quinta-feira, 13 de junho de 2013

FIC - BORBOLETAS NO CORAÇÃO - CAPÍTULO 32 - AUTORA: SÔNIA FINARDI

XXXII

Quando Rosa retirou o papel que cobria o quadro, Fernanda olhou encantada para a imagem e sorrindo apontou o dedinho, enquanto falava:
- Mamãe!
As lágrimas imediatamente embaçaram a visão de Rosa, enquanto ela abraçava Fernanda.
- Meu amor, você falou mamãe... você falou! – Exclamava Rosa, apertando-a contra si. – Claude, ela falou!
- Eu ouvi, chérie! – Diz, envolvendo as duas em seus braços – Eu non falei que tudo era uma queston de tempo?
Então, Fernanda, já cansada, se apoia ainda mais naquele abraço e apontando o dedinho para a sua figura no quadro, olha já sonolenta para os pais e argumenta:
- Boboeia... ma-mãe...!
- Mon Dieu, essa é a maior recompensa... Filha, ouvir você falar non tem preço, hã?
Mas Borboletinha já estava com os olhinhos fechados, dormindo tranquilamente.
- Não resistiu ao cansaço! - Fala Rosa - E ainda faltam alguns presentes para abrir...
Mas Claude pegou-a dos braços de Rosa, falando:
- Eu a levo para o quarto, d’accord? - E sobe a escada rumo ao quarto. Porque non toma um banho, gatinha? Ficará mais relaxada...
- Mas ainda tem alguns presentes para abrir... – Fala novamente.
- Non fará diferença se os abrir amanhã, hã? - Argumenta Claude.
- Está bem, Claude... Acho que tem razão – Responde, subindo atrás dele e indo para o quarto do casal.
Quando Claude entra, Rosa está saindo do banho.
- Tinha razão... Estou bem melhor agora... Vou dar boa noite pra Borboletinha, enquanto você toma banho, ok?
Rosa atravessa a pequena distância que os separava de Fer, pelo corredor do mezanino, e entra no quarto da filha mansamente.
Borboletinha dormia tranquilamente, as faces rosadas os lábios vermelhinhos quase sorrindo... Claude havia trocado ela e colocara um pijama de bichinhos, o seu preferido. Sempre que Fernanda o usava, Rosa passava um bom tempo, mostrando bichinho por bichinho, falando seu nome e imitando o som que faziam.
Fernanda adorava! Prova disso eram as gargalhadas que dava durante a brincadeira. Ficou tanto tempo observando a filha, que não viu o tempo passar...
Só tomou consciência disso, quando ouviu a voz de Claude, baixinha, a lhe dizer:
- Hoje, o aniversário é de nossa filha, mas o presente foi todo seu, non é? – E a enlaçou, passando os braços ao redor do corpo de Rosa.
- Ah, meu amor! - Diz ela, cruzando os seus braços sobre os braços de Claude, fechando o abraço - Foi a coisa mais linda, a melhor sensação do mundo, ouvi-la me chamar de mamãe... Mesmo que tenha falado papai primeiro...
- Voilá... Sem mágoas ou ciúmes?
- No começo, confesso que fiquei com muito ciúme. Mas depois, percebi que era bobagem minha, ela falaria quando estivesse segura e pronta.
- Fomos mesmo abençoados neste primeiro aninho de nossa filha, non é? E só tínhamos mesmo a agradecer e a comemorar!
- Falando em agradecer... Precisamos agradecer a tia Elisabeth! Tenho certeza que tem dedinho dela nessa história... Ela estava sempre levando Fer para o estúdio com ela...
- D’accord! – Responde Claude – É ton bom vermos que Borboletinha está crescendo cercada de gente querida e do bem. Ela é uma garotinha de sorte!
