segunda-feira, 1 de julho de 2013

WEBNOVELA - LAÇOS - CAPÍTULO 13 - AUTORA: JULIANA SOUSA


Mariana estava sentada próxima à cama onde o pai estava deitado. Tudo ocorrera de forma rápida. Logo, quando encontrou o cartão de Fabrício, não pensou duas vezes e ligou para ele contando toda a situação. Não esperava aquilo, mas Fabrício fez questão que Rogério fosse para um hospital melhor, enquanto ele tentaria salvar Emanuela. Olhou para os lados e ficou admirada com a estrutura do lugar.  Com certeza era um hospital muito caro. De repente, um médico entrou.
— Olá, sou o Dr. Rafael. Você deve ser… – parou no meio da frase e olhando para Mariana. – E aí, como vai? Está tomando os medicamentos que eu receitei? Parece que já está melhor.
Mariana ficou um pouco assustada.
“ Medicamentos? Com certeza ele se encontrou com a minha irmã.” – pensou.
— Desculpe, mas o senhor deve estar me confundindo com a minha irmã gêmea…
O Dr. Rafael ficou um pouco envergonhado.
— Me desculpe… – e olhando para o prontuário do paciente. – Parece que a situação do paciente é estável. Todos os primeiros cuidados já foram tomados, então, ele precisa de repouso agora e de medicação.
— E quando ele vai poder sair daqui? – perguntou ela ansiosa.
— Vai depender da recuperação dele… – e olhando para ela. – Eu sei que não é da minha conta, mas o que aconteceu? – perguntou
— Foi só uma briga… – respondeu ela, baixando a cabeça.
Rafael sorriu.
— E onde está Fabrício?
— Ele disse que foi resolver algo importante. – respondeu ela.
O Dr. Rafael saiu, deixando Mariana cuidando do pai.
Fabrício dirigia sem dizer uma palavra. Emanuela também se sentia estranha, não pelo fato do que acabaram de passar, mas sim porque nunca havia sentido aquilo. Quando Fabrício a abraçou, sentiu como se uma onda de energia tivesse passado por seu corpo e seu coração ficou acelerado.
— Então... Posso fazer uma pergunta? – disse ela, evitando o contato com os olhos dele.
— Claro.
— Por que me abraçou naquela hora?
Fabrício ficou calado um instante.
— É que você parecia muito nervosa, então, achei que precisava lhe acalmar... Bem, é isso.
— Ah...
Os dois ficaram calados por alguns segundos.
— Para onde estamos indo? – perguntou ela quebrando o silêncio.
— Para a minha casa, meu pai está viajando a negócios, então, não vamos ser incomodados... – de repente, parou, vendo a expressão um pouco assustada de Emanuela. – Digo... Quero dizer, pode ser que alguns deles estejam seguindo de carro, então é melhor ir para um condomínio fechado do que ir ao hospital... Mas, não vamos ficar completamente sozinhos, digo, de qualquer forma, minha irmã também vai estar lá, então... E mesmo assim, temos muitos quartos, então...
De repente, Emanuela começou rir. Fabrício ficou confuso, enquanto a via rir.
— Eu disse algo engraçado? – disse ele meio sem jeito.
Emanuela continuou rindo, enquanto Fabrício continuava dirigindo sem entender. Depois de alguns segundos, Emanuela parou.
— Fazia muito tempo que eu não ria assim...
— Mas, foi algo que eu falei?
— Não, não foi nada...  – disse Emanuela sorrindo.
Fabrício observou-a sorrir e ficou desconcertado quando Emanuela percebeu.
— Estamos quase chegando. – disse ele, tentando disfarçar.
O Dr. Fabiano chegou em casa. Estava extremamente cansado. Naquela noite, outro médico ficara de plantão no hospital para que ele pudesse descansar. Chegou em casa e parecia que todos já tinham ido dormir. De repente, ao olhar para a sala, percebeu que Érica estava sentada na penumbra segurando uma taça de vinho. Ela estava de camisola e parecia abstraída em seus pensamentos. Fabiano tentou passar pela sala sem ser percebido por ela.
— Eu estava esperando por você… – disse ela sem olhá-lo. – Por que não fala comigo? Ou será que não me viu?
Fabiano aproximou-se devagar e sentou-se ao seu lado.
— Você me parecia muito ocupada em seus pensamentos…
Érica sorriu melancólica.
