Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair
CAPÍTULO 87
PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
DUDA
RITINHA
DR. MACIEL
DELEGADO FALCÃO
PEDRO BARROS
JOÃO
JERÔNIMO
BRANCA
ALBERTO
CENA 1 - COROADO - MARGEM DE UM RIACHO - EXT. - NOITE.
A madrugada se anunciava no canto rouco dos galos. Rita e Duda andaram a pé durante longo tempo e de repente reconheceram o local.
DUDA - Se lembra desse lugar?
RITINHA - Sim!
Rita evitou um soluço e fez força para não ceder ao chôro. Mais bela do que nunca, com os cabelos soltos e a pele morena, de um tom castanho. Duda admirava a esposa, como um namorado embevecido, na primeira noite.
DUDA - Tudo igualzinho, né?
Rita assentiu. O jovem deitou-se sobre seu corpo, amarrotando o vestido rosa, de saia comprida e bordados dourados. Procurou-lhe os lábios. A moça virou o rosto, fugindo ao beijo.
RITINHA - Não.
DUDA - A diferença... é que, naquele tempo... eu não gostava assim de você... como gosto hoje.
RITINHA - E eu te adorava!
DUDA - Agora, mudaram as bolas... eu te adoro e você não liga mais pra mim.
RITINHA - (magoada) Tenho razão, ou não tenho?
DUDA - Já te expliquei tudo, benzinho. Já não te jurei que não tive culpa... nada tive a ver com aquela história da denúncia. Não te jurei pela nossa filha! Jamais me passou pela cabeça ir ter com os médicos mandões para denunciar um êrro do teu pai... mesmo não gostando dele. Não faria isso... por você. Você não acredita?
RITINHA - Eu não sei. A gente se engana tanto com as pessoas... A gente olha para a cara delas... confia, pensa: esse cara é bacana! É leal, gosta de mim. Vira as costas, pronto. O mesmo cara é capaz de tudo. Tou de um jeito que já não confio em mais ninguém, nesse mundo.
Eduardo acariciou-lhe o rosto, os cabelos, brincou com as mechas que lhe caíam sobre os ombros.
DUDA - A gente se gosta, Rita. Isso é que é importante. A gente tem que confiar um no outro. É muito chato a gente viver desconfiado de Deus e do mundo. A gente tem que se apegar a alguma coisa...
RITINHA - (abraçou-o, repentinamente, apaixonada, incontida) Pelo amor de Deus, Eduardo, tenta provar... prova que você não fez aquela coisa terrível.
DUDA - Eu vou provar, bem. E vou descobrir quem foi que fez. Só pra ter o direito de viver com você, de novo, do mesmo jeito de antes. (beijou demoradamente os lábios da esposa)Você vem comigo, amanhã?
RITINHA - Não se zangue, mas prove primeiro. Pra mim poder dizer pro meu pai, de cabeça alta: Olha, velho, ele não tem culpa. Ele tá inocente. Pra eu poder ver o pai sem ter vergonha de olhar, tá?
Duda olhou o céu. Pequenas brechas claras começavam a cortar a escuridão que envolvia o espaço. Alguns raios vermelhos infiltravam-se por entre as nuvens acinzentadas.
DUDA - Rita... tá amanhecendo o dia... como daquela vez.
RITINHA - Nossa! (colocou ambas as mãos no rosto) A mamadeira da nossa filha!
Duda continuou a abraçá-la sem querer soltá-la. No fundo, tinha medo. Desejava retê-la para o resto da vida.
CORTA PARA:
CENA 2 - COROADO - CASA DO DR. MACIEL - EXT. - DIA.
Seria difícil apontar quem gritava mais: Duda ou Maciel. Irado, como habitualmente, o velho médico descarregava seu ódio contra o genro que, mais uma vez, vinha roubar a tranquilidade do seu lar.
DUDA - O senhor não pode me proibir de ver a minha filha!
DR. MACIEL - Mas posso proibir-lhe de entrar na minha casa.
Ritinha sentara-se na sala e ouvia desolada a discussão. Vida infernal!
DUDA - (gritou) Quero ver a menina, Ritinha!
Maciel segurou, firma, a porta. E virou a cabeça para o interior da casa.
DR. MACIEL - Agora... está tudo muito bem. Garanto que ele te convenceu, sua boba, de que é um santo, de que não fez nada contra teu pai, não é?
