Capitulo 17 – O Beijo
Érica
acabara de acordar. Estava com uma tremenda dor de cabeça. Olhou para o relógio
que estava no criado mudo e viu que já era quase meio dia. No dia anterior,
mais uma vez, ficara bebendo sozinha na sala. Levantou-se, ainda com muita dor,
a procura de algum remédio. De repente, alguém bateu à porta do quarto.
— Quem é?
– perguntou, incomodada com o barulho.
— É a Joana.
Eu vim perguntar a que horas a senhora vai sair com o Fabinho.
Érica
abriu a porta ainda sonolenta. Fabinho entrou no quarto, acompanhado da babá.
— Sair
pra onde? – perguntou Érica.
A babá
olhou confusa para Érica.
— A
senhora não tinha dito a mim que iria sair com o Fabinho para passear no parque
hoje?
De repente, Érica lembrou-se da promessa que
fizera ao filho
— Eu
disse, não foi? Mas, acho que não vou poder ir hoje.
Fabinho
se aproximou da mãe.
— Mas,
você prometeu, mamãe...
Érica
pegou um copo de água e um comprimido em uma gaveta do criado mudo e tomou
ambos.
— Bem,
Fabinho, eu realmente não vou poder sair com você. – e massageando a cabeça. –
A minha cabeça não está bem, ok? Agora, você e a nanny podem sair? A
mamãe precisa descansar.
— Mas,
dona Érica. – a babá tentou argumentar. - Fabinho estava esperando muito por
esse passeio. Tem certeza que não vai dar? Se for só à tarde talvez a sua
cabeça já esteja melhor...
Érica
pareceu se irritar.
— Que
parte de “sair” você não entendeu, Joana? Por favor, não me faça repetir de
novo.
— Claro,
dona Érica. – disse a babá, saindo com o menino.
Érica
fechou a porta.
— É
absurdo como os empregados estão se comportando hoje em dia... – disse para si
mesma, enquanto voltava a se deitar.
***
Verônica
chegou ao apartamento cansada. Pensava que o semestre mal começara e já estava
pedindo férias.
— Acho
que deve ser por causa das maluquices da Vivi... – pensou em voz alta.
— Disse
alguma coisa, Verônica? – perguntou Lurdinha, a empregada, que estava por perto.
Verônica
teve um sobressalto.
— Não,
Lurdinha, só estava pensando alto aqui. – e olhando para a empregada. – Sabe
dizer se o Fabrício já chegou?
— Sim,
está no quarto.
Verônica
foi até o quarto do irmão e bateu à porta. Fabrício abriu.
— Por que
você vive trancado nesse quarto quando está em casa? – perguntou, entrando no
quarto e sentando-se em uma cadeira.
— Eu me
sinto bem aqui... – disse ele, pegando a guitarra e tocando alguns acordes. – E
você, o que deu para vir aqui? Por que não foi passear com a Viviane?
— Você
não sabe como a Vivi é cansativa, às vezes... Ela é muito agitada, aquela
garota. – disse rindo. Levantou-se e andando pelo quarto. – E como vai aquela
sua namorada?
Fabrício
estranhou a pergunta da irmã.
—
Namorada? – perguntou, sem tirar a atenção da guitarra.
— Sim. Aquela
que veio outro dia, que você salvou de algo que não me explicou direito. É
sério mesmo o lance de vocês? – perguntou, enquanto observava uma parte de um
jornal em cima do criado-mudo.
— Do que
você está falando? – perguntou ele, desinteressado.
De
repente, Fabrício percebeu que a irmã se calara. Ao olhar para ela, viu que ela
estava lendo algo. Era o jornal que deixara no móvel próximo à cama. Ele, bem
rápido, levantou-se e tomou o jornal das mãos da irmã.
— O que é
isso? – perguntou a irmã séria.
— É um
jornal... Nunca viu um? – disse nervoso.
— Me
deixa responder para você. Isso são classificados e algumas partes estão
circuladas. – e olhando sério para o irmão. – Algumas partes que se referem a
aluguel de apartamentos... Agora, eu lhe pergunto, irmãozinho, o que isso quer
dizer? Você por acaso está pensando em sair de casa?
— E se
for... O que você pode fazer? Dizer para o nosso pai? Acredite, ele não está se
importando com isso.
Verônica
parecia ofendida.
— E você
ia fazer isso sem me avisar?
Fabrício
suspirou e sentou-se.
— É claro
que eu ia avisar... Mas, eu ainda nem consegui o apartamento e acho que não
tenho dinheiro suficiente para alugar um.
Verônica
ficou calada e sentou-se novamente.
— Isso
tudo por que você não quer dizer para o papai onde foi parar aquele dinheiro...
– olhando para o irmão. – Afinal, por que você não me conta tudo? Só quero ver
quando ele souber do seu carro...
