sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 104 - AUTOR: TONI FIGUEIRA


Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair 

CAPÍTULO 104 

PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:

LÁZARO
DELEGADO FALCÃO
REPÓRTERES
JOÃO
PEDRO BARROS

CENA 1  -  COROADO  -  IGREJA  -  EXT.  -  DIA.

Toda a cidade concentrava a atenção na luta entre João Coragem e os homens do delegado. Há horas o foragido se mantinha em atitude defensiva, pronto para o que desse e viesse, no interior da igrejinha. Dali não podia arredar pé, envolvido por uma manobra esquematizada pelo policial. De todos os ângulos convergiam bocas de rifles para o templo, à espera da fuga do garimpeiro. Falcão comandava a operação e orientava o plano de ataque inicial.


LÁZARO  -  Que plano é esse?

DELEGADO FALCÃO  -  A gente vai atacar ele de uma vez. Obrigar ele a acabar com toda a munição. Enquanto isso, um sujeito mais arrojado, pode ser você, sobe pelo telhado da igreja... e tenta desarmar o homem. A intenção dele é dar um tiro nos miolos, pra não ser agarrado.

LÁZARO  -  Deixa comigo.  Eu mesmo atiro nele. Quero tê esse gôsto.

DELEGADO FALCÃO  -  Aí é que está.  Eu quero ele vivo. Se você vai com essa intenção, é melhor que não vá. Eu escolho outro homem.

LÁZARO  -  (olhou para a torre e do templo)  Não! Pode deixá! Se o meu delegado quer ele vivo... eu trago ele vivo. Mas me deixe eu mesmo ir buscá ele, lá em cima. É um prazer que quero tê.

DELEGADO FALCÃO  -  (comandou, enérgico)  Vamos lá. Tenho que retirar todo mundo da praça. Surgiu repórter de tudo quanto é lado. A cidade tá um pandemônio.

Os jornalistas apareceram em massa, provenientes das cidades maiores e até mesmo de Belo Horizonte. Reuniam-se, agora, nos degraus da escada de acesso à torre do templo. Elevando a voz endereçavam perguntas ao homem acuado, enquanto os fotógrafos batiam chapas sucessivas.


REPÓRTER 1  -  João Coragem... até quando acha que pode aguentar esta situação?

REPÓRTER 2  -  Quais seus planos para o futuro?

REPÓRTER 3  -  O que o senhor acha da guerra no Oriente Médio?

REPÓRTER 4  -  É verdade que pensa em se transformar num segundo Antonio Conselheiro?

Dezenas de perguntas e propostas subiam à pequena torre, endoidecendo o jovem que apenas desejava uma riqueza: Liberdade! Liberdade!


JOÃO  -  (perdeu a paciencia e gritou, devolvendo todas as perguntas)  Vai todo mundo pro inferno! Me deixa em paz! Eu quero sossego! Pro diabo todo mundo!

CORTA PARA:

CENA 2  -  COROADO  -  IGREJA  -  EXT.  -  DIA.

Diogo Falcão afastou os curiosos dos limites da praça.


DELEGADO FALCÃO  -  Vai haver tiroteio! (gritou, empurrando os recalcitrantes e ameaçando prendê-los. A praça estava limpa. Juntando as mãos em concha, o delegado berrou para o garimpeiro acuado)  João! Isto assim não pode continuar. Eu vou te dar 10 minutos pra você entregar os pontos. Caso você não se decida, a gente vai tentar chegar até aí!

A voz do garimpeiro chegou clara e audível ao centro da praça:

JOÃO  -  Pois venha! Eu acabo com o primeiro que tentá subi!

DELEGADO FALCÃO  -  (voltou-se para os atacantes)  Marcado de relógio, minha gente! Dez minutos!

CORTA PARA:

CENA 3  -  COROADO  -  IGREJA  -  INT.  -  DIA.

Movimentando-se com rapidez o rapaz deslocou alguns móveis, colocando-os à porta de acesso à escada da torre. Era visível sua extenuação – barba molhada de suor, olheiras, expressão de total cansaço. Tornou a subir ao posto de observação e renovou a ameaça ao delegado.


JOÃO  -  Pode vim, Falcão! Tou esperando, patife!

CENA 4  -  COROADO  -  IGREJA  -  EXT.  - DIA.

Lázaro contornou a igreja, entrou num edifício vizinho e pulou do telhado para o templo. Aproximou-se sorrateiramente da torre onde, encastelado, João Coragem opunha resistência aos soldados. Embaixo, os homens forçavam a porta, procurando deslocar a barricada. Lázaro, agora, aguardava apenas a oportunidade de saltar para o interior da torre. Conseguira o mais difícil, alcançar o reduto sem ser visto pelo garimpeiro desesperado.


CENA 5  -  COROADO  -  IGREJA  -  INT.  -  DIA.

João Coragem tateou os bolsos. A munição acabara. Apenas no tambor uma única bala!

Lázaro pulou para o interior da torre.

LÁZARO  -  Você tá perdido, João!

Incontinenti o rapaz virou-se e desfechou o tiro. O inimigo agachou-se e a bala passou. Desesperado, João Coragem arremessou a arma contra o adversário.


JOÃO  -  Me mata, é melhor!

LÁZARO  -  E o que é que você acha que vim fazê aqui? (retrucou, rindo com sadismo. Apontou a arma na direção do peito do ex-chefe, rindo sempre)  Então eu ia perdê essa chance que Deus me deu? De acabá com a tua raça?

