Capitulo
15 – Revelação
Verônica
subiu para o apartamento. Seu irmão Fabrício tinha passado dos limites
novamente. De repente, o pai de Verônica, Dr. Eduardo entrou, voltava do
trabalho. Verônica, percebendo a presença do pai, levantou-se e foi ao seu
encontro.
— Pai,
por que voltou tão cedo? Ainda são três horas da tarde. – perguntou, lembrando-se, logo em seguida, da
ligação que recebera do pai naquela mesma manhã.
—
Fabrício chegou? – perguntou ele sem que respondesse à pergunta da filha.
— Sim,
ele estava na academia do prédio... Eu vou chamá-lo. – disse, indo em direção à
porta, mas vendo Fabrício entrar logo em seguida.
Eduardo olhou
para o filho com olhar de poucos amigos.
— Venha
para o escritório. Preciso conversar com você. – disse, se retirando.
Fabrício
continuou parado.
— Você
não vai? – perguntou Verônica. – Ele realmente está irritado. Se você demorar
muito, eu não sei o que vai acontecer...
Fabrício
respirou fundo.
—
Infelizmente, eu tenho que enfrentá-lo.
Verônica
parecia preocupada.
— Você
não vai brigar com ele de novo, não é? Prometa que vai fazer o máximo para não
entrar em conflito com ele.
— Mana,
eu não posso prometer isso. – disse, enquanto se dirigia para o escritório do
pai.
Não
demorou muito para que Fabrício se encontrasse em pé em frente à mesa do pai.
Eduardo pegou um papel e colocou na mesa para que Fabrício pudesse ver.
— Você
sabe o que é isso? – perguntou o pai, olhando sério para ele.
Fabrício
olhou de relance.
— Um
extrato bancário.
— E o que
você tem a me falar? – perguntou Eduardo, tentando manter a calma.
— Sobre o
que exatamente o senhor quer saber?
Eduardo
se manteve sério.
—
Fabrício, eu tenho suportado o seu mau comportamento em memória a sua mãe. Mas
para tudo existe um limite.
— O
senhor está irritado por causa de R$ 500.000? Desde quando dinheiro tem sido um
problema para o senhor? – perguntou Fabrício em tom rebelde.
Eduardo
que estava sentado, levantou-se irritado.
— Você
sabe que dinheiro não é problema nessa casa! – disse, aumentando o tom de voz.
– Mas, R$ 500.000 não é uma quantia que se possa gastar em um dia! Eu quero
saber exatamente onde foi parar esse dinheiro!
Fabrício
olhou desafiador para o seu pai.
— E se eu
não quiser dizer?
Eduardo
olhou para o filho impaciente.
— Então,
terei que tomar algumas providências.
— Do que
o senhor está falando? – perguntou Fabrício, não entendendo o que pai queria
falar.
— A
partir de hoje, você não vai receber nenhum centavo meu. E a conta que era de
vocês dois vai ficar apenas para a sua irmã. Se quiser algum dinheiro vai ter
quer trabalhar! Ou isso ou você me fala o que fez com o dinheiro.
Fabrício
não esperava por aquilo, mas não era o tipo de pessoa que se deixava manipular
facilmente.
— Faça
como quiser. – disse ele, saindo e batendo a porta.
***
Passaram-se alguns dias,
e já era uma sexta feira. Emanuela e Mariana passavam mais tempo no hospital do
que em casa. As duas conversavam com o pai no quarto, quando alguém bateu na
porta. Era Fabrício que havia passado para fazer uma visita. Depois de
cumprimentar Rogério, ele e Emanuela foram para fora do quarto conversar.
— Não tive a oportunidade
de lhe agradecer corretamente. Muito obrigada. – disse Emanuela, logo que
saíram do quarto. – Você passou alguns dias sem vir... Desculpa pelo
agradecimento atrasado.
— Eu tive alguns
problemas pessoais, por isso que só passei por aqui agora. Mas, não precisa me
agradecer.
