A
crônica que reproduzimos abaixo é da autoria de Cecília Meireles.
Para
maiores informações sobre a autora, favor acessar: http://www.releituras.com/cmeireles_bio.asp.
Boa
leitura!
BRINQUEDOS INCENDIADOS
Uma
noite houve um incêndio num bazar. E no fogo total desapareceram consumidos os
seus brinquedos. Nós, crianças, conhecíamos aqueles brinquedos um por um, de
tanto mirá-los nos mostruários – uns, pendentes de longos barbantes; outros,
apenas entrevistos em suas caixas. Ah! Maravilhosas bonecas louras, de chapéus
de seda! Pianos cujos sons cheiravam a metal e verniz! Carneirinhos lanudos, de
guizo ao pescoço! Piões zumbidores! – e uns bondes com algumas letras escritas
ao contrário, coisa que muito nos seduzia – filhotes que éramos, então, de M.
Jordain, fazendo a nossa poesia concreta antes do tempo.
Às
vezes, num aniversário, ou pelo Natal, conseguíamos receber de presente alguns
bonequinhos de celulóide, modesto cavalinhos de lata, bolas de gude, barquinhos
sem possibilidade de navegação... – pois aquelas admiráveis bonecas de seda e
filó, aqueles batalhões completos de soldados de chumbo, aquelas casas de
madeira com portas e janelas, isso não chegávamos a imaginar sequer para onde
iria. Amávamos os brinquedos sem esperança nem inveja, sabendo que jamais
chegariam às nossas mãos, possuindo-os apenas em sonho, como se para isso, apenas,
tivessem sido feitos.
Assim,
o bando que passava, de casa para a escola e da escola para casa, parava longo
tempo a contemplar aqueles brinquedos e lia aqueles nítidos preços, com seus
cifrões e zeros, sem muita noção do valor – porque nós, crianças, de bolsos
vazios, como namorados antigos, éramos só renúncia e amor. Bastava-nos levar na
memória aquelas imagens e deixar cravadas nelas, como setas, os nossos olhos.
Ora,
uma noite, correu a notícia de que o bazar incendiara. E foi uma espécie de
festa fantástica. O fogo ia muito alto, o céu ficava todo rubro, voavam chispas
e labaredas pelo bairro todo. As crianças queriam ver o incêndio de perto, não
se contentavam com portas e janelas, fugiam para a rua, onde brilhavam
bombeiros entre jorros d’água. A elas não interessavam nada peças de pano,
cetins, cretones, cobertores, que os adultos lamentavam. Sofriam pelos
cavalinhos e bonecas, os trens e palhaços, fechados, sufocados em suas grandes
caixas. Brinquedos que jamais teriam possuído, sonhos apenas da infância, amor
platônico.
O
incêndio, porém, levou tudo. O bazar ficou sendo um fumoso galpão de cinzas.
Felizmente,
ninguém tinha morrido – diziam em redor. Como não tinha morrido ninguém? ,
pensavam as crianças. Tinha morrido o mundo e, dentro dele, os olhos amorosos
das crianças, ali deixados.
E
começávamos a pressentir que viriam outros incêndios. Em outras idades. De
outros brinquedos. Até que um dia também desaparecêssemos sem socorro, nós
brinquedos que somos, talvez de anjos distantes!
Fonte:
http://www.fotolog.com.br/guadama787/35266071/.
Linda crônica, que lembro de ter lido no meu tempo de escola, o que deixou minha turma emocionada. Linda como tudo o que Cecília Meireles escreveu!
ResponderExcluirqual o fato inusitado dessa crônica ?
ResponderExcluire o
foco narrativo ?
O fato inusitado ou inesperado, na minha opinião, foi o incêndio da loja de brinquedos.
ExcluirJá o foco é de primeira pessoa.
Também li este texto na escola quando criança. Nunca pude esquecer esta leitura, pois me emocionou muito e por incrível que pareça aind hoje me emociona.
ExcluirCecília Meireles consegue cativar o mundo infantil como poucas(os) autores. Sempre que leio alguma de suas obras fico, pensando: ela deve ter sido uma pessoa encantadora.
ResponderExcluirEssa crônica é Lírica/Poética?
ResponderExcluirSim, é lírica/poética por envolver sentimentos.
ExcluirLinda crônica. Faz voltar à infância, emociona...
ResponderExcluirMuito boa!!!
Excluirseria uma crônica lírica ?
ResponderExcluirIsso mesmo, Daniel. Um abraço e obrigado pela visita.
ExcluirQue reflequixao a cronica transmite
ResponderExcluirQue fato do cotidiano essa crônica explora?
ResponderExcluirmuito bom
ResponderExcluirQue tipo de leitor
ResponderExcluirQual e o tema da cronica?
ResponderExcluirQue tipo de leitor
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