A crônica que reproduzimos abaixo é da
autoria de Rubem Braga.
Para saber mais sobre o autor, favor
consultar: http://www.releituras.com/rubembraga_bio.asp.
Boa leitura!
O PADEIRO
Levanto cedo, faço minhas abluções,
ponho a chaleira no fogo para fazer café e abro a porta do apartamento – mas
não encontro o pão costumeiro. No mesmo instante me lembro de ter lido alguma
coisa nos jornais da véspera sobre a “greve do pão dormido”. De resto não é bem
uma greve, é um lockout, greve dos patrões, que suspenderam o trabalho noturno;
acham que obrigando o povo a tomar seu café da manhã com pão dormido
conseguirão não sei bem o que do governo.
Está bem. Tomo o meu café com pão
dormido, que não é tão ruim assim. E enquanto tomo café vou me lembrando de um
homem modesto que conheci antigamente. Quando vinha deixar o pão à porta do apartamento
ele apertava a campainha, mas, para não incomodar os moradores, avisava
gritando:
– Não é ninguém, é o padeiro!
Interroguei-o uma vez: como tivera a
ideia de gritar aquilo?
“Então você não é ninguém?”
Ele abriu um sorriso largo. Explicou que
aprendera aquilo de ouvido. Muitas vezes lhe acontecera bater a campainha de
uma casa e ser atendido por uma empregada ou outra pessoa qualquer, e ouvir uma
voz que vinha lá de dentro perguntando quem era; e ouvir a pessoa que o
atendera dizer para dentro: “não é ninguém, não senhora, é o padeiro”. Assim
ficara sabendo que não era ninguém…
Ele me contou isso sem mágoa nenhuma, e
se despediu ainda sorrindo. Eu não quis detê-lo para explicar que estava
falando com um colega, ainda que menos importante. Naquele tempo eu também,
como os padeiros, fazia o trabalho noturno. Era pela madrugada que deixava a
redação de jornal, quase sempre depois de uma passagem pela oficina – e muitas
vezes saía já levando na mão um dos primeiros exemplares rodados, o jornal ainda
quentinho da máquina, como pão saído do forno.
Ah, eu era rapaz, eu era rapaz naquele
tempo! E às vezes me julgava importante porque no jornal que levava para casa,
além de reportagens ou notas que eu escrevera sem assinar, ia uma crônica ou
artigo com o meu nome. O jornal e o pão estariam bem cedinho na porta de cada
lar; e dentro do meu coração eu recebi a lição de humildade daquele homem entre
todos útil e entre todos alegre; “não é ninguém, é o padeiro!”
E assobiava pelas escadas.
Fonte: http://pgderolle.wordpress.com/2013/03/27/literatura-brasileira-cronica-o-padeiro-de-rubem-braga/
Ameiii essa crônica! Lição de humildade!
ResponderExcluirQue linda crônica! Amei ler!
ResponderExcluirEnsaiando com aluna Daniela Fernandes a crônica de Rubem Braga O Padeiro para a culminância do projeto Ler é Arte.100 Vinícius ,100 Braga na E.E.Frei Jorge....simplesmente maravilhosa!
ResponderExcluirSonia Bastos e Marilane Costa professoras