Capítulo 16 - Pressentimento
Emanuela
olhou para Érica, mas não disse uma só palavra.
— E
então? – insistiu, Érica indo em direção a ela. – Não vai me responder?
— O que
quer exatamente quer que eu faça?
— Quero
que se encontre com o Dr. Otávio e aceite a proposta dele. Afinal, ele é seu
avô, não é?
— Eu não
sei o que pensar...
— Como não
sabe? Ele é seu avô. Um dos homens mais ricos do país. Não tem porque ficar
assim.
Emanuela
suspirou.
— Durante
quase toda vida eu e minha irmã fomos órfãs e nunca sequer conhecemos nossa mãe
biológica, um dia uma pessoa desconhecida me diz que eu tenho um avô rico de um
pai que morreu há 18 anos. Como quer que eu reaja? Como se fosse a coisa mais
natural do mundo? Além do quê essa história ainda é muito estranha. Eu deixei
de acreditar em conto de fadas há muito tempo.
Érica
suspirou impaciente enquanto tirava um papel de dentro da bolsa.
— Aqui
está o exame de DNA. Se quiser pensar sobre o assunto, tudo bem. – pegou um
cartão da bolsa. – E aqui o meu cartão, assim que se decidir pode me ligar.
***
Depois
das compras, Viviane, como de costume passou no hospital para ver Rafael.
Procurou por Rafael pelo hospital e o encontrou no quarto 308. Rafael e Mariana
conversavam do lado de fora e Viviane se aproximou devagar sem que fosse
percebida pelos dois.
— Então,
Mariana, seu pai está se recuperando bem.
— Sério?
– disse ela sorrindo. – Que bom! O ruim é que logo, logo não vou mais lhe ver. É
bom conversar com você.
— Também
foi muito bom conversar com você. – disse ele, afagando a cabeça dela. – Agora
tenho que ver outros pacientes. Fazer relatórios e mais relatórios. – disse
sorrindo e saindo logo em seguida.
Viviane
se aproximou mais de Mariana.
— Então,
você está aqui de novo.
— Ah... –
disse Mariana, percebendo Viviane. – Você é a garota de antes.
— Meu
nome não é a garota de antes e sim
Viviane Alcântara se você não sabe. Herdeira desse hospital e herdeira de um
dos maiores grupos empresariais do país.
— Hum...
— O que
esse “hum” significa?
Viviane
sorriu.
— Nada
demais. Então, o que você quer comigo?
— Eu não
quero ter nada a ver com você. É por isso que estou pedindo educadamente que se
afaste dele, ok?
— Ah... Está
falando do Dr. Rafael? Eu estou dizendo educadamente que eu não tenho qualquer
intenção de evitá-lo.
Viviane
não acreditava no que ouvia.
— Então,
você realmente gosta dele.
— Gosto.
Mas, não do jeito que está pensando. E não vou evitar uma pessoa que não me fez
mal algum.
— Eu já
disse a você que sou muito rica? Eu posso fazer da sua vida um inferno.
— Hum,
deixa eu ver... – disse Mariana como se estivesse pensando. – Acho que você
disse isso três vezes, duas diretamente e uma indiretamente.
Viviane
sorriu falsamente.
— Então,
você está mais do que avisada. Eu sou muito rica e posso fazer da sua vida um
inferno. Então, se afaste dele enquanto estou sendo educada, ok? – disse
saindo.
Mariana
suspirou.
— Quatro
vezes. Que garota maluca.
Logo que
Viviane se afastou, Emanuela chegou. Mariana ainda observava Viviane de longe
enquanto balançava a cabeça negativamente.
— O que
foi? Quem era? – perguntou Emanuela, vendo Mariana observar algo ao longe.
— Ah...
Você está aqui. Não é ninguém, só uma maluca. É cada uma que me aparece. E você,
por que demorou tanto? O que aquela mulher queria com você?
Emanuela
ficou pensativa durante alguns segundos.
— Manu...
– insistiu Mari - Quem era?
— Ah...
Depois eu conto para você. – disse, sentando-se em um banco próximo.
Mariana
sentou-se próxima a ela.
—
Mariana... – começou Emanuela pensativa. – Se houvesse a possibilidade de
conhecer a família do nosso pai... Você gostaria de conhecê-los?
