Emanuela estava sentada com um livro nas mãos. Mas apesar de parecer que
estava lendo, seus pensamentos estavam longe. A mensagem que Fabrício havia
mandado a estava incomodando. Alguma coisa dizia que algo grave havia
acontecido. Olhou novamente para o livro, tentando se concentrar, mas não
conseguiu. Já estava na terceira tentativa, quando, de repente, alguém bateu na
porta. Logo depois, Mariana entrou.
— O que está fazendo? – perguntou, iniciando uma conversa.
Emanuela deixou o livro de lado.
— O que foi?
Mariana trazia consigo um convite de aniversário bastante antigo e até
amarelado com o tempo.
— Eu trouxe para compararmos. – disse – As letras são extremamente
iguais, não são?
Emanuela pegou a cópia da carta em uma das gavetas da sua cômoda e
juntas compararam os dois documentos.
— De fato. É a mesma letra. – concordou Emanuela. – É muito intrigante.
Mariana ficou em silêncio por alguns instantes.
— Sei que está desconfiando Manu, mas... Não vamos tirar conclusões
precipitadas, está bem? Digo... Talvez haja uma explicação para isso. Poderia
ser, por exemplo, que ela tenha sido forçada, não é? A escrever essa carta.
— Pode ser. – disse Emanuela mais para consolar a irmã do que por ter
certeza. Apesar de tudo ela também não gostava de imaginar que Rebeca, uma
mulher que parecia tão gentil em suas memórias, fosse capaz de algo cruel como
o que Viviane havia suposto.
De repente, o rosto de Mariana se iluminou.
— Que tal pedirmos ajuda ao nosso avô?
— Ao Dr. Otávio? – perguntou Emanuela surpresa.
— Quem mais seria nosso avô? Claro que é o Dr. Otávio.
— Também não precisa responder assim... – disse Emanuela, fazendo um
muxoxo. – Mas como pediríamos a ajuda dele?
— Poderíamos pedir para ele contratar um investigador para saber o que
aconteceu com a Rebeca... Talvez possamos descobrir mais sobre essa carta, quem
realmente escreveu...
Emanuela parecia pensativa.
— Não entendo muito disso. Mas não acha que é difícil investigar um
crime que aconteceu há tanto tempo?
— Não, não acho. Você nunca assistiu aquela série? Arquivo Morto? Sempre
aparecerem testemunhas que na época não falavam, mas acabam falando depois.
— Mariana, irmãzinha. Estamos falando da vida real, em um contexto de um
país que é conhecido por sua corrupção em várias esferas da sociedade. Nem
mesmo sabemos se a polícia daquela época mantém os arquivos do caso.
— Sei, sei... Mas não custa nada tentar. Vamos falar com nosso avô e ver
como ele pode ajudar, ok? Podemos? Sim? – insistiu ela.
Emanuela suspirou. Ela sabia que Mariana não descansaria até descobrir
como Rebeca estaria realmente envolvida naquilo.
— Está bem. Vamos falar com ele. Mas vamos deixar isso para amanhã, está
bem? Antes de eu ir trabalhar, falamos com ele.
***
Fabrício chegou em casa. Sentou-se no estofado da sala desolado. Ainda
não conseguia acreditar que havia sido enganado com um truque tão trivial. E
pior, não queria pedir ajuda a seu pai porque apenas confirmaria o que ele
sempre dizia, que ele era apenas um irresponsável, que nada sabia sobre a vida.
Mas a verdade é que ele era. Pela primeira vez, percebeu que não sabia de tudo
e que ainda tinha muitas coisas a aprender sobre o mundo lá fora. Em seguida,
pensou em Emanuela, a garota que havia lhe mostrado que era preciso lutar para
sobreviver. Lembrou que assim que saiu do lugar onde se reunira com Fernandes,
havia mandado uma mensagem, arrependendo-se logo em seguida. Não importa o que
acontecesse, não poderia envolvê-la naquele problema.
Levantou-se e foi tomar um banho, em breve, estaria indo vê-la e teria
que pensar em uma boa desculpa para que Emanuela não desconfiasse de nada.
***
Emanuela esperava ansiosamente do lado de fora da mansão. De repente,
viu um carro se aproximar, parecia ser Fabrício. O carro parou e ele desceu.
— Então? O que era tão urgente? – perguntou Emanuela apreensiva.
Fabrício olhou para Emanuela um pouco receoso.
