XXXI
Um mês depois, num final de tarde,
Claude e Rosa estão agendando novas turmas de turistas, quando ele recebe uma
ligação de Campo Grande. Minutos depois...
- Nara deixou o hospital esta manhã
finalmente, Rosa. Acho que nunca mais a veremos. – Fala Claude, atraindo a
atenção dela.
- Eu espero que ela consiga superar sua
condição, sinceramente. – Fala Rosa, voltando a preencher alguns papéis em sua
mesa.
- Eu non queria estar na pele de Edmond.
Ela ainda non se viu no espelho, nem mesmo contaram que perdeu os movimentos
das pernas, talvez para sempre... Mas chega de Nara em nossas vidas! Vamos
falar do aniversário de nossa Borboletinha.
-
Nossa, está chegando o grande dia! Você reparou que todo mundo está empolgado
em fazer a festa pra ela?
- É
uma empolgação totalmente justificável, afinal, o primeiro ano de vida de nossa
filha, não poderia passar em branco, certo? Mas concordo contigo: tanto meus
pais, como os seus eston exagerando...
-
Por isso que eu insisto numa festa mais simples... Com essa idade, o tamanho da
comemoração não fará diferença pra ela. Uma comemoração com os mais próximos,
com quem ela está acostumada a deixará mais tranquila e à vontade que em meio a
uma porção de gente estranha...
-
Tem toda razão, darling! – Diz tia Elisabeth, entrando com Fernanda - Com um
ano de idade, a maioria das crianças não é muito chegada a pessoas estranhas,
nem gosta de lugares novos. O que um bebê dessa idade mais gosta é de atenção
individual, brincar com as pessoas às quais está acostumada... E seu principal
passatempo é fazer papai e mamãe darem risada! – Diz ao ver Claude e Rosa
sorrirem quando Fernanda os olha e bate palmas.
-
Obrigada por trazê-la, tia Elisabeth. Já estávamos encerrando por hoje, non é,
mamãe? – Diz Claude, que não perdia uma oportunidade de tentar induzir Fer a
falar mamãe finalmente. Mas ainda não fora dessa vez.
A
uma semana do aniversário, os pais de Rosa estavam chegando a Mato Grosso do
Sul.
Rosa
estava eufórica com a visita dos pais para a festa de um ano de Fernanda. Nos
últimos meses, só se falavam pela internet ou telefone e estavam todos ansiosos
para se verem pessoalmente.
-
Rosa, está na hora de irmos buscar seus pais, gatinha... – Fala Claude do
início da escada.
- Já
estou indo, amor! – Responde - Calçando o sapato na Fer!
-
Papato! – Fala Fer, pondo a mão nos pézinhos.
- É
sim, filha. Sapato que a mamãe colocou em você, d’accord? – Rosa escuta
a voz de Claude atrás de si.
-
Dá! – Resmunga Fernanda, balançando a cabeça e olhando para Rosa.
- Claude, não adianta insistir... Eu já me conformei. Quando ela
estiver pronta, vai falar mamãe naturalmente. – Rosa diz, dando uma última
arrumada em seu cabelo.
-
Non custa dar uma ajudinha, hã? Pronta?
-
Prontas! – Responde sorrindo – Podemos ir. Você leva Borboletinha?
-
Claro que sim! Vem com o papai, filha. Frazon e Janeth virão pra fazenda, chérie,
enton, voltaremos em dois carros. Assim fica mais confortável pra todo mundo
e... mmm... mmm...
Eles
continuam conversando até chegarem na garagem. Depois de colocar Fernanda na
cadeirinha e assegurar que ela estava bem protegida, partem para o Aeroporto
Internacional de Campo Grande - Antônio João, onde pegariam a família de Rosa e
passariam o dia.
Depois
de uma semana inteirinha, de mimos e paparicos de Rosa com os pais e eles com a
neta, Rosa está coberta de trabalho, pois haviam decidido não contratar nenhum
profissional e eles mesmos enfeitariam o salão para a festa de Fernanda.
No
dia anterior à festa, Rosa está repassando o cardápio com Dadi, que fizera questão
de cuidar dele.