- É sim! Mas sorte maior tive eu de encontrar você, meu amor! Obrigada por me amar e respeitar, por fazer nossa filha existir... E por nos fazer imensamente felizes! Claude, o que está fazendo? – Pergunta, quando ele a toma nos braços.
- Levando você para a nossa cama, gatinha... Com um amor ton forte e profundo assim, quem sabe eu também non tenho sorte essa noite, hã? – Diz baixinho, num tom maliciosamente sensual, roçando seus lábios nos dela...
No dia seguinte, todos souberam que Fernanda havia finalmente chamado Rosa de mamãe...
Os pais de Rosa ainda passaram mais alguns dias na fazenda e puderam ter o prazer de ouvi-la ampliar o vocabulário, ao começar a se referir às pessoas, tentando falar os nomes. Foram várias tentativas, até que sons foram pronunciados de forma mais correta.
Borboletinha falava cada vez mais e melhor: Vovô/vovó, Dadi, Titi (deixando o “a” ou “o” de fora), papato (sapato), água, Boboeta (borboleta), dodói, eu “quelo” e até imitava o pai, arriscando alguns non, “dacó” e vários hãs... Referia-se aos animais como cocó, miau, au-au, piu-piu... Enfim, descobrira as outras vogais...
O convite verbal da Prefeitura para Claude participar do Conselho Gestor, na Audiência Pública sobre o problema habitacional, finalmente, aconteceu. E Claude aceitou ser o responsável pela construção das casas populares para Aquidauana: seriam inicialmente quarenta unidades, num conjunto habitacional.
No total, com o decorrer do tempo, fechariam o projeto com um conjunto de cento e noventa unidades construídas no bairro Nova Aquidauana em parceria com o Governo do Estado.
Pelo projeto de Claude, poderiam se inscrever pessoas com renda familiar de até um salário mínimo e que não possuíssem nenhum tipo de imóvel. Pessoas com algum tipo de restrição financeira também poderiam se inscrever, pois não haveria consulta de crédito ao SPC e Serasa.
O Programa de Subsídio Habitacional das casas populares tinha como meta comprometer os contemplados com parcelas mensais de dez por cento do salário mínimo.
A ampla divulgação das inscrições pela imprensa de Aquidauana foi outra exigência de Claude, que foi defendida também pela Câmara Municipal através de emenda coletiva ao Projeto de Lei que autorizou o prefeito a desenvolver ações para implementar o Programa de Subsidio à Habitação.
Foram dois meses de trabalho ferrenho. Claude quase não parava na fazenda, passando o dia todo na cidade ou na área onde seriam construídas as casas.
É claro que Rosa e Borboletinha estranharam. Afinal em quase dois anos de casamento, nunca haviam se distanciado tanto. Desde que chegara à fazenda, Claude e ela passavam praticamente dia e noite juntos.
Mas Rosa não reclamava, pois via no brilho dos olhos do marido, o prazer que aquilo lhe dava. Toda noite ele contava empolgado sobre o andamento do projeto.
Alguns blocos de casas já estavam em construção com seus alicerces prontos. Claude pedia sugestões a Rosa sobre como deixar as casas mais atraentes esteticamente. Não poderia mexer na fachada, pois como casas populares tinham que seguir as normas de engenharia civil da ABNT e dos bancos patrocinadores.
Rosa prometeu pensar numa maneira de torná-las “diferentes, embora iguais”.
Num dos raros dias em que Claude ficava na fazenda, aproveitando a hora do soninho de Fernanda, na casa dos avós, os dois namoravam, sentados num velho balanço. Já era fim de tarde e o sol os iluminava.


