terça-feira, 25 de junho de 2013

FIC - BORBOLETAS NO CORAÇÃO - CAPÍTULO 34 - AUTORA: SÔNIA FINARDI

XXXIV

Quando seus corpos respiraram, satisfeitos,  Claude  murmurou:
- O segredo do prazer,  de ser feliz é esse... Ficar assim contigo, sentindo seu coraçon voltar ao normal, depois de tudo...
- Tem razão... – Completou Rosa -  É  esse o  verdadeiro prazer, sempre inseparável do que chamamos de amor... Já  reparou como céu está lindo  esta noite, assim todo cheio de estrelas...
- Non... Ainda non tive olhos  para  elas, hã?  - Diz acariciando o rosto de Rosa – Mas agora que você falou... – Ele olha para o céu -  Espera, elas eston me dizendo algo...
- Como é que é? Você conversa com as estrelas?
- Xiiiii... –Claude coloca dois dedos sobre os lábios de Rosa, e continua – Eu sei, eu sei... parece loucura, non é? Mas...

"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...

E conversamos toda a noite, enquanto
A via láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando eston contigo?"

E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas."

- Só quem ama? – Reflete Rosa – Então, eu devo ser capaz de ouvi-las também. – Diz  olhando para as estrelas -  Porque eu te amo – Murmura, acomodando-se nos braços dele.
- Idem, hã? – Fala Claude, apertando-a contra si.
- Ahhhh!  Idem não! Fala a frase toda... – Pede, deslizando a mão pelo peito dele.
Claude sorri. Era sempre ele quem pedia isso à Rosa. Segura a mão dela, levando-a até seu lábios e beijando-a, suavemente, antes de dizer:
- Serafina Rosa Petroni Geraldy... Eu, Claude Geraldy,  amo você. D`accord?
- “Dacó” – Responde  e ambos sorriem na cumplicidade total. Depois, olhando para as estrelas, continua -  Incrível...  Parecem mesmo querer contar segredos a cada piscar  cintilante, sem que a Lua  os ouça!
- Elas non brilham mais que seus olhos, quando me conta seus segredos, chérie. – Nem mesmo aquela estrela ali, que foi a primeira a aparecer, ton forte! – Diz Claude, indicando com os olhos uma estrela no horizonte.
- A estrela d’alva... – Murmura Rosa -  Mas  não é uma estrela. É o planeta Vênus!
- Se é o planeta Vênus, deusa do amor e da  beleza para os gregos, diga-se de passagem – Claude diz  brincalhão -  por que estrela?
- Ah, isso eu sei! É porque  ele tem o brilho de uma estrela  e visto da Terra, seu esplendor é tanto que  lhe rendeu esse nome de estrela d'alva. 
- E o d’alva é por... (?)
- Ah!  Os antigos imaginavam tratar-se de dois astros: Lúcifer, a estrela da manhã, e Vésper, a estrela da tarde. Em latim, Lúcifer significa "o que leva a luz" – só  na tradução cristã que ele é associado ao mal, ok?  Então, como só é possível visualizá-lo ao amanhecer ou  ao alvorecer: estrela d’alva, de alvorecer ou alvorada, d’accord?
- Uau! Uma verdadeira aula de astronomia, hã?
- Que nada! Sabedoria de almanaque apenas! Rsrsrs
De repente, ficam em silêncio, como que encantados pela magia da noite. Alguns minutos depois,  Rosa estremece ligeiramente com a brisa a beira-rio.
- Com frio, gatinha?  - Pergunta Claude, percebendo e  “esfregando-a” com as mãos para aquecê-la. - Vamos pra casa da árvore, hã? Lá ficaremos mais protegidos.
Claude se levanta e veste sua roupa, sem abotoar  a camisa que usava.
- Vamos, gatinha!  - Diz, erguendo Rosa e cobrindo-a com a camisa que ela vestia antes.  -  Non vai querer virar comida de mosquito, hã? O que  está fazendo? - Pergunta ao vê-la se aproximar da mesa.
- Pegando o chocolate que sobrou aqui. Já que vamos passar a noite toda  na casa, se eu ficar com fome...
- Você non vai sentir fome... Non vai dar  tempo, hã? – Murmura,  tomando-a nos braços e saindo do tablado -  Mas é uma boa ideia levar  o chocolate.
- Eu não sabia que você gostava de poesia, literatura brasileira, amor... – Comenta Rosa, enquanto seguem  para a casa da árvore.
- Em particular de Olavo Bilac, oui? Sabia que ele estudou medicina e direito, sem concluir e dedicou-se ao jornalismo e à poesia? Na adolescência,  ele se deixou  influenciar pelos poetas franceses.  Talvez por isso, eu goste de suas poesias. Elas  revelam uma grande emoçon e  um certo erotismo. Seus poemas eram declamados em saraus e salões literários e mmm...mmm...mmmm....
Momentos depois, já dentro da casa, Rosa boceja e espreguiça, sensualmente.  Olha para a “sala” da casa e diz:

