terça-feira, 6 de agosto de 2013

FIC - BORBOLETAS NO CORAÇÃO - CAPÍTULO 43 - AUTORA: SÔNIA FINARDI

XLIII

Claude teve que explicar várias vezes para Fernanda que era a Mamãe Natureza quem dava a palavra final nas encomendas dos bebês. Que Papai do Céu anotava os pedidos e passava para ela e, com o tempo,  os bebês aconteciam.
Foram perguntas e mais perguntas. Borboletinha quis saber como e onde havia sido encomendada. Claude descreveu a cachoeira e a cabana  em  que  passou sua primeira noite com Rosa em Bonito.
Foi tão breve e direto quanto possível em suas respostas, agradecendo intimamente por ela não perguntar como nasciam os bebês. Então, satisfeita, depois de fazer o pai prometer que a levaria para conhecer essa tal de Mamãe Natureza, quando voltassem para casa, perdeu o interesse pelo assunto e começou a brincar com Térese, não sem antes convencê-lo a comer outra torrada.
Claude aproveitou a deixa e foi atrás de Rosa.
- Chérie... Rosa? – Chamou-a, enquanto caminhava.
- Aqui no quarto, deitada. – Respondeu, escutando os passos dele se aproximarem.
Rosa estava deitada de costas, as mãos  sobre o rosto, na altura dos olhos.
- Como está se sentindo, hum? – Perguntou, segurando uma das mãos dela entre as suas, enquanto a outra permanecia sobre seu rosto.
- Horrivelmente zonza... –Eu não acredito que passamos um mês aqui e eu não me adaptei ao fuso horário!
- Non lhe ocorreu que pode ser outro o motivo dos seus enjoos, gatinha?
- Que outros motivos, Claude? – Rosa falou, tirandoo braço do rosto e olhando para ele -  Eu só fiquei assim quando estava... grávida?! – Olhou um tanto incrédula para ele.
- Por que non? Non demos muito descanso à Mamãe Natureza nos últimos meses, demos? – E apoiando a mão no colchão, inclinou-se, beijando-a  levemente sobre os lábios.
Quis aprofundar o beijo, mas Rosa o empurrou, reclamando:
- Geleia de goiaba... Oh, não! Desculpa, amor! – E retorna ao banheiro, voltando em seguida para o quarto - Céus, Claude, como vou  entrar num avião desse jeito? – Pergunta, pois aquele era o último dia em Paris.  Pegariam o último voo da noite de volta ao Brasil.
- Podemos procurar um médico, hã? Enton, saberemos se está mesmo grávida. – Havia um brilho de felicidade nos olhos dele.
- Não, não acho que é pra tanto... Amanhã já estaremos no Brasil e – Rosa se cala, percebendo uma leve decepção em Claude. - Olha, por que não tenta comprar um remédio contra enjoos... e um teste de gravidez para mim numa farmácia?
Não precisou pedir duas vezes. Claude se despediu dela e menos de uma hora depois, estava de volta. Rosa já se sentia melhor e brincava com Fernanda. Não tinha muito com o que se preocupar, pois as malas já estavam prontas.
- Voilá! – Exclamou Claude, entrando - Eu sabia que ia ser difícil, mas non tanto, aqui non se vende remédios sem receita médica, mas quando eu pedi o teste de gravidez e disse que íamos pegar o avion para o Brasil, o farmacêutico foi mais compreensivo.
- Bem, vamos lá – Rosa disse, pegando o embrulho das mãos de Claude, ansiosa também para saber o resultado.
Deixaram Fernanda com Térese. Claude ficou aguardando no quarto que Rosa saísse do  banheiro.
- Agora é só esperar cinco minutos, diz aqui na bula – Fala, saindo do banheiro com o frasco de teste nas mãos.
Colocou-o sobre a mesinha que havia num canto do quarto e Claude a envolveu pela cintura. Cinco... Sete... Dez minutos, esperando as linhas parecerem na fitinha branca.
Nada. Nenhuma linha.
- É, parece que a culpa é mesmo do fuso horário. – Fala Rosa, decepcionada.
- Espera, chérie, pode ter acontecido alguma falha com o teste, hã? Eu vou comprar outro.
