XXXIV
Quando seus corpos respiraram,
satisfeitos, Claude murmurou:
- O segredo do prazer, de ser
feliz é esse... Ficar assim contigo, sentindo seu coraçon voltar ao normal, depois de tudo...
- Tem razão... – Completou Rosa
- É esse o verdadeiro prazer, sempre inseparável do que
chamamos de amor... Já reparou como céu está lindo esta noite,
assim todo cheio de estrelas...
- Non... Ainda non tive olhos
para elas, hã? - Diz acariciando o rosto de Rosa – Mas agora que
você falou... – Ele olha para o céu - Espera, elas eston me dizendo
algo...
- Como é que é? Você conversa com as
estrelas?
- Xiiiii... –Claude coloca dois dedos
sobre os lábios de Rosa, e continua – Eu sei, eu sei... parece loucura, non é?
Mas...
"Ora (direis)
ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!"
E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las,
muita vez desperto
E abro as janelas,
pálido de espanto...
E conversamos toda a
noite, enquanto
A via láctea, como um
pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do
sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo
céu deserto.
Direis agora: "Tresloucado
amigo!
Que conversas com elas?
Que sentido
Tem o que dizem, quando
eston contigo?"
E eu vos direi:
"Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode
ter ouvido
Capaz de ouvir e de
entender estrelas."
- Só quem ama? – Reflete Rosa – Então,
eu devo ser capaz de ouvi-las também. – Diz olhando para as estrelas -
Porque eu te amo – Murmura, acomodando-se nos braços dele.
- Idem, hã? – Fala Claude,
apertando-a contra si.
- Ahhhh! Idem não! Fala a frase
toda... – Pede, deslizando a mão pelo peito dele.
Claude sorri. Era sempre ele quem
pedia isso à Rosa. Segura a mão dela, levando-a até seu lábios e beijando-a,
suavemente, antes de dizer:
- Serafina Rosa Petroni Geraldy...
Eu, Claude Geraldy, amo você. D`accord?
- “Dacó” – Responde e ambos sorriem
na cumplicidade total. Depois, olhando para as estrelas, continua -
Incrível... Parecem mesmo querer contar segredos a cada
piscar cintilante, sem que a Lua os ouça!
- Elas non brilham mais que seus
olhos, quando me conta seus segredos, chérie. – Nem mesmo aquela estrela ali, que
foi a primeira a aparecer, ton forte! – Diz Claude, indicando com os olhos
uma estrela no horizonte.
- A estrela d’alva... – Murmura Rosa
- Mas não é uma estrela. É o planeta Vênus!
- Se é o planeta Vênus, deusa do amor
e da beleza para os gregos, diga-se de passagem – Claude diz
brincalhão - por que estrela?
- Ah, isso eu sei! É porque ele
tem o brilho de uma estrela e visto da Terra, seu esplendor é tanto que
lhe rendeu esse nome de estrela d'alva.
- E o d’alva é por... (?)
- Ah! Os antigos imaginavam tratar-se de
dois astros: Lúcifer, a estrela da manhã, e Vésper, a estrela da tarde. Em
latim, Lúcifer significa "o que leva a luz" – só na tradução
cristã que ele é associado ao mal, ok? Então, como só é possível
visualizá-lo ao amanhecer ou ao alvorecer: estrela d’alva, de alvorecer
ou alvorada, d’accord?
- Uau! Uma verdadeira aula de
astronomia, hã?
- Que nada! Sabedoria de
almanaque apenas! Rsrsrs
De repente, ficam em silêncio, como
que encantados pela magia da noite. Alguns minutos depois, Rosa estremece
ligeiramente com a brisa a beira-rio.
- Com frio, gatinha? - Pergunta
Claude, percebendo e “esfregando-a” com as mãos para aquecê-la. - Vamos
pra casa da árvore, hã? Lá ficaremos mais protegidos.
Claude se levanta e veste sua roupa,
sem abotoar a camisa que usava.
- Vamos, gatinha! - Diz,
erguendo Rosa e cobrindo-a com a camisa que ela vestia antes. - Non
vai querer virar comida de mosquito, hã? O que está fazendo? - Pergunta
ao vê-la se aproximar da mesa.
- Pegando o chocolate que sobrou
aqui. Já que vamos passar a noite toda na casa, se eu ficar com fome...
