Novela de Janete Clair
Adaptação de Toni Figueira
CAPÍTULO 44
Participam deste capítulo
Cyro - Tarcísio Meira
Otto - Jardel Filho
Baby - Claudio Cavalcanti
Comendador Liberato - Macedo Netto
Catarina - Lidia Mattos
CENA 1 - MANSÃO DE OTTO MULLER - ESCRITÓRIO DE OTTO - INTERIOR - DIA
FAZIA CALOR NA NOITE CATARINENSE.
CYRO ATENDERA AO CHAMADO DO DR. PAULUS E SE ENCONTRAVA NO GABINETE PARTICULAR DE OTTO. A MUITO CUSTO, O ADVOGADO CONSEGUIRA CONVENCER O MILIONÁRIO DE AVISTAR-SE COM O MÉDICO ALI MESMO, EM SUA RESIDÊNCIA. CYRO FUMAVA TRANQUILAMENTE, QUANDO O ALEMÃO APARECEU, VESTINDO UM ROBE DE SEDA.
OTTO - Muito agradecido, doutor, por ter atendido ao meu chamado.
CYRO - Julguei que estivesse precisando dos meus serviços profissionais. Como está se sentindo?
OTTO - Otimamente. Nem parece que estive doente. É claro... fui seu paciente... (afirmou, com sinceridade) Grandes mãos, por si só, eram já uma garantia de vida.
CYRO - Obrigado. Mas não se deve iludir com a melhora aparente. É preciso continuar com os cuidados.
OTTO - Dr. Cyro... fui surpreendido com revelações estranhas acerca do seu procedimento.
CYRO - Como assim?
OTTO - Não acreditei que pudesse ser verdade. Acho o senhor um médico eminente, não teria motivo algum para interferir... como me disseram... em problemas que não lhe dizem respeito.
CYRO - Quais, por exemplo?
OTTO - Das minas de carvão. Da direção da Companhia.
CYRO - Não me consta que eu tenha abalado, com a minha interferência, os assuntos das minas...
OTTO - Então, teve mesmo interferência?
CYRO - Em corrigir algumas injustiças, tive!
OTTO - Orientando Baby a lutar contra mim?
CYRO - Não. Para lutar contra ninguém. Para reagir contra injustiças, maldades, leviandades e falta de senso humano.
OTTO - (sentiu o peito em chamas) Ora, Dr. Cyro! Isto me coloca numa situação bastante delicada. Eu respeito muito o senhor, hoje o tenho como um... um amigo... mas a todo o momento o encontro no meu caminho ao lado dos meus inimigos.
CYRO - Sr. Otto, é verdade que nada disso me diz respeito, mas não seria melhor para todos se não encarasse seu primo Baby como inimigo?
OTTO - São particularidades... de família... não vou aborrecê-lo, contando a história da família Liberato. Não, em absoluto. Creio que lhe basta saber que meu tio Augusto Liberato tomou toda a parte da herança da minha pobre mãe. Isto lhe deu a maioria das ações...
CYRO - Não quero entrar no mérito da questão. Mesmo porque nada disso me atinge. Eu não pertenço à família Liberato.
OTTO - Estou lhe dizendo para que o senhor não pense que eu e mamãe somos dois carrascos e estamos almejando a presidência da Companhia gratuitamente. Não. Apenas pretendemos corrigir uma injustiça, uma lamentável injustiça.
CYRO - Aonde o senhor quer chegar com todas estas explicações?
OTTO - Sou obrigado a pedir-lhe para se afastar definitivamente do meu primo Baby, para não se envolver mais nos problemas da Companhia.
OTTO BAIXOU OS OLHOS, AGUARDANDO A RESPOSTA DO HOMEM À SUA FRENTE. NÃO HOUVE QUALQUER REAÇÃO APARENTE NA FISIONOMIA DE CYRO VALDEZ.
CYRO - (respondeu, calmo) Sou obrigado também a lhe dizer que tomo as atitudes que acho que devo tomar em qualquer caso. Seja da sua companhia ou não. E creio não estar me envolvendo em seus negócios, como o senhor afirma. Como homem, como criatura humana, devo portar-me como acho mais justo e conveniente diante de qualquer situação. (encarou Otto Muller com expressão severa) Era só isto que tinha a me dizer?
OTTO - Não, Dr. Cyro. Eu o aconselho ainda a se preocupar mais com a sua profissão de médico! E lhe digo mais: o senhor está proibido de pisar em Valongo, nas minas de carvão!
CYRO - Proibido? Por sua determinação? Recuso-me a acatar ordens suas, principalmente quando tenho permissão... pessoal do presidente da empresa.
