XLII
Terminaram
o jantar quando a lua já iluminava a noite. Faziam planos para quando voltassem
para casa. Rosa havia telefonado para o hotel, preocupada com a filha. Mas Térese,
a babá, a tranquilizou: Fer havia despertado sim. Mas depois de pedir um copo
de leite, adormecera novamente. Aliviada,
continuou sua conversa com
Claude.
-
Claude, por que não voltamos por São Paulo? Eu gostaria de passar alguns dias com meus pais...
-
D’accord. Ficaremos lá por uns dias, chérie. – Respondeu, sorrindo para ela. –
Borboletinha vai gostar da novidade.
-
Só espero não passar por mais enjoos pra me readaptar ao fuso horário do
Brasil, como foi aqui na França!
-
Nosso organismo responde de maneiras diferentes a situações diferentes. Seu
relógio biológico demorou para se adequar aqui, só isso. Quando voltarmos, ele
volta ao normal, vai ver só!
Um
vento gelado e persistente fez os cabelos de Rosa esvoaçarem, enquanto ela
abraçava o próprio corpo, tentando espantar o frio que isso lhe causara.
-
Está esfriando mesmo, hã? - Disse ele,
já em pé ao lado dela com a mão estendida.
Rosa
apoiou sua mão na de Claude e em segundos estava dentro dos braços dele, a
cabeça apoiada em seu peito, sentindo as mãos dele deslizarem por suas costas,
aquecendo-a.
Era
uma sensação tão maravilhosa, que pensou
que mesmo se nevasse, não sentiria frio. Estar entre os braços do marido, era
estar segura e protegida, contra qualquer coisa.
Claude
beijou-lhe os cabelos e disse:
-
Vamos entrar, gatinha? – Era mais um pedido que uma pergunta dele, enquanto a envolvia
pela cintura e começavam a voltar pelo caminho de pedras.
Logo
estavam no interior daquele quarto incrivelmente sedutor. Claude afastou-se
dela, por um momento, apagando as luzes e deixando apenas a luz suave de um abajur a iluminar fracamente o ambiente.
Quando
voltou para junto de Rosa, já sem o paletó,
ela olhava fixamente para o rio. Sorriu quando ele a abraçou e balançou
lentamente para os lados.
-
Não é incrível como a noite é mágica? – Murmura - Há poucas horas atrás estava
tudo dourado: o céu, a água, as nuvens... E agora, é tudo azul!
-
Mas azul é a cor que representa a noite, hã? Simboliza a água, o céu, o
infinito, o sonho e o pensamento.
-
Tia Elisabeth disse que o azul é a cor do nosso sexto chacra, o da intuição,
conhecido como Chacra Frontal.
-
Voilá... – Sussurra Claude com os lábios entre os cabelos de Rosa - Vamos ver se você consegue intuir meus
pensamentos neste instante – Fala, virando-a de frente para ele e encostando
sua testa à dela. – Enton?
-
Bem... Você parece descontraído e calmo - Murmura, aceitando a brincadeira –
Mas seus pensamentos estão confusos...
-
D’accord... E meu corpo? – Pergunta, puxando-a pelo quadril, fazendo seus corpos colarem um no outro, provocando-a.
-
Seu corpo... – Fingiu estar confusa - Parece com o imenso e escuro mar durante
a noite, me convidando a mergulhar...
-
E você vai aceitar o convite? – Perguntou fazendo seus olhares se encontrarem.
-
E alguma vez eu recusei mergulhar em você? – Sussurrou Rosa, em resposta.
-
Non, nunca... – Claude falou antes de
descer os lábios até os de Rosa e beijá-la suavemente...
Olharam-se
ao mesmo tempo e a sensualidade explodiu...
Aos
poucos, os corações foram voltando à frequência normal, mas não deixram de
bater forte.
Ficaram
assim até relaxarem completamente, como se fossem um só. Então, Claude girou o corpo para o lado,
puxando-a para si, deslizando as mãos sobre a pele dela, úmida e quente, das
costas para o quadril, enquanto Rosa fazia o movimento inverso com suas mãos,
parando-as nos ombros do marido.
Sorriram um para o outro. Não haveria palavras, em
nenhuma língua, que descrevessem ou explicassem o que sentiam:
satisfação, prazer, exaltação, êxtase...
