CENA 1 - MORRINHOS - CASA DE BRANCA - SALA - INT. - NOITE.
A sala cobria-se de escuridão, mas Branca percebeu que havia alguém dentro da casa.
BRANCA - Meu filho, já cheguei.
Apertou o botão e a luz alegrou o ambiente. Seus olhos fixaram-se num paletó de linho, branco, pendurado no encôsto de uma cadeira. Reconheceu-o de imediato. Aflita, trancou a porta da frente.
BRANCA - (chamou em voz baixa) Lourenço, você está aí?
O marido apareceu, vindo dos fundos da casa. Branca atirou-se em seus braços, sequiosa.
BRANCA - Você veio, bandido! Você veio! Eu te esperei tanto! Tanto! (beijou ardentemente os lábios do esposo).
LOURENÇO - (convencido) Sabia que você estava louquinha de saudade...
BRANCA - Você não merece... você não merece nem a saudade, nem a minha aflição!
LOURENÇO - Se não merecesse, você já tinha me delatado, como prometeu...
BRANCA - E aquela carta... e Estela?
LOURENÇO - Eu sei lá de Estela! (empurrou a mulher, com ambas as mãos, e virou-se de costas. A lembrança de Estela nunca lhe trazia calma).
BRANCA - Mas... você voltou ao clube para saber notícias dela. Confesse!
LOURENÇO - Não confesso nada. Se vai me atentar a paciencia, eu dou o fora de novo.
Branca o abraçou por trás, com meiguice.
BRANCA - Não (cochichou no ouvido do marido) você não faz isso. Agora, você não me larga mais. Estamos muito comprometidos. Nós dois, num crime, num caso muito sério...
O verdadeiro caráter da mulher revelava-se claramente. Pouco lhe importavam os problemas morais e sociais do jovem garimpeiro, foragido por um crime que não cometera. O “cadáver” ali estava, vivinho da silva.
LOURENÇO - Você não deu com a língua nos dentes, não?
BRANCA - Acha que ia ter coragem? Depois de ter te esperado tanto... ia pôr tudo a perder... pelo meu ciúme?
Ela forçou o corpo do homem e virou-se de frente. Uma luz diferente brilhava no fundo dos seus olhos, enquanto as unhas se enterravam na carne macia do pescoço de Lourenço.
LOURENÇO - Fez tudo como eu mandei?
BRANCA - E não fiz, bem? Não denunciei João? Não fiz direitinho, tudo como você mandou?
LOURENÇO - (pegou do bule sobre a mesa e derramou café na xícara azul) Eles foram na tua conversa?
BRANCA - Que papel você me obrigou a fazer!
LOURENÇO - Mas deu certo. Tudo que eu planejei, deu certo!
BRANCA - Mas você tem se arriscado. Aqui é que não devia ter vindo.
LOURENÇO - (lembrou-se do filho) Alberto, onde está?
BRANCA - Está aqui! Veio me fazer companhia e se ele te encontra, o que é que a gente vai dizer?
LOURENÇO - (interrogou, apreensivo) Você não contou a verdade pra ele, não?
BRANCA - Acha que um rapaz da idade dele vai entender essas coisas? E eu ia ter coragem de meter nosso filho nessa embrulhada que você arrumou?
O ex-capataz ergueu a mulher pela cintura, feliz da vida. Rodopiou com ela pela sala. Sorria.
LOURENÇO - Vale a pena, mulher! Tu vai ver só o tamanhão do diamante! Tu vai ficar rica, mulher!
CORTA PARA:
CENA 2 - MORRINHOS - CASA DE BRANCA - SALA - INT. - NOITE.
O par voltou a considerar a realidade. Como revelar ao filho a verdade sobre os acontecimentos? Alberto acreditava o pai morto e sepultado.
BRANCA - Pois é. Ele largou os estudos pra vir cá, me ajudar.
LOURENÇO - Manda ele de volta. Tem que se formar pra doutor. Logo, logo, eu vendo o diamante e a gente fica rico. Sustento estudo dele até na Europa, se quiser.
BRANCA - Você se esquece de uma coisa: ele pensa que o pai morreu assassinado. E não sei como lhe dizer que o pai está vivo e que teve que passar por morto, por causa do diamante que roubou...
LOURENÇO - Aos poucos a gente faz ele conhecer essa verdade.
BRANCA - Conheço nosso filho. Ele não vai aceitar essa verdade. Tem outra idéia, outro pensamento.
LOURENÇO - Que é que você quer que eu faça?
BRANCA - Nada. Mas ele vai ser o nosso maior problema, nosso maior obstáculo.
LOURENÇO - Maior obstáculo, uma pinóia (explodiu) Se ele não aceita, paciencia, eu cuido da minha vida, ele da vida dele, ora!
Branca tornou a abraçar e beijar o marido, envolvendo-o num clima de desejo. Passou as mãos de leve por sobre a cabeça dele.
BRANCA - Agora, você tem que desaparecer daqui, depressa. Padre Bento e Lara estão em Morrinhos. Vieram para a procissão de Nossa Senhora do Rosário. Por incrível coincidência, Alberto os conheceu e os convidou para virem se hospedar em nossa casa.
LOURENÇO - (fez uma careta de raiva) Diacho! Alberto é do contra!
BRANCA - (insistiu, alisando o rosto do marido) Vai... tem cuidado... não apareça. Fica em Belo Horizonte. Me deixa tua direção. Eu te procuro. Não venda já o diamante.
CORTA PARA:
CENA 3 - CASA ABANDONADA - SALA - INT. - DIA.
João acabara de almoçar, quando Braz entrou, intempestivamente.
BRAZ CANOEIRO - Tem novidade procê!
JOÃO - Então desembucha, home!