-
Olha, dona Rosa – Dizia Dadi - Festa de criança não é o programa preferido de
adultos, mas, nessa hora, todo mundo vira criança de novo! E eu tenho certeza que
vão gostar de tudo que eu tô preparando: cachorro-quente, sanduíches,
salgadinhos assados, pão de queijo, mini-hambúrgueres e pipoca.
-
Não podemos deixar de ter água e suco, além dos refrigerantes. – Fala Rosa. -
Tem muita gente que prefere. E cerveja também... O pessoal da fazenda gosta de
uma...
- Eu
vou ajudar a Dadi, fazendo o brigadeiro que é o doce preferido em festa de
aniversário... Ah, me lembro como se fosse hoje, Serafina! As festinhas que seu
pai e eu fazíamos pra você e seus irmãos... – Comenta Amália com lágrimas nos
olhos.
-
Mamãe... Sem chororô, ok? É véspera de alegria, do aniversário da sua neta!
- Humhum... – Resmunga Joanna, entrando na cozinha – Nossa neta,
Rosa! Não sou avó de sangue, mas amo essa menina como se fosse... E vamos ao trabalho das guloseimas desta
festa, hum?
O
tema da festa era “Chapeuzinho Vermelho” - a história preferida de
Borboletinha, segundo Claude. Claro que Rosa incrementou a decoração...
E
claro que tia Elisabeth deu suas “orientações”, além de produzir as personagens
em forma de bonecos para o painel principal.
Na
manhã do dia da festa, Rosa comandava a arrumação do salão. As mesas já estavam
dispostas, pois alguns trabalhadores da fazenda ajudavam no serviço mais
pesado.
Enquanto
Rosa e Claude cuidavam da decoração, Fernanda ficava com os avós e tios em modo
de revezamento.
Rosa
escolheu uma única cor para decorar a festa e cobrir as mesas.
Preferindo balões simples, ela decorou a parte principal da festa,
o cantinho onde ficaria o bolo, montando uma única mesa especial com os bonecos
feitos por tia Elisabeth e inúmeros balões coloridos, dispostos em forma de
flores e formando a moldura do local.
Rosa
estava no alto da escada, amarrando os balões finais do painel. No chão, ainda
sobravam muitos outros espalhados. Claude segurava a escada para ela. Os dois
estavam sozinhos no local.
-
Rosa, que tal dar uma paradinha, hã? – Fala Claude no meio da arrumação. -
Desse jeito, vai chegar a hora da festa, você vai estar cansadinha e nem vai
aproveitar! E você non comeu nada esta manhã, que eu vi!
-
Ainda falta arrumar o cantinho das crianças, amor! Com mesinhas e cadeiras
próprias para eles. – Responde Rosa, passando a mãos pelo rosto. – Assim elas
ficam mais à vontade. Você não está zangado porque eu convidei o pessoal da
fazenda, está?
-
Claro que non, gatinha! O que seria de nós se non fossem eles, hã? Tenho
certeza que eles estão se sentindo importantes.
- E
eu tenho certeza que muitos não virão por vergonha! Ah, droga! Eu não acredito!
Tem um balão murcho bem no centro! – Exclama, olhando para o painel – Eu vou
tirar ele, segura aí, amor!
Rosa
sobe até o último degrau da escada e estica o braço para alcançar o balão já
quase vazio.
-
Ai... Tô quase conseguindo... Só preciso esticar mais um pouquinho o braço...
Consegui! – Diz Rosa, tirando o balão vazio e voltando-se rapidamente, triunfante,
inclinando o corpo para frente.
Seu
único erro foi soltar a outra mão da escada. Sentiu o mundo girar ao seu redor
e seu sorriso se transformou em pânico ao notar que ia cair.
-
Claude, socor... – Tentou gritar.
-
Mon Dieu, Rosa! – Exclamou Claude, antes de sentir o impacto do corpo dela
contra o seu, enquanto caíam sobre os balões que estavam no chão, estourando
alguns.
-
Você está bem? – Perguntaram ao mesmo tempo, quase debaixo da mesa principal e
começaram a rir.
- Desculpe – Diz Rosa - Eu me desequilibrei tão de repente...
Machuquei você?
- Non...
