sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

O HOMEM QUE DEVE MORRER - CAPÍTULO 111 - TONI FIGUEIRA


Novela de Janete Clair

Adaptação de Toni Figueira

CAPÍTULO 111

Participam deste capítulo

Baby  -  Cláudio Cavalcanti
Inês  -  Betty Faria
Ester  -  Glória Menezes
Paulus  -  Emiliano Queiroz
Padre Miguel  -  Artur Costa Filho
Lia  -  Arlete Salles
Dr. Max  -  Álvaro Aguiar
Ricardo  -  Edney Giovenazzi
Orjana  -  Neusa Amaral



CENA 1  -  PORTO AZUL  -  HOSPITAL  -  QUARTO DE NANÁ  -  INTERIOR  -  DIA

DR. MAX TINHA OPERADO A PACIENTE, COM ÊXITO, MAS SEU ESTADO AINDA ERA CLASSIFICADO DE MUITO GRAVE.

LIA  -  Como está ela, doutor?

DR. MAX  -  Muito mal. Sobreviveu à operação, mas entrou em estado de coma.

LIA  -  E... e quanto tempo ela pode permanecer assim?

DR. MAX  -  Talvez um dia... dois... talvez o resto da vida. É imprevisível.

CORTA PARA:

CENA 2  -  PORTO AZUL  -  DELEGACIA  -  GABINETE DO DR. MOREIRA  -  INTERIOR  -  DIA

MAS O DR. MOREIRA NÃO ERA TÃO FRACO COMO MOSTRAVAM AS APARÊNCIAS. HAVIA RESQUÍCIOS DE ENERGIA E DE CARÁTER DEBAIXO DA CAPA DE MEDO E HUMILDADE QUE APRESENTAVA.

DISCOU UM NÚMERO COM DEDOS NERVOSOS, TRÊMULOS.

DELEGADO  -  Alô? Telefonista? Me ligue com urgência para a Secretaria de Segurança em Florianópolis.

ESPEROU ALGUNS MINUTOS, COM O FONE AO OUVIDO, ENQUANTO OUVIA O RÁDIO DIVULGAR NOTÍCIAS SOBRE O ATENTADO CONTRA A VIDA DA DONA DO CABARÉ DE PORTO AZUL. TENTOU CAPTAR DETALHES DO NOTICIÁRIO RADIOFÔNICO. MAS ALGUÉM DO LADO DE LÁ DA LINHA JÁ O CHAMAVA COM VOZ APRESSADA.

DELEGADO  -  Alô? Dr. Secretário? Aqui é o delegado de Porto Azul. Sim, ele mesmo. Doutor, eu estou enfrentando problemas muito sérios aqui... creio que vou precisar do seu auxílio urgente.

CORTA PARA:

CENA 3  -  ALDEIA DOS PESCADORES  -  CHOUPANA DE  MESTRE JONAS  -  SALA  -  INTERIOR  -  DIA

SEM CONHECER DETALHES DO CRIME, PADRE MIGUEL TINHA PROCURADO PESSOALMENTE BABY LIBERATO PARA LHE RELATAR A NOVIDADE DESAGRADÁVEL.

INÊS  (enxugando as lágrimas que lhe escorriam pelas faces)  -  Mas, padre, não se sabe quem foi? Não se sabe por que motivo?

PADRE  -  Dizem que foi um homem do prefeito.

BABY  -  (revoltado) Covardes! Covardes!

INÊS  -  Mas que homem, padre?

PADRE  -  Bem... ela foi encontrada na casa do Tavares.

INÊS  -  Que miserável!

PADRE  -  Minha filha, eu não disse que foi o Tavares. Eu não o estou acusando. Ainda não se tem certeza de nada. O estado dela é desesperador.

BABY  -  O senhor disse que foi Lia quem a socorreu?

PADRE  -  Foi. Eu soube disso através de uma filha de Maria que é atendente lá no hospital.

INÊS  -  Agora eu tenho certeza de que aquele bilhete era falso. Se não fosse... que interesse teria Otto em mandar matá-la? Só há uma maneira de saber: falando com Lia.

BABY  -  E quem vai falar com ela?

INÊS  -  Ora essa... quem havia de ser? Eu.

BABY  -  Pode ser o padre, por exemplo.

PADRE  -  Pelo amor de Deus não me meta mais em confusão.

