sexta-feira, 31 de outubro de 2014

O HOMEM QUE DEVE MORRER - CAPÍTULO 78 - TONI FIGUEIRA


Novela de Janete Clair

Adaptação de Toni Figueira

CAPÍTULO 78

Participam deste capítulo

Baby  -  Claudio Cavalcanti
André  -  Paulo José
Ricardo  -  Edney Giovenazzi
Daniel  -  Paulo Araújo
Pé-na-Cova  -  Antonio Pitanga
Pedrão  -  Waldir Onofre
Cesário  -  Carlos Eduardo Dolabella
Otto  -  Jardel Filho
Comendador Liberato  -  Macedo Neto


CENA 1 -  VALONGO  -  MINAS  -  GALERIA M-13  -  INTERIOR  -  DIA

BABY  -  Temos de mandar dinamitar este pedaço para aprofundar mais a galeria e aproveitarmos melhor o veio de carvão. Como está, não dá mais nada!

BABY ABRIRA O MAPA DAS GALERIAS INTERNAS E MOSTRAVA UM PEQUENO TRECHO COM O INDICADOR.

ANDRÉ  -  E o que tenho de fazer?

BABY  -  Me traga 3 dinamitadores. Vá. Espero aqui.

BABY LIBERATO RETIROU A PEQUENA GARRAFA DE UÍSQUE DO BOLSO TRASEIRO E ENGOLIU UMA DOSE DA BEBIDA. SENTIU A GARGANTA ARDER E A CABEÇA RODAR.

CORTA PARA:

CENA 2  -  ADMINISTRAÇÃO DAS MINAS  -  ESCRITÓRIO  -  INTERIOR  -  DIA

ANDRÉ SUBIU, ATRAVESSANDO TRÊS ETAPAS DE GALERIAS E CORREU AO ESCRITÓRIO. LÁ ESTAVA O HOMEM COM QUEM DESEJAVA FALAR: RICARDO, O ENGENHEIRO.

ANDRÉ  -  Baby está na galeria M-13.

RICARDO  -  Sozinho?

ANDRÉ  -  Não. Com três dinamitadores. Ele deu ordem para dinamitar aquele trecho e aprofundar mais a galeria.

RICARDO  -  (empalideceu) Aquele trecho? Vá até lá e diga a Baby que  ele  não  pode  dinamitar  aquela  área.  Por  ali passa um rio subterrâneo e é perigoso. É preciso ter muito cuidado. Nós temos de abandonar aquela galeria. Vamos abrir outra, indo pelo lado contrário.

ANDRÉ  -  Por que não vai dizer isso a ele?

RICARDO  -  Porque estou inspecionando outro trabalho importante. Vá você até lá e repita a ele minhas palavras. Entendido?

ANDRÉ  -  Entendido, sim senhor.

CORTA PARA:

CENA 3  -  MINAS  -  GALERIA M-3  -  INTERIOR  -  DIA

ANDRÉ VIU BABY DANDO ORDENS AOS TRÊS ESPECIALISTAS EM DINAMITAÇÃO. NOTOU A EMBRIAGUEZ DO CHEFE.

ANDRÉ -  Deve parar com isso, Seu Baby. Dr. Ricardo mandou lhe dizer que é perigoso. Por aqui passa o rio subterrâneo e vai inundar as galerias.

BABY  -  (irritou-se com a intromissão) Dr. Ricardo não sabe nada! Manda o Dr. Ricardo às favas! (virou-se para os homens, nus da cintura para cima) Continuem! Eu é que dou as ordens.

UM DOS HOMENS ERGUEU O CORPO E OS DEMAIS O IMITARAM. BABY FAREJOU QUALQUER COISA NO AR.

BABY  -  Por que pararam?

OS HOMENS DEPOSITAVAM INTEIRA CONFIANÇA NO ENGENHEIRO E TINHAM OUVIDO A ADVERTÊNCIA.

HOMEM 1  -  Disculpe, patrão! (e falando para os outros) A gente num vai fazê burrada!