— É… Parece que eu estava mesmo perdida em pensamentos… – e insinuando-se para ele. – Você sabe no que eu estava pensando?
Fabiano levantou-se e se preparou para sair.
— Boa noite. – disse friamente e, enquanto saía, sentiu que Érica o segurou pelo braço.
— Não vá. – pediu quase em súplica.
Fabiano a olhou. O tom de voz dela havia mudado. Ela estava séria.
— Por que me trata assim? – perguntou ela. – Será que não vai me perdoar nunca? Eu realmente sinto muito a sua falta.
Fabiano olhou-a nos olhos.
— Sabe, Érica, desde quando você ainda era minha noiva, existia algo em você que me intrigava muito… Eu nunca sabia dizer quando mentia ou dizia a verdade… E para falar a verdade, talvez até hoje, eu não saiba. Mas uma coisa, eu tenho certeza… Você é o tipo de mulher que qualquer homem deveria manter distancia…
Érica sorriu e sentou-se novamente.
— Parece que você mudou bastante nesses anos… Quem diria que o gentil Fabiano responderia a uma mulher assim.
Fabiano pareceu ter o olhar vago por um instante.
— É, acho que todos mudam… Ou quase todos. – completou, olhando para ela e saindo em seguida.
Érica sentou-se e ficou por um tempo olhando para o pouco vinho que restava no copo.
— Todos mudam… Não importa quem seja. – disse, tomando o último gole e levantando-se para ir dormir. – É a lei da vida.
Fabrício abriu a porta do apartamento e entrou junto com Emanuela. Ao chegarem, viram Verônica na sala que também tinha acabado de chegar.
— Fabrício, você... – disse e percebendo Emanuela. – Quem é ela?
— Verônica, preciso que mantenha em segredo o fato dela estar aqui, ok?
Verônica parecia desconfiada.
— No que você está metido agora, Fabrício? 
— Não se preocupe, maninha... Depois, eu lhe conto, prometo. Mas, não diga nada ao nosso pai. – e olhando para Emanuela. – Vamos, vou lhe mostrar um dos quartos de hóspedes.
Fabrício abriu um dos quartos que estava pronto e mostrou a Emanuela. Os dois entraram.
— Acho que pode ficar aqui por hoje à noite. Se precisar do banheiro, ele fica no final do corredor. E acho que tem água em um frigobar aqui.
Emanuela assentiu, indicando que havia entendido. Fabrício olhou para as roupas dela.
— Vou pegar algumas roupas da minha irmã que ela não usa mais para que possa se sentir mais à vontade.
— Obrigada.
Fabrício se preparou para sair.
— Ah... Posso perguntar algo? – disse Emanuela antes que Fabrício saísse. – Por que me ajudou?
Fabrício pareceu pensar em uma resposta.
— Bem... No começo, eu pensei que você era como eu...
—E agora você não acha isso? – perguntou curiosa.
— Na verdade, não. Quer dizer, você é diferente de mim, o que é melhor ainda. – disse meio sem jeito.
— Diferente?
Fabrício ficou calado durante alguns segundos.
— A verdade é que me senti um pouco culpado e envergonhado. Durante muito tempo, eu pensei que minha vida fosse uma droga e me revoltei com tudo. Mas, quando eu olho para o que você passa e a forma como encara isso, eu realmente me sinto envergonhado.
— Não se sinta. Acho que todos nós temos nossos próprios sofrimentos na vida. Nossos próprios desafios. O segredo para aproveitar as coisas boas é... Não se sentir a vítima e não achar que um dia é igual ao outro.
Fabrício riu-se.
— É disso que estou falando... Você tem um modo diferente de ver a vida. Você é uma garota legal, merece que eu a ajude.
— Mais uma coisa. – Emanuela falou antes que Fabrício saísse. – Não se meta mais com o Fernandes. Ele é muito perigoso. Assim que meu pai se recuperar, vou me mudar para outra cidade, assim não terá problemas. Então, fique tranquilo.
Fabrício se calou enquanto saia. No caminho para o seu quarto, encontrou a irmã.
— Por que está assim? – perguntou ela, vendo a expressão de Fabrício.
— Assim como?
— Não sei... Triste? Desanimado? Sad? Escolha à vontade.
— Não estou.
— Ok, então... – disse ela não se convencendo. – Mas, você não vai me dizer quem é a garota? Ela me parece familiar...  Em que você se meteu dessa vez?
Fabrício olhou para os lados como que se certificando que ninguém mais estivesse ouvindo.
