domingo, 16 de outubro de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 75


Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair 

CAPÍTULO 75

PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:

JERÔNIMO
MARGARIDA
JOÃO
PEDRO BARROS
LÁZARO
DELEGADO FALCÃO
DR. MACIEL
SINHANA
GARIMPEIROS
CAPANGAS DE PEDRO BARROS

CENA 1  -  COROADO  -  PRAÇA  -  EXT.  -  NOITE.

Os casais conversavam isolados, perdidos na escuridão da praça. Aqui e ali um poste jogava luz sobre um banco, clareando um pedaço de grama convidativa e fresca. O cricrilar dos grilos nas moitas de capim dava um toque rústico e lírico á pracinha, adornada de flores e árvores frondosas. Sentado a um canto, meio escondido entre arbustos, Jerônimo admirava a figurinha meiga que há meia hora falava com ele. Era uma jovem morena, de olhos entre negros e castanhos, cabelos escorridos sobre os ombros e um corpo esculpido por mãos de mestre.


JERÔNIMO  -  Você acha que existe alguém que se pode conformar em fazer um casamento só de amizade?

MARGARIDA  -  Depende...

JERÔNIMO  -  Você... por acaso... se conforma?

MARGARIDA  -  (pensou por alguns segundos, olhando fundo os olhos do interlocutor)  Eu? Já ando também desiludida de casamento. Tou passando da idade... Você sabe como é em cidade do interior. Se a gente não casa até os 17 ou 18 anos, acaba ficando para titia. E vida de solteirona não é coisa que se deseje pra mulher nenhuma...

JERÔNIMO  -  (segurando entre as suas, as mãos delicadas da moça)  Mas... se lhe aparecer alguém que lhe ofereça só amizade, respeito, mais nada... você topa?

MARGARIDA  -  Topo, uai... (fixou os olhos do rapaz e fez a indagação que a atormentava desde o inicio)  Eu não sou a mulher que você escolheu pra esposa, não é?

JERÔNIMO  -  (premiu mais forte as pequeninas mãos que retinha entre as suas) É. É você mesmo, Margarida. Quero casar com você.

A luz embaçado do poste iluminava dois corpos muito juntos, muito distantes...

CORTA PARA:

CENA 2  -  COROADO  -  PRAÇA  -  EXT.  -  NOITE.

De repente o atropêlo, o pipocar de armas e o tropel avassalador de cavalos. Num átimo a praça se encheu de agitação. Gente a correr espavorida, buscando a proteção dos bancos e do coreto que sobressaía no centro da praça de Coroado. Cêrca de uma dúzia de homens, com João Coragem á frente, invadiu a porta da Associação dos Garimpeiros. O líder do bando deu ordens rápidas e enérgicas. Metade se dirigiu para a delegacia. Braz acompanhou João e adentrou a entidade presidida por Jerônimo.


CORTA PARA:

CENA 3  -  ASSOCIAÇÃO DOS GARIMPEIROS  -  INT.  -  NOITE.

 
Espadaúdo e com a barba de vários dias , a enegrecer-lhe o rosto corado, João parou no centro do salão. Avistou o inimigo.


JOÃO  -  Pedro Barros!

O coronel adiantou-se, sem demonstrar receio. Juca Cipó entrincheirou-se por detrás de uma pilastra.


PEDRO BARROS  -  Que significa isso, João?

JOÃO  -  Uai... vim recebê um prêmio que ocê andô oferecendo pra quem me trouxesse na tua festa!

Alguns capangas tentaram reagir, mas os homens de João Coragem estavam dispostos a tudo. Barros aquietou os jagunços.

PEDRO BARROS  -  Francisco, espera. A gente tá conversando.

JOÃO  -  (com um sorriso irônico)  Eu tou aqui. Vim recebê o prêmio pessoalmente.

Os presentes encolheram-se, ìntimamente, certos de que Pedro Barros e João Coragem abririam fogo a qualquer instante. Os mais temerosos saíam pelas laterais em busca da escuridão da noite.

JOÃO  -  (estendeu a mão, galhofeiramente)  Passa pra cá os cobre!

PEDRO BARROS  -  Mas... eu ofereci o prêmio a quem trouxesse você morto!

JOÃO  -  (desmentiu)  Vivo ou morto. Mostra aí o cartaz prêle, Braz Canoeiro. (Braz abriu um rôlo de papel e escancarou-o á frente do inimigo)  Taí. Num é mentira, não. Vivo ou morto! E eu tou precisano desse dinheiro! Me entrega a gaita ou quem vai morrê é ocê!

Num movimento ágil, João  enterrou o cano do revólver na barriga de Pedro Barros.

Espalhados pelo salão, os capangas de João Coragem, atentos, faziam mira sobre os jagunços do coronel. O clima estava tenso como nunca.

CORTA PARA:


CENA 4  -  COROADO  -  ASSOCIAÇÃO DOS GARIMPEIROS  -  INT.  -  NOITE.


JOÃO  -  (ordenou) Tira a arma dos valentão!

Incontinenti, os companheiros arrancavam facas e revólveres, atirando-os pelas janelas. Pedro Barros, apoplético, retirou mansamente maços de dinheiro do bolso interno do paletó. Entregou-os ao jovem corpulento que continuava com a arma imprensada contra sua barriga. Calmamente, João guardou os maços. Dando um passo atrás, dirigiu-se aos homens que ainda permaneciam no interior da Associação.