- Não... É melhor almoçar e nos despedirmos da mãe de Térese, acertando o que combinamos. E depois, irmos para o aeroporto, pra não termos problemas com o check-in.
Fala rapidamente, soltando-se do abraço de Claude e sai do quarto, antes que ele visse suas lágrimas. Claude ainda insistiu, para comprarem um outro tipo de teste, mas Rosa estava irredutível. Não passaria por mais uma decepção.
O avião aterrissou em Guarulhos com um pequeno atraso e seguiram de táxi para o casarão. Seria uma surpresa e tanto para seus pais, que não estavam esperando por eles.
Haviam trazido apenas uma mala e despachado as outras direto para Campo Grande, onde Janete iria retirar e enviar para Aquidauana onde moravam. Fernanda subiu a escada toda faceira contando os degraus. Apesar de não frequentar ainda nenhuma escola, Claude e Rosa estavam sempre lhe ensinando alguma coisa. Conhecia algumas letras, principalmente as do seu nome, sabia contar, tendo uma ótima noção de quantidade. Não tivera problemas na França, pois Claude a ensinara o francês desde que começou a falar.
Rosa abriu a porta e Borboletinha entrou correndo, gritando pelos avós:
- Vovô! Vovó! Surpresinha!!!!! Cadê vocês?!?!? – E para, na entrada da copa, recuando alguns passinhos.
- Mãe? Pai? Viemos passar uns...
Assim como Fernanda, Rosa para seus passos e a frase pela metade. Ali, sentado ao lado dos pais, lanchando estava Júlio e ao seu lado Cleide, filha da vizinha.
- Filha! – Falam Giovanni e Amália ao mesmo tempo.
- Rosa! – Exclama Júlio, visivelmente perturbado.
- Rosa... – Murmura Cleide, desgostosa, irritando-se ainda mais ao ver Júlio levantar e abraçar Rosa.
- Rosa! Há quanto tempo! – Exclama, enquanto a abraça, deixando-a constrangida – Como você está? – E Rosa sai do abraço.
- Minha mulher está muito bem, hã? –Claude  abraça Rosa, puxando-a para si e sua  voz soa carregada e fria. - Dona Amália eu tive a liberdade de colocar a mala no antigo quarto de Rosa.
- Claro! Claro! Mas que surpresa, meus filhos!  - Fala Amália, tentando suavizar o momento.
- Chegaram numa boa hora, capice? Amália acabou de passar um cafezinho.  Vem dotore, senta e  diz, que  milagre é questo de aparecem aqui? Non estavam na Europa?
- Rosa quis visitá-los antes de voltarmos à nossa rotina normal, S. Giovanni...
- Filha, você lembra da Cleide, não é? – Diz Amália.
- Claro, mamãe. Como vai Cleide?
- Bem, Rosa.
- E tuo  avô no merece um abraço, bambina? – Fala Giovanni, olhando para Fer.
Fernanda abraça os avós e depois é acomodada numa  cadeira.
Amália corta um pedaço de bolo e serve Borboletinha. Rosa serve Claude e depois tira um pedaço para si.
- Merci, gatinha. – Fala Claude provocantemente.
- Então estavam pela Europa? – Pergunta Júlio, sem tirar os olhos de Rosa.
- Sim, passamos um mês no Texas e outro na França. Claude não tinha férias há mais de cinco anos...
- Foi nossa segunda lua-de-mel, hã? – Diz Claude, pousando sua mão sobre a de Rosa.
- Vovó, tem Toddynho?! – Fala Fernanda, quebrando um pouco o clima.
- Filha! Isso não se faz! – Diz Rosa para Fernanda.
- Ma que isso, hã? Desde quando minha neta não pode pedir algo em  minha casa, Rosa? – Se ofende Giovanni.
- Mas papai... – Tenta argumentar Rosa. – Não foi assim que eu...
- Chega de mais, filha!  Amália você tem o que nossa bambina pediu, não tem?
- Ah! Eu sempre tenho! Nunca se sabe quando você vai aparecer, não é, Borboletinha? Eu vou buscar pra você, querida! – Responde Amália.
- Oba!
- Eu te ajudo,mamãe! – Fala Rosa, seguindo dona Amália até a cozinha – Mamãe – Fala baixinho -  O que o Júlio faz aqui?
- Ele veio trazer o convite de casamento, Rosa. Vai se casar com a Cleide.