Mariana
pareceu pensativa por alguns segundos.
— Sim.
Gostaria.
— Mas e
se eles não gostassem da gente? Por sermos filhas... Você sabe.
Mariana sorriu.
— Sabe,
Manu... Às vezes, se preocupa demais com o que as pessoas pensam de nós. Se as
pessoas não gostassem de nós, então, iríamos fazer com que gostassem. E além de
tudo, sempre vai ter alguém que goste da gente, nem que seja um, não é? Mas,
por que pergunta isso?
— Por
nada. – Emanuela desconversou.
Mariana
pareceu um pouco triste.
— Mas,
seria incrível não? Ter uma família, tios, primos, avós. Fico imaginando quem
são, como são... Pena ser tão improvável algo assim acontecer.
Emanuela
levantou-se de repente.
— O que
foi Manu? – Mariana se assustou com o movimento repentino.
Emanuela
olhou um pouco desconcertada para a irmã.
— Ah...
Tenho que fazer uma coisa. – disse, saindo.
Emanuela
voltou para a lanchonete, mas não encontrou Érica. Lembrou-se do cartão e viu o
número. Ligou e alguém atendeu do outro lado da linha.
— Eu já
tomei minha decisão. – disse ela ao telefone.
***
O carro
percorreu um caminho de aproximadamente trinta minutos antes de chegar ao seu destino.
Érica olhou para Emanuela, que estava ao seu lado no carro.
— Não se
esqueça, para todos os efeitos, você acreditou na história inicial. – disse
Érica.
O carro
parou em frente uma mansão. Era extremamente luxuosa. Érica e Emanuela desceram
do carro e o motorista saiu. Emanuela ainda não acreditava que mansões daquele
tipo existiam ali.
—
Engraçado. Um dia, eu li que milionários costumam não ostentar muito o que têm.
Mas parece que essa regra não se aplica muito aqui.
Érica
riu.
— Na
verdade, quem faz questão de manter essa mansão é o irmão do Dr. Otávio, o Dr.
Marcos. Apesar de não morar aqui, ele prefere que essa mansão esteja sempre
disponível para quando ele voltar.
Emanuela
olhou intrigada para Érica.
— Esse
Dr. Marcos não é seu marido? Por que o chama assim?
— Às
vezes, eu meio que esqueço esse detalhe... - Érica sorriu enigmática.-Vamos
entrar?
Quando
Emanuela entrou, não podia acreditar no que os seus olhos estavam vendo. Nunca
pensara que veria tanto luxo assim na vida.
— Você
poderia esperar por um momento aqui nessa sala, enquanto eu vou dizer que já
está aqui?
Emanuela
balançou a cabeça afirmativamente.
Érica foi
em direção ao escritório do Dr. Otávio. Bateu na porta e Tarcísio atendeu. Tarcísio
saiu antes de deixar Érica entrar.
— Você
tem alguma novidade? Conseguiu trazer as gêmeas?
—
Consegui trazer uma delas, mas é o suficiente.
Tarcísio
olhou desconfiado para Érica.
— Que
método você usou para trazê-la?
Érica
riu.
— Que
método você acha que eu usei? Algum tipo de suborno ou chantagem?
— Eu não
sei... Não confio em você, afinal, traiu a pessoa que mais confiava em você,
não é?
Érica
suspirou entediada.
— Está
falando do Fabiano? – riu-se - Águas passadas, Dr. Tarcísio, não movem moinhos.
Então, posso falar com o Dr. Otávio ou vou ter que passar por algum tipo... – e
sussurrando no ouvido de Tarcísio- ...de revista?
— Não
faça esses tipos de brincadeiras, senhora Érica. Sim, você pode entrar.
Érica
riu.
— Sabe
com o que você se parece, Dr. Tarcísio? Um cão de guarda, fiel ao seu dono.
Alguém que nunca terá um papel de destaque e sempre ficará à sombra de outra
pessoa. Nunca pensou em tomar o lugar do Dr. Otávio? Se você quiser, eu posso
lhe dar umas dicas, afinal, como você mesmo disse, eu traí a pessoa que mais
confiou em mim, não foi? – disse rindo, logo depois se dirigindo a porta do
escritório do Dr. Otávio.
