quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

SESSÃO LEITURA - A PERUCA - MÁRIO PRATA

O texto abaixo é de autoria de Mário Prata.
Para maiores informações sobre o autor, favor acessar: https://www.ebiografia.com/mario_prata/.
Boa leitura!

A PERUCA

Você há de concordar comigo: peruca de homem é um negócio que não deu certo. Nada grave, nada pessoal. Tem coisa que dá certo, outras não dão. É normal. Peruca, definitivamente, não deu. Ou você já viu algum homem de peruca sem perceber que era um homem com peruca?
Acho que os calvos chegados a uma peruca, são todos exibicionistas. Sim, porque assim que entram no restaurante, todos olham. E comentam. É um delírio para as crianças. Olha a peruca daquele cara! São as primeiras a notar. Criança adora ficar olhando para homem com peruca. Pode notar.
Eu, pessoalmente, nutro um velho sonho de arrancar a peruca de um carequinha. Mesmo que leve uma porrada em seguida. Quero ver como o sujeito fica ao natural e, mais ainda, com que cara ele vai ficar diante da multidão que, claro, irá me aplaudir.
Fui olhar no dicionário agora e quem usa peruca nem nome tem. Peruqueiro é quem fabrica aqueles medievais ornatos.
Será que eles – os que usam – acham que enganam alguém? Sei não, eles estão sempre com cara de quem está abafando (a calvície, é claro). Nada com os calvos ou semi-calvos, meu senhor. Estou falando de peruca.
Conheço muitas histórias envolvendo perucas. Mas a mais interessante delas, foi com uma velha tia. Teve aquela doença em que caem todos os pelos e tinha uma (como será o coletivo de peruca? perucateca?) porrada de perucas. O fato se deu no dia do enterro do meu tio, marido dela.
O caixão descendo, ela chorando copiosamente (adoro a palavra copiosamente) ali, à beira do túmulo. Eis que, de repente não mais que de repente, cai uma chuva. O cavalheiro ao lado abre seu guarda-chuva para proteger a jovem (apesar de seus setentinha) viúva. No que abre, a vareta engancha na peruca e a eleva. Do outro lado, sobrinhos e netos vêem a mulher sem a peruca, careca. Começam a rir. Aquilo vira uma balbúrdia. O caixão descendo.
Alguém, de bom coração, foi lá, desenroscou a peruca e ajeitou na cabeça da velha senhora que chorava com ou sem o artefato. Só que a pessoa colocou meio torta. E aí vinham todos para cumprimentar, para desejar os meus sentimentos e levava a mão à cabeça da perucada, dando uns tapinhas, ajeitando os lados. Para quem não acreditou, foi filmado. Ninguém nunca viu o filme, mas que foi, foi.
Mas voltemos às perucas masculinas. Acho que elas são tão diferentes do resto de cabelos que o cidadão tem, porque não são lavadas diariamente. Você acha que o sujeito lava aquilo todo dia? Que dá para a empregada lavar? E depois, pendura no varal? Que leva no cabeleireiro? Ela está sempre encorpada, empapada, ensebada mesmo. Um horror! E os que preferem a peruca repartida do lado, tentando mostrar naturalidade? Dá até para ver que tem uma redinha entre ela e o couro cabeludo. Perdão, couro ex-cabeludo.
Só tem uma pessoa no Brasil que usa peruca e ninguém nunca desconfiou: o Itamar Franco, que sempre gostou de se camuflar. Aquela é bem feita. Tão bem confeccionada que as pessoas nunca olharam para base dela, mas sempre para o topo da pirâmide. E não percebem.
É mesmo preciso ter topete para usar um troço deste.

Fonte: https://marioprata.net/cronicas/a-peruca/.

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