- Isso explica a cara que ela fez quando me viu...  – Comenta Rosa.
- Eu não o esperava... Mas também não esperava vocês, hum? Foi muita coincidência! Melhor você voltar pra mesa, leve o Toddynho pra Fernanda... Eu vou levar mais alguns petiscos...
Rosa volta à mesa e o clima só não é pior porque Fernanda contava sob seu ponto de vista como havia sido a viagem.
Em sua pausa para tomar a bebida que pedira, Cleide aproveita para  mencionar seu casamento e convidar Rosa. Mas antes que ela ou Claude dê uma resposta, Amália entra:
- Olha só, eu trouxe bolacha, torradinha e geléia de goiaba que eu sei que você gosta, Serafina!
Rosa olha para o pote de geléia e imediatamente fica pálida. Prende a respiração, tentando controlar a ânsia inesperada. Mas sem sucesso. Levanta-se de um salto e sai correndo para o banheiro.
- Ma o que deu nela?
- Ah, vovô...  Meu papai disse que é culpa da  Mamãe Natureza que vai me dar um irmãozinho!
- Io vou ser avô de novo?! - Exclama Giovanni, rindo.
- A Rosa vai ter outro filho? – Resmunga Júlio.
- Júlio, é melhor irmos – Fala Cleide, fulminando-o com o olhar e  levantando-se -  Dona Amália vai cuidar  da Rosa, obrigada pela atenção... Vamos, Júlio!
- Mas a Rosa pode precisar de ajuda!
- Ela tem um marido, Júlio, não sei se você percebeu. – Diz Cleide, perdendo a paciência - E você tem uma noiva, talvez não por muito tempo!
- Cleide, não estamos em casa! – Júlio a repreende com o olhar.
- Desculpe-me, dona Amália, seu Giovanni... Eu... Perdi a cabeça!
- Como sempre, não é? Melhor nos retirarmos mesmo.  Éhhhh. Dê os meus  parabéns à Rosa, dona Amália... Até logo.
Amália termina por acompanhá-los até a porta. Enquanto isso...
- Papai, a mamãe tá chamando você! Ela não para de...“eca” – Diz Fernanda voltando do banheiro, onde tinha ido atrás da mãe.
- ASerafina tá mesmo grávida, dotore? – Pergunta Giovanni, seguindo atrás de Claude.
- Ela passou mal assim na França, seu Giovanni, principalmente depois que comeu geleia de goiaba, hã? Pensávamos que era pela mudança de fuso horário, mas piorou depois da geleia.
- Io vou ser avô de novo! Dio mio! Serafina, que bela notícia, hã?
Rosa já estava no quarto deitada.
- Papai, o Claude está errado! Eu fiz um teste ontem, de farmácia e não teve resultado algum!
- Devíamos fazer outro, chérie.  E ir ao médico, d’accord?
- Não, eu não estou de acordo! – Fala Rosa, irritada - Não vou passar mais uma vez por isso! Quantas vezes eu fiz esses testes nos últimos anos? E sempre negativo!
- A Mamãe Natureza não vai trazer o meu irmãozinho, mamãe? – Pergunta Fernanda, triste.
Claude olha para Rosa, como quem diz: Viu o que você fez? Sente-se culpada pelo desencanto da filha.
- Oh, meu docinho! – Diz abraçando-a -Ainda não foi desta vez, ok?
- Rosa, por favor, vamos... – Começa Claude.
- Ah, meu Deus, Claude! Eu já disse que não!
Fernanda começa a chorar.
- Bambina vem com o tuo avô. Io quero te mostrar o balanço que fiz pra você, vem, filha.
Fernanda sai do quarto com o avô, que sussurra baixinho pra o genro:
- Boa sorte, filho!
Depois que eles saem, um silêncio paira no ar. Rosa levanta o olhar e encontra o do marido.
- Viu o que você conseguiu com essa atitude? Magoou nossa filha e está me magoando, Rosa. O que custa fazer outro teste ou procurar um médico pra tirarmos a dúvida?
- Você não entende...
- Non. Eu non entendo sua teimosia. Estamos tentando ficar grávidos há um bom tempo. Agora temos uma forte suspeita e por que um teste non deu em nada, você se recusa atentar novamente.  Eu non entendo... E quando eu disse “nós”, estou incluindo nossa filha no pacote, d’accord?