Tarcísio
olhava, enquanto via Érica se afastando.
—
Definitivamente, essa mulher só pode ser louca. – disse para si mesmo.
Érica entrou
no escritório.
— Bom
dia, Dr. Otávio.
— Bom
dia, Érica. O que a traz aqui?
Érica sentou-se
em uma cadeira próximo à escrivaninha do Dr. Otávio.
— Como
combinado, eu trouxe uma das garotas: a Emanuela. Agora depende exclusivamente
do senhor, Dr. Otávio, de convencê-la.
— Isso é
verdade?
— Claro,
nesse momento, ela se encontra na sala principal, esperando pelo senhor.
Otávio
sorriu.
— Que
bom. Como cumpriu sua parte no acordo, então você pode ficar o tempo que quiser
na mansão.
—
Obrigada, Dr. Otávio.
Otávio
ficou sério.
— Não me
agradeça, apenas estou cumprindo o que combinei. Não pense que me agrado com
você nessa casa esbarrando com o meu filho. Por isso, eu peço que o evite
sempre que puder.
— Tudo
bem. Se é assim que o senhor quer, assim será. – disse, sorrindo, enquanto
levantava-se e saia do escritório.
***
Enquanto Érica
falava com o Dr. Tarcísio e o Dr. Otávio, Emanuela não parava de admirar o
lugar onde estava.
— Nossa!
Isso realmente é exagerado... – disse, levantando-se de onde estava sentada e
olhando os objetos ao redor.
De repente,
alguém entrou. Era Viviane.
— Que
ridículo. – pensou ela em voz alta ao entrar na sala. – Mas, ela não vai me
roubar ele. Não vai mesmo. – de
repente, ela notou que alguém estava na sala observando um quadro.
Viviane
se aproximou, tentando saber quem era. De repente, Emanuela virou-se. Viviane
quase caiu para trás de tão assustada que estava. Emanuela ficou admirada com a
reação da garota.
— Certo.
– disse Emanuela. – Posso não ser tão bonita quanto você, mas não acha que exagerou
um pouco?
Viviane não conseguia pensar em nada até que
recuperou o fôlego.
— O-o que
você está fazendo aqui?! – perguntou quase gritando.
Emanuela
não entendeu a pergunta.
—
Desculpa. Mas, eu te conheço de algum lugar? Você me parece familiar... Mas,
não consigo me lembrar.
Viviane
não acreditava no que estava vendo.
— P-Por
quê? – perguntou Viviane sem reação. – Por que você está aqui? Por acaso você
mudou de opinião sobre o Rafael? Quer declarar uma guerra?
Emanuela
estava confusa.
— Me
desculpe, mas eu não sei do que está falando.
Viviane
parecia não ouvir Emanuela. Estava pensativa.
— E como
você veio parar aqui na minha casa? – disse, olhando para Emanuela. – Há pouco
tempo atrás, você estava no hospital...
Vivi
começou a andar pela sala. Emanuela pareceu entender o que estava acontecendo.
—
Desculpa, mas eu acho que você está me confundindo com a...
— Foi o
Rafael que trouxe você? – interrompeu Viviane com uma expressão assustada. –
Por acaso, vocês vieram aqui para me dizer que estão namorando? - e batendo no
rosto de leve. – Não, não... Isso é impossível. Rafael nunca ficaria com
você... Você não tem classe e muito menos estilo!
Emanuela
olhou para Viviane séria.
— Classe?
Estilo? – perguntou Emanuela não entendendo. – Do que você está falando?
Viviane
olhou para Emanuela com desprezo.
— Foi
isso mesmo que você ouviu... – e olhando Emanuela de cima a baixo. – O modo
como você fala e até o modo como você se veste... Definitivamente, você não é o
tipo do Rafael. Ele jamais se interessaria por uma garota como você.
Emanuela
não tinha certeza do que estava acontecendo, mas de uma coisa tinha certeza,
aquela garota a estava confundindo com sua irmã.
— Eu sei
que pode parecer estranho... – começou - ...mas realmente você está me
confundindo...
Antes que
Emanuela pudesse continuar o que falava, alguém entrou na sala. Era o Dr. Otávio.
De repente, ele parou e olhou para Emanuela. Ela era muito mais bonita
pessoalmente e havia alguns traços de Jorge em sua aparência.