— Claro que precisa. Você
fez tudo isso por pessoas que mal conhece. O meu conceito de você mudou
completamente.
Fabrício pareceu ficar um
pouco sem jeito.
— Ah... E quanto ao tal
do Fernandes? Ele apareceu novamente?
— Sabe que não? O que é estranho...
Tenho medo que isso só seja uma calmaria antes da tempestade. Possivelmente,
está preparando algum tipo de vingança.
— Não se preocupe. Isso
não vai acontecer. – disse Fabrício seguro de si mesmo.
Emanuela estranhou aquela
afirmação tão confiante.
— Como pode estar tão
certo disso?
— Bem... – disse ele
tentando consertar. – Já que ele não fez nada até agora, pode ser que esteja
ocupado com seus próprios negócios.
Emanuela parecia
pensativa.
“Fernandes não é assim. –
pensou - Esse tipo de comportamento não é lógico e não condiz com sua
personalidade. Será que aquela mulher tem a ver com ele? Também não. Fernandes
não é do tipo que faz rodeios, ele sempre vai direto ao ponto. Então, aquela
história é verdadeira? Não... É muito surreal para que seja verdade, a menos
que haja um bom motivo para inventar aquela história incrível.”
— Emanuela? – chamou
Fabrício, tentando chamar a atenção da garota. – No que estava pensando?
Emanuela sorriu.
— Nada demais.
De repente, Fabrício
lembrou-se de algo. Tirou do bolso uma foto e estendeu-a a Emanuela. A garota
pegou a foto surpresa.
— Essa foto...
— Uma mulher na boate me
deu para lhe entregar.
Emanuela olhou curiosa
para Fabrício.
— Quando você a
encontrou?
— Ah... Eu a encontrei
por aí... Na rua. Você sabe.
Emanuela pensou em dizer
algo, mas conteve-se.
— Entendo. – disse por
fim.
— Mas, você quer comer
alguma coisa? – perguntou Fabrício - Bem, você já deve ter tomado o café da
manhã, mas não faz mal tomar um suco agora, né?
— Tudo bem, vamos então.
Quando Mariana saiu do quarto, ela ainda pode
ver Emanuela se afastando com Fabrício. Sem perceber, ela suspirou.
— Se não quer que sua
irmã descubra não deveria suspirar tão alto.
Mariana tomou um susto ao
ver o Dr. Rafael ao seu lado.
— Dr. Rafael? Você sabia
que pode matar as pessoas do coração assim?
Ele riu.
— Não, não se preocupe,
você me parece muito saudável para ter problemas no coração. Mas, diga-me, o
que aquela sua amiga decidiu? Ela vai desistir?
— Minha amiga? –
perguntou confusa e lembrando-se da conversa anterior que tinha tido com o
médico - Ah... Não é óbvio? A felicidade da sua prima-irmã está acima de
qualquer coisa.
Rafael a observou
pensativo.
***
Érica estava na mansão,
quando Dr. Tarcísio saiu do escritório do Dr. Otávio. Ao passar pela sala, ele a
olhou de forma que ela pudesse entender que queria falar com ela. Tarcísio saiu
da mansão e foi acompanhado por Érica.
— Bem... – disse ele
limpando a garganta. – Acabei de confirmar algo para o Dr. Otávio e como você
queria saber também... Aqui está o resultado do teste de DNA. – disse
entregando um envelope.
— Eu não quero esse
envelope. – disse ela recusando - Acreditarei se me disser de forma simples e
direta. Então, as suspeitas estavam certas?
Tarcísio pareceu um pouco
constrangido pela forma tão direta de Érica.
— De fato, o que
suspeitávamos estava correto. Mas, o que pretende fazer? Você realmente vai
conseguir que as netas do Dr. Otávio venham de livre e espontânea vontade?
— É claro. Afinal, eu
tenho uma incrível capacidade de manipular pessoas, não é?
Tarcísio riu-se.
