Capítulo 29
— Que
cara assustada é essa? – perguntou Viviane, saindo da penumbra.
Mariana
suspirou aliviada.
— Você
nunca ouviu falar em loira do banheiro, não? – disse Mariana, olhando para o
cabelo de Viviane. – Acho que é assim que as lendas urbanas surgem.
Viviane
bocejou e sentou-se em uma cadeira.
— Loira
do banheiro? Quem é essa?
— Você
nunca ouviu? Dizem que se você pegar três fios de cabelo loiro e jogar no
aparelho sanitário e depois chamar “Loira do Banheiro!” três vezes, uma loira
aparece para assombrar você.
Viviane
parecia desconfiada.
— Eu
nunca ouvi essa... Mas já ouvi da Bloody Mary... Se você chamá-la três vezes:
Bloody Mary, Bloody Mary, Bloody Mary, na frente de um espelho, ela aparece e
arranca seus olhos.
Mariana
fez uma careta.
— Prefiro
a loira do banheiro. – e olhando de repente para Viviane. – Espera. Você não
acabou de chamá-la três vezes? Tem certeza que precisa mesmo de um espelho?
Viviane
riu.
— Você
acredita mesmo nisso? – disse, rindo.
De
repente, um trovão ecoou pela mansão, assustando as duas. Súbito, uma mulher
apareceu na penumbra. Viviane e Mariana gritaram.
— Psiu!
Vocês querem acordar a mansão inteira? – disse alguém se aproximando.
Era
Sônia. As duas respiraram aliviadas.
— O que
vocês estão fazendo aqui? – perguntou ela.
— Eu vim
aqui, por que a água do meu frigobar acabou. – disse Viviane.
— E eu
não conseguia dormir...
Sônia foi
à geladeira e pegou um pouco de água.
— Voltem
logo para a cama... Não é bom ficar andando por aí. O corpo também precisa
descansar. – disse, saindo.
Viviane
pegou uma garrafa de água em uma das geladeiras e sentou-se novamente.
— Você
tem insônia? – perguntou ela, bebendo um pouco de água.
Mariana
balançou a cabeça negativamente.
— É só
que às vezes eu tenho pesadelos.
Viviane olhou
pensativa para Mariana.
—
Pesadelos? – disse ela, se lembrando do que Emanuela contara sobre uma garota
que tinha pesadelos por ter visto a mãe morrer. - Que tipo de pesadelos?
Mariana
suspirou.
— Para
falar a verdade, não são pesadelos realmente... Apenas alguns fragmentos de
memórias, eu acho, do dia em que minha mãe adotiva foi assassinada...
Viviane, naquele
momento, teve certeza de quem Emanuela falava naquele dia.
— E como
são... Esses pesadelos?
Mariana
suspirou novamente.
— Não sei
direito. Geralmente, é como se eu estivesse dentro de algum lugar fechado e escuro,
ouço sussurros, gritos, às vezes, um tiro... Sinto falta de ar. Não é uma
sensação boa, isso eu garanto.
Viviane
levantou-se de repente.
— Espera
só um minutinho... Eu tenho algo ótimo para pesadelos.
Mariana
não entendeu o que Viviane quis dizer com isso.
— O que
você vai fazer?
Viviane
foi para a geladeira e pegou uma caixa de leite, colocou o leite em uma panela
e deixou que fervesse. Pegou outra coisa na geladeira que Mariana não pode ver
e depois colocou uma xícara em frente de Mariana.
— Prove.
– ordenou Viviane.
Mariana
tomou.
— É muito
bom... – disse sorrindo. - Parece leite com mel...
— E é. –
sentou-se, e com o olhar um pouco distante. – Minha Bá costumava fazer para mim
quando eu tinha pesadelos ou não conseguia dormir por alguma razão.
Mariana
notou uma certa tristeza no tom de voz de Viviane.
— Parece
que você gostava muito da sua babá...
Viviane
sorriu.
— Ela foi
o mais perto de uma mãe que eu consegui... Mas ela morreu quando eu ainda era
criança. Depois disso, vieram outras babás, mas nenhuma era como ela.
Mariana
tentou mudar o foco do assunto.