— Muito
prazer. Meu nome é Otávio. E você é a...?
Emanuela
não respondeu de imediato. Ainda estava surpresa por conhecer aquele homem que
diziam ser seu avô.
— Emanuela.
Muito prazer. – disse.
Viviane
ficou confusa e se aproximou dos dois.
—
Espera... Seu nome não é Mariana?
Emanuela
sorriu.
— Era o
que eu estava tentado explicar para você. É possível que você tenha me
confundido com a minha irmã gêmea.
Viviane
não conseguia acreditar no que ouvia.
— Então
era sua irmã...? – e um pouco admirada. – Nossa, que coincidência! Encontrar
duas irmãs gêmeas no mesmo dia! Mas o que você está fazendo...?
Viviane
de repente percebeu algo.
— Espera... – disse olhando para Emanuela e para
seu avô. – Irmãs gêmeas? Não pode ser coincidência.
Viviane
olhou para o avô. Pela expressão do Dr. Otávio, as suspeitas de Viviane estavam
corretas.
— Então,
o senhor vai mesmo fazer isso? – disse profundamente magoada. – Trazer essas
duas?
—
Viviane, por favor. – pediu ele, tentando interromper a neta. – Eu
preciso conversar com Emanuela. Você poderia sair?
— Por que
não vai para o escritório então? – disse rebelde.
Otávio
olhou seriamente para Viviane.
—
Viviane, vá para o seu quarto, eu quero receber Emanuela aqui.
Viviane
olhou com ódio para Emanuela. Otávio percebeu a hostilidade da garota.
—
Viviane, agora. – repetiu ele.
— Faça
como o senhor quiser. – disse ela, saindo e esbarrando propositalmente em
Emanuela, subindo as escadas logo em seguida.
Emanuela
olhou para Otávio, enquanto Viviane se afastava. O olhar dele refletia um pouco
de tristeza.
— Eu acho
que... Que eu não deveria ter vindo aqui. – disse Emanuela para si mesma, mas
fazendo-se ouvir por Otávio.
— Não se
importe muito com o comportamento inadequado dela... – disse, virando-se para
Emanuela. - Viviane pode ser muito impulsiva, às vezes. Tem estado assim
desde... – de repente interrompeu o que ia falar. – Bem, de qualquer forma, tenho
uma parte de culpa nisso. Mas, vamos ao que nos interessa... – disse
sentando-se e indicando para que Emanuela sentasse também.
Emanuela
sentou-se e esperou que o Dr. Otávio falasse.
— Então,
você aceitou me conhecer antes de tomar uma decisão definitiva.
Emanuela
concordou com um gesto afirmativo de cabeça.
— Qual a
sua decisão? Vocês estão dispostas a virem para cá? – perguntou Otávio com um
pouco de ansiedade na voz.
Emanuela
pareceu pensar no que ia dizer.
— Dr.
Otávio, o senhor deve entender que isso tudo é muito surreal pra mim... O
senhor, dono de um grupo empresarial, querendo que duas garotas desconhecidas venham
para cá como se fossem adotadas... Essa é de fato a verdade?
Dr.
Otávio sorriu.
— Sim, é
a verdade.
Emanuela
pareceu ficar um pouco mais retraída diante daquela afirmação.
— Então,
conversarei com a minha irmã. Dependendo do que conversarmos, eu lhe darei uma
resposta. Mas, gostaria de pedir que caso concordemos em vir para cá, que nós
possamos fazer algum tipo de trabalho para compensar o fato de estarmos aqui.
Afinal, somos completas estranhas nessa casa.
Otávio
pareceu pensativo.
— Tudo
bem. – disse por fim. – Então, quando vocês tomarem uma decisão, me digam imediatamente.
— Sim,
claro.
Otávio a
cumprimentou e Emanuela saiu da mansão. Logo em seguida, Érica a encontrou do
lado de fora.
— O que
foi? Parece meio desanimada. – disse Érica.
— Não é
nada.
— Então...
Você realmente não disse nada sobre já saber que é neta dele?
— Não,
não disse. Afinal, você pediu para guardar segredo.
— Tem razão.
– disse Érica, sorrindo.
O carro
parou e Érica e Emanuela entraram.
