XXXIX
Na fazenda, Roberta ainda
esperava pelo retorno de Claude. Insistia em ficar até que retornasse com
ou sem a esposa. De preferência, sem.
- Elisabeth querida, se seu sobrinho
pensa que vou desistir de esperá-lo, está muito enganado! Tenho até
o meio dia de amanhã livre.
- Roberta, entenda. Claude e Rosa se
amam. Nada vai separá-los. Esse amor estava escrito nas estrelas, darling.
- Pois, eu posso passar um corretivo
e reescrevê-la!
- A última pessoa que tentou quase
não sobreviveu... – Fala Elisabeth.
- Está se referindo à Nara, não é?
Edmond me contou tudo, numa noite em que precisava de... consolo. Coitado...
Ter que ficar preso a uma pessoa naquelas condições... Mas eu não serei
estúpida como ela. Tenho outras estratégias...
- Roberta, se continuar com essas ideias,
serei obrigada a encerrar nossa amizade.
- Ora, Elisabeth, eu apenas...
- O papai não voltou ainda com a
mamãe? – Pergunta Fernanda, entrando na sala de mão dada com Gideon – Ihhh,
quando eles demoram assim é porque tão namorando! – E recebe um olhar de
ciúmes, quase mortal, de Roberta...
Pirralhinha abusada! Com certeza,
puxou à mãe! – Pensa Roberta. E querendo tirar algumas informações, pergunta
com um sorriso falso nos lábios:
- Eles namoram sempre assim, meu bem?
- Aham... – Responde Fernanda – Eu
acho que sei porque tão demorando!
- Por que seria, angel? –
Pergunta Tia Elisabeth.
- Porque a mamãe quer “encomedar”
... Não, errei: “en-co-men-dar” outro bebê pra ser meu irmãozinho e
“láááááááá” no Brasil eles não “conseguia encomendar”!
Roberta se mexe na poltrona,
incomodada.
- E porque conseguiriam aqui? –
Pergunta Gideon, interessado na inocência de Fernanda, que deixava Roberta cada
vez mais contrariada.
- Porque meu papai me mostrou no
mapa onde fica o Brasil e onde é aqui... E aqui tá “bemmmm”
pra cima. Então eu acho que tá mais pertinho do céu e Papai
do Céu vai ouvir melhor daqui!
Gideon sorri da ingenuidade de
Fernanda.
- Oh, como é puro o coração de
uma criança! Resolvem tudo com uma facilidade incrível. – Comenta Elisabeth -
Nós adultos, deveríamos manter nossa criança interna sempre viva!
Ela faz parte de nós!
Rosa estava deitada com a cabeça
apoiada entre o peito e o ombro de Claude. Abriu os olhos e a luz do sol poente
a fez fechá-los rapidamente, piscando inúmeras vezes até
acostumar-se com a luz. Os raios de sol brincavam sobre as
águas espelhadas do rio, fugindo por entre as nuvens, tingindo a tarde de
azul-dourado.
Olhou para o marido e acariciou-o
desde o rosto até o peito, enroscando seus dedos por entre os pelos negros
dele.
- Hummmm... Você está
querendo mais é, gatinha? – Escutou Claude murmurar, enquanto a puxava
mais para si, mantendo suas mãos nas costas dela.
- Seria muito interessante, mas eu
acho que o Sol está nos convidando a ir... E o senhor, ainda tem que
por este motor pra funcionar! – Silêncio. – Claude... Claude Geraldy, você
não está dormindo, quer me responder?
- D’accord, d’accord... Nós já vamos,
hã? – Diz, sentando-se e puxando sua camisa que cobria o corpo de Rosa.
- Hei! - Reclamou Rosa, enquanto
sentia Claude olhar seu corpo vagarosamente. Que foi? Alguma
coisa errada comigo? Por que está me olhando assim?
- Até parece que non sabe! – Diz,
colocando a calça rapidamente e erguendo Rosa até si – Por mim, ficava
aqui contigo, fazendo amor de novo e de novo e de novo, até o
amanhecer...
- Tentadora sua oferta, mas...
Temos uma filha nos esperando e algumas malas pra fazer.
- Sua estraga prazer! – Exclama
Claude, sorrindo e dando um selinho em Rosa – Melhor colocar seu
vestidinho, enton! E pode tirar da cabecinha essa história de
praia de nudismo. – E começa a puxar a corda que jogara no galho da
árvore.
- Por quê? Eu fiquei tão
curiosa pra ver como é...
- Porque já teve sua cota de
nudismo por aqui, oui? Sol, água, natureza enfim! E nós dois nus mais uma
vez...
- Mas... Não é a mesma coisa, amor!
- Non... eu non vou andar com
você nua por uma praia infestada de homens, que vão olhar pra você e desejá-la.
- Mas, vai haver outras mulheres que
farão o mesmo com você...
- Pode até ser... Mas os sinais
non serão tão... evidentes, hã?
- Se esse é o problema,
podemos fazer isso daqui uns cinquenta anos, que tal? Garanto que ninguém
mais vai olhar pra mim com desejo!
- Engano seu! Eu vou desejar
você até quando estiver precisando usar bengala, oui? Até porque eu vou
ser a sua bengala, d’accord? – Diz, piscando e puxando o rosto de Rosa
com uma das mãos para beijá-la.
O barco balança e Rosa o envolve
pela cintura, tentando se equilibrar. Claude faz o mesmo e a corda que
segurava escapa de sua mão.
- Essa non! A corda escapou...
- E ficou presa no galho... Você não
alcança?
Claude estica o braço, mas não
alcança a ponta da corda.