— Por
falar em mãe... Ouvi que sua mãe vai para a Itália.
Viviane
olhou de repente para Mariana. Mari percebeu que Viviane ainda não sabia. Vivi
tentou disfarçar a surpresa.
─ Vai, é?
– disse, tentando ser indiferente. – Talvez seja melhor mesmo. – disse, brincando
com uma garrafa de plástico na mesa.
Mariana
olhou para Viviane, tentando adivinhar o que se passava na cabeça dela.
— Não era
isso o que você queria?
Viviane
sorriu, brincando com a garrafa que tinha nas mãos.
— O que
eu quero ou deixo de querer não importa para ela. Nunca importou.
Mariana
tomou um pouco mais de leite. Pensou que, com certeza, Viviane não odiava a
mãe, talvez só não sabia o que deveria sentir por ela.
***
No dia
seguinte, Vivi resolveu ir à faculdade. Ficou esperando por Verônica na
lanchonete. Vez e outra, percebia que alguém a observava, mas ao virar-se para
ver quem era, a pessoa disfarçava. Também percebera que alguns alunos, ao
passarem por ela, cochichavam uns com os outros. De repente, Viviane percebeu
que Verônica se aproximava.
— E aí,
Vivi? Como está a volta à faculdade? – perguntou, sentando-se ao lado de
Viviane.
Viviane
sorriu meio sem graça.
— Seu eu
disser que está maravilhosa, você acreditaria? O médico disse que eu já poderia
voltar e como meu avô ficaria chateado se eu não viesse, resolvi vir. Mas por
que estou sentindo que algo está estranho no ar?
Verônica
olhou um pouco sério para Viviane.
─
Primeiro, promete que não vai ficar muito chateada.
─ O que
foi?
─ Não vou
dizer, você já está ficando...
─ Diz logo, Verônica. – disse Vivi em um tom
ameaçador.
Verônica
suspirou.
─ Por
alguma razão, alguém andou espalhando boatos de que você não é neta biológica
do Dr. Otávio.
Viviane
ficou surpresa.
─ C-como
assim? Poucas pessoas realmente sabem sobre isso. Como isso se espalhou?
─ Eu não
sei. Mas se você não tivesse me contado, eu também teria desconfiado de algo.
Até porque sua mãe te impediu naquela hora de falar, e vocês foram para o
escritório. Também foi oficializado que as gêmeas são filhas do Jorge. Então,
acho que alguém deve ter entendido algo disso.
Vivi
ficou séria. Verônica estranhou o fato de Vivi não ter explodido.
─ Não vai
falar nada?
─ O que
eu posso falar, mais cedo ou mais tarde, isso vai ser confirmado mesmo.
Vivi
percebeu o olhar preocupado da amiga.
— Está
tudo bem. – disse tentando não preocupá-la - Nada que algumas comprinhas no
shopping não resolvam.
Verônica
sorriu, observando o esforço da amiga. Olhou para os lados, observando os
alunos que passavam. De repente, tocou no ombro de Viviane nervosamente.
— Amiga,
amiga... É ela!
Viviane
olhou para onde Verônica indicava com o olhar. Uma garota, talvez da idade de
Viviane, ou um pouco mais velha, comprava na lanchonete. Era alta e
extremamente atraente e de longe parecia uma boneca de porcelana.
— É
aquela! – disse, olhando para Viviane novamente. – A garota que vive
perseguindo o Gabriel, a Emily.
— É muito
bonita mesmo. – comentou Viviane sem qualquer interesse.
Verônica
olhou para a amiga impaciente.
— Você
não vai fazer nada?
Viviane
olhou para Verônica confusa.
— Fazer o
quê? – e suspirando – Eu já disse a você que eu não me importo com quem Gabriel
sai ou deixa de sair.
Talvez
por insistência de Verônica, Emily olhou em direção às duas. Ela se aproximou.
— Olá! –
disse, sorrindo cordialmente. – Você deve ser a Viviane... Meu nome é Emily.
Posso me sentar junto com vocês?
Como
Viviane não respondesse, Emily sentou-se junto a elas.