Esses balões amorteceram nossa queda. – Diz, subindo as mãos pelas costas dela,
provocando arrepios.
-
Claude... Pode aparecer alguém e...
-
Non vai aparecer ninguém, já é hora do almoço... E cair assim contigo, gatinha,
me deu muita fome, hã? – Fala sussurrando, enquanto gira o corpo, deixando Rosa
presa sob o seu.
Com
isso, seus corpos acabaram de rolar para baixo da mesa, ficando apenas suas
pernas de fora.
-
Hummmmm... Mas não podemos apreciar uma refeição completa por aqui... – Retruca
Rosa, passando seus dedos pelos cabelos de Claude até parar em sua nuca.
-
Voilá! Podemos dar uma beliscada, enton... E guardar o prato principal pra mais
tarde... – Fala encostando seus lábios nos lábios dela.
-
Amor, é melhor pararmos por aqui... – Consegue murmurar, quando ele se afasta,
correndo os lábios até seu pescoço, logo abaixo da orelha...
-
Por que? Non está gostando dos meus temperos, gatinha? - Pergunta Claude sem
parar com os carinhos que fazia.
- Ao
contrário... Seu tempero está muito bom... – Responde, esfregando suas mãos
pelas costas dele.
- Enton, pra que parar? Vamos curtir esse momen... Ai! Mas o que
foi isso? - Exclama com uma careta de dor, saindo de baixo da mesa... – Frazon!
Mon Dieu, você quase pisou em minhas pernas, hã?
-
Ah! Aí estão vocês, meus queridos! – Rebate Frazão com um sorriso disfarçado -
Você é que quase me derruba, mon ami! Que foi? Perderam alguma coisa aí embaixo?
Querem ajuda?
- A
única ajuda que você pode nos dar é sair daqui, d’accord? Non perdemos nada,
nem queremos ajuda, oui? Estávamos nos encontrando, isso sim.
-
Isso deu pra notar, seu francês mal humorado! Eu só vim chamá-los para o
almoço, estão todos reunidos já!
-
Obrigada, Frazão! A gente já está indo, ok? – Fala Rosa ainda embaixo da mesa.
-
Disponha, minha flor! Você devia a aprender a ser gentil como sua esposa,
francês...
- Se
você non sair daqui agora, mon ami, vai ver que posso ficar ainda mais mal
humorado...
Frazão
dá uma gargalhada e sai falando:
-
Não demorem crianças! Pelo aroma, o tempero da comida tá especial hoje!
Claude
volta a cabeça pra debaixo da mesa e os dois acabam rindo da situação.
-
Voilá... Acabou-se o que era doce, gatinha...
Depois
do almoço, Rosa terminou rapidamente de colocar o que faltava da decoração. Na
hora combinada para a festa, estavam tudo e todos arrumados.
A maioria dos convidados da fazenda compareceu. Fernanda era,
claro, o centro das atenções. Fotos e imagens ficaram por conta de tia
Elisabeth, pois Rosa queria dar atenção aos convidados.
A
festa foi perfeita! Na hora de apagar a velinha, Fernanda contou com a ajuda
disfarçada do pai, pois apesar de soprar não conseguia apagar a velinha
teimosa.
Aos
poucos, os convidados foram agradecendo o convite e despedindo-se. Com a ajuda
dos empregados, em pouco tempo, o salão estava reorganizado e limpo novamente.
Já
era noite, quando Rosa e Claude foram, finalmente, abrir os presentes com
Fernanda, que estava eufórica e desperta.
Fernanda
ganhou bonecas, livros, roupas e outros brinquedos. Um dos presentes que mais a
deixou espantada foi um robô quase do seu tamanho, presente dos pais e irmãos
de Rosa.
Mas o momento mais sublime e especial, que ficaria para sempre na
lembrança de Rosa e Claude, foi quando abriram o presente de tia Elisabeth. Era
óbvio pelo volume e pela forma que era um quadro.
Um
quadro lindo que capturava a mais perfeita imagem do amor entre mãe e filha.
Quando
Rosa retirou o papel que cobria o quadro, Fernanda olhou encantada para a
imagem e sorrindo, apontou o dedinho, enquanto falava:
-
Mamãe!
Continua
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