-
Eu te amo... – Murmuraram ao mesmo tempo.
Então,
Rosa descansou sua cabeça no ombro dele, baixando suas mãos e Claude deslizou a
sua, até encontrar a dela e entrelaçar seus dedos, numa promessa muda de eterno amor...
Rosa
despertou, sentindo alguma coisa roçar
sua pele. Abriu os olhos e a claridade súbita fez com que os fechasse
rapidamente. Colocou a mãos sobre os olhos e lentamente os foi abrindo.
Claude
dormia tranquilamente ao seu lado. O que
a havia atingido fora a ponta da cortina
que contornava a cama. Claude a havia
soltado depois da última vez que fizeram amor.
Saiu
da cama e conferiu a hora pelo celular: nem
seis da manhã ainda e o sol de Paris já dava seus sinais, apontando no
horizonte. Ficou em dúvida se acordava
ou não ele, para assistirem juntos o nascer do sol, ali do balcão.
Mas,
então, os braços dele a envolveram:
-
Paris é mesmo a cidade do amor, dos amantes... Essa noite será
inesquecível, hã? E assistir ao
nascer do sol contigo, non tem preço...
-
Olha só... Tudo mudando de cor novamente... É melhor nos apressarmos. Borboletinha vai acordar e
eu não gostaria que percebesse que não estamos lá.
-
Tem razon... Vamos nos vestir e tomaremos um breve café, aqui no Resort mesmo.
Non estamos muito longe do nosso hotel.
Menos
de uma hora depois, estavam chegando ao hotel. Ao abrirem a porta, deram com Fernanda, amuada no sofá, sendo
consolada pela babá.
-
Eles vão chegar logo, Borbolet... Olha aí, não falei? – Térese diz, sorrindo.
-
Fomos descobertos, gatinha... - Claude falou baixinho, enquanto entravam. Bom
dia, Borboletinha!
-
Bom dia! – Respondeu carrancuda. – Vocês foram passear e nem me levaram! –
Completou, sem retribuir o abraço do pai.
-
Filha! – Exclamou Rosa - Era um lugar
onde você não podia ir, ok?
As
feições da menina se iluminaram. Seus olhinhos
brilharam e ela sorriu, olhando
de um para outro, antes de dizer:
-
Ahhhhh! Vocês foram encomendar o meu irmãozinho? Eu acho que o Papai do Céu já
ouviu o meu pedido láááááá do alto da
torrinha!
Então,
corre até a cozinha e volta com um prato
nas mãos.
-
Eu fiz pra você mamãe! Torradinha com geleia de goiaba, que nem você faz lá em
casa!
Rosa olha para a torrada. Seria mais correto dizer que havia torrada na
geleia. Mesmo assim, pegou uma para não decepcionar a filha. Deu uma mordida
generosa, afinal gostava mesmo daquilo.
Claude
não gostava de doces pela manhã, mas também não teve como escapar. Acabou
pegando a menor que encontrou.
-
Hummm... Está uma delícia! - Disse, mastigando e, em seguida, engolindo.
-
A Tetê me ajudou, ela limpou a mesa, porque eu derrubei um pouquinho de geleia
lá...
-
Que bom, você agradeceu a ela, pela gentileza, Fer?
Fernanda
correu ao encontro da babá e, pulando em seu pescoço, disse:
-
Merci, Tetê! – E deu um beijo na moça. – Mamãe, papai! A gente não pode levar a
Tetê pra casa com a gente?
Claude
sorriu diante da demonstração de afeto
da filha para com Térese e olhou para Rosa, que acabava de engolir o último pedaço da
torrada.
-
Eu acho que a mamãe dela não vai deixar, Borbol... - Rosa parou a frase pela metade, sentindo o
estômago embrulhar.
Pálida,
correu para o banheiro devolvendo tudo,
inclusive o café que havia tomado no
Resort.
-
Por que a mamãe saiu correndo pro banheiro? Ela não gostou da torradinha?
Então,
Claude teve um pensamento e sorriu. Podia ser loucura sua, mas os enjoos
matinais de Rosa não eram pela adaptação ao fuso horário, como ela pensara...
-
É claro que ela gostou, filha! É que o Papai do Céu deve ter ouvido mesmo o seu
pedido e a Mamãe Natureza tá respondendo...
Continua...
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