Capítulo
26 – Tempestade.
Verônica
entrou no quarto e viu Viviane. A garota sentou-se na cama.
— Ainda
bem que veio. Já são 9 horas da noite e não aconteceu nada de mais. Queria ver
meu avô, mas os médicos não deixam, dizem que tenho que ficar em observação e
que ele não pode receber visitas agora.
Verônica
sentou-se ao lado da amiga.
—
Desculpa não poder ficar o dia inteiro com você. Mas já que suas irmãs estavam
aqui e sua mãe, eu não me preocupei tanto.
Viviane
ficou com o olhar vazio por alguns segundos.
— Elas
não são minhas irmãs, Verônica.
A amiga
suspirou.
— Vivi,
depois do que aconteceu, não deveria deixar de lado qualquer ressentimento?
Fazer as pazes com sua mãe e ser amiga das meninas.
— Você
acha que é fácil? – perguntou Vivi olhando séria para a amiga. – Minha mãe
mentiu durante toda a minha vida e sempre que eu olhar para essas garotas eu
vou me lembrar de tudo isso. Às vezes, queria que tudo fosse só um sonho ruim.
Que vou acordar e continuarei sendo filha do Jorge e neta do Dr. Otávio. Que
vou comprar roupas no shopping como sempre fiz e quem sabe infernizar a vida do
Gabriel...
Verônica
riu-se.
— Mas,
não é um sonho, não é?
Viviane
olhou para a amiga.
— Não,
não é. Toda a minha vida foi uma mentira.
Verônica pensou
que mais uma vez Vivi estava exagerando.
— Para de
pensar essas bobagens. Seu avô vai continuar te amando do mesmo jeito. E você
vai sempre considerar o Jorge como seu pai. Se ele tivesse vivo, com certeza faria
o mesmo.
— Queria
que fosse assim... Mas não sei como vou conseguir encarar meu avô e suportar a
minha mãe.
De
repente, alguém bateu à porta. Rafael apareceu.
— Dr.
Rafael. – disse Viviane um pouco mais animada. – O senhor veio fazer uma visita
a sua noiva?
Rafael
sorriu.
— Vou
tolerar as suas brincadeiras hoje, porque é uma paciente. Vim ver como está.
Sentiu alguma coisa. Dor de cabeça?
Viviane
sorriu. Mais uma vez, Verônica ficou espantada com a capacidade que Vivi tinha
de esconder suas próprias emoções.
— Já me
perguntaram várias vezes. – disse Vivi - Mas eu já disse que não. Estou nova em
folha. E pronta para outra.
— Não
diga isso nem brincando. – disse ele um pouco sério. – Você sabe muito bem que
todos ficaram muito preocupados, principalmente porque seu avô também está no
hospital.
— Falando
nele, quando é que posso visitá-lo. Não vejo a hora de ver como ele está. Eu
fiquei tão aliviada em saber que deu tudo certo na cirurgia dele. – e com o
olhar triste. – Se ele morresse, eu não sei o que eu faria...
— Mas
tudo correu bem. Infelizmente, as visitas ao seu avô não são permitidas no
momento. Talvez amanhã. Como ele é um senhor de idade, ele ainda está se
recuperando da cirurgia.
—
Entendo. – disse ela pensativa.
— Bem,
Viviane. Daqui a pouco, acho que você já pode ser liberada. Mesmo não tendo
completado 24 horas de observação, mas considerando que seus ferimentos não
foram graves, então, você vai poder ir descansar em casa.
— Ainda
bem. Estou realmente entediada com esse hospital.
Rafael
sorriu e depois saiu. Verônica olhou para Viviane pensativa.
***
Gabriele
estava sentada próximo ao quarto de Viviane. Mariana, que vinha do restaurante
do hospital, sentou-se ao lado dela.
—
Gabriele, você deve estar cansada. Passou o dia inteiro no hospital. Você só
comeu uma vez. Assim você pode passar mal.
Gabriele
sorriu.