JOÃO  -  Todo mundo tá de prova como foi um negócio honesto! Ele ofereceu o prêmio pela minha presença na festa! Eu vim recebê o prêmio... pessoalmente!

Os garimpeiros riram, num côro nervoso.

LÁZARO  -  (gritou de um ponto distante)  Mostra que é home, João!

JOÃO  -  (levantou os dois braços, pedindo silencio)  Agora, só mais um aviso, Pedro. Isto aqui... é o começo, viu? O começo do fim de tua prosa. Vou te jogá na miséria. Olha aí, minha gente. Eu faço juramento, vou jogá o coronel, dono de Coroado, na miséria total. Só vou tê descanso quando ele estendê a mão pra mim, me pedindo esmola! Vocês tudo aí, são testemunha!

PEDRO BARROS  -  (num rasgo de ousadia)  Eu quero ver qual de nós dois vai estender primeiro a mão!

JOÃO  -  Tá aí. Faço uma aposta! (propôs, retirando-se sem dar as costas para o grupo)  Vocês também pode fazê. Dou um ano pra derrubá ele! Quem qué apostá em mim, aposta! Quem qué apostá nele, pode apostá! Pode continuá com a festa, gente. Me desculpe se não fico. Eu não sei dançar... (arisco, escapuliu, porta a fora).

CORTA PARA:

CENA 5  -  COROADO  -  DELEGACIA  -  INT.  -  NOITE.  


PEDRO BARROS  -  Até agora você não me disse onde estava na hora do assalto!

Pedro Barros exigia satisfações ao delegado, verberando a ausência do policial, que acarretara, além do mais, a morte do cabo Elias, fuzilado por Lázaro. Falcão procurava desculpar-se.

DELEGADO FALCÃO  -  A culpada de tudo foi sua filha. Eu estava no carro dela. Furou um pneu e fui obrigado a trocá-lo, na estrada. Em lugar dela me ajudar, se divertia com a cena. Ria á beça da minha aflição. Eu estava doido pra chegar á cidade, preocupado justamente com João.

PEDRO BARROS  -  Você tem que tomar uma atitude. Tem que mandar buscar reforço pra proteger mais sua cadeia. Não se pode ficar aqui á mercê de um ataque de João.

DELEGADO FALCÃO  -  Uai! Cadê os seus homens?  (gracejou, ofendido)  O senhor não contava tanta prosa? Que fazia e acontecia? Por que eles não impediram o João de levar o seu dinheiro e fazer o que fez? Uma cena de vandalismo perfeito!

PEDRO BARROS  -  Ele me fez uma ameaça muito grave e eu agora vou me proteger melhor, se não posso contar com você.

Dr, Maciel surgiu, vindo da sala contígua, com um pano a enxugar as mãos. Falou consternado.

DR. MACIEL  -  Morreu... A bala atingiu o coração.

DELEGADO FALCÃO  -  É de amargar! Como é que pode ter acontecido isto?

Pedro Barros não podia externar a satisfação que sentia. A situação de João Coragem complicava-se a cada instante e a morte do Cabo Elias vinha juntar-se ás muitas culpas atribuídas ao garimpeiro, agora marginalizado pela sociedade. Barros virou o rosto para sorrir ao destino, furtando-se aos olhares sarcásticos do policial e do médico alcoólatra.

CORTA PARA:

CENA 6  -  CASA DO RANCHO CORAGEM  -  SALA  -  INT.  -  NOITE.


Enquanto o bando se dirigia para o esconderijo, João se deixou ficar, por alguns instantes, no seio da família. Abraçava a mãe, emocionado.

SINHANA  -  João caçado pela polícia... um prêmio pela cabeça de João! Esse João de que tanto falam... por aí... de quem todo mundo tem tanto medo... será você, meu filho?

JOÃO  -  (sorriu, soltando o corpanzil da velha)  Sabe que é, mãe. Pensei que a senhora tava mais conformada. Fecha bem as porta, tem gente pra burro atrás de mim (avisou, indo até a janela para descortinar o trecho da estrada visível á luz da lua).

SINHANA  -  Como foi que tu veio para cá?

JOÃO  -  Me desgarrei dos home... Disse: cês vão na frente, eu vou dá um abraço na velha.

SINHANA  -  (receosa)  E se vierem te pegá aqui, João?

JOÃO  -  Quem é que vai pensá que eu vim pra cá, mãe?

SINHANA  -  Com todo risco, foi bom que tu veio. Tava morreno de saudade de ocê. Senta aí que vou fazê um café dos que ocê gosta. Deixa a luz apagada, né?

Sinhana soprou o candeeiro e entrou na cozinha.

João levantou-se e tornou a acender o lampião.


JOÃO  -  Mãe, vou deixá a luz acesa. Pra despistá. Se alguém passá por aqui, vai pensá: “João num pode tá ali. A luz tá acesa! Se tivesse, eles iam deixá a casa no escuro...”


FIM DO CAPÍTULO  75
João invade a Associação na intenção de receber o prêmio!

e no próximo capítulo...

*** Falcão reúne seus homens para iniciar a caçada a João Coragem e seu bando!

*** Maria de Lara recebe o primeiro sinal de que Márcia, sua terceira personalidade, começa a se manifestar!

NÃO PERCA O CAPÍTULO 76 DE



2 comentários:

  1. Toni, Pedro Barros pensando em tirar vantagem da atitude de João Coragem! Sempre se dando bem, e a coisa vai piorar! Que novela! Bjs.

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  2. E João deu a maior volta no velho coronel rsrsrs

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