quinta-feira, 20 de junho de 2013

FIC - BORBOLETAS NO CORAÇÃO - CAPÍTULO 33 - AUTORA: SÔNIA FINARDI

XXXIII

Claude e Rosa se viam apenas ao amanhecer e depois do anoitecer, quando ele voltava para casa. Na última semana, que passou rapidamente, ele ficava boa parte do dia na obra das casas populares na cidade e, quando voltava, ia direto para a casa da árvore. Seu principal objetivo para o jantar era criar o ambiente perfeito! – Palavras do próprio Claude.
O dia do jantar amanheceu e Rosa despertou. Virou-se pronta para acordar o marido carinhosamente, mas ele já não estava mais ao seu lado. Apenas um bilhete:
“Gatinha, desculpe non amanhecer ao seu lado hoje. Ainda faltam alguns detalhes, para ficar realmente perfeito pra você. Volto quando estiver...”
Beijo, Claude.
Suspirou e levantou-se indo até o quarto da filha. Mas Fer também não estava no berço. E havia outro bilhete:
“Mamãe, papai me levou na casa da vovó. Amamos você, beijo”
Borboletinha.
A letra era de Claude, mas a marca meladinha, provavelmente de gelatina, era da mãozinha de Fer.
Rosa sorriu. Dobrou os bilhetes e colocou-os no meio do álbum de fotos e foi para o banho.
Uma noite especial e romântica... Talvez um pouquinho extravagante. Era assim que Rosa imaginava e desenhava em sua mente a comemoração dos
dois anos de casada, enquanto esfregava o corpo, massageando-o lentamente com a bucha.
Mesmo sendo na casa da árvore, ou talvez por ser lá, era um momento muito especial... Sentia um certo ar de mistério. Queria ela mesmo preparar o local, mas Claude queria que tudo fosse uma surpresa, inclusive o resultado da última “reforma” que fizera.
- A palavra chave para a noite do jantar é planejamento, gatinha! – Dizia ele toda noite antes de dormirem. – Estou planejando tudo com antecedência para que ele seja perfeito, hã?
Saiu do banho, feliz e relaxada. Desceu disposta a tomar um sossegado café da manhã, mas, mal chegou à cozinha, Tia Elisabeth aparece na porta:
- Good morning, darling!!! – Diz, entrando e sentando-se ao lado de Rosa - Pronta para um dia de noiva?
- Bom dia, Tia Elisabeth! Aceita um café? – Responde Rosa sorrindo - Eu já tive um dia de noiva, titia... Há dois anos atrás.
- Aquilo não foi um dia de noiva, machér... Aquilo foi um atraso de noiva, ok? E depois toda aquela chuva!
- Ah, mas foi fantástico, tia Elisabeth! Tivemos o privilégio de ver um dos mais lindos pôr-do-sol de nossa vida! – Diz, tomando um gole do café – E eu já sei até qual roupa vou usar... Não teremos problemas.
- Rosa, quando se é convidada para um jantar romântico, tem que se arrasar. Mesmo que seja casada, o visual é importante. Deve fazer com que você se sinta linda.
- Mas titia, eu...
- Nada de mas titia, honey! Você tem o dia livre e vamos usar esse tempo para um banho bem gostoso e relaxante, para cuidar dos cabelos e da pele, fazer hidratações, enfim, ficar ainda mais linda para a sua noite romântica com Claude.
- Mas Borboletinha está...
- Está muito bem, obrigada. Está sendo paparicada por todos daquela casa... Vamos ao banho relaxante?
- Eu acabei de tomar banho...
- Oh! Excelente, Rosa! Eu vou fazer uma massagem energética em você, darling! Ativar seus chacras, principalmente o do prazer sexual. – Diz com uma naturalidade incrível, enquanto Rosa sentia o rosto esquentar. – Oras, Rosa! Não precisa se envergonhar, meu bem...
- Eu não consigo evitar, desculpe...
- Está totalmente desculpada! Vamos ao seu quarto, precisamos de um ambiente de total tranquilidade e silêncio, onde você fique em paz consigo mesma...
Depois de abrir as cortinas, deixando o quarto iluminado e pedir à Rosa que colocasse um biquíni e deitasse de costas na cama, Elisabeth vai explicando sua massagem, quando Rosa pergunta:
- Pra que servem os chacras, titia?
- Os chacras são responsáveis pelo fluxo energético no nosso corpo. Sua função é absorver o prana , a energia do Sol, metabolizá-lo, alimentando a aura e o ser humano, energética e espiritualmente. E emitir essa energia ao exterior, de volta ao mundo.
- E esse chacra... o sexual, onde ele fica? – Pergunta curiosa.
- O chacra sexual fica logo abaixo do umbigo. Ele trabalha com a produção de adrenalina, a criatividade e, claro, a energia sexual, regendo os órgãos sexuais. – Diz Elisabeth, colocando os dedos sobre o local. – Bem aqui, Rosa. - Para começar a ativação, você precisa ter o corpo e a mente preparados. Então, daqui pra frente ouça apenas a minha voz e sinta a energia solar na região do umbigo e depois no estômago. E busque somente pensamentos positivos...
Elisabeth, então, retira vários cristais no tom laranja, da caixinha que trazia consigo e de forma equilibrada espalha pelo abdômen de Rosa, ao mesmo tempo em que entoava um mantra específico:
- Vammm... Vammm... Vammm...
Depois de seguir todos os rituais e massagear Rosa com óleos essências, deixando-a com a pele sedosa e macia, a base de hidratantes, cuidam do cabelo e das unhas. Então, Elisabeth fecha a cortina, deixando o quarto na
penumbra e pede à Rosa que repouse por trinta minutos, para fechar o ciclo energético.
Quando estava quase saindo do quarto, ela repara num vestido preto, caprichosamente colocado sobre uma poltrona.
- Rosa!? É esse vestido que está pretendendo usar esta noite, darling? – Pergunta, voltando e pegando o vestido em suas mãos.



