordens celestes e os clichês eternizados, mas a que
se tornou possível, a que você vem construindo a despeito de todas as suas
dúvidas.
A melhor vida seria a da Gisele
Bündchen, pensa a menina feia. A melhor vida seria a da Dilma, pensa a
vereadora de uma cidadezinha do interior. Enquanto isso, vivem a vida possível,
sem perceber o quanto deveriam ser gratas por não precisarem arcar com consequências
que desconhecem.
A melhor vida para mim é bem diferente
da melhor vida para você. Reúna o planeta inteiro e não se encontrará duas
pessoas que planejem possuir a mesma vida, porque uns não querem ter horário
para nada, outros se envaidecem de ter suas atitudes comentadas por estranhos,
há os que se paralisam à primeira frustração, os que estão sempre inventando
novos desafios, e a vida possível de cada um torna-se impossível para os
demais, o que não deixa de ser uma piada termos que conviver intimamente uns
com os outros apesar desse tabuleiro inesgotável de escolhas e destinos.
Se eu almejar uma vida ideal, terei que
me basear na vida dos outros, pois o ideal é fruto de uma racionalização
coletiva e consagrada, enquanto que se eu me contentar com uma vida possível,
volto a assumir algum controle sobre os royalties das minhas decisões.
O que não impede que ela seja ótima, a
mais adequada para o fôlego que tenho, a mais realizável dentro de minhas
ambições, a menos sofrida, já que regulada pelo autoconhecimento que adquiri
até aqui. Tenho como manejar uma vida possível de um jeito que jamais teria de
manejar uma vida perfeita, até porque vida perfeita não é deste mundo, e o
sobrenatural é matéria que não domino.
A melhor vida não é a focada em
suposições, fantasias, esperas, surpresas e demais previsões que raramente se
confirmam. A melhor vida não é aquela que é cumprida feito um pagamento de
dívida, como um acerto de contas com nossos antigos anseios juvenis.
A melhor vida não é a que desenhamos
quando criança na folha do caderno, a casinha de venezianas abertas, a fumaça
saindo pela chaminé e os girassóis protegidos por uma cerquinha branca, e tudo
o que isso sugere de proteção e vizinhança com os desejos comuns a todos. A
melhor vida possível é aquela que você ainda vem desenhando, mesmo já com
algumas pontas de lápis quebradas.
Que lindo!
ResponderExcluirGostei muito dessa crônica!
ResponderExcluirGostei muito!
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