Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair
CAPÍTULO 29
PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
CEMA
JOÃO
JERÔNIMO
BRAZ
JUCA CIPÓ
PEDRO BARROS
DELEGADO FALCÃO
DIANA
GENTIL PALHARES
CENA 1 - RANCHO CORAGEM - SALA - INT. - DIA.
A fala macia de Cema fez João voltar-se para a porta de entrada. Lá estavam ela e o marido.
CEMA - Braz precisa falá com ocê.
Alegre o rapaz tocou o ombro do irmão, como a chamar-lhe a atenção para os conceitos inamistosos emitidos contra o negro. Braz permanecia quieto, calado.
JOÃO - Tá aí o home, mano! Olha o Braz aí!
Com duas passadas, Jerônimo achegou-se ao casal. Falou seco, sem meios termos, dirigindo-se a Braz.
JERÕNIMO - Por onde andô?
JOÃO - (encorajou, notando a timidez do outro) Fala, Braz .
BRAZ - João... eu, eu num tenho nem cara de olhá procê.
JOÃO - Vamo lá. Que foi que o Pedro Barros te obrigô a fazê contra mim?
A fala macia de Cema fez João voltar-se para a porta de entrada. Lá estavam ela e o marido.
CEMA - Braz precisa falá com ocê.
Alegre o rapaz tocou o ombro do irmão, como a chamar-lhe a atenção para os conceitos inamistosos emitidos contra o negro. Braz permanecia quieto, calado.
JOÃO - Tá aí o home, mano! Olha o Braz aí!
Com duas passadas, Jerônimo achegou-se ao casal. Falou seco, sem meios termos, dirigindo-se a Braz.
JERÕNIMO - Por onde andô?
JOÃO - (encorajou, notando a timidez do outro) Fala, Braz .
BRAZ - João... eu, eu num tenho nem cara de olhá procê.
JOÃO - Vamo lá. Que foi que o Pedro Barros te obrigô a fazê contra mim?
BRAZ - Não... até que ele não me judiô... não me obrigô. Me tratô muito bem... tentando me convencê a reclamá os direito da pedra, porque eu te ajudei a cavá a gruna. E me fez assiná um papel... em que dizia isso.
Cema atirou, com raiva, algumas notas de dinheiro sobre a mesa.
CEMA - E ele recebeu dinheiro pra te fazer isso, João!
Jerônimo apontou para o dinheiro e para a figura angustiada do negro.
JERÔNIMO - E você não chama isso de traição?
João pensou, enquanto manuseava as notas, espalhadas por sobre a mesa.
JOÃO - Quando muito... foi uma fraqueza, Braz... não foi traição. (bondosamente devolveu o dinheiro á mulher do amigo, fitando os olhos lacrimosos do negro).
JERÔNIMO - Essa não! (em atitude de revolta) Essa não! Você é um santo! Vai pro céu quando morrê. Pode ficá certo que vai.
JOÃO - (pausadamente) Então eu ia negá a sua parte, Braz? A parte de todo mundo que me ajudô a cavá a gruna? Então ocê acha que eu ia fugi com a pedra... pra não reparti o dinheiro dela, com ninguém? Nossa Senhora! (andava nervosamente, de um lado para outro no centro da sala, gesticulando fartamente) Vai sobrá dinheiro pra todo mundo. (virou-se para o irmão) Faz a conta aí, Jerônimo. Quanto é que a gente vai ganhá? A mil cruzeiros o quilate...
JERÕNIMO - É muito dinheiro. O diamante tem 750 quilates, no mínimo... assim de olho. Num sei fazê conta muito bem, mas seu doutô Rodrigo, que é esperto nessas coisa, disse que é quase um bilhão de cruzeiros.
JOÃO - Virge Mãe! Ninguém vai precisá brigá pra recebê a sua parte. Pega esse dinheiro e devolve pro Pedro Barros. Diz a ele que ocê num precisa de nada disso. Que todo mundo aqui vai ficá rico.
CENA 2 - COROADO - CARTÓRIO - INT. - DIA.
Durante vários minutos, em companhia do Delegado Falcão, Pedro Barros examinou os livros de escritura do tabelionato de Coroado. A poeira ainda flutuava no ar provocada pela mexida incessante nos volumes arquivados nas velhas e corroídas prateleiras. Unhas, mãos e cara do coronel estavam envoltas numa fina camada de pó pardacento. De repente, Juca Cipó entrou. Excitadíssimo, como sempre.
JUCA CIPÓ - Eles saíro do banco... agora entraro na igreja. Acho que tavam com os bolso cheio da nota, meu patrão.
Barros fechou estrepitosamente o grande livro do cartório.
PEDRO BARROS - É, mas não vão ter dinheiro pra pagá. O “seu” Valmir, gerente do banco, deu um golpe errado.