— Não se superestime.
— Você é tão ingênuo. É
claro que estou brincando. – disse ela rindo. – Mas, não se preocupe,
possivelmente terei sucesso na minha missão.
— Você não me dirá o que
pretende fazer?
Érica riu-se.
— Não seja tão curioso,
Tarcisinho. – disse ela, pegando o envelope das mãos de Tarcísio. – Vou ficar
com isso de recordação.
Érica entrou na mansão,
enquanto Tarcísio a observava apreensivo.
***
André,
depois da aula, foi à casa de Gabriel entregar alguns convites para uma festa
que ia ter na casa de um amigo deles.
— Que
tipo de festa é essa? – perguntou Gabriel, que estava sentado na sala com o
notebook em seu colo.
— Não sei
se você vai se interessar... É uma festa organizada pelos “velhos”... Você
sabe, Black Tie e afins...
Gabriel
riu.
— Não me
diga que é quase que um encontro às escuras? Esse pessoal pensa que estamos em
que século?
André deu
de ombros.
— Bem, o
fato é que o pai dele é diretor geral de uma multinacional... Com certeza quer
um bom partido para o filho... Apesar de que eu concordo com você de que essa
festa vai dar o que falar. Mas acho que a gente não perde nada indo. Pode ser
que tenha umas gatinhas por lá... – e notando Gabriel muito concentrado no que
estava fazendo. – Mas o que é isso que tanto faz? Já faz alguns dias que você
está misterioso...
Gabriel
olhou para o amigo.
— Estou
criando um blog. Imagina como é o título dele?
— Não
faço a mínima idéia. – disse André com pouco interesse.
Gabriel
riu e virou o notebook para que o amigo pudesse visualizar. André tomou um
susto.
— “O blog
da princesinha”? – e olhando para Gabriel. – Estou desconhecendo você, cara!
Por acaso resolveu mudar de time? Por que se for, por favor, me avisa, não
quero que pensem...
Gabriel
fez cara de poucos amigos.
— Não é
nada do que você está pensando não. – disse - Esse é um blog só para mostrar
qualquer coisa que envergonhe aquela garota irritante.
André não
entendia.
—
Gabriel, acho que você está exagerando um pouquinho... Isso já está virando
paranóia...
Gabriel
riu sarcástico.
—
Paranóia ou não, eu vou fazer aquela princesinha passar a maior vergonha da
vida dela!
André
compreendeu o que estava acontecendo.
— Isso
tudo porque ela foi a única garota que não caiu a seus pés?
Gabriel
pareceu discordar.
— Você
acha realmente que me importo com isso? Isso tudo porque ela é irritante e
precisa de alguém para lhe dar uma lição. E eu como um bom cara, vou apenas
ensinar algumas coisas. Ela acha que pode esnobar quem ela quiser só porque é
rica.
— Mas,
você também é rico.
— Mas,
não sou como ela. Ela é prepotente, arrogante, mimadinha e detestável. O tipo
de garota que realmente detesto.
— Pois,
para mim, sendo garota e bonita é o suficiente. Mas, você não está exagerando? Ela
sempre me pareceu uma garota legal, apesar de ter uma personalidade um tanto forte.
Gabriel
suspirou.
— Não,
não estou exagerando. E não, ela não é legal. Conheço garotas legais e
definitivamente não é legal.
— Ainda
acho que está levando isso muito a sério... Mas, me diga, qual vai ser o primeiro
post desse blog?
—
Segredo, meu caro Watson, mas com certeza algo realmente interessante. E quando
eu postar, não só você, mas toda a faculdade vai ficar sabendo. E isso é só o
começo...
André riu,
imaginando o real motivo de tanta aversão àquela garota.
***
Dr.
Rafael encontrou-se por acaso no corredor do hospital com Fabiano.
— Como
vai, Dr. Fabiano? – cumprimentou. – Não me diga que já foi visitar novamente a
Bela Adormecida...
