domingo, 24 de julho de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 39



Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair

CAPÍTULO 39

PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:

MARIA DE LARA
JOÃO
PEDRO BARROS
ESTELA
PADRE BENTO
JERÔNIMO
SINHANA
PEDRO BARROS
DUDA
PAULA
CRIADA
JUIZ
HERNANI
GARIMPEIROS
JAGUNÇOS


CENA 1  -  FAZENDA DE PEDRO BARROS  -  CASA-GRANDE  -  SALA  -  INT.  -  NOITE.
 
Maria de Lara descia a passos lentos as escadas que conduziam aos aposentos superiores da casa. Todos os olhares se voltaram para a moça. A pele muito alva e os olhos mortiços davam-lhe a impressão de uma freira. Padre Bento e o juiz se preparavam para a cerimônia do casamento. No meio dos presentes, Pedro Barros mal se mantinha de pé, ébrio e iracundo. Aproximou-se de João Coragem.


PEDRO BARROS  -  Voce venceu, João. Está aí minha filha!

Ele olhou para a moça, emocionado, feliz; levantou-lhe o rosto, erguendo-lhe a ponta do queixo. Ela o encarou amorosa. De mãos dadas seguiram para o improvisado altar.

CORTA PARA:

CENA 2  -  CASA DO RANCHO CORAGEM  -  EXT.  -  NOITE.

A impaciência provocava dores nervosas em todo o abdome de Jerônimo Coragem. Seus olhos furavam a escuridão da noite, qual fachos de luz de um farol.


SINHANA  -  Nada inda, Jerome?

JERÔNIMO  -  Nada,não, mãe.

SINHANA  -  Não acha que tão demorando muito?

JERÔNIMO  -  O tempo certo. O casamento de Duda não foi demorado, também?

SINHANA  -  Um pouco menos. E foi na igreja. Não havia perigo de nada, apesar de ter sido também um casamento forçado.  (benzeu-se)  Deus que me perdoe! Até parece praga! Meus filho tem sempre que se casá obrigado. Isso é sangue quente. Veja se ao menos ocê toma jeito! Se case direitinho, com preparação e tudo. Não assim, de repente, pra salvá honra de moça.
   
JERÔNIMO  -  A situação do mano é muito diferente, mãe. O Duda não queria se casá... todo mundo é que forçava. O João, não. Ele é quem quis... e ninguém mais...

SINHANA  -  Bem... lá isso é verdade, filho. Ele ficava maluco se não se unisse a essa moça.

CORTA PARA:

CENA 3  -  FAZENDA DE PEDRO BARROS  -  CASA-GRANDE -  SALA - INT. - NOITE.

E a união, enfim, se legalizava diante da lei de Deus e da lei dos homens. João colocava meigamente a aliança no dedo anular de Maria de Lara.


JOÃO  -  (falou baixinho)  Peço desculpas pela simplicidade da aliança...

MARIA DE LARA  -  Ora... isso não tem importância...

JOÃO  -  Comprei aqui mesmo... em Coroado. Foi a que eu achei.

MARIA DE LARA  -  Por favor...

JOÃO  -  Mas, dentro de um mês, espero comprá uma de diamante pra lhe dá...

MARIA DE LARA  -  Não precisa...

JOÃO  -  Quando você pudê vir pra minha companhia, conforme o trato...

MARIA DE LARA  -  Eu sei...

JOÃO  -  (João levantou um pouco mais o tom de voz) Aí, o padre abençoa de novo as aliança, não é, padre?

PADRE BENTO  -  Naturalmente. Se Deus quiser.

O padre fez o Pelo-Sinal e pediu um Padre-Nosso pela felicidade dos nubentes. João e Lara continuavam de mãos dadas, sorridentes.

Barros se aproximou.


PEDRO BARROS  -  A gente tem um trato. Eu cumpri a minha palavra; quero ver se vai cumprir a sua.

JOÃO  -  (com firmeza)  Eu cumpro.

PEDRO BARROS  -  Então, tudo termina aqui...

JOÃO  -  (mirando a esposa)  Por enquanto...

PEDRO BARROS  -  Que seja... pode se retirar levando seus papéis. Minha filha fica comigo.

Estela chegou apressada e com ar feliz.

ESTELA  -  Meu Deus, Pedro. Pelo menos deixe-nos cumprimentar os noivos.

Severo, o coronel balançou a cabeça em sinal de negativa.


PEDRO BARROS  -  Não, nada de cumprimento. Tenho pressa de acabá com isso.

Filha e mãe se abraçaram chorando. A voz de João, forte e grossa, despertou a jovem.

JOÃO  -  Lara!

A moça voltou-se para o marido.

JOÃO  -  Não se esqueça... Dentro de um mês venho te buscar.  (Lara o fitava deslumbrada)  Todo mundo é testemunha: a palavra das duas partes tem que sê cumprida.