DUDA - Olha aqui, isso é assunto meu! (com o dedo em riste) Meu e dela...
DR. MACIEL - Não é não, porque você a jogou na rua da amargura e agora fica tudo na mesma!
RITINHA - (com a mamadeira na mão, entrou na conversa) Papai, escuta ao menos! Duda jurou que não foi ele quem denunciou o senhor. A gente tem que acreditar nele.
DR. MACIEL - É claro! É claro que ele tem que dizer isso. Ele pode dizer tudo, que você vai acreditar.
CENA 3 - COROADO - CASA DO DR. MACIEL - INT. - DIA.
Duda conseguira dar uns passos no interior da sala e, nervoso, tirou um cigarro do maço quase inteiro. Engoliu a fumaça e deixou a carteira sobre a mesa de mármore.
DUDA - Eu tenho a minha consciencia limpa. Se o senhor acredita ou não, não me interessa.Interessa é que não se mêta mais na minha vida nem na de Ritinha. A gente tem o direito de viver bem, porque a gente se gosta e temos que pensar no futuro de uma criança que não pediu pra vir ao mundo.
DR. MACIEL - Que bonito! (ridicularizou, com uma expressão facial horrenda) Onde terá você aprendido a dizer coisas tão importantes?
DUDA - Sabe de uma coisa, seu doutor? Eu não estou aqui pra discutir, tá? Tou aqui pra reclamar os meus direitos. Só. E acho que tenho o direito de lhe pedir pro senhor deixar a gente resolver a nossa vida, sem se meter. Como é? Posso ou não ver a minha filha?
RITINHA - (respondeu no lugar do pai) Pode, né, pai? Ele pode subir, né?
DR. MACIEL - Que suba! Que faça o que quiser! Eu não me meto mais. Ninguém tem vergonha na cara!
Enquanto, de mãos dadas, o casal subia correndo as escadas, Maciel resmungava, amuado.
DR. MACIEL - Agora, passam uma esponja por cima de tudo e... pluft! Um passe de mágica... e tudo acabou! Nada aconteceu. Pluft! Pluft! Fácil, não é?
Aproximou-se do bar, encheu meio copo de aguardente e entornou, garganta adentro, sem respirar...
CORTA PARA:
CENA 4 - FAZENDA DE PEDRO BARROS - SALA - INT. - DIA.
Falcão colou o fone ao ouvido e prestou atenção ás palavras que lhe chegavam pelo fio. A meio metro Pedro Barros, de pijama, agasalhado, tentava captar o assunto. O velho coronel estivera doente, acamado e se levantara para tomar um pouco de ar, mesmo contrariando as determinações do médico. Lara voltara para João, estava com ele, e o ódio que Barros sentia parecia aumentar sua doença. Falcão continuava falando.
DELEGADO FALCÃO - Sim, eu compreendo. Está certo. Agradeço muito. Espero poder retribuir, um dia, na mesma moeda. Boa noite! (colocou o fone no gancho).
PEDRO BARROS - Tudo certo?
DELEGADO FALCÃO - Certíssimo. O reforço chega, mesmo, depois de amanhã. Acertei tudo com os delegados das duas cidades.
PEDRO BARROS - (sentou-se, estirando-se no sofá) Acha mesmo que Jerônimo foi ao encontro do irmão?
DELEGADO FALCÃO - Tenho quase certeza. Ele e Duda saíram misteriosamente da cidade. (antes que o coronel perguntasse, o delegado respondeu) Tentei seguir os dois. Eles perceberam, desviaram o caminho, aí achei melhor não entornar o caldo. Temos nas mãos uma boa oportunidade de João se entregar, sem briga. Ele não vai deixar que esse ataque se realize. Faz questão de parecer que é bom. Não é louco de deixar que a gente invada a aldeia lá dele, pra matar a gente que comanda.
PEDRO BARROS - (confiante, esquecendo-se da doença) Eu mesmo vou na frente dos homens. Eu mesmo vou comandar o ataque.
CORTA PARA:
CENA 5 - ALDEIA - EXT. - DIA.
JOÃO - (falava exaltado, diante da gravidade que Jerônimo emprestava á situação) Pois que venham! Que venham atacar a minha aldeia! Eles que se atrevam, se querem morrê!
JERÔNIMO - Mas, são muitos homens, mano. É uma luta inútil. Tu vai sacrificar tua gente por causa de quê? De um capricho? Entrega tua mulher, pelo menos, e eles te dão uma trégua!