***
Viviane
voltou para a sala onde o avô ficara conversando com Emanuela. Quando voltou
percebeu que o avô estava sentado na poltrona da sala pensativo.
— Oi,
vovô. – disse ela ao chegar, sentando-se.
O Dr.
Otávio pareceu acordar de seus pensamentos.
— Que
comportamento foi aquele, Viviane? – perguntou com um pouco de irritação na
voz. – Você não é mais uma criança, por que insiste em se comportar como uma?
Viviane
percebeu a irritação no tom de voz do avô.
— Por
quê? Só por que eu me sinto frustrada? Eu não posso mais me sentir assim?
Otávio
olhou ainda sério para a neta.
— Pelo
jeito você sabe quem é aquela garota.
— É, eu
sei... Eu percebi quando ela falou que tinha uma irmã gêmea. Então, o senhor
estava mesmo falando sério... – disse ela. – O senhor nem chegou a considerar
os sentimentos da minha mãe, muito menos os meus... Trazer para cá duas
bastardas!
Otávio se
irritou com o palavreado de Viviane.
— Eu já
disse que eu não admito que fale assim com elas. – disse ele.
— E não é
verdade? – perguntou ela quase chorando. - Ou elas são legítimas? Por causa da
mãe delas, o meu pai traiu a minha mãe! Por causa delas, a minha mãe se afundou
no trabalho e esqueceu a própria filha! Por causa delas, a minha vida foi um
inferno. E por causa delas, estou perdendo a única pessoa da família que ainda
se importava comigo!
— Não
fale assim das suas irmãs! – disse Dr. Otávio alterado.
Viviane
olhou para o avô com o olhar magoado.
— Irmãs?!
– e com o olhar um pouco vago. – Eu detesto
elas! Não. Eu odeio! Elas roubaram tudo de mim! Meu pai, minha mãe, e agora
o senhor também! De que adianta ter tanto dinheiro... Se tudo o que eu mais
quero me tiraram? – disse, saindo.
Gabriele,
mãe de Viviane, ia chegando quando a filha saiu.
— O que
aconteceu, Dr. Otávio? – perguntou ela preocupada. – Por que Viviane saiu
daquele jeito?
Otávio
suspirou.
—
Simplesmente, ela está reagindo assim desde que viu uma das garotas aqui na
mansão. Parece que até agora ela não sabia que eu estava falando sério...
Gabriele
ficou surpresa.
— Uma
delas veio aqui?
Otávio
olhou de repente para Gabriele.
— Não me diga
que também não achava que eu estava falando sério.
— Não, de
maneira alguma. É só que... Era disso que eu tinha medo... Viviane estava calma
demais... – e olhando para o sogro. – Mas, o senhor tem que entender, Dr.
Otávio, apesar de tudo, isso está sendo muito difícil para ela. O senhor é a
única pessoa em que ela realmente confia nessa casa...
Otávio
suspirou.
— Entendo,
Gabriele. E o que mais me entristece é que eu tenho culpa no sofrimento da
minha neta. Eu a tornei muito dependente de mim.
Gabriele
pareceu pensativa.
— Não só
o senhor, Dr. Otávio. A culpa é minha por não ter sido uma boa mãe. Se eu
tivesse dado o apoio que ela precisava, ela não teria ficado tão dependente
assim do senhor. Mesmo quando a minha filha mais precisou... Eu não fiquei ao
seu lado.
Otávio
sorriu e olhou para Gabriele com um olhar paternal.
— Acho
melhor não pensarmos mais nisso... Nos
atormentarmos desse jeito não vai melhorar o comportamento de Viviane. Quem
sabe com a chegada dessas garotas, Viviane não se torne uma menina mais calma e
mais sociável. Acho que o que podemos fazer agora é esperar.
Gabriele
sorriu, tentando se animar.
— Tem
razão.
***
Emanuela
chegou ao hospital, trazida por um dos motoristas do Dr. Otávio. Já passava das
seis da noite. Sabia que a irmã estava preocupada. Culpava-se por ter deixado o
celular desligado, mas de qualquer forma ia se desculpar com a irmã. Ao chegar
perto do quarto, chamou a irmã pelo pequeno vidro que tinha na porta. Logo
depois, Mariana saiu.