     
- Eu pensei ter ouvido você dizer que  a decoração era por minha conta. Isso tá mais pra arrumação por minha conta! – E se deixa cair no sofá.
- Mon Dieu! Tá tudo arrumadinho... – Diz olhando em volta, sentando-se ao lado dela.
- Sei... Agora você vai dizer que falta só um toque feminino...
- Na casa sim, hã? Já em você – Diz, diminuindo a distância entre os dois -  Vai  ganhar um toque masculino, d’accord?
Voltaram a sentir todas as emoções de antes e o prazer  se renovou. Entorpecidos de amor, adormeceram aninhados um no outro, até que  a estrela d’alva surgiu e  brilhou, esplendorosa, no horizonte, avisando que o amanhecer chegava, como lindos versos de amor...
Um sorriso aflorou nos lábios de Claude, quando Rosa abriu os olhos e o fitou.
- Eu te amo, hã? – Murmurou Claude, afastando os cabelos dela para trás.
- Idem – Sussurrou ela de volta, completando rapidamente – Eu também te amo, Claude.
Ainda sorrindo, ele disse num tom divertido:
- Bem, enton, essa parte do problema está resolvida... Agora é  recolher tudo lá fora e voltar à vida real, hã? – Diz  resignado, na intenção de se levantar.
- Espera... – Diz, passando a mão pelo rosto dele com carinho - Claude o que você acha de fazermos um irmãozinho para Fernanda? Ela já tem um aninho... Se eu engravidar logo, serão mais nove meses... Vai dar uns dois anos de diferença apenas...
- Hummm... – Murmura mansamente,  descendo a cabeça e  roçando a barba pelo abdômen dela - Do jeito que você fez hoje, eu acho que  já fizemos ele, hã?
- Amor, eu estou falando sério! – Fala  Rosa contrariada. – Você não quer outro bebê? Não gostou da ideia?
- Claro que gostei! E eu também estou falando sério, gatinha. Você se superou esta noite, hã?
- Deve ser efeito da massagem de tia Elisabeth... – Diz, puxando a cabeça dele para cima.
- Massagem?
- É... Ela disse que iria  ativar meu chacra sexual...
- Eu vou pedir a ela que me ensine essa massagem... Assim, da próxima vez,  eu mesmo ativo o seu chacra sexual...
- Ah, mas você  já ativa ele de uma forma diferente. Eu diria mesmo de uma forma mais direta!
- Voilá!  Muito bom saber disso, chérie!  - Diz Claude, beijando e acariciando-a ao mesmo tempo.
- Claude,  o que  está fazendo? – Pergunta Rosa,  arrepiando-se com os toques dela na sua pele.
- Um irmãozinho para  nossa  Borboletinha... Non é isso que queremos?
- E como  iremos cham... – O beijo de Claude a impede de continuar  e eles se entregam ao amor novamente. Pouco depois de  se acalmarem, Rosa diz:
- Já sei! Podemos pedir à tia Elisabeth para nos orientar... Quem sabe, ela não ativa algum chacra que nos dê uma luz!
 - Ativar um chacra para o nome com tia Elisabeth? Non sei non... Tudo que eu preciso ativar agora é a “tecla sleep”e descansar, hã? – Diz, ficando de lado e puxando-a para perto do seu corpo. Depois, prendeu-a, passando sua perna sobre as dela e seus dedos a acariciaram em círculos até adormecerem.
 Horas depois, eles retornam à casa da fazenda.
Fernanda  brincava na varanda, sobre a proteção de  Joanna, quando reconheceu o barulho da moto.  Ergueu a cabeça e  olhou  graciosamente para Joanna, os olhinhos espertos e brilhantes e, assim que a moto surgiu no seu raio de visão, disse, batendo palmas:
- Papai... mamãe! Bruummbrummm... – Levantou-se  imediatamente e deu alguns passinhos na direção dos pais.
Fez tanto  alvoroço quanto drama quando eles a abraçaram e Claude  não teve alternativa a não ser colocá-la sobre a moto e dar uma pequena volta com  ela, entre ele e Rosa.


