domingo, 22 de maio de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 12



Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair

CAPÍTULO 12

PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:

PAULA
RITINHA
FAUSTO PAIVA
PORTEIRO
DUDA
JOGADOR 1
JOGADOR 2
DALVA
JOÃO
MARIA DE LARA
TAXISTA

CENA 1  -  RIO DE JANEIRO  -  SEDE DO FLAMENGO  -  EXT.  -  DIA.
  
O táxi estacionou diante da sede do Flamengo. Homens de short, tamanco ao pé, toalhas enroladas no pescoço, transitavam no interior do edifício. Vez por outra, um jornalista era visto tomando apontamentos, enquanto outros batiam fotografias. Paula virou-se para Ritinha.


PAULA  -  Pode descer. É aqui.

RITINHA  -  Não vem comigo?

PAULA  -  Não. Não devo. Vá você. Boa sorte.

A jovem, pegando da pequena mala, desceu do táxi.

RITINHA  -  Obrigada, Carmen. Ah...

PAULA  -  Que foi?

RITINHA  -  Acho que me esqueci da camisola de dormir.

PAULA  -  Teu marido te empresta um pijama.

O táxi largou rápido, enquanto Ritinha entrava na sede do clube.

CORTA PARA:

CENA 2  -  SEDE DO FLAMENGO  -  PORTARIA  -  INT.  -  DIA.

Fausto Paiva, o técnico, apareceu na portaria. Homem rude, desprovido de maneiras humanas, foi logo “atacando”:


FAUSTO PAIVA  -  Que é que há? Que é que está havendo aí?

PORTEIRO  -  Essa dona aí, seu Fausto. Tá querendo falar com o Duda. Disse que veio pra ficar com ele.

FAUSTO PAIVA  -  Ficar ou falar com ele?
  
RITINHA  -  É, com o Eduardo.

PORTEIRO  -  (visivelmente nervoso)  Eu disse a ela que não pode entrar. Ela está insistindo. Não quer entender.
  
FAUSTO PAIVA  -  Moça, o Duda está em concentração.

RITINHA  -  Mas... eu sou mulher dele. Será que não posso ver meu marido?

FAUSTO PAIVA  -  Marido? Que historia é esta? Escute, minha filha, que golpe é esse que você está querendo dar?

Ritinha quase chorava. A voz se embargava na garganta.

RITINHA  -  Não quero dar golpe nenhum. Estou dizendo a verdade. Eu me casei com ele. Sou mulher dele.

FAUSTO PAIVA  -  Ora, menina, vê se toma vergonha, vai andando, vai. (E virando-se para o porteiro)  Jarbas! Bota essa vigarista daqui pra fora!

O porteiro, pegando a jovem pelo braço, forçava sua retirada do clube.

RITINHA  -  (esbravejando)  O que o senhor está pensando? Eu não sou quem o senhor está imaginando... Vim aqui... porque me disseram que eu podia ficar com ele.

FAUSTO PAIVA  -  Então você não sabe que jogador concentrado não pode receber mulher? Mulher da sua laia, então...!

O técnico estava lívido de raiva. Punhos fechados em atitude ameaçadora.

FAUSTO PAIVA  -  Vamos, desguia. Dê o fora. Ande, ande! Essas vigaristas...

Ritinha, chorando, deixou a sede do Flamengo. Fausto Paiva calou um palavrão e retornou ao interior das dependências.

CORTA PARA:

CENA 3  -  SEDE DO FLAMENGO  -  SALA DE  RECREAÇÃO  -  INT.  -  DIA.

Alguns jogadores relaxavam em frente á TV, enquanto outros jogavam cartas ou simplesmente cochilavam no enorme e confortável sofá.


FAUSTO PAIVA  -  (entrando no recinto)  Olha aí, Duda. Uma sujeitinha chegou agora, na portaria, querendo falar com você. Dizia que era sua mulher. E veja só, a imbecil trouxe uma malinha, tipo da roça, e disse que ia ficar com você. Tem cada uma...

DUDA  -  Minha mulher?

Os jogadores riram.

JOGADOR  1  -  Ficar com ele? Essa e boa!

JOGADOR 2  -  Está pensando que isto aqui é hotel...

DUDA  -  (empalidecendo)  Minha Nossa Senhora! Deve ter sido a Ritinha.

FAUSTO PAIVA  -  Disse que é sua mulher.
  
DUDA  -  (confirmou, raivoso)  Mas é minha mulher!

Todos os olhos se voltaram para ele, espantados. Fausto Paiva acercou-se do jogador e fez a pergunta:

FAUSTO PAIVA  -  Você casou, Duda?

DUDA  -  Casei. Esqueci de avisar o senhor, seu Fausto! Me deixe ir falar com ela. Ver se encontro ela por aí.

FAUSTO PAIVA  -   Absolutamente. Daqui você não sai. ( e, irritado)  - Isto é concentração ou parque de diversão? Mais respeito, minha gente! Mais respeito!

CORTA PARA:

CENA 4  -  GÁVEA  -  RUA  -  EXT.   -  DIA.

 
Ritinha perambulava pelas imediações do clube. Não conhecia ninguém. Estava ás vésperas do desespero. Procurou um táxi.


TAXISTA  -  Pra onde, moça?

RITINHA  -  Eu... eu não sei! Eu não sei!

O carro rolava, maciamente. Pela janela estreita, Rita de Cássia via afastar-se a sede imensa. O mundo parecia ruir. Ritinha sentia o mundo esmagar seu frágil corpo. Para onde ir? O táxi se perdia em retas e curvas furando o bloqueio do tráfego a caminho do nada. Ritinha estava perdida na cidade grande.

