A poesia que apresentamos abaixo é da
autoria de Gonçalves Dias.
Para maiores informações sobre o autor,
favor consultar: http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=866&sid=183.
Boa leitura!
SE SE MORRE DE
AMOR!
Se se morre de
amor! — Não, não se morre,
Quando é
fascinação que nos surpreende
De ruidoso sarau
entre os festejos;
Quando luzes,
calor, orquestra e flores
Assomos de
prazer nos raiam n'alma,
Que embelezada e
solta em tal ambiente
No que ouve, e
no que vê prazer alcança!
Simpáticas
feições, cintura breve,
Graciosa
postura, porte airoso,
Uma fita, uma
flor entre os cabelos,
Um quê mal
definido, acaso podem
Num engano
d'amor arrebatar-nos.
Mas isso amor
não é; isso é delírio,
Devaneio,
ilusão, que se esvaece
Ao som final da
orquestra, ao derradeiro
Clarão, que as
luzes no morrer despedem:
Se outro nome
lhe dão, se amor o chamam,
D'amor igual
ninguém sucumbe à perda.
Amor é vida; é
ter constantemente
Alma, sentidos,
coração — abertos
Ao grande, ao
belo; é ser capaz d'extremos,
D'altas
virtudes, té capaz de crimes!
Compr'ender o
infinito, a imensidade,
E a natureza e
Deus; gostar dos campos,
D'aves, flores,
murmúrios solitários;
Buscar tristeza,
a soledade, o ermo,
E ter o coração
em riso e festa;
E à branda
festa, ao riso da nossa alma
Fontes de pranto
intercalar sem custo;
Conhecer o
prazer e a desventura
No mesmo tempo,
e ser no mesmo ponto
O ditoso, o
misérrimo dos entes;
Isso é amor, e
desse amor se morre!
Amar, e não
saber, não ter coragem
Para dizer que
amor que em nós sentimos;
Temer qu'olhos
profanos nos devassem
O templo, onde a
melhor porção da vida
Se concentra;
onde avaros recatamos
Essa fonte de
amor, esses tesouros
Inesgotáveis,
d'ilusões floridas;
Sentir, sem que
se veja, a quem se adora,
Compr'ender, sem
lhe ouvir, seus pensamentos,
Segui-la, sem
poder fitar seus olhos,
Amá-la, sem
ousar dizer que amamos,
E, temendo roçar
os seus vestidos,
Arder por
afogá-la em mil abraços:
Isso é amor, e
desse amor se morre!
Se tal paixão
porém enfim transborda,
Se tem na terra
o galardão devido
Em recíproco
afeto; e unidas, uma,
Dois seres, duas
vidas se procuram,
Entendem-se,
confundem-se e penetram
Juntas — em puro
céu d'êxtases puros:
Se logo a mão do
fado as torna estranhas,
Se os duplica e
separa, quando unidos
A mesma vida
circulava em ambos;
Que será do que
fica, e do que longe
Serve às
borrascas de ludíbrio e escárnio?
Pode o raio num
píncaro caindo,
Torná-lo dois, e
o mar correr entre ambos;
Pode rachar o
tronco levantado
E dois cimos
depois verem-se erguidos,
Sinais mostrando
da aliança antiga;
Dois corações
porém, que juntos batem,
Que juntos
vivem, — se os separam, morrem;
Ou se entre o
próprio estrago inda vegetam,
Se aparência de
vida, em mal, conservam,
Ânsias cruas
resumem do proscrito,
Que busca achar
no berço a sepultura!
Esse, que
sobrevive à própria ruína,
Ao seu viver do
coração, — às gratas
Ilusões, quando
em leito solitário,
Entre as sombras
da noite, em larga insônia,
Devaneando, a
futurar venturas,
Mostra-se e
brinca a apetecida imagem;
Esse, que à dor
tamanha não sucumbe,
Inveja a quem na
sepultura encontra
Dos males seus o
desejado termo!
Fonte: http://www.jornaldepoesia.jor.br/gdias01.html
Que lindo! Infelizmente, a maioria das pessoas têm uma concepção muito deturpada do que é o amor de verdade.
ResponderExcluirQue linda poesia! Precisamos muito de poesia atualmente. Amei ler!
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