O texto abaixo é de autoria de Paulo Mendes Campos.
Para maiores informações sobre o autor, favor acessar: https://www.ebiografia.com/paulo_mendes_campos/.
Boa leitura!
AS IRMÃS BRONTË
Pouco
se sabe sobre as irmãs Brontë. Ignoramos muito dos 39 anos que viveu Charlotte
e quase tudo dos 30 dezembros selvagens que viveu Emily.
O
mistério atiçou um sem número de escritores, sendo relativamente das mais ricas
na literatura inglesa a bibliografia delas. Objetivamente, porém, nenhuma das
pesquisas apresenta resultados definitivos, as interpretações são múltiplas e
desencontradas. Assim como Hamlet se enriquece de mistério à medida que se
procura defini-lo, da mesma forma as sucessivas interpretações que vêm sendo
feitas sobre esta ou aquela Brontë, ampliam a perspectiva de Yorkshire, mas não
espanejam a névoa que a envolve. E não há nenhum exemplar desta espécie literária
que é o poeta incapaz de exprimir-se que não tenha sofrido a sedução das
Brontë, deixando-se levar pelo desejo de resgatar-lhes o segredo. O resultado
não podia ser outro: há centenas de retratos de Emily e de Charlotte... à
imagem e semelhança das pessoas que os fizeram.
Charlotte,
acredita-se que tenha amado Heger, embora uma inglesa. May Sinclair afirma,
numa defesa bastante acrimoniosa, que a criadora de Jane Eyre, isenta de todas
as ilusões, manhas e corrupções do sentimentalismo, era incapaz de sentir em si
mesma a possibilidade da paixão.
Quanto
a Emily, é ainda muito mais improvável determinar a espécie de amor que a
possuía.
Embora
pouco esclarecido o seu sentimento para com Branwell, é mais acertado supor que
a intensidade de sua paixão transcendeu as pessoas, seja qual for o motivo, não
importa. Quem quiser que a contemple como uma jovem mística, “in love with the
absolute”. Quem não se afeiçoar a esta terminologia pode achar simplesmente,
com Virginia Woolf, que o amor de Emily Brontë foi inspirado em uma concepção
mais ampla, mais poética, diríamos, se significássemos com a palavra uma
complexa afetividade para com as coisas do mundo.
O fato, porém, é que
o véu em torno desta família, pela liberdade que concede, constituía um excelente
material para um filme. Hollywood, que já nos dera boas versões de Wuthering
Heights e Jane Eyre, duas novelas que os inúmeros defeitos se apagam na
potencialidade emocional da narrativa, apresenta-nos hoje uma história sobre as
autoras destes livros e a estranha família de que faziam parte. Se sob o ponto
de vista da autenticidade anedótica e dos temperamentos, esse filme não chega a
ser ridículo, como foi aquele sobre Edgard Poe, cabe-lhe infelizmente a qualificação
de bisonho. Com esse mesmo script tão apropriada para o cinema como a passagem dos
Brontë sobre a Terra. Poucas histórias exigem espontaneamente uma linguagem
fotográfica, uma linguagem ao mesmo tempo tão expressiva e tão muda como a
própria vida de Emily, Charlotte, Ann Branwell, o pastor, a tia e o
cachorrinho. Mais do que a literatura, está o cinema credenciado para
apresentar esta gente e o mito que se vai tecendo em torno dela. Entretanto,
mesmo sem medir a “chance” com a realização, o celuloide americano não satisfaz
o menos exigente dos curiosos admiradores daquelas moças. E não creio que
satisfaça igualmente ao crítico de cinema.Fonte: https://cronicabrasileira.org.br/cronicas/8194/as-irmas-bronte.