— Eu vou lhe contar, mas isso fica apenas entre nós dois. Não diga para o nosso pai e nem para a Vivi.
— Ok! Eu prometo. Mas, o que foi?
— Bem, eu acho que dessa vez eu me meti em algo mais sério... – disse ele com uma expressão um pouco preocupada.
O Dr. Otávio estava mais uma vez em seu escritório. Por alguma razão não conseguira dormir. De repente, alguém bateu na porta. Ele autorizou a entrada e Gabriele entrou.
— Dr. Otávio? – cumprimentou.
— Olá Gabriele. Entre, por favor.
Ela entrou e ficou em pé, olhando alguns livros.
— Parece que o senhor não tem conseguido dormir ultimamente. Há algo que eu possa fazer? O que o preocupa?
Otávio sorriu.
— Como sempre muito prestativa… Você sabe que eu a considero como minha filha.
— Eu sei. – disse sorrindo. – E como sua filha, eu pergunto no que tem pensado.
Otavio se sentou, enquanto olhava para a noite através da janela próxima à poltrona.
— Tenho lembrado do meu filho Jorge… Quando olho para a Viviane, eu lembro do quanto ele também era voluntarioso… A Viviane lembra muito ele. Muito mesmo.
— Devo discordar do senhor em um ponto. – disse Gabriele sorrindo – Eu acho que Viviane com certeza é bem mais teimosa.
Otávio riu.
— Tem razão. – e mudando de assunto. – Gabriele… Gostaria de pedir perdão a você.
Gabriele pareceu não entender o que o sogro falava.
— Pelo que, Dr. Otávio?
— Eu simplesmente disse que traria duas filhas do Jorge aqui e nem considerei como se sente.
Gabriele ficou calada por um instante, depois sorriu.
— Não tem importância. Eu acho que, eu nem sequer mereço sua consideração. Quando engravidei de Viviane, foi quase como um último recurso para segurar meu casamento. Por causa disso, Jorge prometeu não ver mais a mulher por quem estava apaixonado. Com certeza, essa mulher já estava grávida… No fundo, me comportei de forma egoísta em relação a essas garotas.
Otávio olhou para Gabriele, compreensivo.
— Você tem um bom coração, Gabriele. Mas tenho certeza que qualquer mulher no seu lugar faria muito pior que isso…
— Por curiosidade, Dr. Otávio, quantos anos têm essas meninas exatamente? Devem ter a mesma idade que a minha filha.
Otávio pareceu pensativo por um segundo, mas respondeu.
— Apesar de já terem 18 anos, são apenas três meses mais velhas que Viviane. – e acrescentou sorrindo. – Isso me faz lembrar que nossa Vivi vai completar 18 anos daqui a alguns dias.
Gabriele suspirou.
— Fico me perguntando como isso vai afetá-la. – Gabriele comentou.
***
Logo pela manhã, Fabrício levou Emanuela para ver a irmã e Rogério no hospital. Ao ver a irmã chegando ao hospital, Mariana correu em direção a ela, abraçando-a.
— Como você está, mana? – perguntou Mariana quase chorando.
— Está tudo bem agora. – e olhando para Fabrício. – Alguém me ajudou bastante.
— Que bom. Eu fiquei desesperada. Não sabia o que fazer!
Emanuela tentou confortar a irmã.
— Não vamos mais pensar nisso. – e olhando em direção ao quarto – Como o Rogério está?
Mariana suspirou.
— Bem. Teve muitas escoriações, mas já foi medicado. Tem que ficar no hospital durante algum tempo para se recuperar totalmente. Mas o que me preocupa não é isso… Esse hospital me parece muito caro. Eu não sei se a gente vai ter dinheiro suficiente para pagar a internação.
— Não se preocupem com isso. – disse Fabrício, interrompendo a conversa. – Quando eu pedi para trazê-lo aqui, eu já tinha me responsabilizado por todos os custos.
— Não podemos depender tanto assim de você. – disse Emanuela, tentando se opor.
Fabrício sorriu.
— Está tudo bem. Afinal, fui eu que insisti com a sua irmã para que ele fosse transferido para cá.
Emanuela sorriu para Fabrício, que retribuiu da mesma forma.
— Eu vou lá para o quarto. – disse. – Quero ver com os meus próprios olhos como ele está. – disse Emanuela, falando para a irmã.
Enquanto a irmã entrava no quarto, Mariana olhava intrigada para Fabrício.
