Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair
CAPÍTULO 105
PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
BEATO VENANCIO
PEDRO BARROS
LÁZARO
FRANCISCO
RITINHA
HERNANI
JERÔNIMO
CENA 1 - COROADO - IGREJA - INT. - DIA.
O homem de camisolão branco, como um Cristo jagunço, adentrou o templo, sob os olhares curiosos das rezadeiras. Alguns homens e mulheres seguiam a estranha procissão do recém-chegado. O beato Venâncio ajoelhou-se diante do altar de Cristo. Contrito. Enlevado.
BEATO VENÂNCIO - Vamo rezá e pedi pra Deus Nosso Sinhô Jesus Cristo livrá o nosso João daquela grade! (falou dirigindo-se aos seus acompanhantes) Foi a tentação que levô ele até lá. Do Nosso Pai tem que vir a salvação. Deus Nosso Sinhô não vai abandoná João Corage. Nóis salva ele! Com nossa força de ação e de pensamento. Deus Nosso Sinhô Jesus Cristo seja louvado!
O beato beijou ostesivamente o chão da igreja.
SEGUIDORES - (num eco, repetiram) Deus Nosso Sinhô Jesus Cristo seja louvado!
CORTA PARA:
CENA 2 - FAZENDA DE PEDRO BARROS - GALPÃO - INT. - NOITE.
À luz do lampião, Lázaro dormia, estendido sobre o capim sêco do galpão, na casa-grande. Acordou com o bico da botina nas costelas. Por entre a bruma da embriaguez e da sonolencia, o bandido divisou dois vultos.
LÁZARO - Ei! Que foi isso? Vai penteá macaco! Me deixa!
PEDRO BARROS - Levanta daí! Você tá diante do teu patrão!
LÁZARO - Que patrão?
FRANCISCO - (interveio, com firmeza) Deixa de graça! O Coronel Pedro Barros tá aqui e qué falá contigo.
PEDRO BARROS - Vamos, levanta daí, que eu tenho mais o que fazer!
LÁZARO - (levantou-se, espreguiçando-se) Oh... Coronel Pedro Barros! (irônico) O maioral da zona! Meus respeitos!
PEDRO BARROS - Eu tenho uma pergunta pra te fazer (anunciou, já irritado) Uma pergunta que tá me azucrinando os miolos desde que João foi preso.
LÁZARO - Fala, coronel, eu tou ouvindo... se bem que já sei o que o senhô qué sabê.
PEDRO BARROS - Se já sabe, é porque tem certeza de que fez uma burrada deixando João escapar com vida!
LÁZARO - Olha... eu apontei o revólver... apontei, sim... na cara dele... ia estourá os miolo dele.
PEDRO BARROS - E... por que não fez?
LÁZARO - Porque... porque... porque num quis, pronto! Porque não me deu vontade de matar, naquela hora. Matar, matar, matar! Pensa que resolve tudo? Resolve nada!
PEDRO BARROS - (apelou para a irritação) Com certeza ficou com remorso...
LÁZARO - Sei lá se fiquei. Só sei que não quis e tá acabado!
PEDRO BARROS - Mas eu tinha te dado uma ordem, não tinha? Tinha até te prometido um prêmio pela cabeça dele. Te dava um dos meus garimpos... você podia ser um homem independente...
LÁZARO - Pra vê como é que são as coisa... com tudo isso... eu num obedeci sua ordem, velho. Vai me enganá que vai me castigá por isso? Não vem, não, velho! Não vem, não! Porque eu sou de briga! Te passo uma rasteira, velho... (tentou derrubar o coronel com um golpe de perna. A interferencia de Francisco foi suficiente para lançá-lo ao chão. Lázaro não tinha condições sequer de permanecer de pé).
FRANCISCO - Ponho ele no ôlho da rua, meu patrão?
PEDRO BARROS - Espera um pouco. Vamos ver como é que vai se portar. Se fizer besteira, a gente faz as conta dele...
LÁZARO - (voltou a investir com palavras) Você tem é medo de eu soltá a língua, velho...
PEDRO BARROS - (chegara ao limite de sua paciência) Já me livrei de coisa muito mais séria na vida. Não vai ser você que vai me meter medo com suas ameaças. De qualquer jeito, toma muito cuidado. Uma palavra em falso e eu te mando pro outro mundo. (virou as costas e se encaminhou para a porta. Advertiu, ainda) As bobagens que disse, agora, deixo por conta de tua bebedeira.
LÁZARO - (ainda gritou com dificuldade) Acontece... que eu é que não quero mais ficá a teu serviço, velho sujo! Tu tá me ouvindo? Me enchi! Vou dá o fora! Pode arranjá outro capanga! Vou mudá de vida! João é quem tem razão!