BRAZ CANOEIRO - Fiquei sabeno que vai tê a festa de Nossa Senhora do Rosário, em Morrinhos. Vai saí uma procissão de Coroado. Tem um monte de gente acompanhando.
JOÃO - E daí?
BRAZ CANOEIRO - E dai que... sabe quem vai acompanhá a procissão, com Padre Bento? Dona Lara!
JOÃO - (sério) A gente tá brigado, Braz.
BRAZ CANOEIRO - Eu sei. Tou te contano porque... quem sabe ocê pode querê ir a Morrinhos pra vê tua mulhé...
JOÃO - Melhor não mexê nisso agora.
BRAZ CANOEIRO - Eu acho que tu devia ir, Jão. Dona Lara merecia outro tratamento. Um amor como o de ocês num pode acabá assim... Ocês tem de conversá...
JOÃO - (animou-se) Tá bom. Tá decidido! Vou a Morrinhos, arriscando meu pescoço, mas vou!
BRAZ - Assim que se fala! Só toma cuidado. Me dissero que o Falcão vai também!
JOÃO - Melhor ainda! Tenho umas contas a ajustar com esse canalha. Não vou perdê essa oportunidade!
CORTA PARA:
CENA 2 - MORRINHOS - HOTEL CENTRAL - INT. - NOITE.
A festa de Nossa Senhora do Rosário levou a Morrinhos grande parte da população católica de Coroado e da extensa região que se alargava entre as montanhas e o planalto goiano. Região rica, banhada pelos rios e muito procurada pela fartura de caça e pesca.
João hospedou-se no Hotel Central. Acabara de chegar ao quarto, quando ouviu um barulho no corredor e entreabriu a porta. Para sua surprêsa, reconheceu Falcão, que acabara de entrar no quarto ao lado do seu. Fechou a porta, sem fazer ruído, e encostou-se à parede.
JOÃO - (para si) É hoje, Falcão, que vamos acertá nossas conta!
CORTA PARA:
CENA 3 - MORRINHOS - HOTEL CENTRAL - QUARTO DE FALCÃO - INT. - NOITE.
João fumava tranquilamente no quarto do delegado de Coroado, quando a porta se abriu e uma mão procurou o comutador. A luz não se fez.
DELEGADO FALCÃO - (irritado) Ora, essa...
JOÃO - Fique onde está e levante as mãos... Não se mova. Não dê um passo. Jogue sua arma. Tenho a mira certinha no seu coração.
Falcão descarregou o revólver contra o quarto escuro, desesperado, sem atinar contra quem ou contra o quê.
DELEGADO FALCÃO - É você, João Coragem? Não adianta se esconder. Eu sei que você está aqui e vou acabar com tua raça. Apareça, covarde. Apareça, se é homem!
JOÃO - Estou aqui, Falcão!
O garimpeiro apareceu por detrás do guarda-roupa de jacarandá. As balas haviam perfurado móveis e paredes, mas João permanecia incólume. E com a arma cheia de balas. Falcão premiu o gatilho. Duas, tres vezes. O estalido anunciou que a arma estava descarregada.
A voz do garimpeiro encheu o ambiente.
JOÃO - Não adianta, Falcão. Você gastou todas as balas, atirando nos fantasmas. Que tipo de delegado é você? Sem habilidade. Medroso.
João avançou de arma em punho. Puxou o inimigo para dentro do quarto.
DELEGADO FALCÃO - Que é que você veio fazer aqui?
JOÃO - Vim só lhe dar uma lição. Fazer você engolir tudo quanto é infâmia que anda espalhando da minha mulher...
DELEGADO FALCÃO - Não sou eu que espalho (negou, acovardado) Você devia fazer o mesmo com o sujeito com quem ela se divertiu uma noite. O tal que tirou a arma dela, lembra-se? Foi daí que começou a fama de sua mulher.
JOÃO - Vou te calar a boca de uma vez! (deu uma volta em torno do corpo trêmulo do delegado). Nunca mais tu vai inventá coisa... nunca mais vai caluniá mulhé nenhuma!
DELEGADO FALCÃO - Isso é uma covardia. Meu revólver está sem balas!
JOÃO - Pra você eu não preciso de revólver, Falcão. (guardou a arma no coldre e desferiu violento soco no queixo do delegado. Falcão caiu ao solo, tonto. Tentou levantar-se e o garimpeiro tornou a apanhá-lo com um gancho de esquerda. Puxou um punhal e espetou-o sob o queixo do adversário) Nunca matei ninguém, apesar de ser acusado de um crime. Nunca matei. Mas vou acabar com a tua vida porque tu não presta e num merece continuá vivendo.
DELEGADO FALCÃO - (estrebuchou, implorando, quase em lágrimas) Não... João... espera!
JOÃO - Se sabe rezá, reza, porque tu vai morrê.
O delegado gritou, a voz saindo-lhe fina como a de um soprano. O punhal arrancava as primeiras gotas de sangue do fantoche de Pedro Barros...
FIM DO CAPÍTULO 80
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Branca (Neuza Amaral) reencontra Lourenço (Hemílcio Fróes) |
E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...
*** CHOVE TORRENCIALMENTE EM COROADO. POTIRA DESAPARECEU E RODRIGO PEDE AJUDA AO DELEGADO PARA ENCONTRAR SUA MULHER.
*** JERÔNIMO ENCONTRA A ÍNDIA NA GRUNA, QUE CORRE RISCO DE DESABAMENTO. POTIRA DIZ AO AMADO QUE QUER MORRER COM ELE.
*** JUCA CIPÓ CONTA A PEDRO BARROS QUE VIU POTIRA E JERÔNIMO NA GRUNA, E QUE OS DOIS VÃO MORRER SOTERRADOS!
NÃO PERCA O CAPÍTULO 81 DE