JOÃO - (irredutível) Não faço isso! Volta e diz a eles que eu vou em frente!
Duda e João se abraçaram. Jerônimo deixou cabisbaixo a choupana de barro batido.
CORTA PARA:
CENA 6 - MORRINHOS - CASA DE BRANCA - INT. - NOITE.
Era noite em Morrinhos e as ruas se escondiam no manto negro que as envolveria até a madrugada. Branca correu a atender á porta. Haviam batido levemente. Abotoando o robe de listras vermelhas, a mulher girou a chave e à luz que se infiltrou pelas frestas, pôde identificar o visitante.
BRANCA - Alberto! (abraçou-se ao filho. com os olhos marejados. Às pressas fechou a porta da rua) Nossa Senhora, meu filho! Que felicidade!
ALBERTO - Vim com pressa, mãe...
BRANCA - Com pressa, meu filho? Depois de tanto tempo?
A mulher beijava o filho como se fosse perdê-lo dentro de minutos. Alberto sentou-se.
ALBERTO - Estou muito bem, mãe! Não tenho mais nada!
BRANCA - A vida que você está levando... a aventura em que se meteu. Graças a Deus... você voltou... você despertou a tempo... pra ver a bobagem que ia fazer.
ALBERTO - Não acordei em tempo de nada (replicou com certa aspereza) Não preciso acordar pra coisa nenhuma. Eu escolhi um destino e vou seguir ele.
BRANCA - (estremeceu ao ouvir as palavras do rapaz) Vai seguir? Você não está aqui... pra ficar?
ALBERTO - Não. A gente veio dar um passeio em Morrinhos. Os homens seguiram na frente e eu disse: vou dar um abraço na mãe, alcanço vocês logo. Foi o que fiz. Só vim matar um pouco as saudades...
BRANCA - (atordoada) Mas, você... está disposto mesmo a seguir esta vida... pra quê, meu filho? Por quê? Eu não entendo! Você sai daqui disposto a matar um homem... e depois passa para o lado dele. Eu... eu não entendo, Alberto!
Levantando-se, o adolescente foi até a janela. Fitou a escuridão e voltou a sentar-se na poltrona larga da saleta de espera.
ALBERTO - Mãe... esse home que eu queria matar... é inocente! (a revelação daquilo que já sabia desconcertou a mulher) Ele não matou meu pai. Não quero desrespeitar a memória do velho... mas ele cometeu muitos erros. Ele mesmo escolheu o fim que teve. A senhora sabe disso, não sabe?
Branca virou-lhe as costas para não trair a emoção. Estava visìvelmente abalada com os rumos da conversa.
BRANCA - De certa forma...
ALBERTO - Eu queria que a senhora conhecesse ele bem, como eu conheço!
BRANCA - Ele?
ALBERTO - João.
BRANCA - Por que... você está tão impressionado com esse homem? Um assassino, um foragido?
ALBERTO - Há alguma coisa que eu não sei explicar. Há uma verdade dentro dele, que atrai. A gente se sente impelido a seguir ele... e não sabe por quê. É como... assim como um santo... que a gente segue sem fazer perguntas.
A mulher voltou-se, enfurecida, com o olhar transtornado de quem acabara de ver algo sobrenatural.
BRANCA - Um santo que mata, que faz o que ele faz?
ALBERTO - Às vezes é obrigado a lutar porque forçam ele a isso. Mas, o que ele faz é só justiça. Só quer espalhar o bem. É um grande sujeito, mãe. Pode acreditar.
BRANCA - Você está arriscando a vida para seguir um homem fora-da-lei. Eu não posso me conformar com isso.
ALBERTO - (sorriu docemente e desvencilhou-se da mãe que o agarrara com força) Bobagem, mãe. Pela primeira vez, na vida, eu me sinto livre... de alguma coisa... que nem sei bem o que é. (beijou de leve a fronte da mulher) Té outra vez, mãe. Fica sossegada. Sempre que puder, venho aqui...
Com as mãos abertas e os braços estendidos, Branca viu o filho partir e se perder no meio da noite. Estava inteiramente só.
A madrugada se anunciava no canto rouco dos galos. Rita e Duda andaram a pé durante longo tempo e de repente reconheceram o local.
DUDA - Se lembra desse lugar?
RITINHA - Sim!