Amália entra.
- Filha... Você sempre foi corajosa, por que esse medo todo agora?
- Ah, mamãe! Eu queria tanto estar grávida... – E deixa as lágrimas caírem finalmente.
Claude a abraça e beija seu cabelo.
- Se você não confia mais em testes de farmácia, por que não fazemos o teste caseiro? – Amália fala, pacientemente.
- Teste caseiro?  - Diz limpando as lágrimas com as costas da mão - Como assim?
- Bem, não é nada científico, mas funcionou com você e com seus irmãos... Claro que depois eu confirmei com um exame médico... – Faz uma pausa–  É o teste do cloro. Colocamos a urina num recipiente e adicionamos cloro, pode ser aquele produto de limpeza que todo mundo tem, a  Cândida. Se ela escurecer, sinal positivo e se não mudar de cor, negativo. Não precisa nem tampar... Não quer tentar?
Rosa olha para Claude, como se pedisse um palpite.
- Essa decison é sua, chérie... Eu gostaria muito, mas vou respeitar  sua escolha,  oui?
- Eu... Vamos fazer assim: se eu continuar com isso por mais  alguns dias, eu faço qualquer exame... Vou até em uma consulta médica, ok?
- Está bem, Serafina!  – Vamos lhe dar esse tempo, não é, Claude?
- D’accord, dona Amália...- Claude responde e depois acaricia o rosto de Rosa - Você tem todo o tempo do mundo pra se decidir, gatinha!
Então, Fernanda aparece, querendo que os pais vejam o balanço de cavalinho que o nono fez pra ela.
- ...vamos, papai, vamos, mamãe! Eu já dei um nome pra ele, vai ser Chantalzinho, d’accord?
Passaram mais quinze dias em São Paulo. Rosa não teve mais enjoos, mesmo assim evitava a geleia de goiaba e qualquer outra geleia. Porém, notava que seu humor se alterava facilmente, estava com mais sono que o normal, mas atribuiu isso ao cansaço da viagem.
Três dias antes de partirem, reparou que sua menstruação estava atrasada.  Mas sempre fora irregular... Mas aquela fome absurda, que nada lhe saciava, não era normal! Seu olfato e seu paladar estavam estranhos, seus seios estavam inchados e doloridos, sem contar a vontade de fazer xixi toda hora.
Deitada na cama, ao lado do marido, não conseguia dormir, remoendo esses sintomas e  dúvidas consigo mesma. Era a última noite que passariam em São Paulo. Na manhã seguinte, estariam voltando pra casa.
- Deus, será que o Claudeestá certo e eu errada?  - Pensou alto.
- Falou comigo, gatinha? – Disse Claude, já quase dormindo.
- Não... Acho que cochilei e sonhei alto. –Explicou-se, tentando dormir. Mas, depois de um bom tempo revirando-se de um lado a outro, tomou uma decisão.
De tanto se virar, Claude já havia tirado o braço de sua cintura. Saiu da cama cuidadosamente com uma ideia na cabeça... Não custava tentar o tal teste caseiro.
Dirigiu-se à lavanderia. Lá estava o produto à base de cloro, no mesmo lugar de sempre. Pegou o frasco entre as mãos e mordeu o lábio. Um fiozinho de esperança no coração. Não podia ser só psicológico como da outra vez... Não, não iria ser!
Procurou um copo descartável e, voltando ao  quarto, enfiou-se no banheiro. Tentou não fazer muito barulho. Pediu com todo o coração que desse positivo e  tremendo derramou um pouco do cloro...
Fechou os olhos, rezando em silêncio, mais uma vez e foi abrindo aos poucos...  Quanto tempo deveria esperar?  Sua mãe não dissera... Droga!
Calma, Rosa! Cinco minutos num teste convencional... Vamos dar um voto de confiança nesse aqui!”
De repente, um tom alaranjado tomou conta do liquido do copo...
- Meu Deus! Claude! Acorda! Vem aqui, rápido!
- Rosa? Que foi? Aqui onde, chérie? Cadê você? –Pergunta ele, sentando-se na cama,desorientado ainda pelo sono.
- Aqui no banheiro! Vem ver isso!

Continua...

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