— Onde
você esteve? Você saiu naquela hora tão de repente e nem disse aonde ia. – disse
Mariana, logo ao sair. – Eu tentei ligar para você, mas o seu celular sempre
caia na caixa postal. Eu fiquei preocupada.
— Eu sei.
Aconteceu algo.
Mariana
começou a imaginar coisas.
— O quê?
Por acaso, dona Francy expulsou a gente por não pagar o aluguel?
— Não. Não
foi isso.
— Então,
você não vai me contar? – perguntou a irmã curiosa.
— É claro
que eu vou, mas você tem que se sentar primeiro. Preste bastante atenção, ok?
— Está
bem. – concordou Mariana, sem saber o porquê a irmã estava tão séria.
Mariana
sentou-se em um banco que ficava encostado na parede do quarto. Emanuela então
contou tudo o que acontecera e a primeira proposta que ouvira por parte da Érica
e depois a história real que a Érica havia contato e, logo em seguida, como ela
havia ido à mansão conversar com o Dr. Otávio. Mariana ouviu tudo calada. Ao
terminar, Emanuela olhou para Mariana.
— E aí?
Mariana
olhou para a irmã e pegou na sua testa.
— Você
não está com febre?
— Mariana,
eu estou falando sério.
Mariana
ficou séria de repente.
— Se tudo
que me diz é verdade, então nós temos uma decisão para tomar. – e olhando
diretamente para a irmã. – A verdade é que ainda estou um pouco tonta com tudo
isso. Quer dizer, então, que nosso avô é um milionário?
Emanuela
balançou a cabeça afirmativamente.
— É tão
inacreditável isso.
— Foi o
que pensei também.
— Mas,
mesmo assim é possível.
Emanuela
olhou para a irmã compreensiva.
— Se
quiser pensar um pouco mais sobre isso. – disse Emanuela. - Vou aceitar
qualquer decisão que tomar.
Mariana
suspirou.
— Acho
que não há muita coisa para pensar.
— Não?
— Eles
são nossa família. Não foi isso que a gente sempre quis? Mas, eu fico triste em
saber que nosso pai biológico não está mais vivo. Você sabe do que ele morreu?
— Érica
falou algo sobre um acidente, só não me disse muitos detalhes.
— O lado
bom é que somos ricas agora. – disse Mariana rindo.
— Mari,
estou falando sério.
— Eu sei.
– disse ela, fazendo um muxoxo. – Mas, me diz... Como é esse nosso avô? Ele
parece ser legal?
—
Aparentemente sim. Mas, não tenho certeza. Afinal, ele criou uma mentira enorme
ao invés de nos falar à verdade.
— Mas,
mesmo assim você não contou a ele que já sabia a verdade.
— Não. E
não foi só porque a Érica me pediu. Talvez, ele realmente não se sinta bem
falando isso agora. Também pode existir outro motivo...
— Que
outro motivo? – Mari pareceu curiosa.
— Ele
pode estar querendo ver como nos comportamos. Se somos confiáveis.
— É, tem
razão... Mas, podemos fazer isso. Podemos dar uma condição para esse Dr.
Otávio... Aí veremos seu verdadeiro motivo.
— Qual? –
perguntou Manu interessada.
— A
condição vai ser ele empregar o nosso pai.
Emanuela
estava um pouco incrédula sobre aquela proposta.
— Mas, o
Rogério tem passagem na polícia... Que pessoa, em sã consciência, empregaria um
ex-detento?
— Aí é
que está. Se ele concordar significa que a mentira que ele criou foi apenas
porque não está preparado para nos contar a verdade. Se ele aceitar a condição,
nós vamos aceitar a proposta dele sem qualquer objeção.
Emanuela
olhou para Mariana e sorriu. Apesar de, às vezes, achar que a irmã fosse de
outro mundo, na maioria das vezes, ela sabia exatamente como testar o caráter
das pessoas. De repente, lembrou-se de algo.
— Ah,
antes que eu me esqueça... Acho que temos uma irmã ou prima.
— Sério?
– disse Mariana contente.
— Não
fique tão feliz. – disse Emanuela, fazendo com que Mariana se desanimasse. –
Ela parece ser extremamente desagradável.
— Sério?
– disse Mariana desmotivada.
— Acho
que o nome dela é Viviane...