— Vocês
também devem estar cansadas. Mesmo não tendo nenhuma obrigação, ficaram aqui.
Não precisavam fazer isso.
Mariana
sorriu compreensiva.
— Bem...
Não podíamos ir para casa sabendo que Vivi e o Dr. Otávio estão no hospital. Digo,
o meu avô. Mas já é de noite. Quando vamos poder visitar o Dr. Otávio?
— O Dr.
Rafael disse que amanhã podemos fazer uma visita. Todos estão preocupados com
ele.
Mariana
pareceu pensativa durante alguns segundos.
— Eu vi
na televisão que tem aqui no hospital... Não teve um telejornal que não falou
sobre a cirurgia do Dr. Otávio. Eu não tinha ideia do quanto ele era influente.
Gabriele
sorriu.
— O Dr.
Otávio, ao contrário do irmão, sempre foi alguém muito simples. Ele tem um
talento natural para os negócios, mas é quase como se não tivesse noção disso,
mesmo sendo um homem experiente. O Grupo Demontieux só chegou ao que é hoje
graças a ele. Talvez o segredo esteja na simplicidade dele, tanto é que você
não sente que ele carrega tanta pressão. Talvez seja por isso que é difícil
perceber o quanto ele é uma pessoa importante.
— Então,
a doença dele já foi uma consequência de tanta pressão?
—
Possivelmente. Sendo o Presidente do Grupo tem que lidar com pressões por todos
os lados. Acionistas, clientes, fornecedores, diretores... Eu lembro exatamente
como é ser uma simples Diretora. Não consigo imaginar a pressão de ser o
Presidente.
—
Entendo. Não é a toa que ele não tinha muito tempo para descansar... Espero que
fique tudo bem. – disse pensativa.
Gabriele
olhou para Mariana. A menina parecia um pouco triste.
— Não se
preocupe. Dr. Otávio é muito forte também. Sempre teve uma boa saúde. Não vai
acontecer nada a ele, afinal, ele acabou de encontrar vocês. Mas mudando de
assunto, onde está sua irmã?
—
Emanuela? Bem, está conversando com o namorado. Ele e a irmã saíram logo pela
manhã porque tinham coisas a resolver e chegaram ainda agora para fazer uma
visita.
***
Fabrício
olhava para a namorada em sua frente.
—
Desculpa não ter ficado com você aqui. Mas não está cansada? Devia voltar para
a mansão.
— Estou
um pouco. Mas prefiro fazer companhia a Gabriele, já que os tios de Viviane
voltaram para casa logo pela manhã. Gabriele é que não quer deixar Viviane
sozinha.
— Bem, é
compreensível. Que mãe deixaria a filha no hospital? Principalmente agora com
tudo que está acontecendo.
— Pois é.
O ruim é que Viviane não quer vê-la de jeito nenhum. Não importa o quanto Gabriele
se importe e pergunte como ela está. Viviane está irredutível. Ela tem uma
profunda mágoa da mãe.
Fabrício
pareceu ter uma ideia.
— Você
devia falar com Viviane.
— Eu? Por
quê?
— Bem, vê
se coloca um pouco de juízo na cabeça dela, como fez comigo. Acho que vocês
duas podem se dar bem no futuro.
— Você
acha que Viviane iria me escutar? Logo eu? Nesse momento, ela deve estar com
ódio de mim e da minha irmã. Afinal, ela deve pensar que o avô que ela tanto
ama praticamente foi roubado por nós.
Fabrício sorriu.
— Viviane
não é assim... É só ter um pouco de paciência e você vai ver. Ela tem uma mania
de expressar mal os próprios sentimentos. Bem pior do que eu. Mais ainda agora
que está um pouco sensível por causa do avô, mas acho que você consegue fazer alguma
coisa.
— Você
parece ter mais fé em mim do que eu mesma.
—
Claro... Porque você é a garota que eu escolhi.
Emanuela
semicerrou os olhos, cruzando os braços.