DELEGADO FALCÃO - A que conclusão o senhor chegou, meu coronel?
PEDRO BARROS - A de que a escritura do Matão é falsa!
DELEGADO FALCÃO - Falsa? Mas... pelo que acabamos de ver... nos livros que o escrivão nos emprestou... a escritura é absolutamente verdadeira.
PEDRO BARROS - (raivoso) Voce tá do lado deles ou do meu? Aquela pedra tem que vir pro meu bolso, Falcão. E vindo pra mim, vem pra você, também. Ou você já não quer mais ser meu genro?
DELEGADO FALCÃO - Eu... eu quero... é lógico, mas... seu co... coronel, nós temos que agir dentro da lei! Eu não po... posso fugir a isso... me desviar... nem um milímetro...
PEDRO BARROS - Pois eu tou exigindo que você cumpra a lei, ora essa! Você manda interditá a mina e obriga João a entregá a pedra...
DELEGADO FALCÃO - A quem?
PEDRO BARROS - Á lei, ora bolas! A você, que representa ela!
O delegado voltou a insistir, batendo com a mão espalmada contra a capa preta do livro oficial.
DELEGADO FALCÃO - A escritura... é verdadeira, repito!
JUCA CIPÓ - (saltou, atrevido e frenético) Se meu patrão tá dizeno que é falsa, tem que sê falsa!
PEDRO BARROS - O sujeito que vendeu as terra do Matão pra Sebastião Coragem tá morto há muitos anos. A gente pode prová que a assinatura dele não é verdadeira.
DELEGADO FALCÃO - Mas, eu não posso provar!
PEDRO BARROS - (ordenou, de cara amarrada) Manda interditá a mina e depois a gente arranja as provas.
DELEGADO FALCÃO - Mas...
PEDRO BARROS - Obedece, Falcão. Ou pode dá por encerrado o seu noivado com a minha filha!
Juca pulava, dando palmadas nas coxas.
JUCA CIPÓ - É isso mesmo. Escreveu não leu, pau comeu! Dá duro nele, meu patrão!
O olhar do delegado refletia desespero e ódio.
PEDRO BARROS - Vai ou não vai obedecê á minha ordem?
Falcão pesava os prós e os contras, mas era carta vencida no jogo desleal de Pedro Barros.
CORTA PARA:
CENA 3 - COROADO - IGREJA - EXT. - DIA.
Ao deixar a igrejinha, benzendo-se, ainda, Jerônimo deu de cara com o casal.
JERÔNIMO - É... ela tinha que voltar... assim, não é, João?
Lara girou o corpo com agilidade, fitando o moço.
DIANA - Vim só avisar vocês pra tomar cuidado. Os homens de Falcão vão atrás de vocês. Se preparem pra uma emboscada. Vão tirar o diamante.
CORTA PARA:
CENA 4 - COROADO - TABERNA DE GENTIL PALHARES - INT. - DIA.
Entraram na taberna de Gentil Palhares. O bem-humorado homem recebeu-os com um sorriso e uma expressão de intranqüilidade. Ouvira a última parte do diálogo.
GENTIL PALHARES - Eu avisei. Eu avisei, João!
JOÃO - Mas, ninguém pode fazê isso. O diamante é meu! Eu achei!
DIANA - Estão dizendo que a escritura do local da mina é falsa...
JOÃO - É mentira!
JERÔNIMO - Eles tinha de se apegá a alguma coisa... A gente tava esperano, não tava?
DIANA - Foge, João, antes que eles te agarrem...
Jerônimo, que estava á porta, avisou, olhando para as bandas da praça:
JERÔNIMO - É tarde, mano. Falcão vem aí, com os homes!
Sem que ninguém percebesse, Gentil, por baixo do balcão, passou ás mãos de Jerônimo um calibre 45.
GENTIL PALHARES - (disse baixinho) Defende teu irmão.
Falcão comandava um grupo de dois homens e Juca Cipó. O delegado entrou, ameaçadoramente, segurando a coronha do revólver, preso no cinto. João ficou frente a frente com o enviado do coronel.
JOÃO - (sem receio) O que o senhô qué?
DELEGADO FALCÃO - Não sei se você já sabe... mas a mina onde achou o diamante raro... não lhe pertence...
JOÃO - (fervendo de indignação) É do meu pai e minha também!
DELEGADO FALCÃO - Pois é... acontece que o sujeito que vendeu pro seu pai, passou uma escritura falsa.
JOÃO - A gente procura prová isso, seu Falcão.
DELEGADO FALCÃO - Tá certo... mas, até que prove, João, sou obrigado a lhe pedir pra me entregar o diamante...
João passeou os olhos pela sala. Á sua frente, Diogo Falcão, um capanga estrategicamente postado em cada lado e, á entrada, da porta, o lunático Juca Cipó.