— Não... Não foi nada. É que eu estava muito ansioso para te ver, só
isso.
Emanuela estranhou.
— Tem certeza? Quer dizer... Tive a sensação que algo sério tinha
acontecido. – e olhando um pouco chateada – Não deveria fazer esse tipo de
brincadeira.
Fabrício sorriu, tentando disfarçar.
— Pois é... Desculpa. Não vai ficar chateada por muito tempo, né?
— Claro que não. Mas não faça mais isso. – respondeu ela.
— Tudo bem. Então, vamos?
— Claro.
Os dois entraram no carro e partiram.
— Que tal pegarmos um cinema hoje? – perguntou Fabrício, enquanto
dirigia.
— Por mim, tudo bem. – respondeu Manu, ainda um pouco desconfiada por
Fabrício parecer tão distante.
– Então... – continuou ele – Acho
que vamos nos ver pouco na semana. Sabe o que é... Eu consegui um emprego.
— Sério? – exclamou ela empolgada. – Você deve estar feliz, era tudo o
que mais queria. Sempre me falava que gostaria de mostrar ao seu pai que poderia
fazer isso sozinho...
Fabrício ficou em silêncio por alguns instantes.
— Pois é... – disse ele, forçando um sorriso. – Por isso, queria avisar,
se eu não ligar muito, então, não se preocupe. Ele vai tirar muito do meu
tempo.
— Tudo bem, então. Sempre temos os finais de semana. – e um pouco
curiosa – Mas onde é? O que vai fazer exatamente?
— Indústria de serviços... Nada de mais. É um pouco complicado e chato
de explicar, então, um dia, eu te conto direito.
Emanuela assentiu, mas por dentro algo alertava de que alguma coisa não
estava certa. Tentou afastar aquele sentimento, afinal, não queria ser a
namorada chata que insiste em assuntos que o namorado não quer falar.
***
A noite chegou rápido. Coincidiu de toda a família estar reunida para o
jantar. Até mesmo Emanuela, que havia saído com o namorado, resolveu voltar
mais cedo. Logo depois de jantarem, Camila e Otávio Jr. subiram para o quarto.
— Parece que as três meninas estão se dando bem, não é? – comentou ele.
Camila assentiu.
— Os planos do Dr. Otávio sempre parecem dar certo. Desde o começo, o
intuito de fazer as duas morarem aqui logo foi justamente para que Viviane
mudasse o comportamento. E está funcionando. Até mesmo o ambiente familiar não
é mais pesado como antes.
Otávio Jr. olhou desconfiado para a mulher.
— Do jeito que fala, até parece que está feliz por isso.
— Não estou infeliz por isso, se me entende. Você sabe muito bem que
isso contribui para nossos planos. Afinal, muito em breve, poderemos colocá-lo
em prática.
— Assim espero... – disse ele, sentando-se em uma poltrona perto da
escrivaninha – Mas faz tempo que você está dizendo ‘muito em breve’ e não
executa o plano logo. O que está esperando exatamente? Do jeito que está
levando as coisas, tenho a impressão que se importa mais com a saúde do meu pai
do que eu imaginava. Não quer dar um choque no velho.
Camila olhou séria para o marido.
— Sabe que não é assim... Só que gosto das coisas bem planejadas e
feitas no seu devido tempo. Não é como se fôssemos comprar um bombom na
esquina. Você sabe o que me pediu para fazer? Não é tão simples quanto parece.
Se algo der errado, toda a culpa pode cair em cima de nós.
Otávio Jr. ficou pensativo durante alguns instantes.
— Engraçado... Você não costumava ser assim...
Camila olhou de repente para o marido.
— Do que está falando?
— Só estava pensando... Muito antes de casarmos, há mais de cinco anos
atrás... Quando ainda namorávamos, você não era assim. Era mais imediatista. –
disse ele, se levantando – Antes de casarmos, depois que se afastou, porque eu
pedi para você se livrar daquele ‘problema’, você mudou bastante. Mudou tanto
que no começo tive a impressão de ser uma pessoa diferente, acredita? – e se
aproximando dela – Mas fico feliz, naquela época você mostrou que era bastante
obediente a mim, fazendo o que eu pedi. Agora você deve perceber que no fim
acabou sendo bom para você. De qualquer forma, espero que tudo dê certo. A
auditoria, no fim, não deu muito resultado e espero que com isso possamos
afastar de vez o Dr. Marcos da presidência, antes que ele dê um jeito de se
tornar presidente definitivo. – disse, em seguida, saindo.