- Por muito pouco que non... – Diz,
olhando para o interior do barco, procurando algo que o ajudasse a recuperar
a corda e soltá-la de vez.
Tenta com o remo, mas nada, a corda
escapava, pois a tinta do remo o deixava liso demais. Claude segurou o remo na
vertical, entre ele e Rosa. Então seus olhos brilharam.
- Eu não gosto quando você tem esse
brilho no olhar... – Fala Rosa – Geralmente, é uma ideia extravagante... e
equivocada!
- Bem, a corda está presa ao
barco de uma maneira que non podemos inverter sua soltura... Também non temos
nada para cortá-la, o que seria uma soluçon. Portanto, você é nossa última
esperança.
- Eu?!?!?!?
- Oui! Veja bem, tudo que precisamos
é de uma extenson do meu braço. Se você subir na borda do barco, eu
te seguro firme e, num segundo, você desenrosca a corda, chérie.
- Claude, você enlouqueceu? É claro
que o barco vai virar!
- Non vai non, estamos presos,
lembra-se? E o motor e todo o painel vão
dar equilíbrio pra você, gatinha... Vamos, confie em mim! – Diz, fazendo um
gesto para que ela se aproxime.
Ainda desconfiada, Rosa
segura a mão de Claude e equilibrando-se, coloca um pé após o outro na borda do
barco, que para sua sorte não era tão estreita.
- Enton, firme? – Pergunta Claude,
segurando-a pela cintura.
- Quase... – Responde, segurando a
respiração, tensa. – Deixa eu me acostumar... – E segura na ponta do galho
para manter-se em pé.
- D’accord... Assim que se
sentir segura, estica mais o braço e vê se alcança a corda para
puxa-lá, oui?
- Só um minuto, Claude... Não me
solta, hem! Eu to quase... só mais um pouquinho... – E se estica toda, ficando
na ponta dos pés. – Claude me segura direito! “Vai Rosa, só mais um
pouquinho, vai...”
- Eu estou segurando,
gatinha... E por sinal estou adorando você assim nessa posiçon, toda
esticadinha, lembra até aquela cena de novela... Como é mesmo o nome?
Mas, então, os dois falam ao mesmo
tempo:
- Ah! Gabriela... Quando ela sobe no
telhado, sabe? E...
- Claude não se mexe! – Fala Rosa,
alcançando a ponta da corda, que estava enroscada.
Mas Claude havia aumentado a pressão
de suas mãos na cintura de Rosa, provocando-a e os pés dela deslizam para
fora do barco.
Rosa grita e ainda tenta se pendurar
na corda, mas, no desespero do momento ela escapa de suas mãos e...
- Claude! Me segura, não me
deixa cair... Droga! – Diz Rosa, caindo no rio, afundando e voltando à tona,
enquanto Claude chamava por ela:
- Rosa! Chérie... Mon Dieu, non
faltava mais nada... Você está bem?
- Estaria melhor se estivesse
dentro do barco e seca. Vai me ajudar ou ficar me olhando e segurando o
riso? Eu não sei nadar e aqui parece fundo... E me deu
uma cãimbra bem agora...
- Voilá... Me dê sua mão, hã? – Diz,
estendendo a mão para Rosa. – Vem, força, chérie...
- Espera... Eu preciso respirar
– Diz Rosa, antes de usar sua força e puxar Claude para junto dela, dentro do
rio.
- Rosa, o que foi que foi que
você fez?! Você disse que o rio era fundo... Sua trapaceira! – Diz Claude
com os pés firmes no fundo do rio - Non está com cãimbra também, non é?
- Não. Isso foi pra você
nunca mais pensar em Gabriela nenhuma, ok?
- E isto – Responde ele,
puxando-a para si - é pra você saber que nenhuma Gabriela
ocupa o seu lugar, gatinha! – E a beija calorosamente.
Quando o beijo termina, eles se
abraçam por um momento e Rosa quebra o silêncio:
- Você e sua ideias! Olha só o
estado em que ficamos!
- Molhadinhos... – Responde
Claude. E a resposta sai tão natural que ambos acabam rindo da situação toda.
Então, Claude, se controlando, mergulha e volta, logo em seguida,
dizendo:
- Por isso ficamos presos, hã? Há um
banco de areia aqui...
Então, eles empurram o barco até
que ele que se move um pouco, começando a sair da areia. Claude ajuda
Rosa a subir de volta ao barco e sobe também, puxando a corda, que havia se desprendido com a queda de
Rosa.
Claude dá a partida no motor, que já
“desafogado”, funciona rapidamente. Em pouco tempo, estão de volta.
Claude ancora o barco no mesmo lugar que estava e abraça Rosa, que tremia
de frio.
Já escurecia e, na fazenda,
Borboletinha estava de bico, pela demora dos pais.
Quando, finalmente, eles chegam, ela
corre ao encontro dos dois. Roberta, ainda por lá, só observava a cena.
- Mamãe, papai!!!! - Fala alto,
sorrindo - Eu pensei que você tinham... Por que vocês demoraram tanto e
estão molhadinhos?
- Porque o papai foi pescar com a
mamãe, Borboletinha...
- Hummmm – Diz, não acreditando
muito - E cadê o peixinho?
- Pois é, o rio non tava pra peixe!
Mas me deu essa sereia aqui, hã? – Disse, beijando Rosa, com paixão.
Roberta solta chispas de raiva
no olhar.
- Conforme-se, moça – Disse Gideon
para Roberta, percebendo a inveja – Nunca vai ter esse amor pra você!
- Isso é o que veremos! – Responde
Roberta entre os dentes...
Continua
Muito BOM CHOREI LENDO ISSO SOZINHO NO MEU QUARTO
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