Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair
CAPÍTULO 3
PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
ESTELA
LOURENÇO
MARIA DE LARA
JERÔNIMO
RITINHA
JUCA CIPÓ
JOÃO
CEMA
PREFEITO JORGINHO
DUDA
POTIRA
SEBASTIÃO
BRAZ CANOEIRO
E O POVO DE COROADO
CENA 1 - FAZENDA DE PEDRO BARROS - CASA GRANDE - SALA - INT. - DIA.
Na sala – em silencio – Lourenço abraçava Estela. Lábios unidos na expressão do desejo. O choque de Lara foi imenso. Em segundos a visão do passado surgiu-lhe viva, real. O pai – quinze anos mais moço – arma em punho, esbofeteava a mãe. O revólver imenso apontado contra o peito. A mão enorme num vaivém incessante. Ao fundo a figura sinistra do homem indefinido, assistindo á cena. Uma visão que a acompanhava desde menina. Lara levou as mãos á cabeça. “Aquela dor maldita...” Atravessou a sala e num gesto de desespero, desapareceu pela mesma porta onde, minutos antes, o pai, encolerizado, saíra aos gritos de “Juca Cipó”.
Estela e Lourenço afastaram-se ante a inesperada visão da moça.
ESTELA - Lara! Maria de Lara! Minha filha!
Reinava silencio na casa grande.
CENA 2 - COROADO - ESTAÇÃO - EXT. DIA.
Na pequena estação de Coroado o apito do trem deu início á loucura.
HOMEM - Pessoal, lá vem o trem!
Durante todo o dia a vida da cidadezinha se transformara num esperar-que-não-tinha-fim. Os preparativos para a chegada começaram manhã cedinho. Por ordem do prefeito foi decretado feriado municipal. O velho juiz de direito, severo e resoluto, adiara seus compromissos – “casamento só amanhã” – e o delegado Falcão, terno branco, camisa aberta ao peito, palito no canto da boca, arregimentara todos os seus homens – quatro ou cinco, se tanto – para conter os excessos de alegria com a promessa de xadrez. Bebia-se como nunca em Coroado.
HOMEM - Pessoal, o trem chegou!
A um sinal do prefeito, a banda atacou, enchedo de som a pracinha. A multidão delirava.
Ritinha sentia o coração desordenar-se. As palavras de Sinhana ecoavam em seus ouvidos - "... de mim que sou sua mãe, eu sei que se lembra...” Eduardo menino. Quanta recordação!
De repente o ranger de freios.
JERÔNIMO - Duda tá chegando, Ritinha.
O trem sustinha o ritmo. Começava a parar. Num dos degraus um jovem acenou á multidão.
RITINHA - (sem se conter) Olha lá ele! É o Duda!
O povo acompanhava o coro enquanto a bandinha acelerava o ritmo do dobrado militar.
HOMEM 2 - Duda chegou! Viva o Duda!
CENA 3 - RANCHO DOS CORAGEM - INT. - DIA.
O velho Bastião suportava a solidão de espera. Nem mesmo a volta triunfal de seu menino pudera levantar-lhe as forças. O danado do mal tinha coisa do diabo – pensava lá consigo. Leve tropel, distante, dizia-lhe que alguém se aproximava do rancho humilde. “Devia ser o Duda”. O garimpeiro ajeitou os fiapos de cabelos, esticou os vincos corroídos da calça surrada e procurou conter as emoções que talvez não pudesse suportar. Não teve tempo para muito... Lourenço, Juca Cipó e dois capangas aparecerem no momento em que seus braços fracos – abriam-se para acolher o filho que regressava.
LOURENÇO - Vamos dar um susto no velho, Juca. Ele já foi moço. Assustou muita gente.
JUCA CIPÓ - Deixa comigo.
Bastião recuou, apavorado
.
JUCA CIPÓ - É mais um conselho, velho. Um aviso pro seu filho não ser besta de vender diamante pros gringos.
Juca suspendeu o revólver e o baixou violentamente sobre a cabeça encanecida do garimpeiro.
CENA 4 - ESTRADA DE CHÃO - EXT. - NOITE.
João Coragem, em seu cavalo, dirigia-se ao rancho, em trote macio.
A estrada serpenteava, banhada pela luz da lua. De repente o grito. O vulto que cambaleava. Da margem da estrada a moça divisou o cavaleiro. No alto, a lua lembrava um diamante colossal. Maria de Lara caiu ao chão. Os olhos de João Coragem não queriam acreditar.
JOÃO - (reconhecendo a jovem) Santo Deus! O rubim do coronel!
Rápido o rapaz saltou da montaria e suspendeu nos braços o corpo inanimado da moça.