JOÃO  -  Quem é o dono da minha vida é Deus. Se Ele me armô esse golpe... e achô que eu devia morrê pelas mão de um bandido, como você... é porque eu mereço isso. Pra falá a verdade, não tou entendendo bem Deus. Dessa vez eu me desnorteei. Sempre entendi as coisas que Ele tentô me dizê, por meio de ação e de sofrimento. Sempre aceitei as coisa que Ele achava que eu devia de fazê. Até quando colocô tu no meu caminho. Eu entendi e pensei: Deus qué que eu mostre a esse home o caminho do bem. E era o que eu queria fazê contigo. Te regenerá, mostrá pra tu que o bem vence em riba do mal. Queria te ensiná a não feri, não matá, não roubá. Que a gente pode e deve vivê pelo bem. Mas nem isso me deixaro fazê. (Lázaro ouvia estático, sem mover um músculo)  Deus me botô nessa situação e eu fui obrigado a reagi e matava até o primeiro que aparecesse na minha frente. Acho que por ter perdido a cabeça é que tou mereceno esse castigo. Morrê pelas mão do home que eu tentei regenerá e não consegui. É pelo meu fracasso também contigo que tou sendo castigado. Tá certo. Eu aceito isso. Tu pode atirá que eu tou preparado. (o revólver tremia na mão do assassino. João abriu a camisa e os braços, em cruz)  Atira... que é um favô que tu me faz.

LÁZARO  -   Nem sei, viu? Nem sei. Tou aqui e tou pensando. Tenho um garimpo à minha espera. Um prêmio pela tua cabeça. Tudo de bom. A vida que eu pedi a Deus. (sua voz  atingiu intensidade acima do normal, e gritava, como se tentasse amedrontar o mundo e ganhar coragem) Por que diabo não mato esse desgraçado? Por que diabo num acabo com ele? Por quê? Me diga? (dialogava com o ar, sem se dirigir a ninguém, especificamente)  Tou ficando frôxo? Miséria de vida! Será que eu num sô mais home? (num ímpeto incontrolável, jogou o revólver para o adversário)  Toma! Faz o que tu qué! Dá satisfação pro teu Deus! Me manda pro inferno, se é isso que Ele tá quereno! Diz pra Ele que ficá bonzinho, regenerado, eu num fico! Pode tirá o cavalinho da chuva! Anda! Acaba comigo! Tu recebe o prêmio de Deus e acaba logo com essa agonia!

Com passadas lentas, João Coragem depositou a arma na amurada da torre.

JOÃO  -  Abre a porta... e diz pro Falcão que ele venceu. Isso tudo que acaba de se passá aqui... é mensage de Deus. (tinha o olhar e os gestos de um místico, inteiramente absorvido pela religiosidade. Banhado de ternura e amor)  Pra alguma coisa deve de tê valido a pena o meu sacrifício. Quando uma alma perdida se salva... é um prêmio que a gente recebe. Eu acho que eu tenho de continuá vivendo mais um pouco. Foi Deus quem quis. Anda. Abre a porta!

Grossas lágrimas corriam pelo rosto do assassino, emocionado. João ofereceu-lhe os pulsos e, com uma corda fina, Lázaro amarrou-os, sem fitar os olhos do prisioneiro. Falcão entrou com os homens.


DELEGADO FALCÃO  -  Cuidado com ele! Cuidado, gente! Amarrem ele bem amarrado! (bateu com satisfação nas costas do bandido) Bom trabalho, Lázaro. Meus parabéns! Depressa! Avisa todo mundo na praça que a gente agarrou João Coragem!

CORTA PARA:

CENA 6  -  COROADO  -  IGREJA  -  EXT.  -  DIA.

A multidão aglomerou-se à entrada da igreja para assistir à saída de João, conduzido como um assassino, entre os guardas do delegado.

Os repórteres acorreram como bando de urubus. Pedro Barros, que acabara de abraçar o delegado, felicitando-o, insinuou-se junto aos jornalistas.


REPÓRTER 1  -  O senhor quem é?

PEDRO BARROS  -  Sou o Coronel Pedro Barros, fundador de Coroado. Responsável por tudo de bom que existe aqui.

Retirando lápis e papel do bolso, o repórter começou a entrevistá-lo, antevendo um filão de reportagem na história do homem que criara a cidade diamantífera.


REPÓRTER 2  -  Tem alguma declaração a fazer?

PEDRO BARROS  -  Tenho, sim. Bota aí no seu jornal. (assumiu ares de político à cata de votos)  Hoje, com a prisão de João Coragem, a gente conseguiu uma vitória. Decidimos exterminar com o banditismo por estas bandas. Demos o primeiro passo. O segundo... pode escrever aí, também vai ser derrubar o prefeito desta cidade, que é irmão do bandido João.


FIM DO CAPÍTULO  104
Lourenço (Hemílcio Fróes), Branca (Neusa Amaral) e Jerônimo (Claudio Cavalcanti)

 ...e no próximo capítulo
*** Pedro Barros discute com Lázaro, por não ter atirado em João na torre da igreja. Lázaro enfrenta o coronel e pede as contas, decidido a mudar de vida.

***  Hernani pede ao prefeito permissão para pôr o nome "Cine Rita de Cássia" no cinema que arrendou em Coroado. Ritinha não gosta da idéia e Jerônimo sugere "Cine Potira", que é aceito por Hernani.

NÃO PERCA O CAPÍTULO 105 DE 

Um comentário:

  1. Toni que cena essa de João e Lázaro! Que força estranha desse garimpeiro! Engraçadas as perguntas dos repórteres, rsrsrs. Que legal esse capítulo! Bjs.

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