- Você non vai sentir fome... Non vai
dar tempo, hã? – Murmura, tomando-a nos braços e saindo do tablado
- Mas é uma boa ideia levar o chocolate.
- Eu não sabia que você gostava de
poesia, literatura brasileira, amor... – Comenta Rosa, enquanto seguem
para a casa da árvore.
- Em particular de Olavo Bilac, oui? Sabia
que ele estudou medicina e direito, sem concluir e dedicou-se ao jornalismo e à
poesia? Na adolescência, ele se deixou influenciar pelos poetas
franceses. Talvez por isso, eu goste de suas poesias. Elas revelam
uma grande emoçon e um certo erotismo. Seus poemas eram declamados em
saraus e salões literários e mmm...mmm...mmmm....
Momentos depois, já dentro da casa,
Rosa boceja e espreguiça, sensualmente. Olha para a “sala” da casa e diz:
- Eu pensei ter ouvido você dizer
que a decoração era por minha conta. Isso tá mais pra arrumação
por minha conta! – E se deixa cair no sofá.
- Mon Dieu! Tá tudo arrumadinho... –
Diz olhando em volta, sentando-se ao lado dela.
- Sei... Agora você vai dizer que
falta só um toque feminino...
- Na casa sim, hã? Já em você – Diz,
diminuindo a distância entre os dois - Vai ganhar um toque
masculino, d’accord?
Voltaram a sentir todas as emoções de
antes e o prazer se renovou. Entorpecidos de amor, adormeceram aninhados
um no outro, até que a estrela d’alva surgiu e brilhou,
esplendorosa, no horizonte, avisando que o amanhecer chegava, como lindos
versos de amor...
Um sorriso aflorou nos lábios de Claude, quando Rosa abriu os olhos e o
fitou.
- Eu te amo, hã? – Murmurou Claude,
afastando os cabelos dela para trás.
- Idem – Sussurrou ela de volta,
completando rapidamente – Eu também te amo, Claude.
Ainda sorrindo, ele disse num tom
divertido:
- Bem, enton, essa parte do problema
está resolvida... Agora é recolher tudo lá fora e voltar à vida real, hã?
– Diz resignado, na intenção de se levantar.
- Espera... – Diz, passando a mão
pelo rosto dele com carinho - Claude o que você acha de fazermos um irmãozinho
para Fernanda? Ela já tem um aninho... Se eu engravidar logo, serão mais nove
meses... Vai dar uns dois anos de diferença apenas...
- Hummm... – Murmura
mansamente, descendo a cabeça e roçando a barba pelo abdômen dela -
Do jeito que você fez hoje, eu acho que já fizemos ele, hã?
- Amor, eu estou falando sério! –
Fala Rosa contrariada. – Você não quer outro bebê? Não gostou da ideia?
- Claro que gostei! E eu também estou
falando sério, gatinha. Você se superou esta noite, hã?
- Deve ser efeito da massagem de
tia Elisabeth... – Diz, puxando a cabeça dele para cima.
- Massagem?
- É... Ela disse que iria
ativar meu chacra sexual...
- Eu vou pedir a ela que me ensine
essa massagem... Assim, da próxima vez, eu mesmo ativo o seu chacra
sexual...
- Ah, mas você já ativa ele de
uma forma diferente. Eu diria mesmo de uma forma mais direta!
- Voilá! Muito bom saber disso,
chérie! - Diz Claude, beijando e acariciando-a ao mesmo tempo.
- Claude, o que está
fazendo? – Pergunta Rosa, arrepiando-se com os toques dela na sua pele.
- Um irmãozinho para nossa
Borboletinha... Non é isso que queremos?
- E como iremos cham... – O
beijo de Claude a impede de continuar e eles se entregam ao amor
novamente. Pouco depois de se acalmarem, Rosa diz:
- Já sei! Podemos pedir à tia
Elisabeth para nos orientar... Quem sabe, ela não ativa algum chacra que nos dê
uma luz!
- Ativar um chacra para o nome
com tia Elisabeth? Non sei non... Tudo que eu preciso ativar agora é a “tecla
sleep”e descansar, hã? – Diz, ficando de lado e puxando-a para perto do seu
corpo. Depois, prendeu-a, passando sua perna sobre as dela e seus dedos a
acariciaram em círculos até adormecerem.