Lara subiu as escadas com os olhos fixos no belo e corajoso homem que, desde aquele instante, unira sua vida á dela. Não havia mais dúvidas em seu pensamento: mesmo sem o saber, amava apaixonadamente o jovem João Coragem.

CORTA PARA:

CENA  4 -  COROADO  -  PENSÃO DE GENTIL PALHARES  -  INT.  -  NOITE.

 
Pelo barulho que se ouvia na pensão de Gentil Palhares, Jerônimo calculava que a festa era das mais animadas. Tinha ouvido dos garimpeiros a história do casamento do irmão, e as manobras traiçoeiras da jagunçada evitadas, apenas, com a presença em número muito superior dos companheiros de garimpo dos irmãos Coragem.

Agora, Jerônimo procurava o irmão no hotel-pensão do Gentil.

JERÔNIMO  -  (abraçou com afeto e recém-casado)  Então, deu tudo certo...

JOÃO  -  (segurando o mano pelos ombros)  Ela tava bunita pra burro, irmão!  E com ar de santa... e com aquele ar... riu pra mim... falou comigo... e senti emoção na sua voz.

Os olhos do rapaz se perdiam no infinito ao recordar a mulher que amava.


JERÔNIMO  -  (sacudiu-o)  Qual! Tá perdido mesmo de amor! Num tem mais remédio, não!

JOÃO  -  Eu senti, irmão, que ela num tava querendo cumpri o trato.
   
JERÔNIMO  -  E por que não aproveitou e num trouxe ela com você?

JOÃO  -  Palavra é palavra. Pedro Barros cumpriu a dele. Eu tenho que cumpri a minha. Um Coragem não pode fugir á palavra empenhada!
  
JERÔNIMO  -  (desconfiado)  Ele cumpriu obrigado. Pode te atraiçoá. É melhor ocê não confiá muito.

JOÃO  -  (pediu, com ar triste)  Não me desanima, irmão.

JERÔNIMO  -  Qual nada! Bola pra frente. Agora, tudo vai sê mais fácil. Vou até beber pela tua felicidade!

Bebem juntos um caneco de chope gelado. Por entre a espuma da bebida, borbulhante e branca, João Coragem vê a imagem da mulher.

CORTA PARA:

CENA 5  -  FAZENDA DE PEDRO BARROS  -  CASA-GRANDE - QUARTO DE LARA  -  INT.  -  NOITE.


Maria de Lara, pensativa, observava a noite sem lua do alto da janela. A brisa fresca e curiosa ouvia seus pensamentos e procurava levá-los ao marido, distante. Lara recordava feliz a cena da aliança; as palavras amorosas do másculo garimpeiro e sua advertência final: - “Venho buscá-la dentro de um mês”. Oh, se fosse hoje! – pensava Lara, sentindo-se envergonhada consigo mesma. Diante da janela os sonhos começaram por dominá-la. João estava presente em todos os instantes de sua vida futura...

CORTA PARA:

CENA 6  -  RIO DE JANEIRO  -  APARTAMENTO DE DUDA  -  SALA  -  INT.  -  DIA.

   
PAULA  -  (recomendou á criada)  Veja quem é, antes de abrir!

CRIADA  -  Quem é?

DUDA  -  (off)  Leiteiro!

A empregada abriu a porta, confiante, e Duda entrou fora de si, empurrando a mulher para o lado. Paula voltava da cozinha. Viu o ex-amante e sua expressão de ódio.

PAULA  -  Por que deixou ele entrar?   
 
DUDA  -  Ah, você tinha proibido minha entrada, não é?  (esticou o dedo grande diante da cara da mulher)  Muito bem. Agora nós vamos ajustar umas contas. Eu te disse que vinha! Não disse? E que ia te esganar, caso não encontrasse minha mulher aqui.

PAULA  -  Pois é, mas sua mulher deixou este apartamento, porque quis. Eu não obriguei. Disse que ia ter paciência de esperar.

DUDA  -  Invenção sua! Você deve ter feito qualquer coisa pra ela se sentir desesperada... e aceitar a ajuda  do pilantra do seu irmão!  (e  furioso)  Cadê ele? Eu arrebento você e ele, os dois juntos! É capaz até de ter matado a pobrezinha...

Paula encolheu-se, horrorizada.

PAULA  -  Ai, que horror! Não seja exagerado, Duda! Eu não fiz nada contra ela, juro!

O rapaz perdera a paciência e a qualquer instante esmurraria a antiga companheira.

DUDA  -  Mas, onde ela está? Onde ela está? Me diga antes que eu perca a cabeça!

PAULA  -  Sei lá!

Avançou contra a mulher, controlando-se no último segundo.