- É sim, foi presente do Claude. Eu quase não tenho oportunidade de usá-lo por aqui... Não acha apropriado?
- Well.... Eu sei que um pretinho básico é suficiente para deixar uma mulher elegante... Mas eu creio que hoje, ser elegante não é o mais importante. Você tem que estar sexy... Tem que seduzir seu marido! E não faça essa carinha de envergonhada, chérie.
- Mas, o Claude... Ele adora esse vestido...
- Eu tenho certeza que sim. – Diz Elisabeth, andando em direção à porta - Mas por que não ousa um pouco mais? Surpreenda-o! Use apenas uma camisa dele como elemento de sedução... Explore sua sensualidade e deixe-o enlouquecido, Rosa! Pense nisso. – E sai, deixando Rosa na dúvida.
Horas mais tarde, Rosa está com Fer no estúdio de tia Elisabeth, quando Claude volta e as encontra conversando, enquanto Rosa a fotografava:
- Isso... Olha pra mamãe, Borboletinha! Lindo! A mamãe vai sair com o papai pra jantar fora. Por isso, você vai dormir na casa da vovó, d’accord?
- “Dacó?” – Repete Fernanda, no mesmo tom de pergunta.
- Enton, foi aqui que vocês se esconderam! - Fala Claude, entrando no estúdio. - Estava com os cabelos úmidos de quem acabara de tomar banho.
- Papai! - Fala Fer, batendo rapidamente as mãos, para depois apoiá-las no chão, levantando-se para andar até Claude, que se abaixa e abraça a filha, pegando-a no colo, aproximando-se de Rosa.
- Oi, amor! – Diz ela, recebendo um selinho do marido - Eu estava com tempo livre, resolvi tirar umas fotos da nossa Borboletinha...
- Voilá, tenho certeza que ficaram perfeitas!
- “Boboetia casa vovó”... - Fala Fer, passando as mãozinhas pelo rosto do pai, virando-o para si – “Dacó”? – Chacoalha a cabeça, perguntando.
- D’accord, filha! – Responde ele sorrindo – Borboletinha vai na casa da vovó! E papai vai sair com a mamãe, assim que ela estiver pronta, oui? – Fala, olhando para Rosa e piscando.
- É só o tempo de um banho e trocar de roupa, amor! Enquanto isso, você podia arrumar a mochila da Fer. – Diz ao saírem do estúdio, ao lado da casa.
- Mochila?! – Pergunta ao entrarem na casa da piscina - Ela só vai passar uma noite por lá, gatinha!
- Eu sei, mas tem que levar o pijaminha, uma troca de roupa, fralda noturna... E nem pensar em esquecer a Boinha - o bichinho de pelúcia e o paninho de “estimação” que ela segura pra dormir...



