Capítulo 27
A reunião
dos principais acionistas e diretores-executivos foi rápida e tinha acabado de
terminar.Todos saíram, exceto Otávio Jr. e Marcos. Ambos levantaram-se de seus
devidos lugares e se dirigiram à saída. Ao chegarem perto da porta, pararam.
Otávio Jr. olhava com ódio para o seu tio.
— Não
devia olhar para alguém com um cargo maior do que você, afinal agora eu sou o
Presidente, não é? – disse Marcos rindo.
Otávio
Jr. não conseguiu suportar aquelas palavras.
— Esqueceu
uma um adjetivo após a palavra Presidente. Interino. O senhor é apenas o
Presidente interino. Assim que meu pai se recuperar, ele vai voltar e recuperar
o seu lugar. Está enganado se pensa que vai ocupar essa cadeira por muito
tempo. Você não merece esse lugar.
— Não
seja tão hipócrita, Otávio. Jr. – disse
Marcos. – Você mais do que ninguém deseja que seu pai não se recupere. E acho
que você tem quase certeza que vai assumir a Presidência do Grupo algum dia. –
e aproximando-se de Otávio Jr. – Mas não fique tão animado, essa cadeira de
Presidente pertence a mim muito antes de seu pai herdá-la.
Otávio
Jr. se deteve olhando para Marcos.
— Fico imaginando
o tipo de método que usou desta vez para convencê-los. Qual foi o mais usado?
Ameaça? Suborno? Chantagem? Estou curioso... Afinal, talvez minha desvantagem fosse
porque eu não tenho o devido know-how
quando se trata de usar pessoas.
Marcos
olhou para ele e riu.
— Você
diz coisas engraçadas, Otávio Jr. Mas antes de qualquer coisa, deveria ser mais
prudente com suas palavras. Muitas pessoas morreram por muito menos. – disse
enigmático, saindo.
— Se acha
que vai ser muito fácil passar a perna em mim, se engana. O problema de raposas
como você é achar que nunca vão ser pegos.
***
Gabriele estava
esperando na sala, quando as três meninas chegaram. Logo que entrou, Viviane sussurrou
algo, dizendo que ia subir e foi para o quarto. Gabriele se limitou a
observá-la se afastar. Mariana percebeu que a mãe de Viviane fazia um enorme
esforço para esconder a tristeza que parecia sentir pela filha. Mariana teve
que desviar o olhar, quando Gabriele olhou para as duas e sorriu.
— E aí?
Como está o Dr. Otávio? – perguntou com um misto de curiosidade e genuína
preocupação.
— Na
medida do possível, ele está bem. – disse Emanuela. – Mas foi um pouco estranho
vê-lo em uma cama com aqueles aparelhos.
Gabriele
ficou pensativa por um instante.
— Vivi
deve ter se sentido desconfortável também.
Mariana
pensou em dizer algo, mas preferiu não comentar o fato de Viviane ter tido uma
crise de choro quando viu o avô no leito do hospital.
— Então,
o que vamos ter para o almoço? Estou com tanta fome que sou capaz de comer um
leitão inteiro. – disse Mariana, tentando meio sem jeito quebrar o clima estranho
que se formara.
Emanuela
olhou surpresa para a irmã.
—
Mariana, como pode dizer isso? Uma criança de 10 anos se comportaria melhor do
que você agora.
Mariana
olhou para a irmã.
— Ah,
Manu... Eu gosto muito de você, mas, às vezes, você precisa ‘desencanar’ um
pouco. Você não cansa não?
Emanuela
ficou boquiaberta.
— Cansar
de quê?
— Ah, sei
lá... Você deveria se comportar um pouco como a sua idade. – e sussurrando para
si mesma. – Às vezes, tenho a impressão que é minha avó, não minha irmã.
— O que
disse?
— Não,
nada. – tentou disfarçar.
Gabriele
riu das brincadeiras das duas.
— Temos
algo muito delicioso. Como Emanuela está aqui depois de uma semana almoçando na
empresa, então, resolvi pedir a Anne para fazer algo especial, assim
comemoramos o fato do Dr. Otávio estar bem agora.
De
repente, Emanuela tossiu um pouco.
— De
novo? – perguntou Mariana preocupada. – Ainda está gripada?
— Eu já
disse, não é nada. Acho que ter passado o dia no hospital evitou que eu
melhorasse, mas uma boa noite de sono e fico melhor.
Mariana
olhou para Emanuela um pouco preocupada, mas não falou mais nada.
Gabriele
se preparava para sair, quando Iêda e Camila chegaram. As duas também haviam
ido para o hospital.
— Olá, garotas.
– disse uma delas, dirigindo às três. – Resolvemos tirar o dia de folga e fazer
companhia a vocês.
— É
verdade. Fizemos uma visita para ver como o Dr. Otávio está. – disse Camila e
olhando para Gabriele. – Gabriele, você ainda não o visitou, não foi? Por quê?
Gabriela
sorriu um pouco desconcertada.
— Acho
melhor esperar até que ele fique melhor.
De
repente, Érica apareceu na sala com uma taça de vinho nas mãos. Ela vinha da
cozinha.
— Olha,
parece que estamos tendo uma reunião especial hoje na mansão. Nunca vi tantas
pessoas se reunirem em um dia da semana. – disse ela, parecendo um pouco bêbada.
— Você
não devia tomar isso tão cedo... – disse Gabriele – Não parece ser um bom
exemplo para as meninas.
— Ah,
Gabriele. – disse Érica rindo. – É por isso que sua filha lhe trata tão mal...
Você deveria se impor mais e, principalmente, deixar essa imagem de boa moça
que não convence ninguém.