Rita evitou um soluço e fez força para não ceder ao chôro. Mais bela do que nunca, com os cabelos soltos e a pele morena, de um tom castanho. Duda admirava a esposa, como um namorado embevecido, na primeira noite.
DUDA - Tudo igualzinho, né?
Rita assentiu. O jovem deitou-se sobre seu corpo, amarrotando o vestido rosa, de saia comprida e bordados dourados. Procurou-lhe os lábios. A moça virou o rosto, fugindo ao beijo.
RITINHA - Não.
DUDA - A diferença... é que, naquele tempo... eu não gostava assim de você... como gosto hoje.
RITINHA - E eu te adorava!
DUDA - Agora, mudaram as bolas... eu te adoro e você não liga mais pra mim.
RITINHA - (magoada) Tenho razão, ou não tenho?
DUDA - Já te expliquei tudo, benzinho. Já não te jurei que não tive culpa... nada tive a ver com aquela história da denúncia. Não te jurei pela nossa filha! Jamais me passou pela cabeça ir ter com os médicos mandões para denunciar um êrro do teu pai... mesmo não gostando dele. Não faria isso... por você. Você não acredita?
RITINHA - Eu não sei. A gente se engana tanto com as pessoas... A gente olha para a cara delas... confia, pensa: esse cara é bacana! É leal, gosta de mim. Vira as costas, pronto. O mesmo cara é capaz de tudo. Tou de um jeito que já não confio em mais ninguém, nesse mundo.
Eduardo acariciou-lhe o rosto, os cabelos, brincou com as mechas que lhe caíam sobre os ombros.
DUDA - A gente se gosta, Rita. Isso é que é importante. A gente tem que confiar um no outro. É muito chato a gente viver desconfiado de Deus e do mundo. A gente tem que se apegar a alguma coisa...
RITINHA - (abraçou-o, repentinamente, apaixonada, incontida) Pelo amor de Deus, Eduardo, tenta provar... prova que você não fez aquela coisa terrível.
DUDA - Eu vou provar, bem. E vou descobrir quem foi que fez. Só pra ter o direito de viver com você, de novo, do mesmo jeito de antes. (beijou demoradamente os lábios da esposa)Você vem comigo, amanhã?
RITINHA - Não se zangue, mas prove primeiro. Pra mim poder dizer pro meu pai, de cabeça alta: Olha, velho, ele não tem culpa. Ele tá inocente. Pra eu poder ver o pai sem ter vergonha de olhar, tá?
Duda olhou o céu. Pequenas brechas claras começavam a cortar a escuridão que envolvia o espaço. Alguns raios vermelhos infiltravam-se por entre as nuvens acinzentadas.
DUDA - Rita... tá amanhecendo o dia... como daquela vez.
RITINHA - Nossa! (colocou ambas as mãos no rosto) A mamadeira da nossa filha!
Duda continuou a abraçá-la sem querer soltá-la. No fundo, tinha medo. Desejava retê-la para o resto da vida.
CORTA PARA:
CENA 2 - COROADO - CASA DO DR. MACIEL - EXT. - DIA.
Seria difícil apontar quem gritava mais: Duda ou Maciel. Irado, como habitualmente, o velho médico descarregava seu ódio contra o genro que, mais uma vez, vinha roubar a tranquilidade do seu lar.
DUDA - O senhor não pode me proibir de ver a minha filha!
DR. MACIEL - Mas posso proibir-lhe de entrar na minha casa.
Ritinha sentara-se na sala e ouvia desolada a discussão. Vida infernal!
DUDA - (gritou) Quero ver a menina, Ritinha!
Maciel segurou, firma, a porta. E virou a cabeça para o interior da casa.
DR. MACIEL - Agora... está tudo muito bem. Garanto que ele te convenceu, sua boba, de que é um santo, de que não fez nada contra teu pai, não é?
DUDA - Olha aqui, isso é assunto meu! (com o dedo em riste) Meu e dela...
DR. MACIEL - Não é não, porque você a jogou na rua da amargura e agora fica tudo na mesma!
RITINHA - (com a mamadeira na mão, entrou na conversa) Papai, escuta ao menos! Duda jurou que não foi ele quem denunciou o senhor. A gente tem que acreditar nele.
DR. MACIEL - É claro! É claro que ele tem que dizer isso. Ele pode dizer tudo, que você vai acreditar.
CENA 3 - COROADO - CASA DO DR. MACIEL - INT. - DIA.