BABY PERDEU A COMPOSTURA E A DIGNIDADE DE EMPREGADOR. INVESTIU CONTRA OS OPERÁRIOS.

BABY  -  Seus idiotas! Ninguém vai dinamitar isto aqui em hora de trabalho! Vamos esperar terminar o expediente.

ANDRÉ  -  Desculpe, patrão. Eles tem razão. Sem ordem do engenheiro, acho loucura continuar!

BABY  -  Tá bem! Tá bem! Vão embora! Sumam daqui! Eu não preciso da ajuda de vocês! Sumam! Vamos!

OS DINAMITADORES LARGARAM OS CARTUCHOS E FERRAMENTAS NO CHÃO NEGRO DA GALERIA E AFASTARAM-SE PELO CORREDOR ESTREITO. ANDRÉ SEGUIU-OS, DEIXANDO BABY SOZINHO.

BABY  -  (olhou o relógio de pulso) Ainda há tempo... tenho duas horas... duas horas de sobra... duas horas de espera... de pensamento... de recordação... e de torturas. Quando todo mundo sair... quando não restar mais nenhum mineiro aqui dentro... eu acendo o estopim. Tudo estará terminado... para sempre! (enquanto pensava alto, trabalhava com rapidez – cortou os fios de ligação e instalou as bananas em diversos setores da galeria) Eu espero... esperei tanto tempo... duas horas passam depressa. Ouço daqui a sirene...os empregados vão embora... eles pensam que eu saí e eu finjo que saio com eles. Quando não tiver mais ninguém, eu volto... e acabo com tudo... e até com as recordações. Adeus, Baby Liberato, filhinho de papai rico.   Adeus,   desmiolado,   inconsequente.  Não...  não  sou  tão inconsequente assim. Se fosse... não ia esperar a sirene tocar... para ficar sozinho... e me enterrar sozinho... aqui.

TINHA ACABADO DE INSTALAR O EXPLOSIVO E SENTARA-SE SOBRE O CARVÃO ENDURECIDO. TORNOU A OLHAR O RELÓGIO. PUXOU A GARRAFA DO BOLSO E ENTORNOU OUTRO GOLE DA BEBIDA. LIMPOU OS LÁBIOS COM O DORSO DE MÃO SUJA.

UMA HORA TINHA-SE PASSADO. BABY DORMIA ESCONDIDO ENTRE DUAS VIGAS DE AMPARO, ENCOLHIDO SOBRE O CHÃO ENEGRECIDO DE MINÉRIO. A GARRAFA CONTINUAVA PRESA À MÃO. ABRIU OS OLHOS E TORNOU A BEBER UM POUCO MAIS. QUASE VAZIA!

O RELÓGIO A CENTÍMETROS DOS OLHOS DAVA-LHE NOÇÃO DO TEMPO.

BABY  -  Ainda tenho uma hora. Uma hora...

CORTA PARA:


CENA 4  -  MINAS  -  GALERIA M-3  -  INTERIOR  -  DIA

DE REPENTE O RAPAZ DESPERTOU COM O ZUMBIDO ESQUISITO. VIU, APAVORADO, O PASSEIO DO FOGO EM DIREÇÃO ÀS BANANAS DE DINAMITE. ALGO TINHA ACONTECIDO. BABY LEVANTOU-SE DE UM SALTO. O CHEIRO DE PÓLVORA ENCHIA TODA A GALERIA. TENTOU APAGAR O ESTOPIM COM O PÉ. SONOLENTO E MEIO BÊBADO, TINHA OS MOVIMENTOS LENTOS. O FOGO CONTINUAVA SEU TRAJETO NA DIREÇÃO DA MORTE. OLHOU O RELÓGIO.

BABY  -  Hora de expediente! Os trabalhadores! (correu a gritar pelas   galerias)   Cuidado!   Vai  explodir!   Todos   para  fora!  Vai explodir! (a voz ecoava por entre túneis e recantos) A câmara 20 vai explodir!

