O texto abaixo é da autoria de Leon
Eliachar.
Para maiores informações sobre o autor,
favor acessar: http://www.releituras.com/leoneliachar_bio.asp.
Boa leitura!
O SEGREDO DA PROPAGANDA É A PROPAGANDA
DO SEGREDO
Depois de tantos anos vendo televisão
diariamente, chego a uma conclusão definitiva: é muito mais divertido e mais
prático ver os anúncios. Enquanto as outras pessoas ficam aflitas tentando
decorar os horários das novelas, das paradas de sucesso e dos chamados
programas humorísticos, eu não tenho problema: ligo a televisão em qualquer
canal e vejo os anúncios sem preocupação de horário. Vocês talvez achem que é
loucura ver os mesmos anúncios diversas vezes, mas posso garantir que os
anúncios variam muito mais que as piadas e as músicas que são servidas todos os
dias. Pelo menos os anúncios são bem bolados, alguns até inteligentes. A
técnica é chatear tanto até ficarem em nosso subconsciente — se é que alguém
consegue ter subconsciente assistindo televisão.
Os refrigerantes, por exemplo: quase
todos fazem as garrafas dançar na nossa frente e tocam uma musiquinha que chega
a dar sede. Aí a gente não resiste: vai à geladeira e bebe um copo de água.
Mas bom mesmo é anúncio de sabonete:
aparece cada moça bonita que vou te contar. E com uma grande vantagem, as moças
não falam, só aparecem, ligam o chuveiro e ficam noivas dentro da espuma. Por
mais que a gente saiba que aquilo é anúncio de sabonete, fica sempre aquela
dúvida se um dia eles não vão resolver dar o nome daquele chuveiro ou, quem
sabe, o telefone da moça.
Geniais mesmo são as geladeiras que
duram toda a vida. Mas muito mais geniais são os textos garantindo que cabe
tudinho dentro delas, mas acho que não têm tanta certeza, pois fazem questão de
botar uma moça bem bonita pra mostrar a geladeira — e a gente tem é vontade de
comprar a moça, mesmo sem o "certificado de garantia".
E as televisões, baratíssimas, cada vez
mais vendidas, dentro dos novos planos de venda. Ao invés de bolarem uma
televisão mais perfeita, ficam é bolando planos de venda. No dia em que inventarem
uma televisão que focalize a cara de um sujeito com menos de três orelhas, não
precisam nem fazer anúncio: é só exibir, que esgota no mesmo dia.
Existe anúncio de todo tipo: tecidos que
não amarrotam, tecidos que dão prêmios, tecidos que dão desconto, tecidos
coloridos que são apresentados em preto-e-branco, tecidos brancos que ficam
cada vez mais brancos à medida que vai surgindo um novo sabão em pó. Mas é o
que eles pensam: o branco deles, lá em casa, todo mundo tá vendo que é cinza.
O mais engraçado são os anúncios de
inseticidas que matam todos os insetos, menos as moscas do estúdio.
Anuncia-se também muita banha, muito
pneu, muito perfume, muito sapato, muito automóvel, muita calça, muita bebida e
muita pílula pra dor de cabeça. Parece até que um anúncio depende do outro — é
como se fosse uma novela, com a vantagem de a gente sempre saber qual o final
de cada anúncio. E não pensem que sou o único a achar os anúncios mais
interessantes que os programas: os donos das emissoras também acham — senão não
ocupavam a maior parte do tempo com anúncios. Nos intervalos é que colocam
alguns programinhas — por absoluta falta de mais anúncios.
Reparem só: os programas de humor
mostram o lado negativo das pessoas, os personagens são quase todos fossilizados,
gagos, surdos, cegos, velhos borocochôs ou sem sexo definido. As novelas
exploram seres anormais dentro de um mundo de misérias e lágrimas. Já os
anúncios apresentam um mundo de otimismo, onde tudo é bom e saudável, não
quebra, dura toda a vida e qualquer um pode adquirir quase de graça, pagando
como puder, no endereço mais próximo da sua casa. O único detalhe que nos deixa
um pouco frustrados é que a moça que dá os endereços fala tão preocupada em não
errar que a gente não consegue decorar nenhum endereço. Em compensação, sabe de
cor a moça todinha.
Fonte: http://www.releituras.com/leoneliachar_osegredo.asp
Que legal esse texto, muito engraçado!
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