DUDA  -  Isto é lá resposta pra quem está neste desespero! “Sei lá...” Você não tem vergonha na cara, sua idiota!

Paula procurava recuperar-se da extrema angústia de que estava possuída. Não esperava tamanha reação de Duda.

PAULA  -  O que eu sei é que ela saiu com meu irmão. Desde terça-feira, também ele desapareceu. Eu acho que quem deve saber dela é Carmen, mulher do Neco. Eu vi quando ela telefonou para Carmen.

Duda completou a ligação e soube da ida de Carmen para Petrópolis. Ritinha não poderia estar na casa do amigo.

Onde estaria, então?


A resposta de sua indagação íntima estava chegando. A porta abriu-se e Hernani deparou com o jogador.

Duda avançou, feroz.


DUDA  -  Aí está ele, o bandido!

Hernani assustou-se e Duda o agarrou violentamente pela gola do paletó.

DUDA  -  Miserável! Patife! Onde está a minha mulher?
   
HERNANI  -  (resfolagava)  Espera... Es... espera, Duda!

DUDA  -  (desesperado)  Que foi que você fez com minha mulher?

HERNANI  -  Ela saiu daqui... desatinada...
 
PAULA  -  Não foi por minha culpa...

HERNANI  -  Essa não, mana. Diga a verdade. Você trouxe toda a sua tralha pra cá e fincou  pé, dizendo: daqui não saio, daqui ninguém me tira...

PAULA  -  Claro, não é!  Tive que desocupar meu apartamento e não tinha para onde ir.

A expressão de Duda era de um homem enlouquecido.

DUDA  -  Coitadinha! Coitadinha dela! Como é vítima!

PAULA  -  Ah, Duda, não enche, tá?

DUDA  -  Essa história, depois nós vamos discutir. Continue, Hernani.

HERNANI  -  Aí... eu não deixei que ela saísse daqui sozinha, quebrando a cabeça... embora não quisesse aceitar a minha ajuda, eu insisti e a levei para a casa de Matilde, a mulher do massagista do Flamengo...
  
DUDA  -  (com uma ponta de ciúme)  E... você ficou lá, também?

HERNANI  -  Eu me mandei, Duda. Só voltei hoje de manhã, pra saber como ela estava passando... e pra avisar que você já estava de volta.

Duda percebeu algo de errado.

DUDA  -  E daí?

HERNANI  -  Daí?

DUDA  -  É. E daí? Que foi que houve com ela?

HERNANI  -  Bem... (sem saber por onde começar)  Ritinha já não estava mais lá... e a Matilde me entregou esta carta... pra dar a você...

Eduardo arrancou, excitado, a carta da mão do ex-amigo.

DUDA  -  Carta! De Ritinha!

HERNANI  -  É. Com certeza ela explica para onde foi... porque a Matilde não sabia... ela só pegou as malas, mandou chamar o taxi... e sumiu.

DUDA  -  Sumiu...

A fisionomia de Duda revelava desespero e ódio, misturados. Os músculos da face estavam duros, enrijecidos e algumas rugas construíam riscos ondulados em sua testa.

DUDA  -  Sumiu... Ritinha... foi embora... é isso que você quer dizer?

HERNANI  -  Eu não sei... juro que não sei... Fiz o que pude, Duda.

A carta balançava entre as mãos do rapaz. Faltava-lhe coragem para abri-la e tomar conhecimento de sua verdade.

DUDA  -  Ela foi embora... e foram vocês... que fizeram isso. Eu... acabo com vocês. Juro. Vou ler esta carta. (levantou-se, mostrando aos irmãos)  E volto para acabar com a raça de vocês dois... E, outra coisa... este apartamento ainda é meu, por lei... você trate de se mandar daqui.  (dirigia-se de forma rude á mulher)  Quando eu voltar, não quero te ver aqui...

FIM DO CAPÍTULO 39
O casamento de João e Lara (2)
E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...

*** SINHANA DEPÔE NA DELEGACIA, COMPLICANDO AINDA MAIS A SITUAÇÃO DO DR. MACIEL NO CASO DA MORTE DE SUA ESPOSA.

*** DOMINGAS TEM UMA ENORME SURPRESA COM A CHEGADA DE RITINHA A COROADO.

*** DUDA FICA DIVIDIDO:  CUMPRIR SEUS COMPROMISSOS PROFISSIONAIS OU IR PARA COROADO ATRÁS DE RITINHA?


NÃO PERCA O CAPÍTULO 40 DE 

Um comentário:

  1. Muito bom esse capítulo Toni! Essa cena do casamento de Maria de Lara e João foi bem legal apesar do mau humor de Pedro Barros. Achei engraçado a festa de casamento na pensão, sem a noiva, rsrsrs. E essa cena de Duda furioso, foi muito boa também. Bjs.

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