CORTA PARA:
CENA 2 - COROADO - PREFEITURA - RECEPÇÃO - INT. - DIA.
Duda tinha retornado a São Paulo. Jogava por lá, mas Hernani estava decidido a permanecer em Coroado. E fizera amizades, relações. Era visto, agora, como uma personalidade do Rio que desejava se estabelecer na cidade pequena. E tinha mais... era um amigo do Duda, o famoso jogador que Coroado dera de presente ao Brasil.
Quando a porta da ante-sala se abriu, Ritinha se assustou ao ver a figura esguia e maquiavélica do empresário do marido. Pensou que Duda talvez o enviasse para algum recado.
RITINHA - Ah... o que o senhor quer?
HERNANI - Falar com o prefeito, posso?
Dando de ombros, a moça comunicou ao cunhado a presença e as intenções do forasteiro.
CENA 3 - COROADO - PREFEITURA - SALA DE JERÔNIMO - INT. - DIA.
JERÔNIMO - Eu recebi o seu recado (disse, estendendo-lhe a mão, com um sorriso de cortesia) Estou à sua disposição.
HERNANI - É o seguinte... (sentou-se na cadeira confortável, de plástico negro) Eu me apaixonei por esta cidade. Parece que criei raízes aqui. E quero fazer alguma coisa... para ficar aqui... Enterrar meus ossos nessa terra.
JERÔNIMO - Muito bem. E o que o senhor acha que pode fazer pra ficar em Coroado?
HERNANI - Existe um cinema... que foi cinema. Na praça...
JERÔNIMO - (cortou-lhe a idéia) É. Tá fechado há muito tempo. É da prefeitura.
HERNANI - Pois eu quero arrendá-lo. Quero reformá-lo e criar mais uma diversão para o povo desta cidade. Se o senhor me der a concessão para explorá-lo...
Jerônimo passeou pela sala, com as mãos naponeônicamente atrás das costas.
JERÔNIMO - Seu pedido é justo e me agrada. Só que não vai ficar barato.
HERNANI - Não se preocupe com o preço. Quero seu consentimento para explorá-lo, eis tudo. E, em dois meses, no máximo, o povo de Coroado assistirá aos melhores filmes que passam nas grandes capitais.
JERÔNIMO - Taí. Dessa eu gostei.
HERNANI - Queria colocar um nome no cinema. Se me permitir... ele se chamará Cine Rita de Cássia... É a santa de minha devoção!
Jerônimo olhou significativamente para a cunhada que se achava parada no umbral da porta, com o lápis a tamborilar nos dentes. Rita estremeceu com a surpresa.
RITINHA - Mas é também meu nome (completou, visivelmente aborrecida) Ponha Santo Hernani, São Lázaro, São Pedro Barros, o que quiser. Menos eu! Vê lá! Só assim é que Eduardo nunca mais vai olhar pra minha cara!
Jerônimo sorriu com a reação da cunhada e, apertando a mão do jovem citadino, confiou-lhe o negócio.
JERÔNIMO - Eu lhe dou a concessão. Mas... põe outro nome no cinema.
HERNANI - (perguntou-lhe, contrariado) Pode sugerir um nome, prefeito?
JERÔNIMO - (não pensou dois segundos) Põe... Cine Potira. O nome é lindo!
RITINHA - (saltou de nervosismo) Cê enlouqueceu, Jerônimo?
JERÔNIMO - Não. Eu quero lançar o meu desafio pro povo. E quero ver... se alguém vai ter coragem de deixar de ir ao cinema... só porque tem o nome da índia.
RITINHA - Você não vai lançar o desafio pro povo. Vai lançar pro marido dela... vai lançar pra todo mundo.
JERÔNIMO - Vale a pena. Pode mandar até registrar (disse, dirigindo-se ao rapaz) Tem que ser Cine Potira. E manda fazer um letreiro bem bonito. Em plástico azul, que é a cor que eu mais adoro. E quero letra luminosa, desse gás que tem aí, como é mesmo o nome, leão...
HERNANI - (fazendo força para não rir) ... néon.
Jerônimo voltou-se e isolou-se do resto do mundo. Gostara da idéia. Colossal. Cine Potira.
FIM DO CAPÍTULO 105
NÃO PERCA O CAPÍTULO 106 DE
O homem de camisolão branco, como um Cristo jagunço, adentrou o templo, sob os olhares curiosos das rezadeiras. Alguns homens e mulheres seguiam a estranha procissão do recém-chegado. O beato Venâncio ajoelhou-se diante do altar de Cristo. Contrito. Enlevado.