BABY ENTROU PELA GALERIA PRINCIPAL APINHADA DE OPERÁRIOS. OS MINEIROS IMOBILIZARAM-SE ANTE A ADVERTÊNCIA DO CHEFE.

DANIEL PERCEBEU O DESESPERO DO CUNHADO PUXOU-O PELO BRAÇO.

DANIEL  -  Se assusta assim, não. Só explode o trecho da câmara 20. A gente aqui não tem nada com isso!

BABY  -  (atônito) Não! O trecho está todo condenado! Podem explodir outras galerias! Tem gente na câmara 18! Na 19! Eles correm o maior perigo!

PEDRÃO  -  (berrou, alto e forte) Toca o alarme, gente!

DANIEL  -  Vamo avisá o pessoal das outras câmara! 18 e 19! Correm perigo!

MARTINS VIBROU O ALARME, ENSURDECENDO OS MAIS PRÓXIMOS. O TEMPO ESCOAVA. BABY CORRIA DE UM LADO PARA OUTRO.

PÉ-NA-COVA E DANIEL ALCANÇARAM A ENTRADA DAS GALERIAS CONDENADAS ONDE SEIS HOMENS TRABALHAVAM DESATENTOS AO SINAL.

PÉ-NA-COVA  -  Não tão ouvindo o alarme? Sai todo mundo!

OS MINEIROS ATIRARAM AS PÁS E PICARETAS NO CHÃO E SE PREPARARAM PARA SAIR. TUDO ACONTECEU COMO SE UM TERREMOTO ABALASSE O SOLO, REDUZINDO-O A FRANGALHOS.

TONELADAS DE CARVÃO DE PEDRA ROLARAM PELAS GALERIAS ENQUANTO A POEIRA ENEGRECEU O AMBIENTE, E UM BARULHO INFERNAL DAVA A IDEIA DE QUE O MUNDO TINHA VINDO ABAIXO.

BABY  -  (gritava, fora de si) Os homens! Os homens estão lá!

O PÂNICO GENERALIZARA-SE NO SUBSOLO.

PEDRÃO  -  (as costas lanhadas e negras de pó de carvão) Vamos pedir socorro!

COMO UM FORMIGUEIRO ENTUPIDO DE FUMAÇA, A BOCA DA MINA EXPELIA PÓ PRETO E DEZENAS DE HOMENS SAÍAM, EM DESESPERO, ATIRANDO-SE NA VEGETAÇÃO DA PRAÇA. ALGUNS CEGOS DE POEIRA, OUTROS SURDOS PELA REPETIÇÃO SONORA DA EXPLOSÃO. A MAIORIA COM ESCORIAÇÕES PELO CORPO, CAUSADA PELA QUEDA DE BLOCOS DE MINÉRIO E VIGAS DE SUSTENTAÇÃO. A MINA LEMBRAVA UM CAMPO DE LUTA.

CORTA PARA:

CENA 5  -  ADMINISTRAÇÃO DAS MINAS  -  ESCRITÓRIO  -  INTERIOR  -  DIA

OTTO  -  Um irresponsável! Um louco!

O COMENDADOR LIBERATO CHEGARA PRESSUROSO. FORA CHAMADO ÀS PRESSAS.

OTTO  -  O senhor é o responsável por isso! Não deu a ele a direção das minas? Está aí o resultado!

COMENDADOR  -  Creio que não é hora de apontar responsabilidades. É hora de agir, você não acha, Otto? Há vítimas?

OTTO  -  Claro que há! Talvez a esta hora estejam todos mortos! Ai... estou cansado!

LIBERATO DIRIGIU-SE A PASSOS APRESSADOS EM DIREÇÃO À ENTRADA DAS MINAS. RESPEITOSAMENTE, OS HOMENS AFASTAVAM-SE, DANDO PASSAGEM AO MILIONÁRIO.

CORTA PARA:

CENA 6  -  MINAS  -  GALERIA M-3  -  INTERIOR  -  DIA

NO FUNDO DA TERRA, BABY QUASE DESISTIRA. O SILENCIO ERA CONSTRANGEDOR. NINGUÉM RESPONDIA AOS CHAMADOS DOS MINEIROS.