— O que foi? – perguntou ele meio sem jeito.
— Você...
Fabrício pareceu um pouco desconsertado com o olhar de Mariana.
— O quê?
— Você gosta da minha irmã, não é? – perguntou ela, sendo direta.
Fabrício ficou surpreso com o fato de ela ser tão direta.
— Ah... – Fabrício pareceu ficar sem palavras. – Sim, eu acho. Quer dizer, quem não gostaria? Ela é uma boa garota, não é? Eu não desgosto dela, se é que quer saber.
Mariana olhou para ele e sorriu.
— Entendo... – e como para si mesma. – Eu sou uma pessoa horrível então...
— O que disse?
Mariana sorriu.
— Estava dizendo que minha irmã é fascinante, não é?
— É… Uma garota excepcional… – disse ele, rindo-se enquanto se lembrava da cena em que viu Emanuela sorrir.
Emanuela estava sentada ao lado de Rogério. Estava apenas observando. Não conseguia acreditar que tantas coisas aconteceram em apenas pouco tempo. Aos poucos, Rogério foi acordando.
— Emanuela? – perguntou com os olhos quase fechados.
— Como consegue saber, hein? – perguntou sorrindo.
Rogério sorriu.
— Por que eu sou o pai de vocês… - disse com um pouco de dificuldade.
Emanuela balançou a cabeça afirmativamente.
— Sim. Você é o nosso pai. Sempre vai ser.
— Você me perdoa, filha? – perguntou, se esforçando um pouco.
— O quê? – perguntou ela um pouco confusa.
Rogério deixou algumas lágrimas rolarem em seu rosto.
— Por eu ter abandonado vocês…
Emanuela sorriu.
— O senhor está aqui com a gente, não está? Então, está tudo bem. Vamos só viver a nossa vida. E trate de melhorar.
Ele sorriu emocionado.
Rafael estava indo em direção ao quarto de Rogério, quando viu Mariana sentada em um banco do lado de fora do quarto.
— Onde você está com a cabeça? – disse ela falando sozinha. – Você é uma pessoa muito má, Mariana!
De repente, Mariana percebeu que Rafael tinha ouvido o seu monólogo.
— Está tendo algum problema? – perguntou o médico curioso, enquanto sentava-se ao lado dela.
Mariana ficou ruborizada.
— Ah... – riu sem jeito. – O senhor deve achar que sou maluca, não é? Afinal, estava falando sozinha...
Rafael riu-se.
— Bem, não se preocupe com isso. Muitas pessoas conversam consigo mesmas, não é só você que faz isso. É claro que a maioria delas evitaria fazer isso em público...
— Entendo... – disse ela meio sem jeito.
Rafael olhou para Mariana e riu da expressão de constrangimento da garota.
— Mas, se você quiser, tenho algum tempo... Pode me dizer o que tem a incomodado, assim não precisa falar sozinha.
Mariana olhou interessada para Rafael.
— Bem, o senhor é médico... Então, acho que não tem problema eu falar sobre qualquer coisa, mesmo eu mal conhecendo o senhor, né?
Rafael ficou com uma expressão confusa no rosto.
— Sabe... – continuou Mariana. – Não sou eu quem está com problemas, na verdade é uma amiga minha.
— Sei...
— Então... Essa minha amiga meio que parece se apaixonou por um cara a primeira vista... Foi sem querer, sério mesmo.
— Bem, não vejo isso como um problema.
— É porque ainda não cheguei lá. – disse ela um tanto séria demais, fazendo com que Rafael sentisse vontade de rir. – O problema é que ela tem uma prima muito próxima, entende? Tipo, tão próxima, tão próxima, como se fosse irmã.
Rafael mais uma vez sentiu vontade de rir, mas conteve-se.
— Entendo, como se fosse irmã... E?
— Então, essa prima gosta dele e ainda não sabe, por outro lado, ele também gosta dela e também ainda não percebeu isso.
Rafael fez uma expressão de quem estava entendendo a situação.
— Ah... Então, eles dois se gostam e não sabem... Mas, se eles ainda não sabem, como é que sua amiga sabe?
Mariana ficou confusa por um segundo, mas depois pareceu segura.
— Bem, porque ela é muito inteligente nesses assuntos. É verdade, que eu não tenho uma grande inteligência para os estudos como a minha irmã mesmo tendo os mesmos genes, mas dou de 10 a 0 quando se trata de assuntos do coração.
— Você? Não estávamos falando da sua amiga?