CENA 5  -  COROADO  -  IGREJA  -  INT.  -  DIA


João Coragem rezava diante do altar da Virgem. Era seu hábito procurar o silencio da casa de Cristo nas horas em que, atormentado por algum problema, não encontrava nas coisas terrenas solução ou saída. Rezava com fervor, desligado do mundo. Nem sequer notou as duas mulheres que se sentaram a um dos cantos da igreja.

Dalva e Maria de Lara benzeram-se. A tia lembrou-se de falar ao Padre Bento.


DALVA  -  Lara, fique aqui. Vou falar com o padre Bento e volto já.

João acabara as orações. Viu Lara sozinha a poucos passos. As atitudes da moça – Lara ou Diana – já não o surpreendiam tanto. Aproximou-se.

JOÃO  -  Diana.

Lara não ergueu os olhos.

JOÃO  -  (insistiu)    -Diana... por que faz isso comigo?
  
MARIA DE LARA  -  (voltou-se para o rapaz)  O senhor de novo, Senhor João Coragem?

JOÃO  -  Você quer me dar uma explicação, pelo amor de Deus?

MARIA DE LARA  -  Eu não sei do que o senhor está falando.

JOÃO  -  Você... você é Maria de Lara... ou é Diana?

MARIA DE LARA  -  Sou Maria de Lara. A explicação para essa confusão que o senhor está fazendo comigo, é que existe outra moça, com esse nome de Diana, que se parece muito comigo.

JOÃO  -  Outra? Então... é outra?

MARIA DE LARA  -  Estou desolada, seu João. Essa criatura faz coisas horríveis, comete atos indignos, rouba, briga, insulta... e talvez... outras coisas piores... que me envergonham... só em pensar. ( E, baixando a cabeça, tímida)   Estou desesperada, mesmo. O senhor nem imagina quanto. Peço que me ajude a desfazer esta confusão.

JOÃO  -  (atônito)  Ajudar!

MARIA DE LARA  -  É. Ajudar. Fale com ela... se a encontrar novamente. Diga que eu preciso vê-la... preciso orientá-la. Coitada! Deve ser tão infeliz!

João não tirava os olhos de um ponto no corpo da jovem. Lembrava-se da queimadura provocada pela água fervente que caíra sobre a perna de Diana, na noite em que a levara para casa. Lara estava ferida no mesmo lugar!

JOÃO  -  Vendo a senhora falar... a gente tem certeza que ela é outra.

MARIA DE LARA  -  Nunca duvide disso, seu João.


JOÃO  -  Mas quando eu vejo... que a senhora... tem um ferimento... no mesmo lugar em que ela se feriu...
  
MARIA DE LARA  -  (assustou-se)  Como?

JOÃO  -  Que foi isso na sua perna?
 
MARIA DE LARA  -  (olhou para a perna enfaixada)    -Isso? Ah, sim... foi hoje de manhã... ou foi ontem de manhã? Não sei... ás vezes eu fico um pouco atordoada... é que sinto esta dor de cabeça. Mas, espere... foi hoje... hoje, mesmo. Eu estava no quarto.

Dalva retornava da sacristia. Lara buscou salvação na presença da tia.

MARIA DE LARA  -  Titia, isso na minha perna... como foi?

DALVA      Um ferimento, hoje de manhã. O espelho do guarda-roupa que quebrou. Por quê?

MARIA DE LARA  -  Ah, sim, o espelho... é mesmo. Eu estava explicando ao senhor João Coragem... a origem de toda essa confusão. A outra mulher que se parece comigo. Ele disse que ela tem um ferimento como eu.

Dalva não escondia o menosprezo que votava á família Coragem. As conversas sucessivas entre a sobrinha e o garimpeiro – jovem, belo, mas pobre e de família detestada pelo irmão, Pedro Barros – tornavam-na irritadiça, nervosa.

DALVA  -  Quando é que o senhor vai deixar minha sobrinha em paz? Será que toda vez que nos encontramos é preciso nova explicação?

JOÃO  -  Eu não tenho culpa...

MARIA DE LARA  -  E por que insiste em falar comigo?

JOÃO  -  É que... eu e aquela outra mulher... a gente... quero dizer... a gente se gosta... a gente se gosta muito. Eu tou quase ficando doido por causa dela... Dona Lara.

As duas – tia e sobrinha – deixaram a igreja. João voltou os olhos para a imagem da Virgem. O rosto da santa confundindo-se com um outro rosto diabólico. No meio da visão, a lembrança de uma perna enfaixada – de Lara ou de Diana? O jovem não podia compreender o fato de tanta coincidência. Mesmo rosto, mesmo ferimento – apenas duas personalidades diametralmente diferentes. Um dia haveria de descobrir tudo.

FIM DO CAPÍTULO 12
Gentil Palhares (Artur Costa Filho) e Diana (Gloria Menezes)

E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...# RITINHA, PERDIDA NA CIDADE GRANDE, ENTRA EM MAIS UMA ENRASCADA, CAINDO NA LÁBIA DE UM PLAYBOY QUE SE OFERECEU A AJUDÁ-LA A ENCONTRAR O MARIDO.

# PEDRO BARROS É INFORMADO DE QUE JERÔNIMO SE CANDIDATOU A PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO DOS GARIMPEIROS E FICA POSSESSO!

NÃO PERCA O CAPÍTULO 13 DE

Um comentário:

  1. Como sempre muito bom! Fiquei com pena de Ritinha, e o sofrimento dela vai continuar! E esses encontros de João e Lara, são demais! Legal Toni! Bjs.

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