CENA 5 - RIACHO AO PÉ DA SERRA - EXT. - NOITE.
Próximo a um riacho que corria da serra, João Coragem percebeu alguém ás margens das águas. Reconheceu Cema, mulher de Braz Canoeiro. A jovem mulher recolhia ervas á beira do riacho numa expressão de sofrimento.
JOÃO - (gritou) Cema! Quer me ajudar aqui?
Cema ergueu os olhos. Reconheceu João Coragem, com a moça desmaiada, os cabelos dourados caindo-lhe sobre os ombros.
JOÃO - Que é que a gente faz quando uma mulher tem esse negócio que parece que tá morta, mas não tá?
CEMA - Jogá água na cara dela, seu João. (levantou-se, na mão um punhado de ervas) E eu lhe pergunto.O que é que a gente faz quando tem na garganta uma revolta, como eu?
JOÃO - Revolta, Cema, de que?
CEMA - Então...não soube o que fizeram com o meu Braz?
JOÃO - Braz! Aquele santo home? O que fizeram com ele?
CEMA - Tá morrendo, seu João! Ta morrendo!
Com um soluço a mulher do garimpeiro correu em direção á casa, distante alguns metros do local.
João voltou os olhos para a moça, deitada na margem do riacho. Os raios prateados da lua aumentavam-lhe a brancura da face. Com as mãos em concha, salpicou pingos de água fresca do riacho sobre o rosto impassível. A jovem reagiu, balançou a cabeça com gestos nervosos. João segurou-a pelos ombros. Os olhos grandes fitaram com espanto a fisionomia do rapaz.
MARIA DE LARA - Quem é você?
JOÃO - Sou João, moça. Tá em companhia de gente de bem.
MARIA DE LARA - (olhando longamente a região, parecendo desligada de tudo) O que estou fazendo aqui?
JOÃO - Eu é que pergunto. Encontrei você meio zonza, andando pela estrada. Parecia carecer de ajuda. Apeei do meu cavalo e lhe ajudei. Foi a sorte. A moça virou os olhos e caiu nos meus braços.
MARIA DE LARA - Eu caí?
JOÃO - (pareceu esquecer a pergunta) Não sei se tou enganado, mas parece que já lhe vi em outro lugar.
MARIA DE LARA - (tentando levantar-se, nervosa) Acho que está enganado. Eu não sou daqui.
JOÃO - Tá bem, eu acredito, mas você tá precisando de ajuda. Eu lhe levo até na casa do Braz Canoeiro, que é aqui perto. Depois dum cafezinho, vai se sentir mais forte.
Os dois seguiram para o casebre próximo.
CENA 6 - COROADO - PRAÇA - EXT. DIA.
Em Coroado, a festa atingira o auge. Duda, abraçado a mãe e ao irmão Jerônimo, ouvia o discurso de saudação do prefeito Jorginho. A emoção lhe provocava lágrimas. A cada frase o povo aplaudia.
Ritinha permanecia inerte, olhar no rosto de Duda, como a esperar um sorriso do amigo de infância. Em certo instante os olhares se cruzaram. O coração da jovem palpitou mais forte. Fora um momento só. Duda não a reconhecera. A voz do prefeito se destacava no vozerio geral.
PREFEITO - Se me permitem o trocadilho, Duda saiu de Coroado de cabeça limpa e voltou com a coroa do rei. Via o nosso Duda! Viva o nosso rei!
A banda reiniciou o dobrado, enquanto a multidão carregava sobre os ombros o novo ídolo da cidade.
Lágrimas espocavam dos olhos de Ritinha. A decepção ferira-lhe o amor-próprio. E com as lágrimas a banhar-lhe a face, deitou o rosto sobre os ombros de Domingas, sua confidente e mãe de criação.
DOMINGAS - Toma jeito, Rita. Não fica assim. Chorando que nem bebê por uma coisa á toa...
Jerônimo, que assistia á cena, aproximou-se da moça.
A banda se afastava, enquanto os brados de Viva Duda! Se confundiam com os gritos da multidão.
RITINHA - (levantando os olhos, ao notar a presença do irmão de Duda) Ele nem me reconheceu, Jerônimo.
JERÕNIMO - Pudera, Ritinha. Quando saiu daqui, ocê era menina, feia, sardenta, de trancinha. Agora ta uma moça... bonita que nem sei.
DOMINGAS - Já disse prela. Num falta home bão que te queira. Fica aí pensando no Duda, dia e noite, feito uma boba.
RITINHA - Me leva embora, Domingas. Não quero nunca mais ver a cara dele. Nem a raça de vocês.
