Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair
CAPÍTULO 97
PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
BRANCA
ALBERTO
DUDA
JOÃO
CENA 1 - BELO HORIZONTE - HOSPITAL - QUARTO DE LOURENÇO - INT. - NOITE.
A noite caíra sobre Belo Horizonte depois de um dia de bruma intensa. Poucas pessoas eram vistas nos corredores silenciosos do hospital. A portaria tinha informado o número do quarto dos acidentados. Depois do primeiros socorros e de algumas horas na Unidade de Tratamento Intensivo, tinham sido removidos para um quarto particular. Alberto girou a maçaneta, lentamente, com o coração em sobressalto. O foco de luz iluminava o rosto macilento do homem que respirava com dificuldade. Braço estendido e amparado por um travesseiro pequeno. À altura do cotovelo duas tiras de esparadrapo prendiam a agulha ao braço. Pingo a pingo o sôro descia. Alberto fixou o quadro. Ao lado a mãe com o braço na tipóia e escoriações no rosto. As faixas que envolviam a cabeça do paciente não impediam seu reconhecimento imediato. Olhos, boca, nariz. Era ele. Alberto deu um passo no interior do quarto e cerrou a porta às suas costas. Fez força para não sucumbir à vergonha, à surpresa, ao descontrôle. Lourenço vivia. Branca ergueu os olhos ao perceber o leve movimento de pés. Não era a enfermeira. Na semi-obscuridade do ambiente custou-lhe a reconhecer o visitante.
BRANCA - (correu a abraçar o filho) Alberto!
ALBERTO - Que foi isso, mãe?
BRANCA - Uma coisa horrível, Alberto! Eu tive mais sorte do que... (parou, colocando a mão contra a boca, arrependendo-se do que ia falar).
ALBERTO - (completou o pensamento) Do que meu pai!
BRANCA - É preciso que você esteja preparado...
ALBERTO - Estou arrasado...
BRANCA - Eu tenho toda a culpa, eu sei.
ALBERTO - Que é que a senhora acha, mãe? Até agora eu defendi a senhora, achando que não podia estar envolvida numa trama tão absurda!
BRANCA - (apelou para o sentimentalismo) Alberto, meu filho! Eu prefiro morrer a ver você contra mim!
ALBERTO - Não posso estar a favor dessa sujeira, mãe!
A mulher apontou para o corpo inanimado sobre a cama. Ao alto o Cristo de ferro sobre a cruz de madeira.
BRANCA - Ele... só merece a nossa piedade. Olha só uma coisa. (acendeu a luz do teto e se aproximou da cama acompanhada do filho).
ALBERTO - É um absurdo! Mal posso acreditar que esse homem seja meu pai!
Debaixo do lençol, envolto por uma manta de gaze, o tórax de Lourenço subia e descia, avermelhado pelo mercúrio. Braços e pernas com marcas profundas do acidente. Alguns pontos aqui e ali, na face amarelada. Alberto suspirou fundo.
BRANCA - Eu compreendo sua revolta. Pedi a Deus que você viesse. Me senti muito só desde que aquela coisa medonha aconteceu. Tenho rezado noite e dia para você compreender e me perdoar.
ALBERTO - Perdoar eu não perdôo. Só quero saber por que a senhora se envolveu nisso... e como teve coragem de deixar que essa farsa continuasse. Como não lhe doeu a consciencia ao ver a destruição de um homem, de sua vida, de seus sonhos, de suas ilusões? Não teve pena de João Coragem, mãe?
BRANCA - No começo, fui obrigada por seu pai. Me comprometi muito e tive medo de ser punida pelo que havia feito. Depois eu tentei me livrar dessa história, que passou a ser um pesadelo na minha vida. Principalmente depois que você se juntou ao bando de João Coragem. Muitas vezes pedi a seu pai para acabar com essa comédia estúpida. Mas ele estava obcecado... e vai continuar obcecado se conseguir escapar dos ferimentos. O diamante é a vida dele...
ALBERTO - E o desastre, como foi?
