Capítulo 37 – Uma má
notícia
Camila saiu da mansão e de carro foi até um lugar já conhecido, uma
boate de luxo. Foi recebida mais uma vez por Rosália e levada ao escritório. Ao
entrar, viu Fernandes sentado com um sorriso de deixar qualquer um receoso, mas
Camila parecia não sentir qualquer medo ou receio.
— Ora quem vejo, se não é a senhora Demontieux... – disse ainda com o
sorriso no rosto. - O que veio fazer aqui? Já escolheu a pessoa que gostaria de
contratar para o serviço?
Camila pegou uma fotografia em sua bolsa e entregou a Fernandes.
— Aqui está. – e se dirigindo a porta. – Creio que não o verei durante
algum tempo.
Fernandes olhou a foto.
— Por que essa pessoa em particular?
Ela virou-se.
— Isso não é da sua conta. Apenas faça o que combinamos e então terá o
que quer.
— Você é realmente muito misteriosa... – disse Fernandes, se levantando
da cadeira e se aproximando dela. – Não pensei que fosse assim... – e
acariciando o seu rosto. – Acho que se sorrisse mais, poderia servir para esse
trabalho. Não. Você, com certeza, serviria para esse trabalho... Você é linda.
Camila riu.
— Não brinque com o que não conhece... – disse ela, séria, para
Fernandes. – Você não sabe do que eu sou capaz.
Fernandes riu.
— E do que é capaz?
Camila abriu a porta para sair.
— Acredite, você não vai querer saber. – disse, saindo.
Fernandes ficou parado, pensativo. Obviamente, não poderia brincar
demais com alguém que também já pertencia à máfia do jogo do bicho.
***
Mariana chegou ao hospital junto com Viviane. As duas desceram do carro.
— Vamos. – disse Viviane, apressada.
— Por que está tão empolgada? – perguntou Mariana, curiosa.
Viviane riu.
— Eu só preciso ver o Rafael para completar o meu dia!
Mariana suspirou.
— Estamos molhadas e você ainda está pensando em ver o Rafael? Você é
muito imatura, Viviane.
Viviane fez um muxoxo.
— Se fosse outra pessoa me dizendo isso, eu ficaria com raiva. Mas como
é você, então, deixarei passar dessa vez. Principalmente pelo que fez. E se
você não percebeu, eu estou carregando uma bolsa. – disse, mostrando uma
pequena mala que tinha nas mãos. – Tem algumas roupas aqui. Você se troca no
banheiro. Tem um quarto reservado no hospital.
As duas entraram no hospital. Viviane logo viu Rafael.
— Dr. Rafael! – chamou ela. – Preciso usar o dormitório dos residentes.
Nós estamos um pouco molhadas.
Rafael olhou para as duas.
— Podem usar. – e olhando curioso para as duas. – Mas vocês não poderiam
ter ido à mansão?
Vivi sorriu.
— E desperdiçar a oportunidade de vê-lo? Eu não me chamaria Viviane
Alcântara se não fosse assim. – disse, saindo.
Mariana ficou parada por um minuto.
— Viviane é sempre tão direta.
Rafael parecia pensativo.
— Sim. Mas ela mudou um pouco. – e rindo – Acho que preciso confirmar
algo hoje.
Depois de alguns minutos, Viviane esperava Mariana na sala de descanso
dos médicos. Naquele momento, não havia ninguém no local. Apenas se ouvia os
médicos sendo chamados pelo interfone. De repente, alguém entrou. Era Rafael.
— Viviane, preciso conversar com você.
Viviane, que estava perdida em seus pensamentos, acordou de repente.
— Claro. O que o meu querido quer falar comigo?
Rafael olhou sério para a garota.
— Você sempre fica dizendo que gosta de mim, então, queria saber de
fato... Você gosta de mim de verdade?
Viviane parecia ter sido pega de surpresa.
— S-sim. – gaguejou, tentando desviar o olhar do médico – Não é o que
sempre digo?
Rafael riu.
— Então, tudo bem. Eu aceito namorar você.
Viviane estava espantada.
— Namorar? Por que essa mudança tão repentina?
— Sim. O amor é assim, como você diz. Impetuoso, repentino. – respondeu
ele, impassível enquanto se aproximava dela aos poucos e ela recuava. – Mas
você deve saber que eu também quero me casar logo... E como você gosta de mim...
Acho que não tem problema, não é? Afinal, você esperou por tanto tempo...
— C-casar? – repetiu ela, se afastando e chegando perto da parede,
enquanto ele encostava a mão na parede, ficando perto dela.
— Isso. Nos casaríamos no final do ano, o que acha? Ou você acha que vai
demorar muito?
Viviane riu, um pouco nervosa.
— Não deveríamos ir um pouco devagar?
— Por quê? – perguntou ele. – Acho que como estamos apaixonados, não
precisamos esperar muito... – disse.
— Mas... Como descobriu que estava apaixonado? Eu pensei que gostasse de
outra pessoa...