Duda conseguira dar uns passos no interior da sala e, nervoso, tirou um cigarro do maço quase inteiro. Engoliu a fumaça e deixou a carteira sobre a mesa de mármore.
DUDA - Eu tenho a minha consciencia limpa. Se o senhor acredita ou não, não me interessa.Interessa é que não se mêta mais na minha vida nem na de Ritinha. A gente tem o direito de viver bem, porque a gente se gosta e temos que pensar no futuro de uma criança que não pediu pra vir ao mundo.
DR. MACIEL - Que bonito! (ridicularizou, com uma expressão facial horrenda) Onde terá você aprendido a dizer coisas tão importantes?
DUDA - Sabe de uma coisa, seu doutor? Eu não estou aqui pra discutir, tá? Tou aqui pra reclamar os meus direitos. Só. E acho que tenho o direito de lhe pedir pro senhor deixar a gente resolver a nossa vida, sem se meter. Como é? Posso ou não ver a minha filha?
RITINHA - (respondeu no lugar do pai) Pode, né, pai? Ele pode subir, né?
DR. MACIEL - Que suba! Que faça o que quiser! Eu não me meto mais. Ninguém tem vergonha na cara!
Enquanto, de mãos dadas, o casal subia correndo as escadas, Maciel resmungava, amuado.
DR. MACIEL - Agora, passam uma esponja por cima de tudo e... pluft! Um passe de mágica... e tudo acabou! Nada aconteceu. Pluft! Pluft! Fácil, não é?
Aproximou-se do bar, encheu meio copo de aguardente e entornou, garganta adentro, sem respirar...
CORTA PARA:
CENA 4 - FAZENDA DE PEDRO BARROS - SALA - INT. - DIA.
Falcão colou o fone ao ouvido e prestou atenção ás palavras que lhe chegavam pelo fio. A meio metro Pedro Barros, de pijama, agasalhado, tentava captar o assunto. O velho coronel estivera doente, acamado e se levantara para tomar um pouco de ar, mesmo contrariando as determinações do médico. Lara voltara para João, estava com ele, e o ódio que Barros sentia parecia aumentar sua doença. Falcão continuava falando.
DELEGADO FALCÃO - Sim, eu compreendo. Está certo. Agradeço muito. Espero poder retribuir, um dia, na mesma moeda. Boa noite! (colocou o fone no gancho).
PEDRO BARROS - Tudo certo?
DELEGADO FALCÃO - Certíssimo. O reforço chega, mesmo, depois de amanhã. Acertei tudo com os delegados das duas cidades.
PEDRO BARROS - (sentou-se, estirando-se no sofá) Acha mesmo que Jerônimo foi ao encontro do irmão?
DELEGADO FALCÃO - Tenho quase certeza. Ele e Duda saíram misteriosamente da cidade. (antes que o coronel perguntasse, o delegado respondeu) Tentei seguir os dois. Eles perceberam, desviaram o caminho, aí achei melhor não entornar o caldo. Temos nas mãos uma boa oportunidade de João se entregar, sem briga. Ele não vai deixar que esse ataque se realize. Faz questão de parecer que é bom. Não é louco de deixar que a gente invada a aldeia lá dele, pra matar a gente que comanda.
PEDRO BARROS - (confiante, esquecendo-se da doença) Eu mesmo vou na frente dos homens. Eu mesmo vou comandar o ataque.
CORTA PARA:
CENA 5 - ALDEIA - EXT. - DIA.
JOÃO - (falava exaltado, diante da gravidade que Jerônimo emprestava á situação) Pois que venham! Que venham atacar a minha aldeia! Eles que se atrevam, se querem morrê!
JERÔNIMO - Mas, são muitos homens, mano. É uma luta inútil. Tu vai sacrificar tua gente por causa de quê? De um capricho? Entrega tua mulher, pelo menos, e eles te dão uma trégua!
JOÃO - (irredutível) Não faço isso! Volta e diz a eles que eu vou em frente!
Duda e João se abraçaram. Jerônimo deixou cabisbaixo a choupana de barro batido.
CORTA PARA:
CENA 6 - MORRINHOS - CASA DE BRANCA - INT. - NOITE.
Era noite em Morrinhos e as ruas se escondiam no manto negro que as envolveria até a madrugada. Branca correu a atender á porta. Haviam batido levemente. Abotoando o robe de listras vermelhas, a mulher girou a chave e à luz que se infiltrou pelas frestas, pôde identificar o visitante.