Érica
subiu as escadas e foi para o quarto, enquanto as outras a observavam.
— Bem,
vou subindo também. – disse Camila.
— E eu
também. Mesmo tirando o dia de folga, ainda preciso trabalhar. – disse Iêda,
acompanhando Camila na escada.
Mariana
olhou para Gabriele um pouco curiosa.
— Érica
parece estar um pouco triste com algo... Ela sempre encontra um jeito de beber dessa
forma.
Gabriele
parecia pensativa.
— Imagino
que seja por causa do Fabiano.
—
Fabiano? – repetiu Manu não entendendo a relação que poderiam ter Fabiano e a
esposa do tio dele.
Gabriele
ficou calada por um tempo, como que decidindo se contava ou não.
— Bem,
como vocês são da família não tem por que esconder isso. É algo que todos da
casa sabem. Érica era noiva de Fabiano, mas um mês antes do casamento, ela
desapareceu. Todos ficaram preocupados, procuramos por todos os lugares. No
começo, pensamos que era sequestro, mas o tempo passava e não ouvimos nada
sobre pedido de resgate. Quando o Dr. Otávio pensou em contratar um detetive
para descobrir o seu paradeiro, Marcos apareceu junto com ela e a apresentou
como sua mulher.
— Então,
ela que o abandonou... – e olhando para Gabriele. – Mas, por que a senhora
disse que o motivo dela estar assim poderia ser o Fabiano?
Gabriele
sorriu.
— Não
sei... Talvez seja só intuição... – disse ela, pensando no olhar que Érica lançara
em direção a Fabiano na festa.
***
Ao chegar
ao quarto, Érica sentou-se em uma poltrona em frente a uma janela. Levantou-se para
fechar as cortinas, sem antes dar uma olhada de alguns segundos no jardim lá
fora. Mas naquele momento, ela não estava a fim de ver o jardim ou mesmo a luz
do sol. Sua mente estava longe dali. Apenas pensava no quanto ficara surpresa ao
ver na festa de aniversário de Viviane, Fabiano acompanhado de uma mulher.
Depois, pensava no que acontecera naquela manhã.
Érica
chegou de escritório central às 10h. Nem sequer tivera tempo de visitar o Dr.
Otávio e acompanhar as três garotas. Apesar de não ter uma ótima relação com o
Dr. Otávio, mesmo assim não tinha nada contra ele e até mesmo o admirava como o
homem que era. Mas as ordens de Marcos não poderiam ser desrespeitadas. Aquele
homem não era alguém para se ir contra.
Ao chegar
ao escritório se surpreendeu. Da sala do Dr. Marcos, ele saiu acompanhado de
uma mulher que lhe parecia familiar.
— Ainda
bem que chegou, querida Érica. – disse Marcos assim que viu Érica entrar. – Apresento-lhe
minha nova assistente. Acho que você já deve tê-la visto. Ela estava na festa
da Viviane...
—
Assistente? – perguntou Érica surpresa.
— Sim,
por acaso, ela estava precisando de um emprego... E como estou precisando de
mais alguém, resolvi contratá-la.
A pessoa
se aproximou de Érica e estendeu-lhe a mão.
— Muito
prazer, sou Rebeca Gomes. – disse ela sorrindo.
— Érica,
passe as informações que precisa passar para ela, depois, se quiser, está
dispensada. – disse, saindo.
Assim que
Marcos saiu, Érica olhou para a sua nova colega de trabalho.
— Você
não era a mulher que estava com Fabiano na festa da sobrinha dele?
— Sim,
sou eu mesma. Pelo jeito se lembra de mim. Mas o que tem isso?
Érica
suspirou.
— Fabiano
sabe que está aqui?
— Por que
ele deveria saber?
Érica riu
incrédula.
— Ou você
é louca ou estúpida. Sendo namorada de Fabiano e vindo trabalhar aqui... Que
tipo de pessoa você é? Quem é você exatamente?
—
Primeiro, não sou namorada do Fabiano. E segundo, por que eu não gostaria de
trabalhar com alguém que é o Presidente interino do Grupo Demontieux?
Érica
ficou surpresa.
—
Presidente interino?
Rebeca
riu.
— Então,
você não sabe? Hoje pela manhã, o conselho de diretores e principais acionistas
escolheu o Dr. Marcos como Presidente interino do grupo até o restabelecimento
do Dr. Otávio.
—
Então... Você veio aqui por causa disso?
— Pois
é... Tenho uma queda por homens poderosos. E, além disso, acho que alguém tão
forte quanto o Dr. Marcos merece alguém mais forte que forneça o devido apoio.
Rebeca começou
a sair.
— Não se
preocupe, não precisa me passar nada hoje.
— O que
está pensando em fazer com Fabiano? – perguntou Érica antes que Rebeca abrisse
a porta.
— O que
mais? – disse Rebeca, virando-se para Érica – Eu já fiz o que tinha que fazer.
Usei-o para chegar ao Dr. Marcos.
— Se já
fez o que tinha que fazer, então, se afaste dele.
Rebeca
riu.
— Quem é
você para me dar ordens? O que eu faço ou deixo de fazer é apenas da minha
conta. Se eu me afasto ou não de Fabiano, isso quem decide sou eu. – disse,
saindo.
Érica, no
escuro do quarto, tomava o seu vinho, relembrando aqueles últimos
acontecimentos. Pensava que não tinha nenhuma moral para condenar Rebeca, mas
ela não queria que Fabiano sofresse novamente. Na condição em que estava,
talvez, nem que fosse por um pouco, ela poderia protegê-lo.
“Rebeca...
– pensou – Preciso saber quem é exatamente essa mulher.”
***
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