Fabrício
pegou a guitarra novamente.
— Eu não
posso contar... E mesmo se eu contasse, você não ia acreditar... – e com um
olhar vago. – Eu mesmo não acredito.
Verônica
suspirou.
— Eu vou
lhe ajudar com algum dinheiro. – disse por fim.
Fabrício
não acreditava no que estava ouvindo.
— Sério?
Por que você faria isso?
— Porque
você é meu irmão. E se você está dizendo que gastou esse dinheiro em alguma
coisa importante, então, tudo bem. Mas, vou logo avisando que eu não posso
ajudar muito, senão o Dr. Eduardo vai acabar descobrindo... Aí, sobra pra mim.
— Tudo
bem. – disse ele. – Mas, pelo menos já é alguma coisa. Mas, posso lhe pedir um
outro favor?
— Poderia
me emprestar seu carro?
Verônica
suspirou.
— Ok,
tudo bem.
***
Viviane
chegou em casa. Estava faminta. Ao entrar na sala principal da mansão, percebeu
que alguém estava sentado em uma das poltronas. Ao se aproximar percebeu que se
tratava do novo morador da mansão. Era Fabinho. O menino estava quieto,
observando um carrinho de brinquedo. Viviane sentou-se próxima ao menino.
— Oi,
Fabinho! – disse ela, tentando conversar com o menino. – O que está fazendo?
— Nada...
– respondeu o menino, naturalmente, sem tirar os olhos do brinquedo.
Viviane
fez um muxoxo e pensou que, sem dúvidas, ele herdara a arrogância da mãe.
— Mas,
você me parece tão quieto... O que aconteceu?
O menino
suspirou.
— É que a
mamãe não vai poder passear comigo hoje...
— E por
que não?
— Ela
disse que está com dor de cabeça. – respondeu o menino, mais uma vez, sem tirar
os olhos do brinquedo. – Ele sempre diz alguma coisa... Da outra vez, ela disse
que ia para o hospital.
Viviane
ficou interessada.
—
Hospital? E ela está doente? – perguntou.
— Ela
nunca diz nada... Mas eu sei que ela sempre sente dor na barriga... Aqui. – disse,
pegando no estômago.
Viviane,
por um momento, se viu no lugar daquele menino.
— Eu
devia não ser tão emotiva... – disse mais para si mesma e para o menino. – E
você e sua mãe iam para onde?
— Passear
no parque. – respondeu Fabinho, olhando para a garota.
Viviane
suspirou.
— Tudo
bem, eu vou passear com você...
— De
verdade? – perguntou o menino, mudando de humor.
— Sim.
Mas eu não vou passear no parque... Que tal ir ao shopping?
—
Shopping? – perguntou o menino confuso.
— É...
Não é como o parque, mas é bem legal... E você também pode tomar sorvete...
Mas, você já deve ter ido ao shopping, não?
O menino
balançou a cabeça negativamente. Viviane pareceu surpresa.
— Nunca
foi no shopping? Pobre criança! Como sobreviveu até hoje?
— Mas, lá
não tem só lojas?
— Que
nada! Tem McDonald’s, cinema, teatro, brinquedos... Você vai gostar. Tenho
certeza que a sua mãe vai deixar a gente ir. – e olhando para o menino. –
Então, vamos almoçar primeiro?
***
Já
eram quase três horas da tarde, quando Otávio recebeu a visita de alguns dos
sócios do Grupo. Eram eles os mesmos da reunião anterior: Homero, Robert e
Fausto. Os quatro, incluindo o Dr. Otávio, se reuniram no escritório da mansão.
— Onde
está o Dr. Tarcísio? – perguntou Fausto.
— Infelizmente,
ele não pode comparecer à nossa pequena reunião, por conta de alguns problemas
judiciais do Grupo. Nada de mais, não se preocupem.
— E o seu
irmão, Dr. Otávio? Já entrou em contato com ele? Já sabe quando ele voltará ao
Brasil?
Dr.
Otávio se sentia um pouco pressionado.
—
Infelizmente, ainda não recebi qualquer telefonema para saber quando exatamente
ele voltará, mas creio que não vai demorar... – disse ele, um pouco
constrangido.
Homero
percebeu a atmosfera que se formara.
— Dr.
Otávio, não pense que estamos aqui para pressioná-lo, mas o senhor deve saber
que seu irmão usou as empresas do Grupo de forma ilegal e deve ser punido por
isso. É claro que não devemos deixar que isso venha a público, caso
contrário...
— Caso
contrário...? – repetiu Dr. Otávio, incentivando o Dr. Homero a continuar.