Fabiano
não entendeu a piada do colega.
— De quem
você está falando?
— De quem
mais? Como é o nome dela... Ah, Rebeca! Um nome bonito não acha? Mas, não
demonstre demais... Alguns médicos já perceberam o seu estranho interesse
naquela paciente.
O Dr.
Fabiano ficou um pouco constrangido.
— E por
que não teria interesse? É um caso raro de perda de memória. E além de tudo,
fui eu quem a operou, apesar de não ser mais o seu médico responsável.
Rafael
sorriu.
— Não
tente esconder de mim, Fabiano. Você é péssimo em falar mentiras. – e olhando
discretamente para ambos os lados. – Mas, você sabe que não é muito ético esse
tipo de relacionamento com pacientes...
Fabiano
parou de repente.
— Você
está imaginando demais, Rafael. Eu não tenho esse tipo de interesse naquela
paciente.
Rafael
deu de ombros.
— Tudo
bem. Você pode continuar negando... Mas, só um conselho de amigo, enquanto ela
for paciente desse hospital, seja um pouco mais discreto. Eu sei que você não
tem más intenções, mas não acredite que os outros médicos vão pensar o mesmo...
Fabiano
olhou para Rafael sério.
— Não se
preocupe. Como eu disse, eu não tenho esse tipo de intenção.
Rafael
deu de ombros.
— Ok. Não
está mais aqui quem falou. Vou acreditar que você não sente nada por ela...
De
repente, Fabiano sentiu um perfume familiar.
— Quem é
ela? – perguntou uma voz feminina conhecida.
Os dois
se viraram e viram Érica.
— Érica!
– exclamou Rafael. – Há quanto tempo!
Fabiano
olhou sério para Érica.
— O que
está fazendo aqui em meu ambiente de trabalho? Não se esqueça que isso é um
hospital.
Érica
sorriu.
— Não vou
me esquecer, meu querido... Mas, por que está tão irritado? Você não gostou da
minha visita? Dessa vez, eu resolvi invejar um pouco a sua querida sobrinha...
– e olhando para Rafael. – ...visto que ela também tem um motivo em especial
para vir aqui.
— Você
quer se comparar com a Viviane? – perguntou Fabiano impaciente. – Não faça isso,
Érica, é ridículo na sua idade. – disse, se afastando.
Rafael
olhou para Érica logo depois que Fabiano já não estava longe o bastante.
— Você
não veio por ele, não foi? – perguntou ele.
— Do que
está falando? – perguntou ela, fingindo não entender a pergunta do médico.
Fabiano
suspirou olhando para Érica.
— Eu vi
você marcando uma consulta com um especialista...
— Não
fale nada! – Érica o interrompeu antes que ele continuasse. – A última coisa
que eu quero é que alguém saiba disso. Além de tudo, não quero que Fabiano
tenha pena de mim.
Rafael
parecia um pouco impaciente.
— Não
seja tão infantil, Érica. Pelo especialista que você procurou, o seu caso
parece ser muito grave. – disse ele preocupado. – Não é algo que se possa
esconder durante muito tempo.
Érica
riu.
— Não se
meta onde não é chamado, Dr. Rafael... – e um pouco mais séria. – De qualquer forma, não estou aqui apenas para
isso... E aproveitando que lhe encontrei, gostaria de uma informação.
— Que
informação?
— Já que
você sempre está dando apoio aos outros médicos, você deve saber... Por acaso,
você sabe em que quarto está o paciente que é sempre acompanhado de duas irmãs
gêmeas? Emanuela e Mariana, esses são os nomes.
Rafael ficou
pensativo e curioso.
— Sei
sim... Mas, porque gostaria...?
— Não se
preocupe com isso. – disse Érica séria. – É algo de certa forma urgente. Pode
me dizer?
— Bem, se
você diz que tem alguma urgência... É o quarto 308.
Érica
sorriu.
— Obrigada.
Até logo, Dr. Rafael. – disse, se retirando.