BRANCA - (suspirou fundo) Naquele dia... ele veio me buscar... tinha tudo pronto para embarcar para a Europa. Quis me obrigar a ir com ele. Tinha passaporte falso e tudo o mais. Fiquei desesperada, pensando em você. No carro... tentei matar Lourenço. Estava fora de mim... Ia atirar quando, pra desviar a arma das minhas mãos... ele fez uma manobra infeliz. Daí... bem (correu a mão pela testa ferida do marido) daí a gente quase morreu. Depois me arrependi. Nestes dias aqui, ao lado dele, pude pensar em toda a nossa vida e me arrependi.
ALBERTO - (fez a pergunta que há muito queria fazer) E... o diamante do João?
BRANCA - Ninguém sabe. Só ele. Deixou guardado num lugar que só ele conhece.
ALBERTO - Já voltou a si alguma vez?
BRANCA - Já, mas está muito mal. Não pode falar direito, sente fortes dores em todo o corpo e está sempre sob efeito de sedativos. Se ele morrer sem revelar onde está o diamante, ninguém nunca mais vai encontrar. (segurou brandamente o braço do filho) Seu pai precisa mais do seu perdão, do que da sua revolta.
ALBERTO - Acha que vou ficar de acôrdo? E ser cúmplice desse crime monstruoso que vocês cometeram?
BRANCA - Deixe seu pai melhorar pra gente ver o que vai fazer da nossa vida.
ALBERTO - (revoltado) Se escapar, ele vai continuar com essa farsa imunda! E eu não posso estar de acordo com isso, não!
A força de persuasão de Branca chegara ao fim, restava-lhe a reação enérgica. A violencia. O que fosse, mas que permitisse deixar o marido em liberdade. Ele precisava viver para levar ao fim a missão a que se dedicara. Escapar com o diamante que era dele, dele só! Embora metade do mundo o culpasse. Mesmo o próprio filho. Um rebelde!
BRANCA - Pois delate! Destrua a farsa! Faça o que você quiser! Se não mereço que você me perdoe, não me interessa mais continuar vivendo.
Estava claro que a mãe não se entregaria e nem revelaria por vontade própria a trama diabólica engendrada pelo pai. Alberto desesperou-se ante a realidade e bateu furiosamente na parede clara do quarto.
ALBERTO - Diabo! Por que vocês se envolveram nisso?
CORTA PARA:
CENA 2 - ALDEIA DE JOÃO - CHOUPANA - INT. - DIA.
Duda não acreditava na fidelidade do filho de Lourenço. Para ele, era um homem como outro qualquer, envolvido numa emaranhada trama de maldade e traições. Chegara atrasado ao encontro e só lhe restava aguardar, com calma, o retorno do rapaz.
Alberto voltou estranho. Absorto. Respondendo com má vontade às perguntas dos companheiros.
ALBERTO - Antes de me agredir com tanta pergunta, me diga, quem foi que disse que eu fui ver minha mãe?
DUDA - (cerrou os dentes, controlando a raiva) Foi um besourinho verde que me falou no ouvido.
ALBERTO - Eu podia não ter ido, não é? A gente ficou de se encontrar para ir juntos...
DUDA - Pois é. Mas eu não apareci porque a perna me doeu muito. E garanto que você não me esperou coisa nenhuma. Você foi correndo se encontrar com sua mãe no hospital de Belo Horizonte, mal eu virei as costas. Não venha com mentira pra cima de mim, não.
ALBERTO - (aparentava descontrole íntimo) Claro... que fui ver minha mãe... eu estava muito curioso... e aflito, também.
DUDA - E então: Ernesto Bianchinni é ou não é seu pai?
A emoção emudeceu o jovem. João interveio em seu socorro.
JOÃO - Ele já andou me contando tudo sobre isso, Duda.
DUDA - O que foi que ele contou?
JOÃO - É uma situação muito chata pra ele, mano. Eu compreendo muito bem...