- Oui, chérie! Já entendi, com isso ela vai se sentir tranquila e segura... E vai passar a noite na casa da vovó sem problemas, non é, filha? – E voltando-se para Rosa continua - Você se importa se formos de moto?
- Não. Eu vou adorar...
Algum tempo depois, os dois já haviam se despedido de Fernanda e subiam na moto, rumo à casa da árvore. O sol ainda demoraria um bom tempo para se pôr.
- De moto, como na noite do nosso casamento, d’accord, gatinha? – Fala Claude, já sobre a moto, a voz abafada pelo capacete, enquanto Rosa subia na moto.
- Sem o vestido de noiva é muito mais fácil! – Responde Rosa, agarrando-se a ele.
Claude percorre uma boa parte do caminho e de repente para. Ele tira o capacete e Rosa o imita.
- Algum problema com a moto? – Questiona ela.
- Non. - Diz sorrindo e retirando algo do bolso – Hora de vendar os olhos, gatinha.
- Vendar os olhos? Pra quê?
- Pra non estragar a surpresa, oras. Vamos chérie, colabore, hã? – Diz, vendo a resistência de Rosa - Já estamos perto...
- Está bem Claude, se isso o faz feliz, eu coloco... Mesmo não gostando...
- Voilá! Vou lembrar-me disso, mon amour... – Sussurra Claude, ajeitando a venda sobre os olhos de Rosa. Depois, acomodam-se novamente sobre a moto, voltando ao caminho.
Em poucos minutos, estão parando, dessa vez em definitivo. Claude desce primeiro da moto e ajuda Rosa a sair dela também.



http://www.youtube.com/watch?v=55sugn2V8RQ

- Voilá... Pode tirar a venda, chérie...
- Meu Deus! Claude... – Fala Rosa, extasiada com o que vê - A nossa casa está linda! Borboletinha vai adorar isso! – Diz, apontando para o escorregador de madeira - Mas você não reformou, você...
- Eu fiz outra. Non havia salvação para a antiga, hã?– Responde Claude – Non se lembra desse lugar, dessas árvores?
- Sim, foi aqui que você tirou aquela foto, beijando nossa barriga... Nunca vou esquecer...
- Ainda non está totalmente pronta, oui? Essa escada de rede vai ser trocada por uma de madeira com degraus... Vamos subir?