INÊS  -  Posso ir vestida de freira e me encontrá com Lia na sacristia, né, padre?

PADRE  -  De freira? Valha-me Deus!

O PADRE JUNTOU AS MÃOS, CONTRITO.

CORTA PARA:

CENA 4  -  HOSPITAL  -  EXTERIOR  -  NOITE

O CARRO DO PADRE PAROU NAS CERCANIAS DO HOSPITAL.

CENA 5  -  HOSPITAL  -  QUARTO DE NANÁ  -  INTERIOR  -  NOITE

LIA MANTINHA UMA DAS MÃOS DE NANÁ ENTRE AS SUAS, QUANDO A ENFERMEIRA ENTROU NO QUARTO.

ENFERMEIRA  -  (falou baixo) Dona Lia. Acabo de receber um recado do Padre Miguel. Ele pede pra senhora dar um pulinho com urgência lá na igreja.

LIA  -  (estranhou) Na igreja?

ENFERMEIRA  -  É, sim senhora. Disse que tem lá uma pessoa querendo falar com a senhora... e que é assunto muito importante.

A ESPOSA DE OTTO MULLER BENZEU-SE ANTES DE TOMAR UMA DECISÃO DEFINITIVA.

CORTA PARA:


CENA 5  -  CASA DE ESTER  -  SALA  -  INTERIOR  -  DIA

PAULUS SORRIU AO APRESENTAR O PADRE.

PAULUS  -  ... da igrejinha de Sacramento, Ester. Lá no interior... (levou o sacerdote até o meio da sala, sentando-se ambos no sofá confortável) Aceita uma bebida, padre?

PADRE  -  Um vinhozinho, filho, se tiver... O vinho não ofende a Deus e purifica a alma. (virou-se para Ester, descontraído) Ah, minha filha, se não fosse o pedido tão significativo do meu amigo, Dr. Paulus... juro por Deus que não teria vindo. A viagem de ônibus até aqui é terrível... minha filha. Não pode nem imaginar o que se tem de suportar. Tou até aqui de poeira! (provou o vinho que Paulus lhe trouxe) Xerez? (estalou a língua) Ah, eu já havia me esquecido do gosto do xerez.

PAULUS  -  (cortou, aparentando nervosismo) Bem, padre... Vamos ao motivo que o trouxe aqui...

PADRE  -  Estou às suas ordens...

PAULUS  -  Dona Ester está interessada em informações sobre um casamento que o senhor realizou, padre. Um especial... dentre tantos que o senhor já selou. Há uns quinze dias...

PADRE  - Há uns quinze dias atrás... (cerrou o olho esquerdo como se retrocedesse no tempo) ... sim, me lembro. Era um homenzarrão, usava barba cerrada. O que mais me impressionou nele foram os olhos... uns olhos que pareciam entrar por dentro da gente.

AS REAÇÕES DE ESTER NÃO PASSARAM DESPERCEBIDAS AO ADVOGADO. À MEDIDA QUE O SACERDOTE FAZIA AS REVELAÇÕES, A MULHER ISOLAVA-SE DO MUNDO. ERA TODA CONCENTRAÇÃO NAS PALAVRAS QUE OUVIA.

PADRE  -  Também me lembro da noiva... que Deus me perdoe, mas era uma criatura encantadora... mostrava tanta felicidade... chegava a dar inveja. Eu me lembro tão bem deles porque formavam um casal fora do comum... sabe? Na certidão, ele declarou ser médico... sua carteira de identidade conferia...

AOS OLHOS ARGUTOS DE VICTOR PAULUS, AS REAÇÕES DE ESTER ESTAVAM CLARAS. CONCLUIU QUE NADA MAIS DEVERIA SER DITO. O OBJETIVO TINHA SIDO ALCANÇADO COM ABSOLUTO SUCESSO. ERA A PÁ DE CAL NO ROMANCE ESTER-CYRO VALDEZ.

PAULUS  -  Bem, padre... era somente isso que pretendíamos saber.

PADRE  -  Se é assim... não me resta outra coisa senão me despedir e convidá-los a um dia visitar Sacramento. Vão gostar...

O PADRE ESTENDEU A MÃO A ESTER, AO MESMO TEMPO EM QUE ENDEREÇAVA UM OLHAR COMUNICATIVO AO ADVOGADO DE OTTO MULLER.