Mariana,
de repente, lembrou-se de algo.
— Ela por
acaso não é loira, não é?
— Ah, tem
razão... Ela me confundiu com você. Acho que ela já se encontrou com você aqui
no hospital.
— Sério?
– disse Mariana, lembrando-se de Viviane.
— Vem cá,
você só fala “sério” agora?
Mariana
suspirou.
— Oh,
God... Why?
Emanuela
riu-se com a expressão de desanimada de Mariana.
***
Eram
quase oito da noite quando Otávio Jr. chegou em seu carro na mansão. Ele
acabara de chegar à mansão, quando a sua mulher o recebeu. Ela, por sua vez,
parecia estar um pouco preocupada.
— O que
foi que aconteceu? - perguntou ele, olhando para Camila.
Camila
suspirou.
— É
melhor irmos para uma das salas e conversarmos reservado...
Os dois
se dirigiram a uma das saletas da mansão em que poderiam conversar sem que
pudessem ser ouvidos.
— E aí? O
que é essa expressão de preocupação no rosto? – perguntou ele, afrouxando a gravata
e sentando-se em uma das poltronas da saleta.
Ela
sentou-se também.
— Estou
preocupada com a Érica... Na verdade, com qualquer coisa que envolva o Marcos.
— E o que
realmente lhe preocupa? - perguntou desinteressado.
Camila
olhou para o marido.
— Você
não acha estranho não ter acontecido nada a Érica? Quer dizer, nem entre as
pessoas que trabalham com Marcos eu ouvi falar que ela deveria ser punida ou
coisa parecida...
— E você
acha que o Marcos iria dar um fim nela? Apesar de tudo, aquela mulher tem as
suas utilidades. - disse sorrindo com o olhar vago.
Camila aparentou
sentir ciúmes.
— Do que
está falando exatamente?
— Não é
nada, minha querida... Não precisa ficar tão preocupada. O que eu quero dizer é
que Marcos não faria nada precipitado. Se ele quiser dar um fim nela, pode ter
certeza que ele vai fazer tudo para que pareça um acidente...
— Igual ele
fez com Jorge?
Otávio
Jr. olhou assustado e, ao mesmo tempo, irritado para a esposa.
— Nunca
mais repita isso aqui! - disse ele, repreendendo-a. - Existem coisas que não
podem ser faladas nem mesmo quando estamos a sós.
Depois
que Otávio Jr. se acalmou um pouco, Camila ousou continuar a conversa.
— Mas,
você não acha que ele descobriu que nós usamos a Érica?
— Sim. E
daí?
Camila
não entendia porque o marido estava muito quieto.
— E o que
você pretende fazer? Com certeza ele já sabe que, de alguma forma, nós estamos
planejando algo contra ele.
Otávio
Jr. riu.
— E com
certeza, ele está pensando que somos idiotas o suficiente para armarmos tudo
isso por causa de uns trocados...
— Você
acha que ele não percebeu a nossa real intenção?
Otávio
riu.
— Não. E
sabe por quê? - disse olhando para a esposa. - Por que ele nos subestima... E
espero que continue assim. Mal sabe ele que estamos algumas jogadas à sua frente.
Camila
sorriu.
— Agora
que percebi... Parece que você está realmente de bom humor. O que aconteceu no
escritório?
Otávio
Jr. sorriu satisfeito.
— Recebi
uma ótima notícia. Algo que eu estava planejando há algum tempo...
— O quê?
- perguntou ela, interessada.
— Sabe,
Camila, existe uma vantagem na obsessão do Marcos pela presidência do grupo...
Ele nem consegue perceber que uma auditoria é feita sem que ele saiba.
Camila
parecia realmente assombrada.
— O que
você está falando? Uma auditoria? Mas, assim eles vão descobrir...
— Isso. -
concordou ele, interrompendo a esposa. – Marcos, aos poucos, vai ser
encurralado como um rato... Mesmo que ele consiga escapar da acusação de
sequestrar uma das suas sobrinhas-netas, porque afinal colocaremos a culpa
nele; ele realmente não vai conseguir se salvar de ser preso por lavagem de
dinheiro... E logo, quando descobrirem o envolvimento dele com o tráfico
humano, provar a inocência em um sequestro fica mais difícil ainda. Ficamos com
o dinheiro do resgate e eu, como segundo para a sucessão, consigo a
presidência.