JERÔNIMO - Eles tão querendo te agarrá, João.
Houve um imperceptível movimento entre os bandos. João, Jerônimo e Braz entreolharam-se, num átimo.
DELEGADO FALCÃO - (procurando tranqüilizar o inimigo) Absolutamente, ninguém faz nada contra ninguém. Estou só pedindo o que é de direito... que você me entregue a pedra... para que fique em meu poder... até que me prove, por lei, que a mina é de vocês.
A revolta de João nasceu com a explosão de um petardo: repentina, incontrolável, violenta.
JOÃO - (com firmeza e decisão) Pois eu digo o contrário. A pedra fica comigo!
João permanecia imperturbável, pronto para tudo. Aguardou a reação.
DELEGADO FALCÃO - Desculpe, João, mas quem dita as ordens sou eu.
JOÃO - Se for provado que a mina não é nossa, eu entrego ela...
JERÔNIMO - (instigava o irmão) Dá na cara deles, João! Senta a mão neles!
JUCA CIPÓ - (berrou, histérico) Acaba logo com isso, Falcão!
JOÃO - Calma, gente, ninguém precisa brigá.
DELEGADO FALCÃO - De pleno acôrdo. (assentiu) Você me entrega a pedra e eu deixo você seguir seu caminho em paz.
JERÔNIMO - (em defesa do irmão) Acontece, seu Falcão, que ele não vai entregá!
DELEGADO FALCÃO - Desculpe... mas sou obrigado a usar da força... (volveu os olhos para João) Eu sei que você está com ela.
Os olhares dos Coragem cruzaram-se num choque de segundos. Jerônimo estava preocupado com a passividade do outro.
JERÔNIMO - Meu irmão... você não vai deixá que eles pegue o nosso diamante! Pra não brigá... ocê não vai permiti uma coisa desta...?
DELEGADO FALCÃO - Você é um sujeito sensato e não gosta de briga ou confusão. É claro que vai me obedecer sem criar problemas.
JOÃO - Olha. Seu delegado, pago pra num entrá numa briga, sou home de paz, mas quando entro, pago pra num saí. E tou pagando, agora, pra vê se há algum home aqui que tem coragem de me tirá o diamante. Eu juro! Ele tá em meu poder! Aqui! (bateu com a mão em cima do bolsinho suplementar) Guardado comigo! Quero vê home pra me arrancá o diamante...
Falcão tentou dar um passo á frente, mas a arma de Jerônimo brilhou nas mãos do rapaz.
JERÔNIMO - Quero vê se existe alguém com corage! Quero vê! Nós vamo saí, e não vamo corrê, porque home num corre. Mas, vou avisá: não tenta, Falcão! Não tenta, que eu sei atirá muito bem e já tou com coceirinha no dedo. (virou-se para o irmão) João, vai até o carro. Eu te protejo!
JUCA CIPÓ - Eles vão fugi. Não deixa!
Jerônimo apontou o cano da 45 para o peito do jagunço. Lutou contra o desejo de premir o gatilho. Juca fez um gesto de defesa, com as mãos cruzadas sobre a cara horripilante.
JERÔNIMO - Ninguém tenta impedi. Vai saí fogo. Braz, pro carro. João, depressa.
CORTA PARA:
CENA 5 - COROADO - TABERNA DE GENTIL PALHARES - EXT. - DIA.
Jerônimo saiu de costas para a rua, observando os movimentos do bando de Pedro Barros.
JERÔNIMO - Se alguém se mexê, eu atiro! E pra matá!
O carro partiu levando os garimpeiros e deixando a frustração entre os homens encarregados de manter a lei e a decência em Coroado.
JUCA CIPÓ - Cê foi besta, seu delega! Devia ter reagido!
DELEGADO FALCÃO - Bem, meu dever é manter a ordem, não acha? Eu não queria um tiroteio aqui, na cidade.
JUCA CIPÓ - Mas, meu patrão disse...
DELEGADO FALCÃO - Eu sei bem o que seu patrão disse. A gente pega o diamante... de algum jeito. E não vai demorar muito. Questão de tempo...
FIM DO CAPÍTULO 29
Ritinha (Regina Duarte) e Duda (Claudio Marzo) |
E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...
# JOÃO FAZ UM BURACO NO SOLO, EM SEU QUARTO, PARA ESCONDER O DIAMANTE.
# DR. MACIEL, POR ORDEM JUDICIAL, RETORNA A COROADO.
#JOÃO É ATACADO NA CHOUPANA.
NÃO PERCA O CAPÍTULO 30 DE
Essa cena de João justificando a ¨fraqueza¨ de Braz e tudo o que falou depois, foi uma cena muito linda, inesquecível! E a cena com Falcão também foi muito boa!
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