SAÍRAM DA SALA.

CORTA PARA:

CENA 6  -  CASA DE ESTER  -  SALA  -  INTERIOR  -  DIA

A DECISÃO FORA TOMADA NUM MOMENTO DE EXALTAÇÃO EMOCIONAL, MAS TODA A CIDADE FICOU LOGO POR DENTRO DA NOTÍCIA. INCLUSIVE ORJANA, QUE NÃO CONSEGUIA ENTENDER A REPENTINA MUDANÇA DE ATITUDE DA EX-ESPOSA DE SEU FILHO.

ORJANA  -  Não posso acreditar, Ester!

ESTER  -  Mas é verdade. Eu me caso com Paulus. Vocês não viram a notícia no jornal?

ORJANA  -  Sim. E nos deixou chocados. A mim e a Ricardo.

ESTER  -  Por quê? Não sou uma mulher livre? Não posso me casar com quem bem entenda?

ORJANA  -  Mas é que Paulus...

ESTER  -  O que tem ele?

ORJANA  -  (segurou suas mãos com meiguice) Procure entender, Ester... No estado... em que você está... nós pensávamos que... depois da revelação que tivemos...

ESTER  -  Bem... e daí?

RICARDO  -  (interveio) Julgávamos que você jamais pretendesse se ligar a outro homem.

ESTER  -  (explodiu) Só porque vou ser mãe? Isto não altera as coisas... em nada.

RICARDO  -  Desculpe... não entendi. Não altera o quê?

ESTER  -  O fato dele haver se casado com Vanda Vidal.

O ESPANTO MODIFICOU A FISIONOMIA DO CASAL.

RICARDO E ORJANA  -  (falaram quase ao mesmo tempo) Como?

RICARDO  -  Então, é por isso que você tomou essa resolução?

ESTER  -  É.

RICARDO  -  Não vê que essa notícia pode ser simples boato? O povo, às vezes, fala por falar. Afinal, até agora nada se soube de positivo. Nenhuma prova concreta.

ESTER  -  Eu tive essa prova! Conversei com o padre que celebrou o casamento dos dois...

CORTA PARA:

CENA  7  -  PORTO AZUL  -  IGREJA  -  INTERIOR  -  DIA

INCRÉDULOS DIANTE DA REVELAÇÃO, ORJANA E RICARDO DECIDIRAM PROCURAR A AJUDA DO VIGÁRIO DE PORTO AZUL. PADRE MIGUEL PODERIA ENCONTRAR A CHAVE DO MISTÉRIO. A TARDE JÁ IA EM MEIO E O SACERDOTE, VESTINDO UMA BATINA BRANCA,    DEIXOU A SACRISTIA COM O LIVRO DE ORAÇÕES NA MÃO DIREITA.

PADRE  -  Como estão, meus filhos?

RICARDO  -  Padre Miguel... queríamos sua ajuda. O senhor conhece o vigário da cidadezinha de Sacramento?

PADRE  -  (pensou um pouco antes de responder) O vigário de Sacramento? Sim. Um homem alto, careca, de óculos. Por quê?

RICARDO  -  Ele esteve ontem, aqui, em Porto Azul?

PADRE  -  Que eu saiba, não. Teria me procurado...

ORJANA  -  Nós soubemos que ele havia celebrado o casamento de Cyro com Vanda Vidal. Ele conversou com Ester.

PADRE  -  Ele sempre foi um sujeito esquisitão. Deve ter vindo mesmo. É estranho... mas deve ter vindo sim.

RICARDO  -  O senhor não poderia entrar em contato com ele para esclarecer tudo, padre?

PADRE  -  Claro. Eu vou me comunicar com o vigário de Sacramento. Mas só posso fazer isso por carta. E vai demorar. Sacramento fica muito longe e vocês sabem como é o correio por esses lados...

FIM DO CAPÍTULO 111

... E NA PRÓXIMA TERÇA, CAPÍTULO INÉDITO!

2 comentários:

  1. Ainda bem que o delegado não se vendeu. Vamos esperar para ver...

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  2. Será que Paulus inventou um falso padre para enganar Ester? Achei muito engraçado. Até chegar a carta com a resposta do vigário de Sacramento, muita coisa deve ter acontecido. Fiquei com pena de Ester.

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