Ritinha se afastou a passos rápidos, quase correndo, na tentativa de conter as lágrimas que não cessavam de cair. Jerônimo, tristonho, observava a retirada da jovem. Ao longe o carro de Duda se perdia no meio da turba.
CORTA PARA:
CENA 7 - RANCHO DOS CORAGEM - INT. - DIA.
No chão do rancho o velho Sebastião permanecia desacordado. Um filete de sangue traça um risco escuro no alto da fronte do garimpeiro idoso. Potira estacou repentinamente ao ver o corpo do pai de criação. Mestiça de cabelos longos e olhos sombrios, desde criança fora criada pela família Coragem. Amava o velho garimpeiro com amor de filha verdadeira. E havia quem dissesse que a indiazinha dos Coragem era produto de antiga paixão do velho de Sinhana, durante suas andanças pelo sertão de Goiás.
Potira sacudiu o pai de criação e o arrastou para uma esteira, no quarto de Jerônimo. Retirou a rolha de uma garrafa de aguardente e despejou um gole na boca do ancião.
Sebastião voltou a si, meio zonzo.
POTIRA - Me fala, padrim... que lhe aconteceu?
O velho, gemendo, colocou a mão na cabeça.
POTIRA - Um galo feio. Alguém lhe bateu?
SEBASTIÃO - Os maldito... dos jagunço de Barros... tiveram aqui, Potira.
POTIRA - Os home de Pedro Barros?
SEBASTIÃO - Viero me assustá. Se aproveitaro... os marvado... de eu ser velho e doente. Com meus filhos eles não se mete...
POTIRA - (revoltada) Diz pros menino, conta tudo. Os menino dá uma lição neles.
SEBASTIÃO - Não... não. Depois da festança eu conto.
CORTA PARA:
CENA 8 - CABANA DE BRAZ CANOEIRO - QUARTO - INT. - DIA.
Braz Canoeiro gemia, amparado pelos braços de Cema. O castigo de Juca Cipó fora terrível.
CORTA PARA:
CENA 9 - CABANA DE BRAZ CANOEIRO - SALA - INT. - DIA.
João Coragem observava as reações da jovem que vira no carro do coronel Pedro Barros. Era bela. De traços finos e sorriso triste.
JOÃO - Tá melhor, moça?
MARIA DE LARA - Sim, um pouco, obrigada... mas por que esse homem está gemendo tanto?
JOÃO - É Braz Canoeiro. Deram uma purga nele e ainda por cima quase mataram ele de pancada...
MARIA DE LARA - Quem bateu nele?
CEMA - (aparecendo na sala) Os bandido de Pedro Barros.
A moça estremeceu.
CEMA - Meu Braz era meia-praça dele. Antes donte os home cismaro que meu Braz engoliu um diamante. Quase mataro ele pra devolvê o que ele num tinha. (e continuando o relato) Esse ainda escapou com vida. Mês passado mataro um alugado porquê num queria mais trabalhá preles.
JOÃO - (sério) Todos nós somos, mais ou menos, escravo de Pedro Barros... ele é o dono de quase todas as serra do garimpo. Todos sofremo a opressão do domínio dele. Eu nem tanto, que tenho meu próprio garimpo e coragem pra enfrentá esse home.
No quarto Braz gemeu mais alto, um gemido rouco, quase estrangulado. João e Cema correram para o local.
Só, na sala, a jovem não se sentia bem. Pela janela viu o cavalo do homem que lhe prestara ajuda. O tropel despertou a atenção de João Coragem. Correu para a porta. Era tarde. A moça já se perdia na escuridão da estrada.
JOÃO - Danada! Fugiu no meu cavalo!
FIM DO CAPÍTULO 3
Sinhana(Zilka Salaberry) e Ritinha (Regina Duarte) |
E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...#JOÃO CORAGEM VAI Á FAZENDA DE PEDRO BARROS Á PROCURA DE SEU CAVALO E MOSTRAR SUA INDIGNAÇÃO PELA VIOLENCIA PRATICADA PELOS JAGUNÇOS CONTRA BRAZ CANOEIRO, E DESAFIA O CORONEL.
#RITINHA, AUXILIADA POR DOMINGAS, SE ARRUMA PARA IR AO BAILE EM HOMENAGEM A DUDA.
NÃO PERCA O CAPÍTULO 4 DE IRMÃOS CORAGEM!!!
Muito bom! Lembro da volta de Duda e a festa que fizeram em Coroado, com a bandinha tocando, baile, um rebuliço! E a Ritinha, era chorona! E o encontro de João e Lara, também foi legal. Adorei, Toni! Bjs.
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