BEATO VENÂNCIO - Vamo rezá e pedi pra Deus Nosso Sinhô Jesus Cristo livrá o nosso João daquela grade! (falou dirigindo-se aos seus acompanhantes) Foi a tentação que levô ele até lá. Do Nosso Pai tem que vir a salvação. Deus Nosso Sinhô não vai abandoná João Corage. Nóis salva ele! Com nossa força de ação e de pensamento. Deus Nosso Sinhô Jesus Cristo seja louvado!
O beato beijou ostesivamente o chão da igreja.
SEGUIDORES - (num eco, repetiram) Deus Nosso Sinhô Jesus Cristo seja louvado!
CORTA PARA:
CENA 2 - FAZENDA DE PEDRO BARROS - GALPÃO - INT. - NOITE.
À luz do lampião, Lázaro dormia, estendido sobre o capim sêco do galpão, na casa-grande. Acordou com o bico da botina nas costelas. Por entre a bruma da embriaguez e da sonolencia, o bandido divisou dois vultos.
LÁZARO - Ei! Que foi isso? Vai penteá macaco! Me deixa!
PEDRO BARROS - Levanta daí! Você tá diante do teu patrão!
LÁZARO - Que patrão?
FRANCISCO - (interveio, com firmeza) Deixa de graça! O Coronel Pedro Barros tá aqui e qué falá contigo.
PEDRO BARROS - Vamos, levanta daí, que eu tenho mais o que fazer!
LÁZARO - (levantou-se, espreguiçando-se) Oh... Coronel Pedro Barros! (irônico) O maioral da zona! Meus respeitos!
PEDRO BARROS - Eu tenho uma pergunta pra te fazer (anunciou, já irritado) Uma pergunta que tá me azucrinando os miolos desde que João foi preso.
LÁZARO - Fala, coronel, eu tou ouvindo... se bem que já sei o que o senhô qué sabê.
PEDRO BARROS - Se já sabe, é porque tem certeza de que fez uma burrada deixando João escapar com vida!
LÁZARO - Olha... eu apontei o revólver... apontei, sim... na cara dele... ia estourá os miolo dele.
PEDRO BARROS - E... por que não fez?
LÁZARO - Porque... porque... porque num quis, pronto! Porque não me deu vontade de matar, naquela hora. Matar, matar, matar! Pensa que resolve tudo? Resolve nada!
PEDRO BARROS - (apelou para a irritação) Com certeza ficou com remorso...
LÁZARO - Sei lá se fiquei. Só sei que não quis e tá acabado!
PEDRO BARROS - Mas eu tinha te dado uma ordem, não tinha? Tinha até te prometido um prêmio pela cabeça dele. Te dava um dos meus garimpos... você podia ser um homem independente...
LÁZARO - Pra vê como é que são as coisa... com tudo isso... eu num obedeci sua ordem, velho. Vai me enganá que vai me castigá por isso? Não vem, não, velho! Não vem, não! Porque eu sou de briga! Te passo uma rasteira, velho... (tentou derrubar o coronel com um golpe de perna. A interferencia de Francisco foi suficiente para lançá-lo ao chão. Lázaro não tinha condições sequer de permanecer de pé).
FRANCISCO - Ponho ele no ôlho da rua, meu patrão?
PEDRO BARROS - Espera um pouco. Vamos ver como é que vai se portar. Se fizer besteira, a gente faz as conta dele...
LÁZARO - (voltou a investir com palavras) Você tem é medo de eu soltá a língua, velho...
PEDRO BARROS - (chegara ao limite de sua paciência) Já me livrei de coisa muito mais séria na vida. Não vai ser você que vai me meter medo com suas ameaças. De qualquer jeito, toma muito cuidado. Uma palavra em falso e eu te mando pro outro mundo. (virou as costas e se encaminhou para a porta. Advertiu, ainda) As bobagens que disse, agora, deixo por conta de tua bebedeira.
LÁZARO - (ainda gritou com dificuldade) Acontece... que eu é que não quero mais ficá a teu serviço, velho sujo! Tu tá me ouvindo? Me enchi! Vou dá o fora! Pode arranjá outro capanga! Vou mudá de vida! João é quem tem razão!
CORTA PARA:
CENA 2 - COROADO - PREFEITURA - RECEPÇÃO - INT. - DIA.
Duda tinha retornado a São Paulo. Jogava por lá, mas Hernani estava decidido a permanecer em Coroado. E fizera amizades, relações. Era visto, agora, como uma personalidade do Rio que desejava se estabelecer na cidade pequena. E tinha mais... era um amigo do Duda, o famoso jogador que Coroado dera de presente ao Brasil.
Quando a porta da ante-sala se abriu, Ritinha se assustou ao ver a figura esguia e maquiavélica do empresário do marido. Pensou que Duda talvez o enviasse para algum recado.