Mariana ficou sem palavras.
— Parece que não estou convencendo, não é?
— Não...
Mariana pareceu um pouco desanimada.
— Então, poderia manter esse segredo? Não queria que minha irmã ou qualquer outra pessoa soubesse que estou gostando do cara que ela gosta. O pior de tudo é que me sinto culpada por isso e não sei o que fazer.
— Não precisa se sentir culpada. – disse ele pensativo. – Quanto ao que fazer, você tem duas escolhas, lutar pelo que quer ou desistir e deixar que o tempo dê um jeito nisso. Você, com certeza, encontrará um bom rapaz para namorar. Talvez esteja prestes a conhecê-lo e nem sabe.
Mariana pareceu se animar.
— Tem razão. – disse ela sorrindo.
Rafael levantou-se e entrou no quarto de Rogério.
“Será que o Dr. Rafael já passou por algo assim?” – pensou – “Ele me parece uma pessoa que já experimentou isso... Bem, mas seria estranho, afinal ele é tão bonito e com certeza as mulheres implorariam para ficar com ele. A não ser...”
— Será que o Dr. Rafael é gay? – perguntou Mariana para si mesma. – Não me admira ele ser uma pessoa tão sensível.
Fabrício havia saído para pegar alguma coisa no carro que tinha esquecido. De repente, três homens se aproximaram dele.
— O que querem?
— Você vem com a gente. – disse um deles, encostando uma arma em Fabrício, enquanto outro abria a porta de um carro que estava perto.
Fabrício não teve outra opção a não ser entrar.
Gabriel chegou em casa. Estava exausto. Havia passado a noite se explicando para quem tinha ouvido que não atacara Viviane e que não a beijara sem consentimento. A forma como Viviane havia espalhado a história fazia dele um cara mal que assedia mulheres, o mais perigoso da cidade.
“Por causa daquela garota, a minha noite foi um desastre” – pensou.
— Eu preciso me vingar dessa garota mimada. Alguém precisa dar uma lição nela. – disse ele para si mesmo, enquanto pensava em algo.
Entrou no quarto e sentou-se na frente do computador. De repente, teve uma ideia. Com certeza era algo para se divertir.
— Viviane, você não sabe com quem se meteu. – disse ele rindo, enquanto colocava seu plano em prática.
Fabrício estava em pé em frente aquele homem que olhando bem parecia mais repugnante do que nunca. Seus homens o obrigaram a ir para um escritório que ficava dentro da boate de onde ele havia resgatado Mariana.
O rapaz olhou para trás e pode perceber que dois homens com expressão de poucos amigos se mantinham de pé junto a porta.
— E aí, o que tem a me dizer, garoto? Onde está aquela vadia? – perguntou Fernandes, que estava sentado em sua cadeira próxima a sua mesa.
— Eu não sei de quem está falando. – disse Fabrício atrevido.
Fernandes riu.
— Você tem coragem…  Vir à minha boate, pegar uma das minhas garotas e sem nenhuma cerimônia roubar de mim. Se tivéssemos nos conhecido em outra situação, faria você ganhar muito dinheiro nesse ramo.
Fabrício parecia sério.
— Não se preocupe, mesmo que isso não tivesse acontecido, com certeza, eu educadamente negaria a sua oferta. – comentou irônico.
Fernandes riu alto, parecia divertir-se.
— É uma pena, você ganharia muito dinheiro. É um negócio altamente rentável hoje em dia… E a vadia não precisa nem ser bonita… Infelizmente, aqui eu não aceito qualquer uma. Afinal, meus clientes são pessoas altamente seletivas.
Fabrício desviou o olhar de Fernandes. De alguma forma, sentia-se enojado só de olhar para aquele homem.
— Como eu disse, infelizmente, eu não o conheci antes… – disse Fernandes mais sério. – E aí como pretende se desculpar? Digo, o que pretende fazer para se livrar dessa? Primeiro, quero que me diga onde está aquela garota e a irmã dela. Depois, quero algo em troca do aborrecimento que tive esta noite.
Fabrício olhou para Fernandes ainda com a expressão séria no rosto.
— Quanto quer para deixar Emanuela ir? – perguntou sério.
Fernandes se surpreendeu com a pergunta.
— Ora, ora… Você é mesmo um rapaz que vai direto ao ponto… Mas, creio que você não terá a quantia que desejo em troca de Emanuela.
Fabrício parecia determinado.