DUDA - (quase gritou, enervando o outro) Mas que foi que ele te disse, pombas...
JOÃO - (dirigiu-se ao rapaz, com amabilidade) Me dá permissão, Alberto? Eu falo...
ALBERTO - Faça o que quiser, João.
JOÃO - O rapaz... tá desorientado... porque não quer aceitar a união da mãe dele com esse tal de Ernesto Bianchinni...
DUDA - (perdeu a paciencia diante da ingenuidade do irmão) Até você? Até você vem com essa tapeação pra cima de mim?
JOÃO - (interveio, decidido, impedindo que os dois se atracassem ali mesmo) Calma, Duda! Que é isso? O rapaz explicou tudo!
DUDA - Ele tá mentindo! (replicou, com convicção) Tá te enganando. Entrou na panela!
JOÃO - Que é isso, irmão? Eu confio no rapaz. Até hoje só tem me dado prova de lealdade. É meu amigo! Cem por cento. Já passou o diabo por minha causa...
DUDA - Pode ter feito tudo isso. Mas agora, ele tá mudado, João! Tá mudado e com certeza tá de olho no teu diamante que tá com o pai dele!
Na verdade o jovem sofria. Não mentira por amor ao dinheiro, às vantagens que poderia lhe trazer a venda do diamante, que nem sabia se um dia viria a ter em suas mãos. Sofria por ter de esconder a verdade da história, a participação da mãe na trama que levara um jovem á marginalidade.
ALBERTO - Isso, não, viu? (respondeu, quase chorando) Isso não é verdade, eu juro! Eu juro por tudo quanto é santo, João! Não tenho interesse em nada!
DUDA - Jura, também, por tudo quanto é santo, que Ernesto Bianchinni não é teu pai? Jura, anda!
Não restava outra saída ao adolescente.
ALBERTO - Eu... eu juro, pronto!
DUDA - E vocês não acham muita coincidencia... que eu tenha visto esse homem... justamente ele... em São Paulo?
ALBERTO - Ele... eu acho que... ele se parece com meu pai... justamente por isso... minha mãe se uniu a ele.
Os homens se entreolharam.
DUDA - (irritado) Que mentira esfarrapada! Essa, não, João!
JOÃO - Calma, Duda! (replicou, com a mansidão que caracterizava seus gestos nos momentos graves) Pra fim de conversa a gente vai na capital de Belo Horizonte deslindar essa história. Se ele tá tão grave assim, como se diz, não deu tempo dele deixá o hospital. Deve de tá por lá, em tratamento, garanto que sim.
DUDA - Pois vou! (gritou) Vou nesse momento! Tinha até mandado o Dr. Rodrigo levar o Delegado Falcão pra tomar conhecimento do caso... mas agora, eu acho que devo ir, de qualquer jeito!
JOÃO - Se o Falcão vai, não convém eu ir (ponderou, balançando a cabeça em sinal de negação) Num adianta, não! Num fica bem a gente se encontrá.
DUDA - Pode deixar, meu irmão, eu mesmo cuido disso. Você sabe que em teu irmão você pode confiar...
Os olhos do jovem fitaram significativamente os do filho de Lourenço. Alberto baixou a cabeça, humilhado. João percebeu o gesto do adolescente.
JOÃO - Fica assim, não (disse-lhe, afagando-lhe a cabeça) Eu ainda acredito na tua lealdade.
Alberto deixou o local da reunião inteiramente perturbado. A atitude amiga de João Coragem transtornara-o mais do que as investidas ferinas de Eduardo. Doía-lhe trair a confiança do amigo. Alberto correu para que ninguém surpreendesse as primeiras lágrimas que lhe escapavam, incontroláveis. Alguma coisa como uma bola dançava-lhe na garganta. Uma bola ou um diamante? Lembrou-se do pai.