Depois de muitos carinhos e beijos trocados, Rosa comenta com o marido:
- Claude, você não esqueceu do nosso aniversário de casamento, esqueceu?
- Claro que non, gatinha... Como poderia esquecer o dia em que minha vida se tornou parte da sua, hã?
- Eu estava pensando... Que tal um jantar à luz de velas, só nós dois...
- Podemos até jantar à luz de vela... Mas eu preparei uma surpresa pra você, gatinha... – Disse Claude, com os lábios percorrendo o pescoço dela - O nosso aniversário de dois anos vai ser comemorado naquele lugar só nosso, numa verson da nossa noite de núpcias, d’accord?
- Ah, é? – Rosa derreteu-se toda, quando ouviu essas palavras tão perto de seu ouvido - “dacó” respondeu, imitando Fer e vendo Claude sorrir - Eu também preparei uma surpresa pra você... Com ajuda de tia Elisabeth, devo confessar...
- Hummm... Enton é algo palpável! Eu pensei que era outro tipo de surpresa, chérie! Daquelas que de vez em quando você faz, me deixando louco, hã?
- Claude Antoine! Você só pensa naquilo?
- Non, eu penso nisso também! – E a faz deitar-se no balanço, colocando suas mãos sobre o corpo dela e acariciando-a. - Contudo, mon Dieu! Se tia Elisabeth está metida nisso, vai ser uma surpresa e tanto, hã? Non vai me contar o que é?
- Claro que não! Mas me deu um trabalho e tanto! Se tia Elisabeth não tivesse ajudado e dado uns toques, acho que não estaria pronto...
- Agora me deixou curioso, Rosa! Vamos, me diga o que é... – Perguntou Claude, erguendo-a contra seu peito.
- Non... – Responde Rosa, graciosamente. – Você vai me contar a sua?
- Talvez... Por favor, gatinha, diz, hã? – Insiste Claude, beijando-a pelo rosto todo.
-Não, Claude... E nem tente me fazer falar usando esse truque de me deixar assim sem ar com os seus beijos...
- Mon Dieu, Rosa... Isso non é truque... Eu todo carinhoso e você me espetando com seus espinhos, hã?
- Prefere minhas unhas? – Pergunta Rosa, enfiando as mãos pela camisa de Claude, riscando-lhe as costas.
- Isso non se faz, gatinha... Desse jeito vou preferir entrar e discutir contigo num lugar mais apropriado...
- Como a nossa cama, por exemplo? - Sussurra voltando as mãos para o peito de Claude, deslizando suavemente com elas entre os pêlos crespos.
- Voilá! Você pediu por isso, hã? – Diz Claude passando os braços sob o corpo de Rosa, erguendo-a no ar, apoiada em seu corpo. – Depois, non diga que só eu penso naquilo...
E com alguns passos estava entrando na casa da piscina, com Rosa...
Na casa sede...
- Titia... Dadi... Mamãe... papai? – “perguntava” Fer, fazendo beicinho...
- Mas dona Rosa disse pra levar a menina assim que ela acordasse, dona Elisabeth! – Dizia Dadi, toda preocupada. – E ela já acordou!
- Oh, Dadi querida! Eu estou vendo que nossa menina acordou, mas tenho a impressão que é melhor ficarmos um pouco mais com ela por aqui...
- Mas dona Elisabeth... A mãe dela não vai gostar disso, eu to avisando, visse?
- Pois se você levar, quem não vai gostar vai ser o pai dela. Ele acabou de entrar com Rosa nos braços, darling! Você entendeu agora ou quer que eu desenhe?
- Misericórdia! - Diz Dadi, ficando com o rosto vermelho – Eu já entendi... Mas a essa hora?!
- Dadi, Dadi... O amor não tem hora marcada! É isso! - Diz Elisabeth, olhando para Dadi - Você está passando por problemas sentimentais! Como foi que eu deixei isso passar em branco?
- Isso o quê, dona Elisabeth? – Pergunta Dadi. – Eu não tenho problema algum não! Muito menos sentimental! E acho melhor dar alguma coisa pra Borboletinha comer, que ela deve estar com fome! – E com ela no colo, vai para a cozinha.
- Dadi, não fuja... - Elisabeth a segue - Estou aqui para te ajudar, honey! Com a minha orientação você terá o seu problema amoroso resolvido, sem qualquer tipo de constrangimento e sob total sigilo... Que método você prefere? Cartas, mandala, numerologia... mm mmm... mmmm..
Cerca de duas horas depois, Claude aparecia na casa-sede, para pegar Fernanda.
- Boa noite, pessoal! – Disse cordialmente ao entrar na sala. – Rosa e eu pedimos desculpas, hã? Tivemos que... resolver um probleminha e perdemos a noçon do tempo.
- Sem problemas, filho. – Disse François – Adoramos ficar com nossa neta, não é, Joanna?
- Sem sombra de dúvidas! Fernandinha é uma amor de menina! E como está falante, cada dia nos surpreendendo mais! – Completa Joanna.
Claude dá alguns passos até chegar em Elisabeth, que segurava a menina.
- Vem com o papai, Borboletinha! – Diz, aproximando-se para pegá-la. E assim que viu o pai chegar perto, Fernanda literalmente jogou-se nos braços dele.
- Papai! – Exclamou ao pular de colo, sorrindo. – “Dê” mamãe? – Perguntou, olhando atrás de Claude, procurando a mãe.
Todos sorriram e acharam graça. Era a primeira vez que Fer formulava uma frase e ainda o fazia perguntando...
- Mamãe está em nossa casa, filha. Vamos encontrá-la? – Pergunta Claude, pacientemente.
- “Dacó” – Responde balançando a cabeça e passando a mãozinha pelo rosto do pai – “Boboeta que mamãe...”
Todos riem novamente, batendo palmas para Fernanda. Claude a abraça apertado, beijando-a nas mãos. Despede-se de todos e sai. Fer também acena com a mãozinha.
Rosa e Claude ainda tiveram um tempo para brincar com Fernanda, antes que o sono a dominasse novamente.
E depois passaram um bom tempo, programando a comemoração do aniversário de dois anos de casados...
Continua

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