— Diga quanto é. Eu sou muito rico. Eu posso pagar a quantia que você pedir. Mas, em troca, eu quero que você a deixe em paz e a família dela também.
Fernandes pegou um cigarro e acendeu.
— Você parece muito confiante… Você tem idéia da situação em que se encontra? Você não está em condições de exigir nada.
Fabrício não parecia hesitar.
— Quanto quer? Eu já disse que eu posso pagar.
Fernandes se inclinou para frente interessado.
— O que você me diz de inicialmente R$ 500.000? E me dê o seu carro também.
Fabrício pensou por um instante. Sabia que se tentasse negociar com aquele bandido ficaria em desvantagem.
— Feito. – respondeu de imediato, deixando Fernandes por alguns segundos sem reação – Posso transferir agora se você quiser. É só me conseguir acesso à internet e o número da sua conta.
Fernandes riu. Tragou o cigarro que tinhas nas mãos.
— Realmente, um homem de atitude. – comentou – Mas tenho uma condição…
O rapaz ficou um pouco assustado, não esperava que aquele homem pedisse mais.
— Que condição? – perguntou desconfiado.
Fernandes levantou-se e caminhou em direção ao rapaz.
— Eu quero que você assine um contrato de compra e venda.
Fabrício olhou assustado para o homem que lhe propusera tamanho absurdo.
— O quê?! – perguntou não entendendo. – Compra e venda? A que se refere exatamente?
— A quem mais? A Emanuela é claro! – respondeu Fernandes sorrindo. – Afinal, você não a está comprando? Não importa de que aspecto você veja, qualquer um é capaz de dizer que o que você está fazendo se trata apenas de um negócio.
Fabrício não conseguia esconder a raiva que sentia.
— Isso é um absurdo…! – e olhando diretamente nos seus olhos. – E pra que você quer esse contrato? Não basta receber o dinheiro?
Fernandes deu de ombros, enquanto andava pelo escritório.
— Não sei… Talvez como recordação. – e olhando diretamente para o rapaz. – Vai aceitar ou não?
Fabrício não entendia, mas por mais que essa ideia lhe desagradasse, queria ver Emanuela longe daquele lugar.
— Tudo bem. – disse por fim. – Mas você tem que manter a promessa de que vai deixá-la em paz.
— É claro que sim. Afinal, eu sou um homem de palavra. – disse Fernandes com um meio sorriso.
Fernandes chamou um dos homens que estava vigiando a porta. Falou-lhe algo. O homem saiu e em alguns minutos voltou acompanhado de Rosália.
— Rosália, redija um documento para mim… – disse Fernandes, logo ao vê-la entrar. – Aqui está o que tem que escrever. – concluiu, entregando um papel manuscrito.
Rosália não entendeu, mas ao ler o manuscrito sua expressão mudou.
— Compra e venda?! – perguntou olhando para o irmão. – O que você está planejando? – perguntou sussurrando.
Fernandes olhou para ela sério.
— Apenas faça.
Fernandes saiu da mesa em que estava para que Rosália pudesse usar o computador. Depois de alguns minutos, o documento estava pronto.
— Pronto. Aqui está a sua via já devidamente assinada por mim…  – disse Fernandes, entregando um papel e fazendo com que Fabrício assinasse a outra via. – Agora estamos quites. Por favor, entregue a chave do seu carro. – concluiu sorrindo.
Fabrício pegou a chave do carro e colocou em cima da mesa, em seguira saiu, Rosália saiu logo em seguida e antes que Fabrício chegasse à boate conseguiu chamá-lo.
— Você não deveria ter feito aquilo. – disse a ele, logo depois que ele parou. - Assinado aquele documento.
Fabrício ficou um pouco confuso.
— Mas, por que não? Aquele documento não tem valor legal... De qualquer forma, mesmo se ele quisesse me ameaçar com aquilo, ele colocaria a si mesmo em risco.
Rosália olhou para os lados se certificando de que ninguém estava a ouvindo.
— Tome muito cuidado com Fernandes. Ele não é o tipo de pessoa que faz algo apenas por fazer. Se eu fosse você, tomaria bastante cuidado. Ele não vai parar apenas com um carro e uma pequena quantia em dinheiro. E uma última coisa...
Rosália entregou algo para Fabrício. Era uma fotografia.
— Entregue isso para ela. – disse saindo.
O rapaz olhou para a fotografia. Nela havia três mulheres sorrindo e uma se parecia muito com Emanuela.

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