***
Viviane,
de repente, ligara para Verônica chamando-a para fazer compras. As duas estavam
no shopping andando, enquanto Viviane olhava com interesse as vitrines.
—
Viviane, você não acha que já compramos demais? – disse Verônica, parecendo um
pouco desanimada, enquanto levava algumas sacolas.
Viviane
olhou para Verônica intrigada.
— Demais?
Claro que não. Você esqueceu que hoje é o nosso dia de comprar até ficarmos satisfeitas?
Viviane
olhou para Verônica que estava com o olhar vago.
— Mas, o
que aconteceu, amiga? Você sempre gostou de fazer compras comigo, por que
parece tão desanimada? Assim não tem graça.
Verônica
sorriu.
— Hoje,
não estou com um bom humor...
— É para
isso mesmo que servem as compras. – disse Vivi – Mas, me diga, o que aconteceu?
Vamos ali conversar.
Vivi e
Verônica se sentaram em um banco próximo à loja.
— É o
Fabrício de novo... Brigou com o nosso pai novamente. Eu realmente não suporto
ver isso.
— De
novo?! – e um pouco indignada. – O Fabrício já está muito grande para fazer as
pessoas ficarem preocupadas assim. – e como que mimando a amiga. – Minha
Verônica nem está sorrindo mais. – disse fazendo bico.
Verônica
sorriu.
— Só você,
Vivi, para me fazer sorrir quando estou assim.
— Claro.
Porque é minha amiga-irmã. Você sabe que eu te amo muito. Não trocaria nossa
amizade por homem algum.
— Mesmo
pelo Rafael?
Viviane
sorriu.
— Tenha a
opção de pedir ajuda aos universitários nessa pergunta?
— Sua
falsa!
As duas
riram. De repente, Viviane ficou um pouco mais séria.
— Mas,
mudando de assunto, Vê...
— Sim.
Vivi
olhou para os lados como se certificando de que ninguém estava prestando
atenção a elas.
—
Enquanto estamos aqui no shopping, você não sentiu como se alguém estivesse nos
vigiando?
Verônica
balançou a cabeça negativamente.
— Não.
Por quê?
— Eu não
sei... Mas, ultimamente eu sinto como se estivesse sendo seguida, na faculdade,
na escola...
— Isso é
paranóia da sua cabeça, Vivi. – disse Verônica, de repente, pensando que não
deveria ter dito aquilo. – Quer dizer... Desculpa, eu me esqueci daquele
incidente.
— Você tem razão. Pode ser paranóia da minha
cabeça. Vou tentar esquecer isso, afinal, não posso ficar vivendo na sombra do
que aconteceu no passado, não é?
— É isso
aí! Então, vamos às compras? – disse Verônica, levantando-se.
— Sério?
— Muito
sério. Agora, prepare-se, que Verônica está de volta!
As duas
riram.
***
Érica
chegou no quarto de hospital e bateu na porta. Ao abrir, viu as duas garotas
sentadas ao lado do pai. Uma lia um livro, enquanto outra via se o pai estava
confortável. Uma das garotas se dirigiu a porta.
— Com
quem quer falar?
— Você é
a Emanuela?
— Não,
sou a Mariana. Minha irmã está ali.
Érica
olhou e percebeu que Emanuela deixara de lado o livro e vinha em direção à
porta.
— O que
foi Mariana?
— Essa
mulher... Parece que ela quer falar com você.
—
Emanuela? Podemos conversar um pouco?
Emanuela
assentiu. As duas saíram do quarto e Manu a seguiu até a lanchonete do
hospital. Depois, Érica sentou-se e pediu para Emanuela se sentar.
— Com
licença, o que a senhora gostaria de falar comigo...
Érica
sorriu. Era óbvio que Emanuela ainda não percebera que quem falava era a
“Elisa”.
—
Emanuela, não faz muito tempo que nos encontramos e você não me reconhece.
Emanuela
parecia confusa.