Camila
sorriu.
— Esse
plano é perfeito... – disse, olhando para o marido. - Com certeza, eu me casei
com um homem inteligente.
***
Viviane voltou
ao hospital. Como não tinha visto Rafael mais cedo direito, resolveu voltar à
noite. Era a primeira vez que ia ali naquele horário. De repente, conseguiu
encontrar o tio.
— Tio
Fabrício? – tentou chamá-lo.
Fabrício
percebeu a sobrinha.
— Vivi? O
que está fazendo aqui? É melhor você ir para casa, eu e Rafael estamos muito
ocupados.
— O
senhor vai ficar de plantão hoje?
— Sim,
vou. – disse, se afastando. – Vá logo para casa, já está ficando tarde...
Viviane
parecia estar um pouco preocupada. De repente, viu Rafael.
— Olá,
Viviane? – Rafael cumprimentou, se aproximando. – É incomum você está aqui a
essa hora... Está procurando seu tio?
Viviane
sorriu.
— Não. Na
verdade, só estou aqui para lhe ver...
Rafael
olhou sério para a garota.
— Você
deveria parar com isso. No começo, eu até tolerei por ser sobrinha de um amigo,
mas você deveria parar de se comportar como uma menina mimada.
Viviane
ficou meio sem jeito.
—
Desculpa, foi só uma brincadeira...
— Então,
eu lhe aconselho a parar com essas brincadeiras, se não quiser que eu fique
realmente desapontado com você. – disse – Agora, deveria ir para casa, porque
está ficando tarde. – concluiu, saindo.
Viviane
ficou sem reação. Era a primeira vez que Rafael a tratava daquela forma. De
repente, sentiu aquela sensação conhecida. Era como se alguém a estivesse
seguindo.
“Não. Só
pode ser imaginação. De qualquer forma, vou pedir ao motorista que venha me
pegar em frente ao hospital.” – pensou, enquanto pegava o celular.
Mariana
vinha da lanchonete do hospital, quando avistou Viviane. De repente, tentou
falar com ela, mas antes que conseguisse alcançá-la, ela saiu. Voltou para o
quarto, onde Emanuela conversava com Rogério.
— Sabe
quem eu encontrei no corredor? Aquela garota, Viviane... Parecia um pouco
pálida.
— Pálida?
– perguntou Emanuela intrigada.
— É. –
disse Mariana pensativa. – Como se estivesse assustada com algo. – e olhando
para o pai. – Mas, mudando de assunto, o que estavam conversando?
Rogério
olhou para Mariana.
— Sua
irmã estava me contando sobre a proposta que vocês receberam...
Mariana olhou
para Emanuela. As duas haviam combinado que contariam apenas parte da história.
O fato de que o Dr. Otávio era avô delas ficaria em segredo até que o próprio
Dr. Otávio contasse.
— E o que
o senhor achou?
Rogério
ficou pensativo.
— Acho
que vocês têm esse direito.
Emanuela
e Mariana se olharam confusas com a afirmação de Rogério. Ele tentou consertar
o que falara.
— Digo...
Vocês têm o dever de aceitar. Afinal é uma oportunidade única.
— Ah...
Sim. – disse Mariana rindo. – Pensei que o senhor estava delirando!
Os três
riram. Emanuela olhou para Rogério intrigada.
***
No dia
seguinte, Viviane foi para a faculdade. Estava extremamente cansada. Não
conseguira dormir direito. De repente, Verônica foi ao seu encontro.
—
Viviane! Você não vai acreditar! – Verônica falou de repente.
— Acreditar
no quê?
Verônica
pegou no braço de Viviane e praticamente a carregou. No caminho, Viviane notou
que os outros alunos olhavam para ela de forma diferente.
— O clima
está estranho aqui. – comentou e olhando para a amiga. – Para onde está me
levando?
— Para o
laboratório de informática.
Viviane
não entendeu. As duas entraram no laboratório, onde os notebooks estavam
instalados. Verônica colocou Viviane em frente a um dos computadores e acessou
a internet. Ao abrir a página principal, Viviane tomou um susto.
— O-O que
é isso?! – perguntou Viviane quase sem reação.