O
texto abaixo é de autoria de Walcyr Carrasco.
Boa
leitura!
UMA
NOVA PROFISSÃO
Desde
que trabalho em televisão, ouço falar em coach. É o profissional que prepara os
atores. No Rio de Janeiro, por exemplo, há uma fonoaudióloga, Rose, que
acompanhou amigos meus durante novelas inteiras. Leram as cenas antes das
gravações, buscaram inflexões. Isso vale até para atores famosos! Coachs cobram
por hora, ganham bem. Para meu pavor, alguns candidatos a testes também
procuram um. Bem orientados pelo coach, fazem um teste perfeito. Depois, na
hora de gravar, é um precipício! Pode ser surpreendente para quem não é de TV
ou cinema. Ator não deve saber interpretar? Sabe sim. Mas, ao contrário do
teatro, na televisão e no cinema não há um tempo grande de ensaio para a
construção do personagem. Às vezes, em uma novela, o personagem dá uma virada total
de repente. O ator conta com as armas que já tem. E com o coach. Bem... há uma
famosa coach de cinema que até chama os atores de vermes. Faz com que rastejem
no chão. São técnicas que funcionam. Na alegria ou sofrimento.
Coach
nos Estados Unidos é, por exemplo, técnico esportivo. Agora, transformou-se em
novo campo, que se expande até mesmo com a crise. Há coachs em áreas que eu nem
imaginava. Alguns têm sólida formação empresarial. Orientam profissionais que
ambicionam estruturar carreiras. Uma psicóloga jovem entrou em crise. Queria
partir para outro campo. O coach estudou atentamente seu currículo. Fez várias
entrevistas. Ao final, concluiu:
–
Sua vida foi voltada para a psicologia. Toda a sua formação é nessa área. Só
vai perder querendo mudar de campo. Deixe disso.
Ela
continua psicóloga e feliz.
Outro
passou muitas sessões preparando um rapaz para pedir aumento. Ele simplesmente
não tinha coragem. Finalmente, foi até o chefe, munido de todos os
argumentos estruturados com o coach.
Bastou introduzir o assunto. O chefe topou.
–
Sim, já está na hora do aumento.
O
problema era seu medo!
Há
também coachs que orientam a pessoa a buscar caminhos da vida. Psicanalistas
tradicionais têm horror disso. Para eles, o processo de autoconhecimento levará
a pessoa a ganhar autoestima e se redescobrir. Mas muitos terapeutas menos
convencionais respeitam os profissionais da área. Principalmente quando têm
formação em psicologia.
–
Eles desatam o nó do momento, para a pessoa seguir em frente – contou-me uma
amiga com mais de 30 anos como terapeuta.
Não
é uma terapia, mas uma orientação. Conheço um rapaz que sempre trabalhou com
comunicação. É jornalista, escritor. Um comunicador. Procurou uma profissional,
que se define como self hunter (à caça de si mesmo?). Conversaram. Finalmente,
ele soltou:
–
Gosto de xadrez. Na internet, já derrotei vários campeões.
–
Então, por que não usa sua capacidade de comunicação para divulgar seu xadrez?
Propôs
que ele começasse a dar aulas. Desde então, o xadrez desabrochou na vida dele.
–
Ela simplesmente tirou uma pedra do meu caminho.
Gosto
muito da ideia, pois muitas vezes já convivi com problemas imediatos. Não
queria anos de terapia. Se conhecesse um coach na época, teria ganhado muito.
Por outro lado, já tive um amigo coach que tinha feito um curso de três meses,
sem nenhuma formação em psicologia. Cobrava R$ 250 a hora e tinha muitos
clientes. O problema é que ele não tinha a menor ideia do que fazer a respeito
da própria vida. Eu gelava pensando nos clientes! Ou seja, há muita
picaretagem.
Meu
medo é que, como no Brasil existe uma paixão pela burocracia, daqui a pouco
surja faculdade para coach. Ou associação com mil regulamentos. Um rol de
loucuras para inviabilizar a profissão. Eu, confesso, tenho uma paixão por ser
coach algum dia. Sempre adorei me intrometer na vida alheia. Hoje estou em
franca atividade como autor. A médio prazo, quando escrever menos, seria uma
boa opção profissional discutir roteiros e livros com escritores. Existe esse
tipo de profissional, em Los Angeles. É o que trabalha bloqueios de
criatividade. Quem sabe?
De
qualquer forma, vejo tantas pessoas dando cabeçadas na vida! Um amigo advogado,
estabelecido e bom profissional, quer ir embora do país. Para ser talvez
faxineiro em Miami! Tento ser o coach dele, falo da besteira que vai fazer.
Adianta? Não, porque amigo não adianta nessas crises. Um coach, que ele
respeitasse, botaria os pingos nos is.
Acredito,
sim, que, até antes de uma terapia mais longa, muitas pessoas se dariam bem
tendo uma orientação. O coaching é a profissão do momento.