Dentro da casa...
- Isso é um sonho, Claude... – Diz Rosa, andando pela casa toda e saindo para a “varanda”.
- Eu vou deixar a parte da decoraçon por sua conta, d’accord? – Diz Claude, aproximando-se dela e abraçando-a por trás.
- Ótimo, ainda tem alguns móveis que ficaram guardados... – Diz, voltando-se para ele - Vai ficar perf... – Não concluiu sua fala, pois Claude a impediu com um beijo suave e apaixonado.
- Estar com a pessoa que amamos é um privilégio muito grande... - Disse ele, quando cessou o beijo - E melhor ainda, num jantar à meia luz, preparado com amor.
- Foi muito romântico o que disse, porém, eu não vejo nem mesmo uma mesa por aqui... Vamos jantar só amor? – Pergunta maliciosamente, correndo as mãos pelo peito do marido.
- Non... –Responde Claude sorrindo - Embora non seja má ideia, hã? Mas, como todo romance deve ter espontaneidade, defini apenas o palco e vou deixar a natureza seguir seu curso. Nosso jantar está lá embaixo, às margens do rio, nos esperando.
- Hummm... Nada como a imaginação para manter o amor aquecido...
- D’accord! Jantar a dois, dividir o sorvete, tomar chuva... pequenos nadas que fazem o amor ser um todo. (A frase é de Caio Augusto Leite).
- E de tomar chuva nós entendemos, não é? – Comenta Rosa, lembrando do dia do casamento.
- Mas hoje non vai chover... – Responde Claude, confiante, envolvendo-a em seus braços.
- Por que não desce? Eu vou trocar de roupa e desço em seguida.
- Ok, chérie... Eu vou te esperar, ansioso...
Claude desceu pelo escorregador, sob o olhar divertido de Rosa. Ainda tinha que iluminar o ambiente do jantar. Não demorou muito para fazer isso.
A comida, não por acaso com alimentos afrodisíacos, estava acondicionada numa bolsa térmica: a entrada era uma salada feita com um mix de folhas verdes, pepino e cenoura ralada ao molho de gengibre e gergelim, ravióli ao creme rose, frango com champanhe e de sobremesa morangos com chantilly e raspas de chocolate, tudo feito por Dadi, a pedido de Claude.
Ele serviu a porção da entrada e ficou esperando por Rosa sob a casa. Finalmente, ela desceu da casa. Assim que ela apareceu, beijou-a nas mãos:
- Mon Dieu, você está linda, gatinha... – Disse Claude, os olhos brilhando de desejo por ela – Essa camisa ficou muito melhor em você... Queira me acompanhar, d’accord?
Rosa sorriu e deixou-se conduzir. Havia optado por trocar de roupa por lá, já que iam de moto. Levara o vestido preto e, na última hora, resolveu levar também aquela camisa de Claude. E foi com ela que se vestiu para o jantar. Era uma camisa de cor laranja, mas fina e transparente o suficiente para se notar a lingerie rendada que ela usava por baixo no mesmo tom. Agradeceu mentalmente pelo conselho de tia Elisabeth.
Havia mais de três meses que não chovia e a maioria dos rios estava com o nível mais baixo que o habitual. Claude havia feito um pequeno tablado fixo, à beira-rio, mas tendo o cuidado de que ficasse cercado de água por todos os lados. Do tamanho suficiente para caber uma mesa e duas cadeiras, as mesmas que ocupavam a casa anterior.
O sol começava a se pôr, pintando o horizonte romanticamente, entre o cor-de-rosa e o dourado. E o sensual ficava por conta dos vários lampiões acomodados em torno do tablado, numa simplicidade encantadora.
Havia ainda velas, vinho, pétalas de flores e pedaços de chocolate espalhados pela mesa. Claude não havia esquecido de nada. Nem mesmo esquecera o toque final de um vaso com flores frescas...



Claude já estava sem os sapatos e Rosa tirou os seus, para chegar até lá. Sentaram-se e Claude descobriu os pratos, servindo o vinho também.
- Isso parece um sonho! – Exclamou Rosa – Quando você disse uma versão da nossa noite de núpcias, eu imaginei que ficaríamos novamente numa jangada.
- O rio está muito baixo e teríamos que adentrar demais por ele. Non seria nada romântico ter que usar coletes salva-vidas, gatinha... – Explica Claude.
- A não ser que usássemos apenas ele. - Murmura Rosa, num tom sedutor.
- Vou anotar isso, quem sabe num próximo jantar? - Devolve Claude no mesmo tom - Daquela vez, non tínhamos música, non é? - Continua, colocando um pen drive numa pequena caixa de som.



http://www.youtube.com/watch?v=MiOHxBlXDPo

- Só a que a gente inventou...
- Pois hoje non temos que inventar nem o luar...
Apreciaram o jantar entre muitos risos, confidências e silêncios momentâneos, onde o olhar dizia mais que as palavras.
Na hora da sobremesa, Claude afastou alguns lampiões, aproximou-se dela e continuou o jogo de sedução...

Continua

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