—
Fabrício, você tem um jeito bem particular de falar... Não conhecia esse seu
lado.
— O quê? Vai
dizer que você não gosta?
— Ainda
estou decidindo se gosto ou não disso.
Fabrício
riu.
***
Gabriel
bateu à porta do quarto de Viviane e entrou. Verônica estava conversando com
Vivi.
— Boa
noite. Vim ver como a nossa princesa mimada está.
Viviane
olhou para ele.
— Quem
pensa que é para falar assim comigo? Sabe com quem está falando?
Ele
sorriu.
— Parece
que ela está bem, não é? Essa é a Vivi que eu conheço, com cinco pedras na mão
quando a gente aparece com rosas.
— Rosas?
Não vejo rosas.
— Foi só
um modo de falar.
Verônica
levantou-se de onde estava sentada.
— Bem,
acho que vou sair para conversarem a sós.
Vivi
ficou surpresa.
— Não
tenho nada que conversar com esse cara. – e olhando para ele. – Se queria ver
como eu estava, já viu. Estou ótima, principalmente por que até um momento
atrás você não estava aqui. Então, saia.
Verônica
olhou desapontada para amiga.
— Vivi, não
deveria ser assim com uma visita. Deve tratá-lo bem. Quem sabe dar um abraço,
alguns beijinhos... Talvez assim esse seu mal humor passa. – disse rindo.
A garota
ficou boquiaberta.
—
Verônica! Como pode dizer algo assim? No dia em que eu quiser beijar esse cara,
pode colocar uma camisa de força em mim, por que eu estarei completamente louca
se algo assim acontecer.
— Quem
desdenha quer comprar. – disse Gabriel. – Tem muitas garotas que fazem fila
para me beijar. Se quiser, vai ter que pegar a senha.
Viviane
se levantou para avançar contra Gabriel que ria, enquanto Verônica segurava a
amiga.
— Vivi,
se contenha. Nem parece que faz pouco tempo que sofreu um acidente. – disse
rindo.
—
Verônica! Me solta. Deixa eu dar uma lição nesse cara convencido. Ah! Ele me dá
nos nervos. – disse, se soltando e sentando-se novamente.
De
repente, alguém bateu na porta. Era Emanuela.
— Viviane...
Posso falar com você um instante? Se não estiver muito ocupada, é claro.
Viviane
suspirou descontente.
— O quê?
Não tenho nada para falar com você. E estou ocupada sim. No momento, estou
planejando matar alguém. – disse furiosa para Gabriel que se limitou a sorrir.
— Pode
sim, Emanuela. – disse Verônica, olhando com repreensão para Vivi. – Ela pode
conversar com você, não é, Vivi? Porque a Vivi é uma garota muito educada e
gentil.
Gabriel
caiu na gargalhada.
— Garota
educada e gentil? Onde? Onde? – perguntou ele.
—
Gabriel, não provoca. Você vem comigo. – disse Verônica, arrastando o garoto
consigo para fora do quarto.
Do lado
de fora, ela cruzou os braços.
— Você
gosta de provocá-la, não é?
Ele fez
como se não entendesse.
— Como
assim? Foi você quem começou com as brincadeiras.
— E você
aproveitou. Bem, de qualquer forma, é melhor assim. Pelo menos, ela está sendo
a Viviane de sempre. E tem o fato de que você parece gostar dela de verdade,
então, é melhor que faça sempre companhia a ela.
Gabriel
olhou surpreso para Verônica.
— Eu
gostar dela? Você perdeu um parafuso aí?
Verônica
semicerrou os olhos.
— Você
acha que eu não percebi? Que você gosta dela? Ah, Gabriel, por favor... Não
nasci ontem.
— Eu
disse a você... Tem garotas assim atrás de mim. Por que eu gostaria justamente
da mais mimada e insuportável?
— E eu
vou saber? É você que gosta não eu. Mas como eu disse, pelo menos perto de
você, ela parece ser ela mesma. Acho que isso é um bom sinal. – disse
enigmática.
***
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