A noite caíra sobre Belo Horizonte depois de um dia de bruma intensa. Poucas pessoas eram vistas nos corredores silenciosos do hospital. A portaria tinha informado o número do quarto dos acidentados. Depois do primeiros socorros e de algumas horas na Unidade de Tratamento Intensivo, tinham sido removidos para um quarto particular. Alberto girou a maçaneta, lentamente, com o coração em sobressalto. O foco de luz iluminava o rosto macilento do homem que respirava com dificuldade. Braço estendido e amparado por um travesseiro pequeno. À altura do cotovelo duas tiras de esparadrapo prendiam a agulha ao braço. Pingo a pingo o sôro descia. Alberto fixou o quadro. Ao lado a mãe com o braço na tipóia e escoriações no rosto. As faixas que envolviam a cabeça do paciente não impediam seu reconhecimento imediato. Olhos, boca, nariz. Era ele. Alberto deu um passo no interior do quarto e cerrou a porta às suas costas. Fez força para não sucumbir à vergonha, à surpresa, ao descontrôle. Lourenço vivia. Branca ergueu os olhos ao perceber o leve movimento de pés. Não era a enfermeira. Na semi-obscuridade do ambiente custou-lhe a reconhecer o visitante.
BRANCA - (correu a abraçar o filho) Alberto!
ALBERTO - Que foi isso, mãe?
BRANCA - Uma coisa horrível, Alberto! Eu tive mais sorte do que... (parou, colocando a mão contra a boca, arrependendo-se do que ia falar).
ALBERTO - (completou o pensamento) Do que meu pai!
BRANCA - É preciso que você esteja preparado...
ALBERTO - Estou arrasado...
BRANCA - Eu tenho toda a culpa, eu sei.
ALBERTO - Que é que a senhora acha, mãe? Até agora eu defendi a senhora, achando que não podia estar envolvida numa trama tão absurda!
BRANCA - (apelou para o sentimentalismo) Alberto, meu filho! Eu prefiro morrer a ver você contra mim!
ALBERTO - Não posso estar a favor dessa sujeira, mãe!
A mulher apontou para o corpo inanimado sobre a cama. Ao alto o Cristo de ferro sobre a cruz de madeira.
BRANCA - Ele... só merece a nossa piedade. Olha só uma coisa. (acendeu a luz do teto e se aproximou da cama acompanhada do filho).
ALBERTO - É um absurdo! Mal posso acreditar que esse homem seja meu pai!
Debaixo do lençol, envolto por uma manta de gaze, o tórax de Lourenço subia e descia, avermelhado pelo mercúrio. Braços e pernas com marcas profundas do acidente. Alguns pontos aqui e ali, na face amarelada. Alberto suspirou fundo.
BRANCA - Eu compreendo sua revolta. Pedi a Deus que você viesse. Me senti muito só desde que aquela coisa medonha aconteceu. Tenho rezado noite e dia para você compreender e me perdoar.
ALBERTO - Perdoar eu não perdôo. Só quero saber por que a senhora se envolveu nisso... e como teve coragem de deixar que essa farsa continuasse. Como não lhe doeu a consciencia ao ver a destruição de um homem, de sua vida, de seus sonhos, de suas ilusões? Não teve pena de João Coragem, mãe?
BRANCA - No começo, fui obrigada por seu pai. Me comprometi muito e tive medo de ser punida pelo que havia feito. Depois eu tentei me livrar dessa história, que passou a ser um pesadelo na minha vida. Principalmente depois que você se juntou ao bando de João Coragem. Muitas vezes pedi a seu pai para acabar com essa comédia estúpida. Mas ele estava obcecado... e vai continuar obcecado se conseguir escapar dos ferimentos. O diamante é a vida dele...
ALBERTO - E o desastre, como foi?
BRANCA - (suspirou fundo) Naquele dia... ele veio me buscar... tinha tudo pronto para embarcar para a Europa. Quis me obrigar a ir com ele. Tinha passaporte falso e tudo o mais. Fiquei desesperada, pensando em você. No carro... tentei matar Lourenço. Estava fora de mim... Ia atirar quando, pra desviar a arma das minhas mãos... ele fez uma manobra infeliz. Daí... bem (correu a mão pela testa ferida do marido) daí a gente quase morreu. Depois me arrependi. Nestes dias aqui, ao lado dele, pude pensar em toda a nossa vida e me arrependi.