CESÁRIO  -  Sabe por quê? Porque tão tudo morto!

BABY  -  (berrou, imundo, sujo de carvão da cabeça aos pés) Mentira!

CESÁRIO  -  Tão tudo morto, sim! E sabe quem matou? Um mocinho rico, metido a fazê graça! Desta vez quis fazê graça com a vida dos outro!

RICARDO  -  (ordenou, enérgico) Vamos, continuem o trabalho! Temos de tirar os homens daí!

CESÁRIO  -  Morto... de que vai adiantá?

OS MINEIROS CONTINUAVAM CAVANDO COM DESTREZA, AFASTANDO OS BLOCOS DE MINÉRIO E AS VIGAS RACHADAS QUE IMPEDIAM O ACESSO ÀS GALERIAS SINISTRADAS.

FIM DO CAPÍTULO  78


... E NA PRÓXIMA TERÇA, CAPÍTULO INÉDITO!


SESSÃO CAPAS E PÔSTERES

A capa pertence à revista Amiga – TV Tudo nr. 311, publicada em 05 de maio de 1976.
Já o pôster é da revista Amiga – TV Tudo nr. 299, publicada em 11 de fevereiro de 1976.
Boa diversão!



SESSÃO FOTO QUIZ

A foto da semana passada é do ator Haroldo Botta.
Agora tentem descobrir quem é o garoto da foto.
Eis algumas pistas:
1) Este ator, já falecido, nasceu no ano de 1925.
2) Estreou em telenovelas em O Sorriso de Helena, no ano de 1964, na TV Tupi.
3) Participou de telenovelas como: Calúnia e O Anjo e o Vagabundo, na TV Tupi e A Próxima Atração, na Rede Globo.
Boa diversão!



quinta-feira, 30 de outubro de 2014

O HOMEM QUE DEVE MORRER - CAPÍTULO 77 - TONI FIGUEIRA


Novela de Janete Clair

Adaptação de Toni Figueira

CAPÍTULO 77

Participam deste capítulo

Cyro  -  Tarcísio Meira
Mestre Jonas  -  Gilberto Martinho
Inês  -  Betty Faria
Baby  -  Claudio Cavalcanti
Otto  -  Jardel Filho
Catarina  -  Lídia Mattos
Luana  -  Léa Garcia
Orjana  -  Neusa Amaral


CENA 1  -  FLORIANÓPOLIS  -  PALACETE DO COMENDADOR LIBERATO  -  SALA  -  INTERIOR  -  DIA

BABY SEGUIU O CASAL E VIU QUANDO INÊS E O COMENDADOR ENTRARAM NUM RESTAURANTE AFASTADO. O ÓDIO TOMOU CONTA DO RAPAZ E SEU PRIMEIRO IMPULSO FOI SALTAR SOBRE OS DOIS E ESBORDOÁ-LOS ATÉ O FIM DE SUAS FORÇAS. RACIOCINOU E PREFERIU REGRESSAR À CASA. ZORAIDA E VERA PODERIAM LHE DAR EXPLICAÇÕES COM RESPEITO À VIDA EM COMUM DO PAI E DE SUA ESPOSA. POR UM INSTANTE, COMPREENDEU A ESTRANHA AFEIÇÃO QUE LEVAVA O VELHO A PERMITIR QUE ELA VESTISSE AS ROUPAS DE SUA MÃE, USASSE SUAS JÓIAS E PARTICIPASSE DE TODAS AS SUAS ATIVIDADES SOCIAIS.

E FOI COM UM CIÚME MISTO DE DESESPERO QUE BABY VOLTOU AO SOLAR, DIRIGINDO SEU CARRO-ESPORTE PELAS RUAS DE FLORIANÓPOLIS.