Camila não falou nada. Apenas ficou com seu olhar no vácuo. Algo que
Otávio Jr. havia falado trouxe lembranças que gostaria de esquecer para sempre.
— Aquele ‘problema’... – disse para si mesma – Era seu filho... Mesmo
depois de tanto tempo, você não parece sentir qualquer remorso por isso.
***
No dia seguinte, na segunda, logo depois que Mariana e Emanuela tomaram
o café da manhã, pediram para falar com Dr. Otávio. As duas se encontravam
próximo à cama, onde o avô olhava para as duas, esperando que começassem.
— Então, o que queriam dizer?
— Sabe o que é... Dr. Otávio... – começou Mariana.
— Não sei. – disse ele, fazendo com que as duas tivessem um sobressalto.
– E não quero saber a menos que comecem a me tratar como o avô de vocês... Não
precisam ter cerimônia e nem me chamarem de Dr. Otávio.
Mariana sorriu, enquanto se aproximava mais da cama, sentando-se em uma
cadeira ao lado.
— Então... Vô. É que queríamos pedir algo.
— E o que seria isso?
— Mariana quer que o senhor ajude a investigar o caso da nossa mãe
Rebeca.
Dr. Otávio ficou um pouco surpreso.
— Vocês falam da mulher que criou vocês e que foi... Morta?
— Isso. – confirmou Mariana – A verdade é que ontem vimos a famosa carta
que nos menciona, digo, menciona uma de nós. E eu acabei reconhecendo a letra
da pessoa que escreveu ou que poderia ter escrito aquela carta.
— Está falando sério? – perguntou Otávio com um estranho interesse na
voz.
— Sim. – Mariana mostrou o convite de aniversário – Essa caligrafia...
Era da Rebeca.
Otávio observou a caligrafia e percebeu que de fato eram muito semelhantes.
— Não queria tirar conclusões precipitadas, até porque a carta omite uma
de nós, por isso, queria que o senhor investigasse o assunto ou conseguisse
alguém para investigar. O senhor acha que seria possível?
Dr. Otávio ficou em silêncio por alguns instantes.
— Não se preocupem, eu cuido disso.
As duas sorriram, sem perceber o olhar apreensivo e até mesmo irrequieto
de Dr. Otávio.
***
Viviane já estava na faculdade, no intervalo, e, como sempre fazia,
esperava Verônica. Não demorou muito para que a amiga chegasse um pouco
desanimada, pelo que percebeu.
— Que cara de velório é essa?
— Minhas provas começaram... As suas não?
— Sim. Mas estou tranquila.
Verônica olhou para Viviane surpresa.
— Uau. Pela primeira vez, vejo que você está realmente confiante.
Estudou muito ou Albert Einstein baixou em você?
— Nem um dos dois.
— Então, de onde vem essa confiança toda?
Viviane suspirou, colocou os óculos escuros com toda a pompa e tomou um
pouco de suco, adquirindo um ar confiante.
— Para que se preocupar com o inevitável? Vou me dar mal mesmo.
Verônica que estava séria, riu de repente.
— Sério isso? Pensei que diria algo importante.
— Estou falando muito sério. A minha nova filosofia de vida agora é: Não
vou esperar nada, para não me decepcionar com nada.
Verônica riu-se.
— Às vezes, tenho vontade de escrever um Tumblr e colocar suas famosas frases. Se chamaria “As frases
célebres de Viviane Alcântara.” O que acha?
Viviane olhou por sobre os óculos, semicerrando os olhos.
— Acho que você poderia fazer algo mais original. Não é a primeira
pessoa a ter essa ideia.
— Já imaginava algo assim.
Verônica se desviou da conversa e olhou o celular.
— O que foi? – perguntou Viviane, vendo um ar de preocupação no rosto da
amiga. – Conseguiu um paquera e já passou três dias e ele não ligou?
— Quem dera fosse isso... É o meu irmão. Está estranho. Ainda ontem
mandou uma mensagem dizendo que ia ficar muito ocupado, que não ligasse para
ele que possivelmente não iria atender. Mandei uma mensagem perguntando o
porquê e adivinha? Ele não me respondeu nem isso.
— Bem, ele pode estar querendo ficar um pouco sozinho.
— Sozinho? Para quê?
— Não sei... Dizem que homem tem TPM também, não é? Não ouviu sobre
isso?