RITINHA - Ah... o que o senhor quer?
HERNANI - Falar com o prefeito, posso?
Dando de ombros, a moça comunicou ao cunhado a presença e as intenções do forasteiro.
CENA 3 - COROADO - PREFEITURA - SALA DE JERÔNIMO - INT. - DIA.
JERÔNIMO - Eu recebi o seu recado (disse, estendendo-lhe a mão, com um sorriso de cortesia) Estou à sua disposição.
HERNANI - É o seguinte... (sentou-se na cadeira confortável, de plástico negro) Eu me apaixonei por esta cidade. Parece que criei raízes aqui. E quero fazer alguma coisa... para ficar aqui... Enterrar meus ossos nessa terra.
JERÔNIMO - Muito bem. E o que o senhor acha que pode fazer pra ficar em Coroado?
HERNANI - Existe um cinema... que foi cinema. Na praça...
JERÔNIMO - (cortou-lhe a idéia) É. Tá fechado há muito tempo. É da prefeitura.
HERNANI - Pois eu quero arrendá-lo. Quero reformá-lo e criar mais uma diversão para o povo desta cidade. Se o senhor me der a concessão para explorá-lo...
Jerônimo passeou pela sala, com as mãos naponeônicamente atrás das costas.
JERÔNIMO - Seu pedido é justo e me agrada. Só que não vai ficar barato.
HERNANI - Não se preocupe com o preço. Quero seu consentimento para explorá-lo, eis tudo. E, em dois meses, no máximo, o povo de Coroado assistirá aos melhores filmes que passam nas grandes capitais.
JERÔNIMO - Taí. Dessa eu gostei.
HERNANI - Queria colocar um nome no cinema. Se me permitir... ele se chamará Cine Rita de Cássia... É a santa de minha devoção!
Jerônimo olhou significativamente para a cunhada que se achava parada no umbral da porta, com o lápis a tamborilar nos dentes. Rita estremeceu com a surpresa.
RITINHA - Mas é também meu nome (completou, visivelmente aborrecida) Ponha Santo Hernani, São Lázaro, São Pedro Barros, o que quiser. Menos eu! Vê lá! Só assim é que Eduardo nunca mais vai olhar pra minha cara!
Jerônimo sorriu com a reação da cunhada e, apertando a mão do jovem citadino, confiou-lhe o negócio.
JERÔNIMO - Eu lhe dou a concessão. Mas... põe outro nome no cinema.
HERNANI - (perguntou-lhe, contrariado) Pode sugerir um nome, prefeito?
JERÔNIMO - (não pensou dois segundos) Põe... Cine Potira. O nome é lindo!
RITINHA - (saltou de nervosismo) Cê enlouqueceu, Jerônimo?
JERÔNIMO - Não. Eu quero lançar o meu desafio pro povo. E quero ver... se alguém vai ter coragem de deixar de ir ao cinema... só porque tem o nome da índia.
RITINHA - Você não vai lançar o desafio pro povo. Vai lançar pro marido dela... vai lançar pra todo mundo.
JERÔNIMO - Vale a pena. Pode mandar até registrar (disse, dirigindo-se ao rapaz) Tem que ser Cine Potira. E manda fazer um letreiro bem bonito. Em plástico azul, que é a cor que eu mais adoro. E quero letra luminosa, desse gás que tem aí, como é mesmo o nome, leão...
HERNANI - (fazendo força para não rir) ... néon.
Jerônimo voltou-se e isolou-se do resto do mundo. Gostara da idéia. Colossal. Cine Potira.
FIM DO CAPÍTULO 105
*** O cadáver de Lourenço D'Ávila é exumado na presença de um dentista, Dr. Maciel, João, Alberto, Branca, Dr Rodrigo e outros... e uma surpresa os aguarda quando o caixão é aberto!
NÃO PERCA O CAPÍTULO 106 DE
Quero desejar a todos os amigos do "Biscoito, Café e Novela", que me acmpanharam praticamente todo este ano nesta aventura fantástica da inesquecível Janete Clair, especialmente JE, Maria do Sul, Mari e todos que me surpreenderam com suas demonstrações de carinho, amizade e afeto, através deste blog, que tem como mérito maior fazer, unir e preservar grandes amizades, (ufa!), voltando ao início da frase, UM FELIZ NATAL E ANO NOVO CHEIO DE LUZ, PAZ E AMOR!
ResponderExcluirToni, também desejo a você tudo de bom neste restinho de Natal e de ano, e que 2012 seja para você, um ano de realizações. Obrigada por nos proporcionar essa alegria de recordar de maneira tão gostosa, essa grande novela. Parabéns, seus textos são muito bonitos! Amei esse capítulo e todos os outros! Bjs.
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