ALBERTO - (fez a pergunta que há muito queria fazer) E... o diamante do João?
BRANCA - Ninguém sabe. Só ele. Deixou guardado num lugar que só ele conhece.
ALBERTO - Já voltou a si alguma vez?
BRANCA - Já, mas está muito mal. Não pode falar direito, sente fortes dores em todo o corpo e está sempre sob efeito de sedativos. Se ele morrer sem revelar onde está o diamante, ninguém nunca mais vai encontrar. (segurou brandamente o braço do filho) Seu pai precisa mais do seu perdão, do que da sua revolta.
ALBERTO - Acha que vou ficar de acôrdo? E ser cúmplice desse crime monstruoso que vocês cometeram?
BRANCA - Deixe seu pai melhorar pra gente ver o que vai fazer da nossa vida.
ALBERTO - (revoltado) Se escapar, ele vai continuar com essa farsa imunda! E eu não posso estar de acordo com isso, não!
A força de persuasão de Branca chegara ao fim, restava-lhe a reação enérgica. A violencia. O que fosse, mas que permitisse deixar o marido em liberdade. Ele precisava viver para levar ao fim a missão a que se dedicara. Escapar com o diamante que era dele, dele só! Embora metade do mundo o culpasse. Mesmo o próprio filho. Um rebelde!
BRANCA - Pois delate! Destrua a farsa! Faça o que você quiser! Se não mereço que você me perdoe, não me interessa mais continuar vivendo.
Estava claro que a mãe não se entregaria e nem revelaria por vontade própria a trama diabólica engendrada pelo pai. Alberto desesperou-se ante a realidade e bateu furiosamente na parede clara do quarto.
ALBERTO - Diabo! Por que vocês se envolveram nisso?
CORTA PARA:
CENA 2 - ALDEIA DE JOÃO - CHOUPANA - INT. - DIA.
Duda não acreditava na fidelidade do filho de Lourenço. Para ele, era um homem como outro qualquer, envolvido numa emaranhada trama de maldade e traições. Chegara atrasado ao encontro e só lhe restava aguardar, com calma, o retorno do rapaz.
Alberto voltou estranho. Absorto. Respondendo com má vontade às perguntas dos companheiros.
ALBERTO - Antes de me agredir com tanta pergunta, me diga, quem foi que disse que eu fui ver minha mãe?
DUDA - (cerrou os dentes, controlando a raiva) Foi um besourinho verde que me falou no ouvido.
ALBERTO - Eu podia não ter ido, não é? A gente ficou de se encontrar para ir juntos...
DUDA - Pois é. Mas eu não apareci porque a perna me doeu muito. E garanto que você não me esperou coisa nenhuma. Você foi correndo se encontrar com sua mãe no hospital de Belo Horizonte, mal eu virei as costas. Não venha com mentira pra cima de mim, não.
ALBERTO - (aparentava descontrole íntimo) Claro... que fui ver minha mãe... eu estava muito curioso... e aflito, também.
DUDA - E então: Ernesto Bianchinni é ou não é seu pai?
A emoção emudeceu o jovem. João interveio em seu socorro.
JOÃO - Ele já andou me contando tudo sobre isso, Duda.
DUDA - O que foi que ele contou?
JOÃO - É uma situação muito chata pra ele, mano. Eu compreendo muito bem...
DUDA - (quase gritou, enervando o outro) Mas que foi que ele te disse, pombas...
JOÃO - (dirigiu-se ao rapaz, com amabilidade) Me dá permissão, Alberto? Eu falo...
ALBERTO - Faça o que quiser, João.
JOÃO - O rapaz... tá desorientado... porque não quer aceitar a união da mãe dele com esse tal de Ernesto Bianchinni...
DUDA - (perdeu a paciencia diante da ingenuidade do irmão) Até você? Até você vem com essa tapeação pra cima de mim?