OTTO - (tremeu de ódio) Será muito desagradável para nós ambos, doutor. Eu o considero muito para tê-lo como meu inimigo.
CORTA PARA:
CENA 2 - MANSÃO DE OTTO MULLER - ESCRITÓRIO - INTERIOR - DIA
OTTO - (ironizou) É uma reunião de família?
O COMENDADOR NADA RESPONDEU. SABIA QUE O FUTURO SERIA DECIDIDO NA JOGADA QUE PROPORIA AGORA AO SOBRINHO, DEPOIS DE MEDITAR DEMORADAMENTE POR VÁRIOS DIAS. E CERTO DE QUE AS RIVALIDADES E INTERESSES PODERIAM CHEGAR AO FIM, TINHA SUGERIDO O ENCONTRO DA FAMÍLIA NA PRÓPRIA RESIDENCIA DA IRMÃ, CATARINA.
COMENDADOR LIBERATO - Minha intenção é pacificar a Companhia para evitar choques como os que tem acontecido ultimamente e a divisão da administração pode colocar um ponto final neste problema.
OTTO - (olhou significativamente para a mãe) O senhor fala em divisão... mas como?!
COMENDADOR LIBERATO - Você sabe que nós estamos abrindo um novo poço para facilitar a exploração de outros veios de carvão-de-pedra. Otto ficará com essa parte. Dividimos, assim, a região, sobre a qual a Companhia tem a concessão da exploração, em duas partes autônomas... sob o ponto de vista administrativo.
A SOLUÇÃO APONTADA PELO MAIOR ACIONISTA DA COMPANHIA, ATÉ CERTO PONTO, ERA DIGNA DE ESTUDOS. E OTTO SENTIU ISSO.
OTTO - Mas ambas as partes continuarão pertencendo á Companhia de Mineração.
COMENDADOR LIBERATO - Exato. Apenas uma parte dos mineiros ficaria sob as ordens de Otto. Outra parte, a mais antiga, obedecerá às ordens de Baby.
OTTO - E as casas da Companhia?
COMENDADOR LIBERATO - Serão divididas: metade para cada administrador. Como todas as casas estão na mesma rua, cada lado será ocupado por empregados de vocês.
OTTO VOLVEU AS VISTAS PARA BABY, DE BRAÇOS CRUZADOS A UM CANTO DA SALA.
OTTO - O que meu primo acha?
BABY - (falou, rude) Acho que é ceder demais a quem não tem direito algum!
CATARINA - (irada) Talvez você não saiba que o direito seria todo nosso, se não tivéssemos sido enganados quando meu pai morreu.
BABY - (dirigiu-se ao pai) O que é que ela quis dizer?
COMENDADOR LIBERATO - (intranquilo) Nada! Nada que importe agora!
OTTO - Bem, a sugestão de tio Liberato é, de certa forma, uma saída, pelo menos, temporária para a crise que começa a refletir-se como um problema delicado para o sucesso comercial da firma. A Companhia vem registrando sensível decréscimo de lucros nos negócios. Vários mercados foram perdidos para companhias concorrentes, desde que se iniciou essa crise administrativa. Os apontamentos indicam uma pré-falência, caso não sejam tomadas iniciativas urgentes para conciliar as partes. A proposta do tio Liberato é muito lógica, muito justa. Eu vou pensar bem nela. Meditar sobre as vantagens e desvantagens. Prometo que até amanhã darei uma resposta (dirigiu-se ao grupo com gestos nervosos) Agora, saiam todos e me deixem descansar, por favor.
ENQUANTO A VELHA CATARINA AJUDAVA O FILHO A DEITAR-SE NO DIVÃ, O COMENDADOR DEIXAVA A SALA COM BABY, DE EXPRESSÃO CARRANCUDA.
BABY - Que história é essa que tia Catarina falou?
COMENDADOR LIBERATO - Não é nada que interesse a você!
BABY - Mas eu quero saber.
SEM SE LIBERTAR DA PREOCUPAÇÃO QUE AS PALAVRAS DA IRMÃ TINHAM LHE CAUSADO, O COMENDADOR PREFERIU ESQUECER A INSISTÊNCIA DO HERDEIRO. UM DIA, TALVEZ PUDESSE ESCLARECER-LHE TODA A VERDADE. UM DIA, TALVEZ.
FIM DO CAPÍTULO 44
... E NA PRÓXIMA SEXTA, CAPÍTULO INÉDITO!
Que segredo é esse de Catarina e o Comendador Liberato? Estou curiosa rsrsrs. Muito bom esse capítulo!
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