Verônica olhou intrigada para Viviane.
— Sério? Isso existe mesmo ou está inventando?
Viviane ajeitou os óculos.
— Existe sim. Me admira uma estudante de medicina não saber que os
hormônios masculinos também oscilam.
— Me admira você saber isso.
— Ah, Verônica. Não sou tão burra quanto pareço, ok? Mesmo que eu não
goste de medicina, não quer dizer que nenhuma informação grude no meu cérebro.
É inevitável.
Verônica olhou curiosa para Viviane.
— Agora, só por curiosidade, por que está usando óculos escuros quando
nem está fazendo sol aqui dentro?
— Não estou fazendo isso por causa do sol. A razão disso é aquela pessoa
que acabou de chegar.
Verônica olhou e percebeu que Emily parecia ter acabado de chegar à
lanchonete da faculdade.
— Então, está usando óculos para não perceberem que está olhando para
ela? Parece que você declarou realmente guerra a ela.
— É claro, querida. Por que acha que quero olhar para ela? Já viu os modelitos que ela usa? Não posso perder
nisso. Tudo menos nisso.
— Quer dizer que pode perder o Gabriel?
— Engraçadinha.
— Falando em modelito, já preparou
o vestido para a festa? É passando esse domingo, no outro. Eu, infelizmente,
não vou poder ir. Tenho uma festa de formatura para comparecer de uma prima.
Então, vai ter que arranjar outra pessoa para ir ou ir sozinha.
— Oh, my God! Que horror! –
exclamou Viviane.
— Não é tão horror assim. Você tem as gêmeas, se quiser companhia.
— Não estou falando disso. – disse Viviane, que parecia olhar em direção
a Emily. – Aquela combinação de roupas. Ela já usou aquela nesse mês! Que
cafona. Eu jamais faria isso. Never!
Verônica balançou a cabeça, rindo.
***
— Deveria falar para elas que já mandou investigar sobre isso há muito
tempo. – disse Tarcísio que havia sido chamado pelo Dr. Otávio e agora estava
sentado na frente do mesmo.
— Por que eu faria isso? Só criaria expectativas. Algo assim deve ter
sido traumatizante para elas. Se eu dissesse que já pedimos a um investigador
para cuidar disso, elas teriam altas expectativas e, no final, se não houvesse
resultado, a situação emocional delas estaria pior.
Tarcísio balançou a cabeça afirmativamente.
— Pensando por esse lado, de fato, o senhor tem toda a razão. Devo
imaginar que saber a razão pela qual a mãe adotiva foi morta é algo que sempre
deve ter passado pela cabeça delas. Em todo caso, esse convite vai confirmar de
fato de quem é a caligrafia. Mas se for confirmado que é dela, a investigação
tomará outro rumo. Algo que não tínhamos imaginado.
— Que a Rebeca pode estar envolvida nisso também. - disse Otávio
suspirando – Não vamos tirar conclusões precipitadas ainda. Mas, por agora, só
peço que me dê um relatório sobre o que o investigador conseguiu nesse pouco
tempo em que ele passou investigando.
Tarcísio ajeitou-se na cadeira.
— Bem, Dr. Otávio. Como falei antes, ele havia dito que tinha encontrado
outra pessoa que poderia estar ligada ao fato. Ele me falou que a pessoa e,
nesse caso, não quis dizer quem é, por enquanto, declarou que Rebeca era filha
de uma família rica do interior e que havia fugido de casa por conta de abusos
físicos.
— Então, ela era de uma família rica... Isso pode estar relacionado com
o assassinato dela.
— De fato. Apesar de que o investigador não quis me falar muita coisa.
Disse que havia algumas coisas que precisava confirmar antes de me falar.
— E quanto a testemunhas?
— Não, nada ainda. Como relatado no arquivo do caso, a maioria das
pessoas não notou o tiro, porque estava chovendo forte e trovejava... E ela era
considerada uma mulher de boa índole, alguém que não atrairia inimigos. E nem
mesmo sabiam que ela havia sido uma garota de programa, porque já tinha se
afastado para muito longe justamente para que ninguém soubesse do seu passado.
– explicou Tarcísio.
— Isso vai de encontro com a carta que indica que foi escrita por ela.
Se foi escrita por ela, então isso quer dizer que ela ainda tinha contato com
pessoas da sua antiga vida e que tinha contato com a mãe das meninas na época
em que elas nasceram. O que vai contra o testemunho daquela outra pessoa que
diz que ela não tinha entrado em contato com as crianças antes de criá-las.