Satisfeita com sua conquista, Fer se deixou levar por eles para a casa da piscina. Assim que entraram em casa, Rosa pegou o presente que fizera para Claude.
-  Como fomos de moto, eu não levei. Eu espero que goste. Fui  eu que fiz com ajuda de tia Elisabeth, já disse... – Falava, enquanto Claude  tirava o papel que embrulhava, “ajudado” por Fer.
- Boboeta  qué azuda papai! – Falava ela, entre as pernas de Claude.
- D’accord, filha. Puxe aqui, hã? – Explicava pacientemente Claude. Quando todo o papel foi retirado, Claude sorriu e seus olhos se ergueram do presente para Rosa:
- È lindo! Como foi que eu non vi você fazendo isso? – Foi falando, enquanto seguia os movimentos de  Rosa, que sentava ao seu lado.
- Eu falei que tia Elisabeth me ajudou, não falei?
Mas a cena foi roubada por Fernanda, mais uma vez. Olhava para a tela que Rosa pintara e começou a se explicar:
-  “Boboeta azudo mamãe faze!”  -  “Oh lá:  papai, boboeta, mamãe!”


***
O dia da entrega das primeiras casas acontecia meses depois. Claude estava satisfeito com o resultado do seu trabalho e da  equipe que atuava com ele:  a mesma equipe de empreiteiros que reformaram a fazenda.

                                         
 Além de atender a área urbana,  o Conselho Gestor buscou soluções para a questão da habitação indígena, fruto de uma política habitacional inédita no município, com casas populares nas aldeias de Aquidauana, construídas pelo Programa de Habitação Indígena.
Durante a inauguração e entrega das primeiras casas, o prefeito agradeceu a colaboração voluntária de Rosa, que havia redefinido a fachada das casas, optando por  identificá-las com cores sortidas. E também a dedicação dos empreiteiros sugeridos por Claude.



- E... tenham certeza que estamos trabalhando muito para realizar o sonho da casa própria para as mais de mil e quinhentas famílias aquidauanenses que ainda não possuem residência. Já avançamos muito nesses dois anos, honrando nosso compromisso de campanha - um olhar diferenciado em nosso governo. Prova disso é a construção, pela primeira vez em Aquidauana, de casas nas aldeias. -  Finalizou o prefeito, entregando as chaves aos primeiros moradores do conjunto habitacional Teodoro Rondon, um dos fundadores da cidade.
O próximo conjunto levaria o nome do segundo fundador: Augusto Mascarenhas.


O sucesso e o reconhecimento  profissional trouxeram outros projetos  para Claude. Vários empresários e fazendeiros o procuraram, dispostos a melhorar a condição de moradia de seus colonos ou a construir uma nova residência própria.
Tia Elisabeth,  surpreendendo a todos,  resolveu voltar para os EUA, já Rodrigo tinha que  seguir seu destino e  ser feliz com alguém que pudesse segui-lo por mais tempo e dar-lhe  herdeiros...
Sem dramas e sem ressentimentos. Despediram-se como amigos.
Claude abriu uma Construtora em sociedade com  os  empreiteiros, os irmãos Antoninho, Milton e Sérgio.  A fazenda com seus serviços e  ofertas  em ecoturismo atraía cada vez mais turistas, principalmente nos pacotes promocionais da Agência de Frazão e Janete na capital. Com a ausência de Claude, o serviço duplicava, sobrecarregando Rosa,  que  optou por contratar Sílvia, a filha de Ramiro para auxiliá-la nos serviços de escritório da fazenda.

Continua

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