— Quem além de você? – disse ele, pensativo. – Acho que a sua
persistência me fez perceber a mulher que você é... – disse, enquanto se
aproximava e tocava em seu rosto. – Você já pensou em quantos filhos você quer
ter?
— Filhos? – perguntou um pouco nervosa – Acho que não pensei tão à
frente assim...
— Sim, filhos... – disse Rafael, se aproximando a ponto de beijá-la. –
Nunca pensou em ter filhos?
De repente, os dois ouviram um barulho no chão. Eles olharam e perceberam
Mariana com o olhar assustado, que tinha acabado de deixar a bolsa de Viviane
cair no chão.
— Eu... – disse ela, ainda em choque. – Eu... Não... Queria interromper.
Vendo Mariana, Rafael se afastou de repente de Viviane. Viviane também
se desvencilhou, saindo de perto do médico e se aproximando de Mariana.
— Do que está falando? – disse Vivi sem graça. – Não interrompeu nada.
Nadinha. Vamos. – disse, pegando a bolsa e puxando Mariana pelo braço, que
ainda olhou de relance para o médico.
Rafael parecia irritado consigo mesmo.
— Droga, o que eu fiz? O que ela vai pensar de mim agora?
Mariana e Viviane entraram no carro em silêncio. Vivi permaneceu sentada,
pensativa, enquanto Mariana a observava.
— Então... – disse Mariana, tentando quebrar o silêncio – A garota que o
Rafael gosta é mesmo você?
— Do que está falando? – perguntou Viviane, virando-se para Mariana – É
óbvio que não sou eu, ele gosta... – disse, interrompendo de repente. – Não, é
melhor que descubra sozinha. – disse, ficando em silêncio novamente.
— Então, por que está assim? Se ele não gosta de você é porque foi só
uma brincadeira...
— Obviamente, foi tudo uma brincadeira e uma vingança pessoal. Pela
primeira vez, Viviane Alcântara ficou sem palavras. Mas o que me chateia não é
isso exatamente... De alguma forma...
— O quê?
— Por causa disso, eu percebi algo que estava diante dos meus olhos o
tempo inteiro, mas nunca tinha notado...
— Do que está falando? – perguntou Mariana, curiosa.
— Vai acabar descobrindo depois. – disse, dando a partida no carro.
***
No dia seguinte, Viviane acordou cedo para ir a faculdade. Ao descer a
escada, percebeu que a mãe estava sentada na sala.
— A senhora não ia viajar? – perguntou.
Gabriele sorriu.
— O seu avô pediu para eu ficar mais um pouco. Eu sei que queria...
— Que seja. Faça o que quiser, a vida é sua. – disse ela, interrompendo
a mãe enquanto se dirigia a sala para tomar o café.
Emanuela, que ia chegando, presenciou a cena.
— Viviane ainda trata a senhora assim?
— Acho que estou me acostumando... – disse Gabriele, se levantando. –
Talvez, já não haja jeito para nós duas. – disse, saindo.
Mariana ia descendo as escadas.
— Manu, o que aconteceu com a Dona Gabriele? – disse, enquanto observava
Gabriele subir para o quarto.
— O de sempre. Viviane parece que nunca vai se dar bem com a mãe. Embora
ela tenha mudado com a gente, com a mãe dela as coisas não vão muito bem...
— O que é uma pena. – disse Mariana. – Depois de conhecer um pouco mais
a Vivi, eu percebi que as duas se dariam muito bem, se não fosse esse muro
entre elas. Eu mesma queria ter uma mãe como a Gabriele. - e como se lembrando
de algo. – Sabe com quem eu sonhei? Com a mamãe.
— A Rebeca?
— Não, a Tânia.
Emanuela olhou para Mariana.
— Você não deveria chamar aquela mulher de mãe.
Mariana riu.
— O quê? Está agindo como a Viviane agora?
— Não é isso. É só que você sabe muito bem como aquela mulher nos
tratava...
— E daí? Ela não poderia ter mudado com o tempo?
Emanuela pareceu ficar um pouco irritada.
— Você é ingênua demais, Mariana. Quando você vai acordar? As pessoas
não mudam tão rápido quanto você pensa e nem mesmo mudam com frequência.
Mariana não entendeu a reação da irmã.
— Por que falou assim? Talvez não seja eu que seja ingênua, talvez seja
você que sempre quer ver o lado ruim de tudo. – disse, saindo, um pouco
chateada.
Emanuela ficou confusa por alguns instantes. Ela não era de falar coisas
sem pensar e, sem querer, havia discutido inutilmente com a irmã.
— Brigas de irmãs? – perguntou alguém. Era Camila. – Pensei que nunca
brigassem.
Emanuela olhou receosa para Camila. Obviamente, o que acontecera tinha
uma parte de culpa de Camila.
— Em geral, não acontece. – comentou Emanuela.
— Isso é normal, já que têm personalidades diferentes. É como eu disse, pessoas
como sua irmã são ingênuas demais, acreditam muito na bondade das outras
pessoas e nem percebem que, dessa forma, não só se machucam como machucam os
outros ao redor.