— Isso é intrigante... Se ela foi para outro lugar com o intuito de
apagar o passado, por que ela teria contato com os outros? E por que mencionar
apenas uma das meninas? E tem mais uma coisa que ainda não mencionei, Dr.
Otávio.
— O quê? – perguntou Otávio curioso.
— O investigador descobriu que um vizinho, na época, simplesmente
desapareceu. Ou tudo parecia indicar que fosse assim. Isso dificilmente poderia
estar relacionado ao caso, até que alguém, que havia sido vizinho dele, o viu
não muito tempo atrás em outra cidade e, pelo que parecia, vivendo uma vida
totalmente diferente com mordomias que antes não tinha.
— E do que o investigador desconfia?
— Há a possibilidade de esse homem ser uma testemunha. Alguém que pode
ter visto algo e foi comprado para não dizer nada a ninguém. O detetive está em
busca desse homem, apesar de que não será muito fácil encontrá-lo, uma vez que
se essa pessoa descobrir que está sendo procurada, pode resolver ir para outro
lugar ou até mesmo outro país.
Otávio ficou calado. As coisas pareciam mais complicadas do que antes.
***
Na terça-feira, tudo estava normal no trabalho. Emanuela agora se
encontrava desde segunda no Departamento Financeiro da Sede do Grupo
Demontieux. A crise de alguns dias atrás havia cedido à tranquilidade e tudo
parecia bem. Seu atual chefe – e temporário – também era uma pessoa gentil e
que a ajudava a compreender melhor como funcionava. Claro que a paciência que
ele tinha poderia estar diretamente ligada ao fato, já conhecido pela maioria,
de que ela era uma das netas do Dr. Otávio, que, atualmente, estava afastado
por motivos de saúde.
Emanuela estava no arquivo de documentos do Departamento
Jurídico-Financeiro guardando alguns documentos para serem arquivados, quando
percebeu que alguém havia entrado no aposento. Antes que pudesse mostrar que
também se encontrava ali, ouviu uma voz conhecida.
— Não, não. – disse a pessoa que parecia estar ao telefone. – Eu já
disse, eu já revirei todos os documentos, arquivos, pastas, tudo. Depois de
tantos anos, é impossível que esses documentos estejam no Grupo. Posso mandar
fazer uma nova busca, mas com o atual presidente, você sabe muito bem que isso
não seria muito fácil. Todos os que me ajudavam antes, agora estão com medo de
serem pegos. Sim, talvez Jorge tenha deixado em alguma conta no banco, mas não
tenho ideia de onde também. Por enquanto, vamos verificar se havia contas no
nome dele que não foram checadas. E vou ver o que faço aqui também. Está bem. –
disse, saindo.
Emanuela ainda pôde ver as costas de Otávio Jr ao se retirar.
“Jorge? O que meu pai teria haver com isso?” – pensou consigo.
***
— Então, por que queria me ver? – perguntou Rafael a Érica que estava na
sua frente. – Pensei que sempre lhe interessava o Fabiano, nunca a mim.
Naquele dia, o hospital estava menos lotado, por isso, Rafael tinha um
pouco de tempo livre para atendê-la.
— Não venha com piadas, que hoje não estou com muito humor. – disse
Érica um pouco séria.
Ela tirou um envelope de dentro da bolsa.
— Quero que entregue isso para Fabiano.
— Por que você mesma não entrega? – perguntou ele confuso.
— Não quero que entregue agora. Em breve, vou viajar, voltarei para os
Estados Unidos. Então, quando eu não estiver no país, entregue. Guarde-a
enquanto isso.
— Está bem, se é isso que quer. Mas não entendo todo esse mistério.
Érica suspirou.
— Acho que as pessoas têm razão em parte, quando dizem que aquilo que
plantamos, isso também colhemos. Fico imaginando que tipo de vida eu teria
levado se tivesse me casado com Fabiano. Um homem como aquele é difícil de
encontrar em qualquer lugar.
— Então, você se arrepende?
— Pode ser... – disse ela com o olhar distante – Se bem que isso não
adianta muito agora. – e suspirando – Bem, agora preciso ir.
Érica saiu, enquanto Rafael
a observava. De repente, percebeu que alguém se aproximava.
Nenhum comentário:
Postar um comentário