quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

SESSÃO SAUDADE - FERREIRA GULLAR

O cidadão Ferreira Gullar acaba de deixar o nosso convívio.



Essa ausência será triste como todas as outras que nos vitimam, as de amigos, parentes, colegas de trabalho e até daqueles que embora não conheçamos, parecem estar perto de nós, caso do nosso homenageado.
Resta-nos o consolo da permanência de suas obras literárias em que aflora o homem preocupado com o próximo e com o mundo que o cerca.
Cidadão sóbrio que, em sua sabedoria, reconheceu o fracasso político do socialismo.
Obrigado, Ferreira Gullar, por nos deixar páginas tão humanas em nossa literatura!
Descanse em paz!
Com o objetivo de homenageá-lo, reproduzimos abaixo um dos poemas famosos do autor: Não Há Vagas.

NÃO HÁ VAGAS

O preço do feijão
não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão
O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras
– porque o poema, senhores,
está fechado:
“não há vagas”
Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço
O poema, senhores,
não fede
nem cheira.


2 comentários:

  1. Lindo esse poema! Já estamos sentindo saudade desse autor de coisas tão belas. Merecida homenagem!

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  2. Lindo poema, pena que era comunista!

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