— Do que
está falando? Eu lhe conheço de algum lugar?
— Da
última vez que eu me apresentei a você foi com um nome falso: Elisa.
Emanuela
olhou para Érica sem esboçar muita surpresa.
— Elisa?
— É
impressionante a sua capacidade de não demonstrar emoções. Uma personalidade
muito rara para uma pessoa do sexo feminino.
—
Desculpe, mas é sobre minha personalidade que queria falar?
Érica
sorriu.
— Não, é
claro que não. Primeiramente, gostaria de pedir desculpas.
Emanuela
pareceu não entender.
— Pelo
quê?
Érica
sorriu.
— Da
última vez que fui a sua casa, peguei uma escova de dentes.
Emanuela
permaneceu calada.
— Não vai
me perguntar por quê?
— Deve
ter tido uma razão para isso, não?
Érica
olhou para Emanuela curiosa e sorriu.
—
Primeiramente, quero me apresentar. Meu nome é Érica Alcântara, esposa de
Marcos Alcântara, que é irmão e sócio de Otávio Demontieux Alcântara.
— Que é o
dono do Grupo Demontieux. – completou Emanuela.
— Isso
mesmo.
— E o que
eu e minha irmã temos a ver com vocês?
Érica
tomou um pouco do suco sobre a mesa.
— Tudo.
— Tudo?
— Sim.
Foi feito um exame de DNA com a escova que eu peguei na sua casa.
— Exame
de DNA? Não me diga... – disse Emanuela, parecendo entender tudo.
Érica
ficou surpresa.
— Você é
realmente inteligente. Eu nem precisei dizer toda a informação e já entendeu
tudo. Sim, é exatamente isso que está pensando. O Dr. Otávio queria adotar vocês,
mas não por causa do que eu lhe falei antes, mas porque vocês são de fato netas
delas.
— Isso
não pode ser possível. Essa história é mais irreal do que a última que
inventou. Minha mãe era...
— Uma
garota de programa. – interrompeu Érica. – E devo acrescentar que era uma
garota de programa de elite. Se ela fosse uma mulher comum, eu também diria que
é quase impossível ela ter se encontrado com um milionário, se apaixonado por
ele e ter tido duas filhas. Mas, para uma garota de programa assim, a
possibilidade de ela se envolver com homens muitos ricos é muito grande. Você
ainda acha que é impossível?
Emanuela
permaneceu calada.
— Percebe
como há lógica no que eu disse? – disse Érica.
—
Então... Se isso é verdade... Por que fez todo aquele teatro da última vez?
— Estava
apenas seguindo ordens do seu avô. Ele me contratou para simular uma história,
assim vocês duas poderiam morar na mansão e só depois ele falaria a verdade.
— Isso
não faz sentido. Por que ele não falou diretamente?
Érica
sorriu.
— Entendo
o que está falando. Eu também não vejo lógica nisso. Mas, uma coisa eu sei. Ao
contrário de nós duas, existem pessoas que colocam a emoção acima da razão.
Dr.Otávio é uma dessas pessoas. Possivelmente, ele está com medo de ser
rejeitado. Pelo que ouvi, o seu falecido filho Jorge não se dava muito bem com
ele. Talvez, ele queira que vocês o conheçam primeiro antes de revelar a
verdade.
— Então,
ele não sabe que você está me dizendo isso.
Érica
sorriu novamente.
— Não. E
não sei o que ele faria se soubesse que estou dizendo toda a verdade. Ele pensa
que estou lhe dizendo uma história fictícia, para convencê-la a ir até ele.
Emanuela
levantou-se, seguida de Érica.
— Para
onde vai?
— Vou
cuidar do meu pai. Está na hora de ele tomar o remédio dele e minha irmã pode
ser um pouco esquecida às vezes.
— Então,
qual é a sua resposta? Você concordaria em se encontrar com o Dr. Otávio?
Emanuela
olhou inexpressivamente para Érica.
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