— Eu me
transferi esse semestre para essa faculdade. Morava no Canadá antes disso. As
universidades brasileiras estão me surpreendendo. – e sorrindo. – Me desculpem
ser tão intrometida, mas eu realmente queria muito fazer novas amizades.
Verônica
olhou um pouco irritada para a garota.
— E por
que você escolheu justamente a nós?
Emily
sorriu novamente.
— Talvez
por vocês me parecerem muito amigáveis... Ou talvez por ter ouvido sobre
Viviane.
Viviane até
aquele momento olhava absorta para o celular em suas mãos. Ao ouvir seu nome
parou de repente.
— Deve
ter sido muito difícil para você, Viviane... – disse Emily com falsa tristeza.
– Descobrir que sua mãe deve ter usado você para dar o golpe do baú. Eu ouvi o
que as pessoas estão dizendo. Eu ficaria arrasada. Ainda bem que em
famílias tradicionais como a minha, isso jamais aconteceria...
Viviane
olhou para Emily.
— Você
não deveria se meter em assuntos que não são da sua conta.
Emily
sorriu, enquanto tomava seu suco.
— Até que
enfim reagiu, pensei que ficaria calada o tempo todo... Mas o que eu disse é
apenas uma amostra do que as pessoas estão comentando... É claro que alguns
disseram que você mereceu isso.
Verônica
olhou para Emily irritada.
— Você veio
até aqui para fazer amigas mesmo?
Emily
sorriu, levantando-se.
— Acho
que não. – e olhando para Viviane. – Agora que percebi melhor, vocês não estão no
meu nível para serem minhas amigas. Você não tem o sangue dos Alcântara. – e
olhando para Verônica. – E você? Quem é você?
Verônica
se conteve para não agredir a garota. Viviane apenas permanecera calada.
— E outra
coisa... – continuou ela. – O Gabriel vai ser meu. Então é melhor você
desistir.
Viviane
sorriu irônica, olhando para Emily.
— Esta é
uma coisa que não tenho o mínimo interesse. Pode ficar com ele todinho para
você. – disse.
─ Se é o
que diz, não se arrependa depois.
Emily
sorriu e saiu. Verônica olhou para Viviane com um misto de admiração e raiva.
— Eu não
te reconheci, amiga! Você deixou mesmo aquela garota sair sem nenhuma resposta
apropriada para ela?
Viviane
tomou um pouco do suco, enquanto mexia no celular.
— E o que
você gostaria que eu dissesse? Ela apenas disse o que os outros estão
dizendo... E de qualquer forma, é verdade que eu não tenho o sangue dos
Alcântara.
Verônica
parecia impaciente.
— E você
se importa tanto com isso? O seu avô não te aceita do mesmo jeito?
Viviane
olhou para Verônica séria.
—
Pessoalmente, talvez eu não me importe. Mas a sociedade é assim mesmo.
Viviane
levantou-se e saiu para ir à aula. Verônica seguiu-a.
— Então,
você vai deixar assim? Vai deixar que ela fale desse jeito de você e da sua
mãe?
Viviane
parou, olhando para Verônica.
— E ainda
se orgulha de me conhecer a tanto tempo... Acha mesmo que não vai ter volta?
Posso não ter uma boa relação com a minha mãe, mas de uma coisa eu sei, se
minha mãe me usou, foi para ficar com o Jorge, não com o dinheiro dele. De
qualquer forma, essa garota é tão irritante, que me deu vontade de irritá-la
também.
Verônica
pareceu empolgada.
— E o que
você vai fazer?
Vivi
olhou para Verônica intrigada.
— Que
milagre é esse? Você era uma das primeiras a tentar me fazer desistir dos meus
“planos”.
Verônica
sorriu.
— Deve
ser por que realmente detesto aquela garota!
Viviane
olhou para Verônica e riu-se.
— Ok. –
disse, sorrindo. – Então, ela vai saber que mesmo eu não tendo o sangue dos
Alcântara, deve saber que não se deve brincar com Viviane Alcântara.
— E o que
você pretende fazer?
Viviane
pareceu pensativa. De repente, olhou para Verônica sorriu.
— Vou
tomar o Gabriel dela.
***