— O que
eu quero dizer, é que, caso essa notícia vaze para a imprensa, a imagem do
senhor também pode ser prejudicada. – continuou Homero. – E o senhor sabe que
as pessoas não vão acreditar que não sabia do que estava acontecendo no próprio
Grupo. Sendo que até para alguns dos sócios, essa verdade é um pouco
questionável...
O Dr.
Otávio se sentiu ofendido.
—
Questionável? O senhor está querendo dizer que os senhores não acreditam na
minha inocência?
Robert,
que ficara calado até aquele momento, resolveu se pronunciar.
— O que
estamos querendo dizer é que até alguns dos sócios minoritários duvidam que o
senhor não tivesse qualquer conhecimento do que estava acontecendo.
— Quem
são? – perguntou Dr. Otávio, um pouco alterado. – Quem se atreve a insinuar
tais absurdos?
— Isso
não vem ao caso, Dr. Otávio. – disse Fausto - Afinal, as pessoas têm o direito
de acreditar no que quiserem. O fato é que se isso chegar aos ouvidos da
imprensa, o que é possível, teremos que tomar determinadas medidas.
— Do que
vocês estão falando? – perguntou Dr. Otávio, duvidando do que estava ouvindo.
Homero
olhou para Fausto, que acenou com a cabeça num sinal de consentimento.
— A
maioria dos sócios concorda que se o caso do seu irmão vier a público, o senhor
também deve ser afastado da presidência.
O Dr.
Otávio levantou-se atordoado. Não conseguia acreditar no que estava ouvindo.
— Quer
dizer, então, que eu devo pagar pelos erros do meu irmão? É isso que estão me
dizendo? – disse ele, alterando a voz.
Homero
tentou acalmar os ânimos.
— Dr.
Otávio, estamos falando de um caso hipotético. O senhor sabe que se as pessoas
vincularem as atividades do seu irmão ao senhor, as empresas do grupo sofrerão
com isso. A imagem do grupo ficaria bastante desgastada e não estamos em
condições de gastar maiores quantias em marketing...
Antes que
o Dr. Otávio pudesse falar qualquer coisa, Fausto também argumentou.
— De
qualquer forma, também devemos pensar que os nossos acordos e joint ventures
também podem ser afetados... Alianças que levaram anos para serem conquistadas,
poderão ser desfeitas. O senhor, melhor que qualquer um aqui, sabe disso. Nós
estamos apenas pensando no bem do grupo.
O Dr.
Otávio sentou-se, tentando se acalmar.
— Eu
entendo... – disse ele por fim. – De qualquer forma, senhores, se essa é
a decisão dos sócios, só tenho que aceitar. Bem, acho que não temos mais nada a
conversar. Creio que não precisam que eu lhes mostre a saída.
Os três
se levantaram e saíram, deixando Otávio sozinho. O Dr. Otávio pegou um charuto
e acendeu-o, algo que há muito tempo não fazia.
***
André e
Gabriel estavam no shopping. Tinham ido comprar alguns cd’s. De repente, André
tocou no ombro de Gabriel, tentando chamar a sua atenção.
— Cara,
olha quem está aqui. Será que é só coincidência ou você planejou? – disse ele
olhando para o amigo desconfiado.
— Do que
está falando? – perguntou Gabriel, logo percebendo que Viviane e um menino nos
seus seis anos se aproximavam, sem que percebessem a presença de Gabriel e
André.
De
repente, quando já estava bem próxima, Viviane percebeu que estava sendo
observada e veio ao encontro dos dois.
— Ora,
ora... Se não é o Timão e o Pumba? – disse ela, rindo sarcástica. – Vem cá,
vocês estão me seguindo? Não tem mais nada para fazer, não?
— Por que
eu seguiria você, garota? – disse Gabriel, olhando um cd. – Você realmente se
acha o centro das atenções, não é?
Fabinho
que estava observando.
— Vivi,
quem é esse? É o seu namorado?
— Claro
que não! – disse Vivi, olhando Fabinho e depois para Gabriel. – Esse cara é um
completo idiota! Eu nunca vou ficar com alguém assim. – e olhando para o
menino. – Lembre-se, Fabinho, esse cara é meu inimigo, ok?
O menino
acenou com a cabeça.
— Pode
ter certeza, garoto. – disse Gabriel ao garoto - Nós dois somos como água e
vinho. Não existe maneira nenhuma de ficarmos juntos no mesmo lugar, quanto
mais sermos namorados.
Viviane
sorriu falsamente.
— Pelo
menos, concordamos com algo.
Enquanto,
Viviane e Gabriel falavam mal um do outro, Fabinho chamou André.
— Por que
eles estão brigando?
André deu
de ombros.
— Não
faço à mínima idéia. Mas, isso é bem divertido, você não acha?
O menino
riu. De repente, Viviane pegou Fabinho pelo braço.