Horas depois, eles retornam à casa da fazenda.
Fernanda brincava na varanda,
sobre a proteção de Joanna, quando reconheceu o barulho da moto.
Ergueu a cabeça e olhou graciosamente para Joanna, os
olhinhos espertos e brilhantes e, assim que a moto surgiu no seu raio de visão,
disse, batendo palmas:
- Papai... mamãe! Bruummbrummm... –
Levantou-se imediatamente e deu alguns passinhos na direção dos pais.
Fez tanto alvoroço quanto drama
quando eles a abraçaram e Claude não teve alternativa a não ser colocá-la
sobre a moto e dar uma pequena volta com ela, entre ele e Rosa.
Satisfeita com sua conquista, Fer se
deixou levar por eles para a casa da piscina. Assim que entraram em casa, Rosa
pegou o presente que fizera para Claude.
- Como fomos de moto, eu não
levei. Eu espero que goste. Fui eu que fiz com ajuda de tia Elisabeth, já
disse... – Falava, enquanto Claude tirava o papel que embrulhava,
“ajudado” por Fer.
- Boboeta qué azuda papai! –
Falava ela, entre as pernas de Claude.
- D’accord, filha. Puxe aqui, hã? –
Explicava pacientemente Claude. Quando todo o papel foi retirado, Claude sorriu
e seus olhos se ergueram do presente para Rosa:
- È lindo! Como foi que eu non vi
você fazendo isso? – Foi falando, enquanto seguia os movimentos de Rosa,
que sentava ao seu lado.
- Eu falei que tia Elisabeth me
ajudou, não falei?
Mas a cena foi roubada por Fernanda,
mais uma vez. Olhava para a tela que Rosa pintara e começou a se explicar:
- “Boboeta azudo mamãe
faze!” - “Oh lá: papai, boboeta, mamãe!”
***
O dia da entrega das primeiras casas
acontecia meses depois. Claude estava satisfeito com o resultado do seu
trabalho e da equipe que atuava com ele: a mesma equipe de
empreiteiros que reformaram a fazenda.
Além de atender a área urbana, o
Conselho Gestor buscou soluções para a questão da habitação indígena, fruto de
uma política habitacional inédita no município, com casas populares nas aldeias
de Aquidauana, construídas pelo Programa de Habitação Indígena.
Durante a inauguração e entrega das
primeiras casas, o prefeito agradeceu a colaboração voluntária de
Rosa, que havia redefinido a fachada das casas, optando por identificá-las
com cores sortidas. E também a dedicação dos empreiteiros sugeridos por Claude.
- E... tenham certeza que estamos
trabalhando muito para realizar o sonho da casa própria para as mais de mil e
quinhentas famílias aquidauanenses que ainda não possuem residência. Já
avançamos muito nesses dois anos, honrando nosso compromisso de campanha -
um olhar diferenciado em nosso governo. Prova disso é a construção, pela
primeira vez em Aquidauana, de casas nas aldeias. - Finalizou o prefeito,
entregando as chaves aos primeiros moradores do conjunto habitacional Teodoro
Rondon, um dos fundadores da cidade.
O próximo conjunto levaria o nome do
segundo fundador: Augusto Mascarenhas.
O sucesso e o reconhecimento
profissional trouxeram outros projetos para Claude. Vários empresários e
fazendeiros o procuraram, dispostos a melhorar a condição de moradia de seus
colonos ou a construir uma nova residência própria.
Tia Elisabeth, surpreendendo a
todos, resolveu voltar para os EUA, já Rodrigo tinha que seguir seu
destino e ser feliz com alguém que pudesse segui-lo por mais tempo e
dar-lhe herdeiros...
Sem dramas e sem ressentimentos.
Despediram-se como amigos.
Claude abriu uma Construtora em
sociedade com os empreiteiros, os irmãos Antoninho, Milton e
Sérgio. A fazenda com seus serviços e ofertas em ecoturismo
atraía cada vez mais turistas, principalmente nos pacotes promocionais da
Agência de Frazão e Janete na capital. Com a ausência de Claude, o serviço
duplicava, sobrecarregando Rosa, que optou por contratar Sílvia, a
filha de Ramiro para auxiliá-la nos serviços de escritório da fazenda.
Continua
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