BRANCA - Alberto! (abraçou-se ao filho. com os olhos marejados. Às pressas fechou a porta da rua) Nossa Senhora, meu filho! Que felicidade!
ALBERTO - Vim com pressa, mãe...
BRANCA - Com pressa, meu filho? Depois de tanto tempo?
A mulher beijava o filho como se fosse perdê-lo dentro de minutos. Alberto sentou-se.
ALBERTO - Estou muito bem, mãe! Não tenho mais nada!
BRANCA - A vida que você está levando... a aventura em que se meteu. Graças a Deus... você voltou... você despertou a tempo... pra ver a bobagem que ia fazer.
ALBERTO - Não acordei em tempo de nada (replicou com certa aspereza) Não preciso acordar pra coisa nenhuma. Eu escolhi um destino e vou seguir ele.
BRANCA - (estremeceu ao ouvir as palavras do rapaz) Vai seguir? Você não está aqui... pra ficar?
ALBERTO - Não. A gente veio dar um passeio em Morrinhos. Os homens seguiram na frente e eu disse: vou dar um abraço na mãe, alcanço vocês logo. Foi o que fiz. Só vim matar um pouco as saudades...
BRANCA - (atordoada) Mas, você... está disposto mesmo a seguir esta vida... pra quê, meu filho? Por quê? Eu não entendo! Você sai daqui disposto a matar um homem... e depois passa para o lado dele. Eu... eu não entendo, Alberto!
Levantando-se, o adolescente foi até a janela. Fitou a escuridão e voltou a sentar-se na poltrona larga da saleta de espera.
ALBERTO - Mãe... esse home que eu queria matar... é inocente! (a revelação daquilo que já sabia desconcertou a mulher) Ele não matou meu pai. Não quero desrespeitar a memória do velho... mas ele cometeu muitos erros. Ele mesmo escolheu o fim que teve. A senhora sabe disso, não sabe?
Branca virou-lhe as costas para não trair a emoção. Estava visìvelmente abalada com os rumos da conversa.
BRANCA - De certa forma...
ALBERTO - Eu queria que a senhora conhecesse ele bem, como eu conheço!
BRANCA - Ele?
ALBERTO - João.
BRANCA - Por que... você está tão impressionado com esse homem? Um assassino, um foragido?
ALBERTO - Há alguma coisa que eu não sei explicar. Há uma verdade dentro dele, que atrai. A gente se sente impelido a seguir ele... e não sabe por quê. É como... assim como um santo... que a gente segue sem fazer perguntas.
A mulher voltou-se, enfurecida, com o olhar transtornado de quem acabara de ver algo sobrenatural.
BRANCA - Um santo que mata, que faz o que ele faz?
ALBERTO - Às vezes é obrigado a lutar porque forçam ele a isso. Mas, o que ele faz é só justiça. Só quer espalhar o bem. É um grande sujeito, mãe. Pode acreditar.
BRANCA - Você está arriscando a vida para seguir um homem fora-da-lei. Eu não posso me conformar com isso.
ALBERTO - (sorriu docemente e desvencilhou-se da mãe que o agarrara com força) Bobagem, mãe. Pela primeira vez, na vida, eu me sinto livre... de alguma coisa... que nem sei bem o que é. (beijou de leve a fronte da mulher) Té outra vez, mãe. Fica sossegada. Sempre que puder, venho aqui...
Com as mãos abertas e os braços estendidos, Branca viu o filho partir e se perder no meio da noite. Estava inteiramente só.
FIM DO CAPÍTULO 87
E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...
*** Diana junta-se ao grupo de foragidos de João e Pedro Barros reúne os capangas para resgatá-la.
*** João ouve Lázaro dizer aos companheiros que Diana não presta, que tentou seduzi-lo, e parte para cima dele!
*** João ouve Lázaro dizer aos companheiros que Diana não presta, que tentou seduzi-lo, e parte para cima dele!
NÃO PERCA O CAPÍTULO 88 DE
Toni, gostei muito desse encontro de Duda e Ritinha e da reação do Dr. Maciel! E João, está disposto a tudo, impressionante! Legal como você descreve os personagens, seus gestos, etc. Muito bom! Bjs.
ResponderExcluirObrigado, Maria! Adoro seus comentários! Janete Clair colocava muita verdade e humanidade em suas personagens, e isso ajuda muito a contar sua história!
ResponderExcluir