JOÃO - (interveio, decidido, impedindo que os dois se atracassem ali mesmo) Calma, Duda! Que é isso? O rapaz explicou tudo!
DUDA - Ele tá mentindo! (replicou, com convicção) Tá te enganando. Entrou na panela!
JOÃO - Que é isso, irmão? Eu confio no rapaz. Até hoje só tem me dado prova de lealdade. É meu amigo! Cem por cento. Já passou o diabo por minha causa...
DUDA - Pode ter feito tudo isso. Mas agora, ele tá mudado, João! Tá mudado e com certeza tá de olho no teu diamante que tá com o pai dele!
Na verdade o jovem sofria. Não mentira por amor ao dinheiro, às vantagens que poderia lhe trazer a venda do diamante, que nem sabia se um dia viria a ter em suas mãos. Sofria por ter de esconder a verdade da história, a participação da mãe na trama que levara um jovem á marginalidade.
ALBERTO - Isso, não, viu? (respondeu, quase chorando) Isso não é verdade, eu juro! Eu juro por tudo quanto é santo, João! Não tenho interesse em nada!
DUDA - Jura, também, por tudo quanto é santo, que Ernesto Bianchinni não é teu pai? Jura, anda!
Não restava outra saída ao adolescente.
ALBERTO - Eu... eu juro, pronto!
DUDA - E vocês não acham muita coincidencia... que eu tenha visto esse homem... justamente ele... em São Paulo?
ALBERTO - Ele... eu acho que... ele se parece com meu pai... justamente por isso... minha mãe se uniu a ele.
Os homens se entreolharam.
DUDA - (irritado) Que mentira esfarrapada! Essa, não, João!
JOÃO - Calma, Duda! (replicou, com a mansidão que caracterizava seus gestos nos momentos graves) Pra fim de conversa a gente vai na capital de Belo Horizonte deslindar essa história. Se ele tá tão grave assim, como se diz, não deu tempo dele deixá o hospital. Deve de tá por lá, em tratamento, garanto que sim.
DUDA - Pois vou! (gritou) Vou nesse momento! Tinha até mandado o Dr. Rodrigo levar o Delegado Falcão pra tomar conhecimento do caso... mas agora, eu acho que devo ir, de qualquer jeito!
JOÃO - Se o Falcão vai, não convém eu ir (ponderou, balançando a cabeça em sinal de negação) Num adianta, não! Num fica bem a gente se encontrá.
DUDA - Pode deixar, meu irmão, eu mesmo cuido disso. Você sabe que em teu irmão você pode confiar...
Os olhos do jovem fitaram significativamente os do filho de Lourenço. Alberto baixou a cabeça, humilhado. João percebeu o gesto do adolescente.
JOÃO - Fica assim, não (disse-lhe, afagando-lhe a cabeça) Eu ainda acredito na tua lealdade.
Alberto deixou o local da reunião inteiramente perturbado. A atitude amiga de João Coragem transtornara-o mais do que as investidas ferinas de Eduardo. Doía-lhe trair a confiança do amigo. Alberto correu para que ninguém surpreendesse as primeiras lágrimas que lhe escapavam, incontroláveis. Alguma coisa como uma bola dançava-lhe na garganta. Uma bola ou um diamante? Lembrou-se do pai.
FIM DO CAPÍTULO 97
Alberto (Michel Robin) |
E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...
*** Rodrigo e o Delegado Falcão combinam ir juntos a Belo Horizonte investigar a história de Lourenço / Bianchinni
*** Lídia diz a Jerônimo que vai desistir dele, pois não pode competir com seu amor por Potira!
NÃO PERCA O CAPÍTULO 98 DE
Toni, pobre Alberto, eu não gostaria de estar no lugar dele! O pior de tudo foi saber que a mãe participou dessa encenação,e que ela não era digna de confiança, uma constatação terrível! E ainda por cima, ter que trair João, quanto desgosto! Legal esse capítulo. Bjs.
ResponderExcluir