— Vamos,
Fabinho. Eu não posso gastar tempo com coisas tão insignificantes! – parou e
olhou para os dois. – Ah, ia esquecendo. Obrigada pelo blog. Realmente, ficou
uma fofura... Parece até que foi uma garota que fez. Se bem que isso explicaria
algumas coisinhas... – disse ela, saindo e rindo.
Gabriel
parecia extremamente irritado.
— Garota
insuportável!
André
começou a rir.
— O que
foi? – perguntou Gabriel ainda irritado.
—
Calma... Eu só achei que vocês têm gênios parecidos. Só isso.
— Por
favor, André. Uma criança de seis anos, eu entendo, mas você?!
***
Já eram
quase seis horas da tarde. Rogério, Emanuela, Mariana e o Dr. Rafael estavam no
quarto. O Dr. Rafael estava terminando de examinar Rogério.
— Acho
que está tudo certo. Você já pode sair do hospital. – disse, entregando um
documento.
Rogério
sorriu.
— Que
bom, doutor. Já não agüento mais ficar aqui. Não que eu esteja reclamando dos
seus serviços.
Rafael
sorriu.
— Eu
entendo perfeitamente.
De
repente, alguém bateu à porta, era uma enfermeira avisando que um paciente o
procurava.
— Bem,
pessoal, tenho que ir. Mas, daqui a pouco eu volto para entregar uma receita
para os antibióticos. – disse ele, saindo.
Emanuela
pegou o celular e ligou para alguém.
— Alô?
Fabrício? Oi, é a Emanuela. Só queria avisar que o meu pai já recebeu alta.
Vamos arrumar algumas coisas e estaremos indo. – disse, logo desligando o
telefone.
Mariana
olhou para Emanuela e sorriu.
— Qual é
o seu lance com o Fabrício? Não me diga que vocês estão namorando?
—
Namorando? – perguntou Rogério desconfiado. – Isso é verdade, Emanuela?
— É claro
que não! – e olhando para Mariana. – Mari é que gosta de inventar boatos... Eu
e Fabrício somos apenas amigos. – e olhando para Rogério. – Ah, ia
esquecendo... Fabrício disse que nos deixaria em casa.
Rogério
pareceu desconfiado.
— Eu não
entendo porque ele faz tudo isso...
Mariana
riu.
— É porque
ele é um amigo, papai... Apenas um amigo. – disse, rindo e olhando para Emanuela.
—
Engraçadinha... – disse Emanuela, já
cansada das brincadeiras da irmã.
***
Rebeca
olhou para a porta do quarto. O Dr. Rafael entrou.
— Foi
você que me chamou? Está sentindo alguma coisa?
— Eu só
estou com uma forte dor de cabeça...
Rafael
mediu a pressão da paciente.
— Parece
que você está com a pressão um pouco acima do normal. Não se preocupe, vou
pedir para uma enfermeira aplicar um remédio. – disse ele, pronto para sair.
— Dr.
Rafael... – Rebeca chamou antes que o doutor saísse do quarto.
— Sim? –
atendeu ele, virando-se.
— Onde
está o Dr. Fabiano? Não o vi hoje...
— Ele
está ocupado fazendo algumas cirurgias... Infelizmente, não tem tido muito
tempo livre.
Rebeca
pareceu envergonhada.
— Se quer
um conselho, é melhor você evitar conversar com Fabiano sobre qualquer coisa
que não esteja relacionado com a sua própria saúde. Para o bem dele. – disse
Rafael.
— Claro,
Dr. Rafael. – disse ela. - Eu entendo perfeitamente.
***
Já tinha
se passado quase uma hora desde o telefonema de Emanuela para Fabrício. De
repente, alguém bateu à porta do quarto. Era Fabrício. Os três se dirigiram ao
carro e, no percurso para a casa de Emanuela, permaneceram em silêncio. Ao
chegar, Mariana ajudou o pai a entrar em casa.
— Bem,
acho que é isso. – disse Emanuela a Fabrício. – Muito obrigada, mesmo. Você foi
de grande ajuda. Eu não tenho como lhe pagar tudo o que você fez pela minha
família.
Fabrício
riu.
— Tudo o
que eu fiz agora não vai compensar o mal que eu fiz a você. Se não fosse a
minha arrogância, você não estaria na situação em que está.
— Não
seja tão convencido. Você acha que todas as coisas ruins que acontecem na minha
vida são por sua causa? – disse, sorrindo. – De qualquer forma, muito obrigada
mesmo. Se eu puder fazer algo por você, é só me avisar.
Emanuela
se preparava para sair, quando Fabrício falou:
— Na
verdade, tem algo... – disse.
Emanuela
virou-se e Fabrício a segurou pelo braço, trazendo-a para si. De repente, sem
que Emanuela pudesse ter qualquer tempo de reação, ele a beijou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário