XLV
-
Claude, se importa se eu não for trabalhar hoje com você? Não me sinto bem. –
Argumenta Rosa, sentando-se na cama, ainda de camisola, ao ver Claude sair do
closet.
-
E você ainda duvida que esteja grávida, hã? Há mais de dez dias que voltamos e
há... nove(?) você passa mal, chérie.
-
Claude, não vamos discutir por isso outra vez, vamos?
-
Non, non iremos discutir. – Claude senta-se ao lado dela, na beira da cama –
Quer que eu fique com você? – Pergunta, ajeitando os cabelos dela para trás.
-
Não... Você tem ficado todas as manhãs em que passei mal... Não é justo que
traga serviço para fazer à noite em
casa. Já marcamos a consulta e em três dias...
-
Em três dias, você volta a ser a minha gatinha de unhas afiadas, hã? – Provoca
ele - Mon Dieu, você non está bem mesmo...
– Comenta diante da tentativa de sorriso dela.
-
Você leva Fernanda à escola? Já a deixei pronta. Está com Dadi na cozinha. Não
sei o que seria de nós sem ela essa semana!
-
D’accord! Mas amanhã, Elisa está de volta e nossa rotina volta ao normal.
-
Melhor você ir ou Borboletinha chega atrasada...
Rosa
ainda os acompanhou até a porta, despedindo-se do marido e da filha. Depois,
por insistência de Dadi, acabou dormindo um pouco mais.
***
Finalmente!
– Pensou Rosa, ao ser chamada para entrar no consultório, de mãos dadas com
Claude. Tivera que aguardar quase quinze dias por isso, já que seu caso não era de urgência.
-
Boa tarde! Como vão Rosa, Claude? – Cumprimenta-os a doutora Priscila. – Então,
Rosa, o que a traz novamente até mim?
-
Bem... – começa, olhando aflita para Claude, em busca de apoio.
Claude faz um sinal com a cabeça e cobre-lhe
as mãos, incentivando-a a continuar.
-
Eu... – Começa gaguejando – Eu estou de novo com aqueles sintomas, Priscila.
-
Quais sintomas? – Pergunta, deixando-a ainda mais nervosa, enquanto anota algo
na ficha.
Claude
havia conversado com a médica e decidiram que já era hora de Rosa superar os
antigos fantasmas da gravidez psicológica que a assombrava. Forçá-la a falar
era uma das alternativas.
-
Você sabe... Enjoos, náuseas... mudanças de humor, sono... enfim, os sintomas de uma gravidez normal.Como... como
aquela vez, há dois anos atrás!
-
E há quanto tempo vem sentindo isso, Rosa? – Pergunta a médica, parecendo
indiferente ao seu nervosismo.
-
Isso vem se repetindo há cerca de quarenta e cinco dias. Estávamos viajando e
eu achei que era pelo fuso horário. Não é, Claude?
-
D’accord... – Diz, concordando. - Depois, percebemos que poderia ser uma
gravidez e fizemos um teste de farmácia.
-
Que não deu resultado algum! – Fala rapidamente, como que se defendendo - Se fosse uma gravidez normal, daria, com
certeza!
-
Rosa, testes são suscetíveis de falha! Repetiu o teste mais de uma vez?
-
Não/Non. – Respondem juntos – Rosa non quis! – Conclui Claude.
-
Claude, eu tinha motivos pra não querer! Você sabe disso! Sabe o quanto eu
sofri, você sofreu comigo. – Fala ficando em pé - E eu
não quero passar tudo aquilo de novo! –
Diz, sentindo as lágrimas escaparem de seus olhos.
Claude
rapidamente a abraça, apertando-a contra o peito, ao mesmo tempo que troca um
olhar com a médica, que sai discretamente da sala.
-
Isso... Chore, chérie, chore... Non
guarde nada dentro do seu coraçon. Nós
non vamos passar por aquilo dessa vez...
Dessa vez, ele está aí dentro, d’accord?
Ele está aí... – Diz, beijando-a nos cabelos.
Alguns
minutos depois, Priscila volta, com um copo d’água. Rosa já estava sentada
novamente ao lado de Claude.
-
Beba, Rosa. Vai acalmar-se ainda mais... – Fala a médica,atenciosamente.
-
Obrigada, Priscila... E desculpe o vexame, não sei o que me deu, eu sempre me
controlei!
-
Às vezes, controle demais não faz bem, Rosa! Há quanto tempo vem guardando isso
com você? – Pergunta, conferindo na ficha – Há mais de dois anos! Sabe, Rosa, cientificamente,
quando um teste falha, o procedimento deve ser repetido.
-
Eu tentei, Priscila – Fala Claude - Mas Rosa foi irredutível naquele momento,
ficou ton mal que acabei concordando com ela.
-
Um teste pode falhar por “ene” motivos. – Comenta a médica - Interessados em saber?
-
Claro! – Responderam os dois, quase ao mesmo tempo.
-
Muito bem. Vamos eliminar um de cada
vez. Algumas marcas pedem que o teste seja feito com a primeira urina do dia,
mas pesquisas recentes afirmam que não existe hora certa. O importante é ficar
duas horas sem urinar antes de fazer o exame; o tempo necessário para a
concentração de hormônio ser detectada.Mas, seja qual for o tipo e a marca, o
importante é ler com atenção a bula e seguir as instruções à risca.
-
Bem, não foi a primeira, mas eu com certeza estava há mais de duas horas sem ir ao banheiro...
-
E seguimos todas as instruções, passo a passo. – Confirma Claude.
-
Certo. O produto estava bem armazenado e
lacrado? Contato com a umidade e o calor pode alterar suas características e
comprometer o resultado.
Rosa
olha para Claude.
-
Non, a caixinha estava lacrada! Eu mesmo comprei o teste. – Explica Claude.
-
E dentro do prazo de validade? Observaram isso? – Continua a médica.
-
Non... Non reparei nesse detalhe! Dieu!
Como pude ser ton descuidado?
-
Eu também não me preocupei com isso... Será? – Fala Rosa em seguida.
-
E outro motivo pode ser a pressa e com ela um resultado falso-negativo. Ou
seja,o teste indicou negativo, mas, na verdade, a mulher está grávida. Isso ocorre
quando o procedimento é feito precocemente, sem que haja níveis suficientes do
hormônio HCG no organismo. O falso-negativo acomete muito, além das
apressadinhas,as mulheres de ciclo irregular, bem o seu caso, não é, Rosa? –
Diz com um olhar de censura.
-
Está bem, eu mereci esse puxão de orelha, Priscila! Mas fiz um teste caseiro
que deu positivo, não foi, meu amor?
-
Ah, foi sim... E fez escondida, hã?
-Reclama ele.
-
Teste caseiro? – Indaga Priscila, pedindo em seguida – Deite-se ali, por favor.
– E indica a maca no canto da sala. -
Não me diga que é aquele a base de um produto de limpeza...
-
Esse mesmo! Minha mãe que ensinou...
-
Meu Deus! Isso não tem fundamento científico nenhum.
-
Mas deu positivo... – Argumenta Claude.
-
Bem, quem sou eu para ir contra a sabedoria popular? Minha avó nos contava que na época dela, os
exames eram feitos, injetando-se urina em um sapo macho.*
*Minha mãe
costumava falar isso, aí lembrei e não deu outra: foi pra fic! rsrsrsrs Ela foi
enfermeira nessa época. Quem quiser
confirmar, leia em:
-
Eu não chegaria a tanto, Priscila, pode ter certeza! – Comenta Rosa sorrindo,
mais descontraída.
Aproveitando
a deixa, a médica logo faz mais algumas perguntas, medindo a temperatura, a
pressão e os batimentos cardíacos de Rosa, passando depois o estetoscópio por vários lugares no
corpo dela, principalmente no abdômen. Então, pede que Rosa volte à cadeira.
-
Enton, Priscila, estamos grávidos, non estamos? – Perguntou Claude antes de
Rosa.
-
Priscila, por favor, seja franca... – Diz Rosa, respirando fundo. - Estou
preparada.
-
Tudo leva a crer que é uma gravidez normal, Rosa! E com todo esse tempo,
podemos dispensar o exame de sangue e ir direto ao ultrassom. Concordam?
-
Oui/Sim! – Respondem juntos.
Depois
de um tempo, a médica já está deslizando a base do aparelho sobre o abdômen de
Rosa.
Mesmo
não querendo, Rosa estava apreensiva. E
se... Não, não ia se apegar a mais nada
do passado. Claude estava ao seu lado, segurando sua mão e isso lhe dava
forças. Claude e ela se amavam, queriam outro filho, Fernanda queria um
irmãozinho... E ele estaria ali...
-
Rosa, seu bebê tem aproximadamente seis semanas... Parabéns! Está tudo perfeito,
olha só, o coração está batendo de cento e vinte a cento e sessenta vezes por minuto, mede pouco mais de seis milímetros e
apresenta sinais de minúsculos membros...
O
olhar de ambos se encontrou. Sorriram um para o outro, mal ouvindo as
explicações da médica, que continuava a falar:
-...
daqui uns quatro ou cinco dias poderemos vislumbrar as mãos e os pés. Já existe
também a base do que serão seus pulmões, ouvidos, nariz, tubo digestório e
fígado. Os olhos já começam a ganhar forma e o cérebro continua crescendo. – Só
então ela lança um olhar para os dois -
Muito bem, eu me esqueci que, nessa hora, vocês não escutam o que eu
digo. Pode se limpar, Rosa. Eu a aguardo em minha sala.
Rosa
continuou a ter enjoos até o início do quarto mês de gestação. Depois, eles
foram desaparecendo, mas alguns sintomas
persistiam. Seu humor oscilava de zero a dez em questão de segundos. Alegria,
medo, insegurança e ansiedade, apareciam todos ao mesmo tempo e em alta
dosagem.
Pura
instabilidade hormonal. Apesar de ser sua segunda gestação, a brusca alteração fazia
sua falta de paciência subir que nem foguete, rumo às alturas.
Saber
lidar com todas essas transformações era uma árdua tarefa, não só para Claude,
como também para ela própria. Sentimentos conflitantes a deixavam insegura em
relação ao futuro.
-
Gatinha, você já passou por isso... – Dizia Claude, numa noite, quando já
estavam deitados. - Por que a ansiedade, hã?
-
Porque eu não sei se vou dar conta do recado! Cuidar de duas crianças, educá-las,
acompanhar Fernanda na escola, ajudar você na construtora, a casa, a fazenda,
acompanhá-lo em eventos...
-
Mon Dieu, você está se sentindo sozinha e incompreendida, non é? – Claude a
atrai gentilmente até aconchegá-la rente
ao seu corpo. - É uma auto-cobrança desnecessária, mon amour. Você sempre deu
conta de tudo e non está sozinha, d’accord?
-
“Dacó”, meu amor... – Fala Rosa suspirando - É que eu fico me comparando à
minha mãe, querendo ser como ela foi comigo e meus irmãos. Eu queria ser como ela:
forte e determinada...
-
Mas você é, chérie! E a prova disso está bem aqui dentro, hã? – Fala Claude,
acariciando-lhe a barriga de quase seis meses e beijando-a sobre o ombro.
-
Você acha que eu engordei muito? – Pergunta Rosa,colocando sua mão sobre a
dele. - Eu estou me sentindo tão... tão enorme e meus seios estão bem
maiores...
-
Eu acho que você está na sua melhor forma, oui? E na melhor fase, porque ele ainda
tem bastante espaço aqui dentro da sua barriga... - E desliza a mão espalmada pela barriga dela, no exato momento em que o
bebê se mexe – Mon Dieu! – Exclama baixinho, sorrindo.
-
Sentiu isso? – Pergunta Rosa ao mesmo tempo. – E ficam quietos, sentindo o bebê
se mexer por alguns instantes. - É a coisa mais gostosa do mundo!!
-
Voilá... Já ficou quietinho de novo! – Reclama Claude - É
ton incrível sentir esses
movimentos do nosso bebê!
-
Eu acho que ele está reclamando que quer dormir – Cochicha Rosa, dando um longo
bocejo. - Eu nunca o senti se mexer de noite! – Diz Rosa, virando-se de frente
para Claude.
Claude
sorri e responde também num cochicho:
-
D’accord, espertinha! Foi uma ótima maneira de me dizer que quer dormir! Boa
noite, chérie! – Diz, amparando-a pelas costas.
-
Desculpa, eu não consigo controlar o sono, ainda... Boa noite... - E apóia sua
mão no ombro de Claude, fechando os olhos.
Depois
de alguns segundos...
-
Claude... – Sussurra ela.
-
Hummm... Que foi, chérie?
-
Será que Borboletinha vai ter ciúme, depois que ele nascer?
-
Claro que non! Fernanda é muito especial, está sempre conversando com ele...
Aliás, ela já perguntou pra você como
ele vai sair daí? – Silêncio – Rosa? D’accord... Você já dormiu, non é? Até amanhã, chérie!
Cerca
de um mês depois, num sábado, Claude e Rosa estão conversando após o
almoço. Rosa está deitada no sofá com as
pernas sobre o colo do marido. Fernanda pintava um desenho, uma tarefa da escola, ao lado deles.
-
Non é oficial ainda, gatinha. – Dizia Claude a Rosa,massageando-lhe os pés
suavemente.
-
Mas, se o Afrânio entrou no assunto, significa que o partido tem interesse em
você, Claude. Querem você como futuro prefeito, para dar continuidade às obras
da administração.
-
Existem outros candidatos a candidato muito mais adequados que eu. – Faz uma breve
pausa - O outro pé, agora, hã? – Pede,
trocando o pé da massagem.
-
Mas se o convite vier, você pensa em aceitar? – Pergunta Rosa, erguendo levemente o pé para alcançar as mãos dele.
Então,
Fernanda levanta-se e dá alguns passos para sair da sala.
-
Ei, onde pensa que vai, mocinha? -
Pergunta Claude, atento aos movimentos da filha. – Non acabou a tarefa ainda,
hã?
-
Eu sei, papai! Mas eu preciso ir no
banheiro! – Diz, cruzando as pernas uma sobre a outra - Tá na portinha! – Conclui, correndo para o
banheiro.
-
Precisa de ajuda, filha? – Pergunta Rosa.
-
Non! – É o número um, mamãe! Eu sei o
que fazer! – Escutam, enquanto ela se afasta, quase correndo.
-
“Tá na portinha?” – Indaga Claude, sorrindo – De onde foi que ela tirou isso? –
-
Provavelmente de algum coleguinha da escola... Uma maneira de dizer que está
muito apertada... E apressada para fazer xixi!
Mas você não me respondeu, amor. Pensa em aceitar?
-
Non sei... – Responde sério - Política
nunca foi meu objetivo, chérie...
-
Hummmmm. Et quel est votre objectif ? Pergunta ela. [E qual é seu
objetivo?]
-
Voilá! - Claude puxa o canto da boca - Pratiquer
votre français avec moi? [Praticando
seu francês comigo?]
-
Oui... Oh, Claude! Il se mit à remuer! [Ele começou a se mexer!] Rapide,
l'appareil photo. Rápido,
a câmera!
– Diz, erguendo a blusa e abaixando um pouco a calça, deixando sua barriga
completamente exposta.
-
Mon Dieu! Aujourd'hui, il marque un but! [Hoje, ele marca um gol, hã? – Fala ao
ver os movimentos que o bebê fazia incessantemente, ligando a
câmera, pronto para filmar.
-
Fer, son frére Ursinho est en remuant
mon cher! Papa va commencer le tournage.
[Seu
irmão Ursinho está se mexendo
querida! O papai vai começar a filmar!] -
Exclama Rosa.
Fernanda
insistia: se ela era Borboletinha, seu irmãozinho tinha que ser um outro bichinho. E nada melhor que
Ursinho, na opinião dela.
-
Papa, papa, attendre je! - Grita Borboletinha do banheiro .[Papai, papai,
me espere!]
-
Viu só como ela também está entendendo? Seus quase três anos de aulas estão
rendendo, ok?
-Ok,
chérie! – Diz, piscando o olho e continua a falar algumas coisas em francês,
sobre os movimentos do bebê, rindo junto com Rosa, embevecidos pelo momento.
Então,
Fernanda aparece.
-Je
suis venu, Ursinho... J'ai nettoyé tout droite mama... Il s'est déjà arrêté ?–
Diz, triste, pondo a mãozinha sobre a barriga da mãe. - [Eu cheguei,
Ursinho... Eu me limpei direitinho, mamãe...Ihhh. Ele já parou?]
-
Non fique triste, filha! – Diz Claude calmamente – O papai filmou tudo, vamos
ver como ficou? – Diz, iniciando o vídeo na própria câmera.
Depois
de assistir atentamente as cenas gravadas, Borboletinha diz, confiante em suas
conclusões:
-
Eu acho que o Ursinho gosta de dançar aí dentro da sua barriga, mamãe! Aí, ele
põe uma música bemmmmm alta e como tá cada vez mais apertado aí dentro da
casinha dele, ele não gosta que a gente põe a mão nela. Porque toda vez que ele tá dando uma festa na sua casinha e sente uma mão, pronto! Ele desliga a música e para de
dançar!!!!!!
Continua...
Nenhum comentário:
Postar um comentário