Emanuela saiu sem dizer nada.
***
Érica foi ao hospital logo cedo. De repente, encontrou-se com Fabiano.
— Você poderia conversar comigo um instante. – pediu ela.
Os dois foram para uma sala onde só médicos poderiam entrar.
— Eu tenho um favor para pedir... – disse ela.
— O quê?
— Você pode me prometer uma coisa? – perguntou ela.
Fabiano olhou para Érica.
— O que você quer?
— Prometa que se acontecer algo comigo, você vai cuidar do Fabinho.
Fabiano estranhou o pedido de Érica.
— Por quê? Você vai fugir?
Érica riu.
— Você pensa mesmo o pior de mim, não é? Só me prometa. – e olhando nos
olhos do médico. – Por favor.
Fabiano suspirou.
— Tudo bem. – e olhando no relógio. – Agora, eu tenho que ir. Não posso
ficar perdendo meu tempo com coisas inúteis.
— Claro. – disse ela, se retirando.
Fabiano se afastou, quando alguém o puxou pelo braço. Era Rafael.
— Eu sei que está passando por problemas. Mas não desconte isso nas
pessoas.
Fabiano riu.
— Se está com pena, então, fique com ela. – disse, saindo. – No momento,
tenho que me preocupar em salvar vida de pessoas aqui.
Érica estava saindo do hospital, quando Rafael correu em sua direção.
— Érica?
— Oi.
— Você parece um pouco desanimada. Aconteceu alguma coisa?
Érica sorriu.
— Não é nada. – e caminhando em direção à saída. – Adeus, Dr. Rafael. E
obrigada por tudo. – e parando de repente. – Eu sei que pode parecer estranho
eu falar isso de repente... Mas, se eu fosse começar uma vida nova, seria com
alguém como você. – disse, sorrindo. – E não se esqueça de entregar aquilo para
o Fabiano, ok?
Dr. Rafael a viu sair do hospital. Por alguma razão, sentiu um mau
pressentimento.
***
Mariana acabara de almoçar e foi para a sala assistir um pouco de TV.
Camila estava sentada.
— Dona Camila? Se importaria de eu ligar a TV?
— Claro que não. – disse Camila, pensativa. – Mas pode apenas me chamar
de Camila.
Mariana riu.
— Eu sempre fiquei na dúvida em como tratá-la... Você parece muito
jovem. Eu te daria 25 anos.
Camila sorriu.
— Você é boa com palpites.
— Sério? Acertei? – e parecendo curiosa. – Mas, ultimamente, você tem
ficado muito tempo na mansão...
— Tem razão. – concordou Camila. – Iêda, com quem passava parte do meu
tempo, viajou com o marido para acompanhá-lo em uma viagem de negócios...
Mariana pareceu ficar surpresa.
— Nossa. Eu não sabia disso.
Camila riu.
— É normal. Afinal, vocês também saem com frequência... E pelo jeito
estão realmente se dando bem com Viviane.
Mariana riu.
— Tem razão. Viviane é uma ótima pessoa.
Camila olhou para Mariana enigmática.
— Sabe que eu tive uma ideia agora... Já que você se dá muito bem com a
Viviane, gostaria que me ajudasse a me aproximar mais dela.
— Se aproximar? – perguntou Mariana, curiosa.
— Pode não parecer, mas eu quero me dar bem com todos da família. –
explicou – E, em relação à Viviane, acho que eu preciso me tornar amiga dela.
Faz mais de cinco anos que tento uma aproximação, mas ela nunca me deu chance.
Acho que se você puder ajudar, eu posso ter mais uma amiga.
— Tudo bem. O que eu poderia fazer para ajudar?
Camila pareceu pensar um pouco.
— Eu pensei que amanhã eu poderia visitar a faculdade com você. Soube
que está se preparando para uma prova, então, que tal conhecer a faculdade
antes? Depois, nós três faríamos algumas compras. O que acha? Você acha que é
uma boa ideia para começarmos?
Mariana pareceu gostar da ideia.
— Está bem, então. Eu, realmente, gostaria de ver como é essa faculdade.
– e se levantando – Acho que vou logo avisar a Viviane e colocar nosso
plano em ação.
Mariana sentou-se de novo ao lado de Camila, surpreendendo-a.
— Dona Camila... Digo, Camila... Eu realmente não conheço muito você,
mas agora eu percebo que é uma pessoa diferente do que eu imaginava. Nunca
pensei que faria uma coisa assim apenas para se dar bem com a Viviane. – disse,
sorrindo. – São pessoas como você que se tornam exemplo para todos.
Camila sorriu. Mariana se levantou e saiu. O sorriso no rosto de Camila
se desvaneceu.
— Ela é tão fácil de enganar que irrita. – disse, séria.
Depois que a menina se afastou, ela pegou o celular e discou um número.
— Alô? Já está confirmado para amanhã. Qualquer coisa, ligarei um pouco
antes. – disse, desligando o celular.
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