AS DUAS EMPREGADAS NADA SABIAM – OU NADA PODIAM INVENTAR SOBRE OS SUPOSTOS AMORES DE INÊS E LIBERATO – MAS O JOVEM, INVADINDO O ESCRITÓRIO, FORÇOU A GAVETA À PROCURA DAS CARTAS, DE UMAS MISTERIOSAS CARTAS, QUE A GOVERNANTA REVELOU TER VISTO INÊS LER DEMORADAMENTE POR MAIS DE UMA VEZ. E O COMENDADOR TINHA CONHECIMENTO DE TUDO.

AS CARTAS NÃO ESTAVAM MAIS ALI.

CORTA PARA:

CENA 2  -  PORTO AZUL  -  CHOUPANA DE MESTRE JONAS  -  EXTERIOR  -  NOITE

BABY DEIXOU QUE A NOITE CAÍSSE. INÊS NÃO TINHA REGRESSADO EM COMPANHIA DO PAI. SÓ LHE RESTAVA UMA INICIATIVA: IR A PORTO AZUL. TALVEZ A FAMÍLIA SOUBESSE DE SEU PARADEIRO. BABY BEBERA O DIA INTEIRO E JÁ CHEGOU AO LUGAREJO COMPLETAMENTE GROGUE.

BABY  -  (gritou, ao atingir o pequeno quintal à beira-mar) Inês!

ELA CORREU ATÉ À PORTA E ESPANTOU-SE COM A PRESENÇA DO MARIDO.

INÊS  -  Leandro!

BABY  -  (investiu contra a mulher como um louco) Sua... sua... imunda!

INÊS  -  (recuou) Você está bêbado!

BABY  -  Não interessa se estou bêbado! Interessa é o que você anda fazendo! Interessa é que já sei de tudo!

INÊS  -  Tudo... tudo o quê?

BABY  -  Sua... sua aventureira! Exploradora! Interesseira!

RETIROU DO BOLSO AS JOIAS QUE HAVIA RETIRADO DA GAVETA DO COMENDADOR.

INÊS  -  Que é isso?

BABY  -  É o que você queria... por que não disse? Pra te conquistar, bastava te encher de vestidos e de jóias, não é? Por que não me avisou que era isso que queria?

INÊS BAIXOU A CABEÇA, ENQUANTO O MARIDO ATIROU NOTAS DE DINHEIRO E JÓIAS EM CIMA DELA, ANTE O OLHAR ASSUSTADO DE LUANA. A AMANTE DE DANIEL CORREU EM DEFESA DA AMIGA.

BABY  -  Pensa que me engana? Por que não me disse, hem? Que você não faz questão de idade... não tem respeito entre pai e filho... que só queria se encher de grana? Eu tinha te dado, viu? Tinha te enchido também de jóias... mas não, você preferiu o velho, não preferiu? Ele te forçou a me deixar... pra sujeira não ficar tão grossa, não foi? Estou te perguntando, não foi?

AGARROU-A PELOS OMBROS, SACUDINDO-A VIOLENTAMENTE.

LUANA  -  Ela ta esperando filho, Seu Baby!

ELE SOLTOU-A LENTAMENTE.

INÊS  -  Que Deus te perdoe pelas tuas palavras... elas são do teu desespero... e tu tem toda razão. Mas Deus é testemunha de que elas não são verdadeiras...

REPENTINAMENTE FORA DE SI, BABY DESFERIU UM TAPA NO ROSTO DA ESPOSA.

BABY  -  Sua vigarista! Vigarista!

INÊS RODOPIOU E CAIU CONTRA A AREIA ACINZENTADA.

LUANA  -  (gritou, histérica) Pai! Pai!

JONAS COMPREENDEU O QUE SE PASSAVA E COMO UMA FERA ATIROU-SE CONTRA O GENRO, ROLANDO SOBRE A AREIA E O CAPIM RALO DO QUINTAL. EM ALGUNS SEGUNDOS A DESTREZA E A FORÇA DO VELHO PESCADOR FORAM SUFICIENTES PARA IMOBILIZAR E SUBJUGAR O JOVEM EMBRIAGADO. A MÃO DE JONAS COMEÇOU A ESTRANGULAR O RAPAZ. BABY ESTREBUCHAVA E TEVE UM INSTANTE DE LIBERDADE.

BABY  -  (falou, meio engasgado) Ela... está... esperando um... filho... e não... é... meu!

MESTRE JONAS  -  (lentamente, afrouxou as tenazes, e voltou o rosto para Luana e Inês)  O que é que ele ta dizendo?

INÊS  -  Eu tou esperando um filho... mas ele é o pai!

OS HOMENS HAVIAM-SE LEVANTADO.

BABY  -  Pergunte a ela por que me deixou. Pergunte por que aceita joias e presentes caros do meu pai. Pergunte por que não me disse até agora que ia ser mãe. Pergunte o que estava fazendo hoje com o velho num restaurante afastado. Pergunte por que ele lhe tem mandado bilhetes, marcando encontros. (gritava, alucinado) Pergunte! Pergunte! Ela não tem resposta! Não tem!

TROCANDO AS PERNAS, ÉBRIO, BABY LIBERATO DEIXOU A CHOUPANA E SE PERDEU NAS AREIAS DA PRAIA DE PORTO AZUL.

JONAS, DEPOIS DE UMA LONGA PAUSA, ENCAROU A FILHA. UM VINCO DE INQUIETAÇÃO MARCAVA-LHE A TESTA LARGA.

MESTRE JONAS  -  (falou, sombrio) Tu tem defesa?

LUANA  -  (interveio, mais calma) Conta pro teu pai, Inês! Conta tudo!

INÊS  - Não, Luana. Deixa.

LUANA  -  Eu digo tudo!

INÊS  -  Tu jurou, Luana!

MESTRE JONAS  -  Que é que tá acontecendo? Se tem defesa, diga! Se não tem, o caso muda de figura!

INÊS  -  (fitou-o com firmeza) Pai, em minha defesa basta minha palavra. Eu tou inocente. Não tenho nada com ninguém.

JONAS PERMANECIA ESTÁTICO.

MESTRE JONAS  -  Quando tu puder se defendê... tu volta pra tua casa. Antes disso, não...

CORTA PARA:


CENA 3  -  PORTO AZUL  -  PRAIA BONITA  -  EXTERIOR  -  DIA

A MANHÃ NASCERA RADIANTE COM O SOL DOURANDO O MAR POR ONDE DEZENAS DE EMBARCAÇÕES DESLIZAVAM IMPELIDAS PELO VENTO.

MESTRE JONAS AJUDAVA A PUXAR A REDE DE CHICO PESCADOR QUE PASSARA A NOITE EM ALTO MAR E VOLTARA CANSADO, MAS COM O BARCO ENTUPIDO DE PEIXES.

POR UM MOMENTO SEUS OLHOS NÃO IDENTIFICARAM O PEQUENO BOTE DE VELA BRANCA, MAS AOS POUCOS O VELHO PESCADOR FOI-SE APERCEBENDO. ERA ELE.

MESTRE JONAS  -  (gritou para o grupo de homens) Gente! Dr. Cyro voltô! Dr. Cyro voltô!

CORTA PARA:

CENA 4  -  FLORIANÓPOLIS  -  QUARTO DE OTTO  -  INTERIOR  -  DIA

OTTO MULLER EXPERIMENTAVA A PRIMEIRA GRANDE MELHORA DESDE A OPERAÇÃO A QUE FORA SUBMETIDO.

OTTO  -  (ordenou à mãe) ... E amanhã, avise os mineiros que Otto Muller vai voltar a trabalhar como antes!

CATARINA  -  Você ainda não pode, meu filho! Não está em condições! Está se recuperando de uma crise!

OTTO  -  (bateu no peito, imitando Tarzan) Eu me sinto muito bem... e quero provar a todos que me libertei de Cyro Valdez e posso, sozinho, abrir luta contra ele.

CATARINA  -  Otto, você me assusta. O que está pensando fazer?

OTTO  -  Já disse, mamãe! Vou lutar contra Cyro Valdez! Cheguei à conclusão... de que um de nós dois... é demais nesta terra!

CORTA PARA:

CENA 5  -  PORTO AZUL  -  PRAIA BONITA  -  EXTERIOR  -  DIA

CYRO SALTOU, ENFIANDO OS PÉS NAS ÁGUAS FRIAS.

JONAS ABRAÇOU-O E CONDUZIU-O ATÉ SUA HUMILDE CASA, ONDE O MÉDICO SE SENTOU, UM TANTO CANSADO PELA LONGA ESTICADA. DEIXARA A ILHA DOS CARDOS ANTES DO SOL NASCER E REMARA DURANTE VÁRIAS HORAS.

MESTRE JONAS  -  (rodeou-o, interessado) O cabelo... por que cortou?

CYRO  -  Pra me desvencilhar de tudo que me lembre a fase de minha vida, quando eu não tinha a minha definição.

MESTRE JONAS  -  Então... já tem!

CYRO  -  Já, Mestre Jonas! Já tenho! Já desvendei o mistério. Pedi a minha verdade e a encontrei. Eu vi a Luz e ela me deu a consciência do que estou fazendo aqui.

JONAS EMOCIONARA-SE ATÉ AS LÁGRIMAS QUE ROLAVAM DO SEU ROSTO MÁSCULO.

CORTA PARA:

CENA 6  -  PORTO AZUL  -  CHOUPANA DE MESTRE JONAS  -  SALA  -  INTERIOR  -  DIA

MESTRE JONAS  -  De onde você veio? Quem é você, afinal!

CYRO ENQUADROU O OCEANO PELA JANELINHA DE CORTINA POBRE. VIU OS PESCADORES A TRABALHAR DURAMENTE.

CYRO  -  Para você eu sou a encarnação de um Grande Mestre. Para outros, vim de um planeta que deseja a paz. Para alguns sou um homem que estudou os poderes da mente. Não vou desfazer a ilusão de ninguém. Um mestre reencarnado, um ser do espaço, um homem dotado de poderes e boas intenções, um monge budista... não me importa. O objetivo é um só. Usar essa força a favor do bem. Ajudar os homens, mostrando um caminho de justiça, de bondade e humildade... salvando, na medida do possível, os que precisam de mim...

MESTRE JONAS  -  E a sua missão?

CYRO  -  Quando eu for embora, ela será compreendida. A Luz não me mandou lamentar... nem ficar parado... nem cruzar os braços. Ao contrário, Jonas (bateu nas costas do companheiro) agora é que vamos trabalhar!

O RAPAZ FOI SURPREENDIDO PELA VOZ ALEGRE DE MULHER QUE ACABARA DE CHEGAR.

ORJANA  -  Cyro! Cyro!

ORJANA BEIJOU-O, AMOROSAMENTE.

CYRO  -  Minha mãe!

ORJANA  -  Meu filho adorado! Você está bem? Foi ferido... está bem?

CYRO  -  Estou, mãe... não se preocupe... estou muito bem. Não se impressione com a minha roupa, a minha aparência... sou um médico, mas vou continuar aqui, entre os pescadores. E não preciso me vestir bem. Eu não vou voltar!

ORJANA  -  Mas por que, Cyro? Agora que foi comprovado que você agiu corretamente no caso do transplante, deve voltar a ocupar o seu lugar...

CYRO  -  Não, minha mãe, é aqui que eu vou viver de hoje em diante! É aqui que eu vou trabalhar, porque aqui... encontrei a minha paz!

HAVIA UM AR DE FELICIDADE NA EXPRESSÃO DO MÉDICO, AO DEMORAR-SE NA VISÃO DA CASA POBRE E DA PRAIA QUASE PERDIDA NA DISTANCIA.

ORJANA  -  (os lábios tremiam) E eu, meu filho? E eu?

CYRO  -  Fique com meus avós. Sempre que puder, eu vou ver vocês... e estamos pertinho um do outro.

ORJANA  -  Me deixe... então... ficar com você!

CYRO  -  Não, mãe... não vou arrastar ninguém... ao meu destino!

FIM DO CAPÍTULO 77

... E NA PRÓXIMA SEXTA, CAPÍTULO INÉDITO!